sábado, 25 de fevereiro de 2006

aos videntes... os visionários
aos crentes... os credíveis
...e já agora que se fala de vidências e proféticos segredos, fiquem-se com esta, tirada de S. Malaquias.

Nascido na Irlanda entre o final do século XI e início do século XII, São Malaquias foi primaz da Irlanda. Por volta do ano de 1138, em sua ida à Roma para visitar o Papa Inocêncio II, Malaquias teve a visão da sucessão de todos os papas, num total de 112, até o julgamento final do mundo. São Malaquias documentou sua visão e a entregou ao Papa. Faleceu em 1148, e em 1190 foi canonizado pelo Papa Clemente III.

“Na última perseguição da sagrada Igreja Romana reinará Pedro Romano que apascentará suas ovelhas entre muitas tribulações; passadas as quais, a cidade das sete colinas será destruída, e o juiz tremendo julgará o povo”.
Quero, com isto, deixar a pergunta: Será que o Malaquias da profecia estava a prever que Lisboa estava destinada a ir com os porcos, um destes dias?
Virá um pouco desfazado já no tempo, mas quando se trata da Eternidade, o Tempo é coisa de somenos importância. Adiante.
Ora o que se passa é que fiquei quase ofendido, com o Carnaval Funesto a que todas as televisões do meu País se renderam, com a transladação dos, assim chamados, "restos mortais" da srª d. Lúcia, do carmelo de Coimbra p'rò Joelhódromo de Fátima ( o neologismo não é meu - honra lhe seja feita, ao meu ex colega JPG).
Num Estado laico, como o nosso se reclama, acho uma coisa abusiva e despropositada.
E se tinha de o dizer, dito fica.
p.s. - vai em azul celeste, em memória da defunta infanta...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

87. Concedemos o Livro a Moisés, e depois dele enviamos muitos mensageiros, e concedemos a Jesus, filho de Maria, as evidências, e o fortalecemos com o Espírito da Santidade. Cada vez que vos era apresentado um mensageiro, contrário aos vossos interesses, vós vos ensoberbecíeis! Desmentíeis uns e assassináveis outros


olhos que não vêem,
coração que não sente ?!...
Mais do que a paneleiragem que andou a mamar broches e a comer os putos da Casa Pia, o que me mete mesmo nojo é esta Justiça Pederasta que permite fenómenos como o que estamos a assistir neste momento, com o processo a ser, uma vez mais congelado, por artes e manhas dessa corja de advogados envolvida no processo. Isto sim, é que é o verdadeiro Escândalo da Casa Pia.
E se tinha de o dizer, dito fica.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

O EMPREGO DA CÂMARA DE AR DE AUTOMÓVEL
PARA POUPAR A SOLA DAS BOTAS
Um bocado de câmara de ar de automóvel (dos que só servem para remendos) se não estiver requeimado pelo uso ou pelo calor, póde durar, colado sôbre a sola das botas, mais dum ano, ao passo que a duração média da sola das botas é de um ou dois meses.
A ecónomia obtida não é só da sola, é de toda a bota, porque de cada vez que uma bota é solada, o meter-lhe a fôrma, coser, pregar etc. vai arruinando a bota rápidamente.
PROCESSO
Talham-se com uma tesoura meias solas num bocado de câmara de ar de automóvel.
Raspa-se bem raspada a sola das botas, com um vidro ou raspadeira própria, até que a sola fique perfeitamente aveludada, sem partes lisas ou polidas, e dá-se uma lixadela. Lixa-se, ou melhor, com uma groza de sapateiro ou mesmo de carpinteiro, lima-se bem a parte da câmara de ar que há-de assentar sôbre a sola, de maneira a tirar-lhe tambem todo o polido, e ficar áspera.
Lava-se com gazolina tanto a sola como a câmara de ar.
Feito isto, estendem-se bem sôbre a sola sucessivas camadas de cola de borracha, aplicando cada nova camada só depois de sêca a anterior, até que a camada sêca tenha a aparência de polimento, sinal de que a sola está completamente revestida de borracha.
Preparam-se ao mesmo tempo as meias solas de borracha, estendendo-lhe tambem algumas camadas da mesma cola.
Deixa-se tudo a secar umas horas, mesmo dum dia para o outro, e depois aplicam-se as borrachas sôbre as solas das botas, de maneira que não fiquem bolhas de ar entre uma e outra; feito isto bate-se com um martelo para aderir bem a borracha á sola.
Apara-se com uma tesoura a boracha que exceder a sola, e alisa-se o córte á volta com um bocado de lixa colada numa tábua.
Póde calçar-se imediatamente.
É necessário cuidado ao assentar a borracha sôbre a sola, porque logo que toquem uma na outra aderem de tal maneira que já não se podem deslocar.
Aos saltos é que não se pode aplicar a câmara de ar por que se corta rápidamente, mas póde pregar-se-lhe um bocado de protector (pneu) ou então os protectores de ferro ou borracha.
A cola vende-se em bisnagas nas garages; em latas de quilo, meio quilo e quarto nas lojas de sola.
Eu costumo prepará-la em casa; mando vir de Lisboa ou do Porto, da Companhia da Borracha, 50 gramas de borracha virgem, dissolvo-a com gazolina e tenho cola para muitas aplicações.
in: "Como eu luto contra a carestia de vida" de Ricardo Freire dos Reis, Major de Infantaria. Coimbra /França & Arménio, Editores - 1920

