sábado, 11 de julho de 2009
sexta-feira, 10 de julho de 2009
restaurante "Lingerie" ?!!...
A feiras medievais já nos fomos habituando. Vão-se fazendo, de há uns tempos para cá, em quase todo o país, onde hajam uns restos de muralha, ou um centro histórico mais a condizer. Talvez por isso mesmo, porque a ideia começa já, eventualmente, a esgotar-se, ou a entrar numa certa banalidade pouco surpreendente, é que em Vila Nova de Gaia se teve uma ideia inovadora e que, ao que parece , está condenada ao sucesso. Fazer-se uma Feira Erótica Medieval.
O estaminé está montado desde ontem frente ao restaurante Lingerie, nos Carvalhos, diz o Jornal de Notícias. Foi aliás o dono do restaurante, que teve a ideia, depois de visitar algumas feiras medievais, das outras, mais tradicionais. Terá pensado, porque não juntar o erotismo à festa?
E foi o que fez.
Até domingo ela lá está, com as barraquinhas do costume, das artes e ofícios da época, dos petiscos e os figurantes… 500 trajados ao rigor… cavaleiros, damas da corte, gente do povo, os próprios rei e rainha, os trovadores, os saltimbancos e tudo o mais. E o tudo o mais, neste caso, inclui bebidas com nomes e propriedades erótico-afrodisíacas…
Entretanto, também, vai poder assistir-se – finalmente uma reconstituição histórica… ao julgamento de uma adúltera.
O JN diz e sublinha em título que esta Feira Medieval, que está em Vila Nova de Gaia desde ontem e até Domingo, é uma viagem erótica ao passado.
Será, com as devidas distâncias… ou seja, se ignorarmos a imundície em que se vivia nessa altura… as doenças, a falta de higiene e de depilação… Mas a verdade é que, quem quiser saber mesmo como se vivia na Idade Média, o melhor é ir ao Google.
Outra história, que nem o chega a ser propriamente, vem na última página do Público.
É o habitual sobe e desce … exercício jornalístico muito em voga de há uns tempos para cá também e que pesa a popularidade, pela positiva ou pela inversa, de figuras públicas, neste caso nacionais… quem está em alta, quem está em queda…. E Durão Barroso está em alta.
Porque, como escreve o Público, “fosse por matreirice, humildade, subserviência, ou sageza política, o facto é que Durão Barroso tem o apoio unânime dos 27, para a recondução , à frente da Comissão Europeia”. Continua-se dizendo que não terá o génio dos fundadores da comunidade, ou a visão estratégica de Jacques Delors, mas tem uma vantagem. A de se moldar às circunstâncias e de amortecer os choques. Conclui o jornal Público, que são essas qualidades que fazem de Durão Barroso o homem certo na Europa de hoje.
O homem certo, no lugar certo, na hora certa.
Ouro sobre azul, se nos esquecermos do que ficou dito antes… que não tem o génio dos fundadores do sonho europeu, nem a visão estratégica de Jacques Delors, mas que tem, em vez disso, a capacidade de se moldar às circunstâncias e amortecer choques. E que isso é do que a Europa hoje precisa… de uma espécie de Cassius Clay que seja bom a encaixar upper cuts e socos no estômago sem cagaréu e com cagança.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
oh Zé, não me fodas!
E entremos pela capa do Correio da Manhã, que é onde a história mereceu o título mais intrigante… Diz que a agência Lusa censurou, do texto da notícia, os insultos ao primeiro ministro. Ou seja, numa segunda versão da notícia foram apagadas as transcrições das frases insultuosas, gritadas ontem em S. Bento, contra o primeiro ministro, pelos 200 estivadores manifestantes.
Um responsável pela agência noticiosa – a agência pública, como lhe chama o Correio – justifica-se com o livro de estilo e que, transcrever à letra os insultos e o asneiredo proferido, não adiantava nada à história. Isso e referir as frases inscritas nos dorsais dos coletes reflectores vestidos pelos manifestantes. Também essa referência desapareceu do texto definitivo da notícia da Lusa. A agência nega qualquer pressão externa, para a alegada censura. Diz ainda o Correio, que num dos despachos da agência se lia que o primeiro ministro não achava que fosse dever de um político dar lições de boa educação, aos estivadores que lhe chamaram fascista… Ora, para quem viu e ouviu, ontem nas televisões as reportagens feitas à porta do Parlamento , sabe que foram ditas coisas bem mais desagradáveis que isso, palavras de ordem, que convocavam mesmo para a luta dos estivadores a própria mãe de José Sócrates, de forma imperativa e desagradável.