a poesia
nunca há-de ser
uma deturpação
ou uma alienação
da realidade
porque
ela é
a própria realidade
ou
p'lo menos
a sua profecia



soa o silvo do aço
em sangue
grito que gorgoleja
na garganta
veia que se esvai
véu de névoa
torpor que trepa
tremendo
silêncio que se adensa
manso imenso
até que o frio se instala
e a mola
estala

o corpo todo entornado
p'la noite que se entorna
por cada canto
cantado na cadência
dessa morna voz
que sobe em arrastado
tom nocturno de indolência
o corpo todo entornado
no pecado
da inocência


o homem que julga saber tudo

tá safo

esse sim

já é

um idiota chapado





a escrita é uma bala de prata
apontada certeira
ao coração do real
vampiro sugador insaciável
do sangue do poeta

& lançando os olhos p'rò altíssimo
muito p'r'além das estrêlas
vejo deus em toda a sua magnânime & extra brilhante maravilha
piscando-me o olho
um pequenino olho sacana
um pequenino olho vermelho
da cor exacta de quem já bebeu um copo a mais
& digo
pai meu pai
meu deus todo poderoso
que se foda a taça & bebamos
enjorquemo-nos pois à tua glória
o teu sangue redentor que jorre em cascata
em remissão dos nossos pecados mortais
directo p'las nossas goelas mortais
& sequiosas de vida eterna
pai meu pai
deus de todos os meus vícios
tu que tudo podes
decerto também pecas
tanto ou mais que eu
senão não serias deus
nem eu te poderia
não nunca jamais
adorar assim desta maneira
desesperada e sôfrega
com esta loucura com que te adoro
pai meu pai
tu que tudo sabes
só tu poderás alguma vez entender
esta minha asfixiante metafísica
pai meu pai
perdoa-me eu nunca te ter perdoado
mas tu
pai meu pai
perdoa poe perdoa blake
perdoa ginsberg
perdoa whitman
& o diabo ele próprio
& todos
todos todos
todos os pobres diabos
os poetas bêbados &
todos os teus amigos &
todos os meus amigos
de quem só eu posso ser amigo
porque mais ninguém os grama verdadeiramente
& LMFG & ALG &
VAM~VAM & VLS &
os amigos dos meus amigos &
os amigos dos amigos deles
& se puderes todos os outros
todos mesmo os que eu não gramo
vá lá vá lá
que eu também podia ser santo se tu quisesses
& vá lá vá lá
perdoa-me a mim também
a mim que de certo modo
até me estou cagando p'ra ti
p'rò teu perdão
& p'rà tua familia toda


& amén
se for possivel...

I:
Sonhavas uma estrela peregrina
Uma clareira no meio da noite
O canto cristalino da guitarra
Uma cama de folhas e silêncio

E adoraste o fogo das palavras
Desafiaste o Tempo e seus mistérios
Meteste por desvios a horas mortas
Adormeceste em becos sem saída

Sonhavas uma estrada sem regresso
Súbita de pontes e surpresas
A vastidão serena dos desertos
A tranquila majestade das falésias

E a cada coisa que tocavas
Davas-lhe outro nome outro sentido
Era esse o teu tesouro o que tocavas
Em ouro se tornava o teu segredo


II:
Rasgaste numa noite a tua vida
Em gestos lentos todas as memórias
Num ritual de lágrimas contidas
Espalhaste assim ao vento a tua história

E o vento as misturou num rodopio
De frases sem sentido e de imagens
E o vento as arrastou por esse rio
De esquecimento p’ra outras paisagens


III:
Deve haver decerto qualquer coisa
Coisa que nem sempre é evidente
que se escreve a si própria qualquer coisa
Que apenas se insinua se pressente

Qualquer coisa que antes de ser dita
Já traz em si a razão verdadeira
Talvez nem eu a entenda mesmo escrita
Mas não podia ser de outra maneira

P’ra que serve dizes tu isso que escreves
Essa prosa em delírios alinhada
Coisas estranhas que nem tu próprio percebes
Para nada ora aí está mesmo p’ra nada
Suspense

o suspense suspenso sustém o tenso
suspeito sujeito de rosa branca ao peito
- range perto a porta surda -
- tange o sino pequenino -
calafrio sinistro frio do mocho coxo
voo cego do morcego
- desembucha feia bruxa! -
- corro fujo trapo sujo -
cheio de medo o arvoredo
cerra ferra a negra perra
- corro morro alho porro -
- salto muros e quintais -
suando suo suor suado
luzem luzes por todo o lado
- pés de chumbo que me afundo -
- ai meu deus é o fim do mundo! -

quais suspense
converseta
se perco esta
camioneta
só tenho outra
às oito e meia
e se calhar
já vem cheia


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006



ABANDONAI TODA A ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS



Tu eras como a hera no quintal
Trepando plas paredes do meu ser
Enchendo-me de gosma e coisa e tal
E teias d’aranha tás a ver
Tu eras a água que corria
Plas escadas da torneira do bidé
E o copo com a dentadura da tua tia
Tu eras, cada qual é o que é
Não foras tu portanto e logo pois
De rosas te encheria a boca cheia
Que graça tinha ouvir-te falar depois
Uma graça que tu nem fazes ideia

Já sei que brincas bem com as palavras
Que até brincas com o fogo e não te queimas
Agora queria ver como ficavas
Agora queria ir ao tira teimas
Já sei que sabes que eu nunca diria
Nada que magoasse ou te ofendesse
Agora queria ver como seria
Se um dia eu afinal sempre dissesse

Fazer um bom refrão tem muita arte
Pois tem toda a razão
Segunda parte

Só queria um tostão mesmo furado
Por cada vez que eu preguei no deserto
Nunca vi público mais interessado
Verdade seja dita já que é certo
Talvez seja verdade o que se diz
Que a vida tem de si que se lhe diga
Pois eu cá contas dessas nunca fiz
Nem vou contá-lo aqui numa cantiga

Fazer um bom refrão
Tem muita arte
Pois tem toda a razão
Terceira parte

E afinal no fundo e resumindo
De uma forma geral se se quiser
Pouco mais há pra dizer e já vou indo
Que era só o que tinha pra dizer

Fazer um bom refrão
É importante
Este aqui saíu-me num instante

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Gato estúpido

De que forma estúpida gastaste
as tuas sete vidas
de que forma estúpida te foste
assim sem despedidas
de que forma estúpida cegaste
de que forma estúpida paraste
enquanto a luz crescia
para ti
e tu ali parado e tu ali
e a morte a relinchar
um tempo suspenso no tempo
o tempo de levares com o tipo em cima
estúpido gato
parece que nunca viste um automóvel
Promete-me , disse ela.
Prometo...
Promete-me que me amas!
Tu queres que eu te prometa...
Ou p’lo menos que me dizes quando deixares de me amar! ... Promete!
Prometo que te amarei até á morte, disse ele apontando-lhe o dedo á cabeça como uma pistola.
Bang! Prometo.

E eu quero só poder viver com os meus defeitos
Sem prestar contas das minhas contradições
E ser perfeito assim mais do qu’imperfeito
De pontas soltas feito um fio de imperfeições

A mancha esmagada do pássaro no passeio
No cais
A velha sereia do mar estende os braços metálicos sobre as águas
Pesa-lhe o céu
Roça-lhe os flancos a pedra gasta
Ao longo da estrada
Do outro lado da rede
A fila interminável de vagões amarelos espera que a paisagem se ponha em movimento
Metralha a chuva o vidro do táxi
O pêndulo frenético do limpa pára brisas
Soa como um alerta de pânico
Os silos silenciosos cobrem-se de pó e sujidade

Passa a mão suja
Limpando o suor da nuca
O taxista
Merda de tempo
P’rá noite vai ser pior
Que se foda
Encosto esta merda e que se foda

O vento dobra a espinha da noite
Força-a a posições dolorosas
É dela o uivo aflito
Que entra p’las janelas

Ouça
E se for assim amanhã
Encosto esta merda e que se foda

A mancha esmagada
Do pássaro no passeio


6 dez. 00

O café do Castelo


O Cardoso teve uma trombose mas não largou o JB e até usa a boca ao lado que lhe ficou da macacoa para aberlaitar a prosa ao balcão. Peito inchado boca ao lado voz enrolada na beiça mole enquanto debita sociais caligramas d’ir ao cu. Permite-se mesmo enterrar a mão no bolso p’ra coçar os colhões e contar os trocos. O JB quente não presta mas o gajo grama. A olhar p’rá rua.
O Fernando também não se pode rir muito. É a tosse. Ortorrômbico careca calções e chinelos andar arrastado marreco saco plástico titubear de maluco. Então tá bom? Sr. Fernando! Gosto em vê-lo. Sai a porta p’ró fim da tarde saco plástico rasto de baba no ar e no chão do café.
No nosso coração há lugar p’ra todos filósofa loira cortado curto.
O Cardoso larga um sonoro Boa Tarde com a boca cheia de batatas. A gorda do balcão bate com as mamas na esquina do telefone diz ela a ruiva de costas também dei o meu grito do Ipiranha. O morenaço fanhoso vai alimentando a conversa ao mais alto nível falam de amor em geral e dos filhos em particular converseta de férias filosofia de alcofa cenas conjugais cenas que como sabeis podem ou não tornar-se obs/cenas. Depende sempre de como as conjugais...

Do autor pouco se sabe e ainda bem.
Sabe-se que nasceu, o que, a confirmar-se, explica muita coisa. Por exemplo, o ter escrito os textos que ora nos orgulhamos de apresentar ao respeitável público.
Fixemo-nos então nos textos.
Partindo de um par de dados adquiridos – e comprovados mesmo, em jogos de azar, um pouco por todo o lado e até quase do outro lado – o editor conformou-se em chamar-lhes poesia e nessa conformidade espalhá-los, em gesto de semeador, por sobre as páginas, onde – como se poderá ver – lá foram caindo de forma quase poética.
No seu vazio de conteúdo, estes textos assumem-se abertos a quase tudo, até mesmo à hora de almoço, o que, só por si, explica muita coisa, já que, como é sabido, as boas almas e os grandes espíritos não têm hora certa para almoçar.


Jogo as pedrinhas na mesa
Rolo as pedrinhas na mão
Lanço-as com ligeireza
Uma delas cai no chão
E das quatro que ficaram
Pego e volto a jogar
Uma vez e depois outra
Até só uma sobrar

Vivo entre as memórias e o sonho
Num mundo paralelo á realidade
Onde tudo é tão fantástico e medonho
Bom demais até p’ra ser verdade

Um mundo todo ele ao meu tamanho
Onde tudo se transforma, o que nomeio
E o medo que não digo, mas que tenho
Com um dedo se desfaz e parte ao meio

Um mundo onde o tempo tão veloz
Me leva numa dança sem sentido
Num rodopio de cores extraordinárias

Onde o silêncio escuta a minha voz
Onde o silêncio diz ao meu ouvido
As coisas mais cruéis e necessárias