Houve também petardos a explodir e bombas de fumo, o que é de certa forma inédito, neste tipo de manifestações. A polícia teve mesmo de chamar a Equipa de Intervenção Rápida, just in case…
E desatei agora a falar inglês, por uma razão simples. Os coletes reflectores.
Confesso que não estou por dentro do assunto – o dos coletes reflectores em geral – mas, estou em crer que estes – estes que os estivadores ontem vestiram para a manifestação de S. Bento - não estejam à venda no mercado, ou seja, foi preciso mandá-los fazer, ou até adaptá-los artesanalmente para o efeito.
E o que diziam nas costas, estes coletes, era em inglês que o diziam… Num português conveniente, diziam: “não me arruínes o emprego”.
Porque é isso que está em causa… os estivadores foram à Assembleia da República protestar contra a lei dos portos. Acusam o Governo de querer entregar o trabalho portuário a empresas amigas, nomeadamente à Mota–Engil, do ex ministro Jorge Coelho…
Não me arruínes o emprego – portanto… só que em inglês. E não num inglês qualquer… digamos que… num inglês corrente, pelo menos corrente em certos círculos menos diplomáticos.
Agora, os jornais falam em insulto ao primeiro ministro… dão os exemplos mais evidentes… de fascista, a coisas piores e mais íntimas mesmo… o que fica por saber é porque é que os estivadores não imprimiram nas costas dos coletes esse mesmo protesto em português, que toda a gente percebe, a começar pelo próprio insultado e ofendido...
Há excelentes frases idiomáticas em português, que expressam exactamente a mesma coisa e de forma – acho eu – bem mais radical e truculenta.
Estariam os estivadores a acrescentar mais qualquer subtil e refinada referência jocosa ao tão falado e até glosado inglês técnico do primeiro ministro?...
Enfim , é possível… Lendo o que lá está escrito, mais técnico do que aquilo , só um manual de instruções, em inglês, claro.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
palhacinhos em geral
Ora, no essencial, a denúncia é que por causa de um certo rumor, de que os exames este ano seriam canja – perdoe-se-me o plebeísmo da expressão – os alunos ter-se-ão – digamos assim – descontraído demais e o resultado esta à vista: as notas caíram abaixo das expectativas, até dos melhores. A denúncia é da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, no que terá sido secundada pelo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos. No caso, fala-se dos exames de matemática, mas o descalabro foi transversal a outras disciplinas, como o português, sendo que a moléstia, se se pode chamar assim, contaminou até os melhores alunos das melhores escolas.
No DN, dá-se o exemplo dos alunos da secundária D. Maria, de Coimbra – exemplo de escola de sucesso. Aí, até os melhores alunos foram apanhados de surpresa, com as pautas de Português. Que neste caso concreto é o Português, a disciplina em causa.
Os exemplos vão desde este aluno, que trazia a média de 17, para se confrontar com um 9 no exame, a esta outra jovem que era aluna de 18 e se ficou pelos 12 e meio, na prova final. Num outro caso , uma outra aluna explica o fracasso com a facilidade do exame, o que não deixa de ser surpreendente. Diz estaoutra que - vou citar: “Achei o exame muito fácil, se calhar foi isso. Tinha média de 16 e agora tirei 13, 5.”
Uma conclusão, no mínimo curiosa e de longe menos interessante do que se tivesse acontecido o inverso, ou seja, se a aluna tivesse média de 13 e chegasse ao exame e arrancasse um 18… se bem que este último exemplo também aconteça, por vezes.
Há depois outros casos, como o deste jovem, que o jornal não diz que média trazia , mas que conseguiu um 18 na avaliação final. Ora bem, aqui o protesto é outro. Ele queria um 20 e é por isso que requer agora a revisão da prova. Mais, diz que se propõe ele próprio a fazê-la, para perceber onde é que o júri foi menos justo, ou correcto.
Citemos também este aluno da secundária D,.Maria, de Coimbra…
“Tive 18, mas queria 20...” - até aqui é de louvar a intenção… quem é que não quer um 20, seja qual for a tarefa a que se aventure?… quem se pode contentar com menos que isso?…
Pois continuemos. “...Se calhar foi na parte da composição em que era pedido para falar sobre a Liberdade , que os critérios de avaliação não me ajudaram.”
Ora portanto, a prova incluía uma composição, o que não é nada estranho, antes pelo contrário… O tema era a Liberdade, mas também lhe podiam ter pedido uma redacção sobre a chegada da Primavera, ou sobre as últimas férias de natal… o resultado seria o mesmo. Ou seja, não estamos aqui a falar de ciências exactas, onde 2 mais 2 têm pouca probabilidade de serem outra coisa que não um perfeito 4… estamos a falar da língua portuguesa e estamos a falar de um exercício de composição literária… E aqui, meus amigos… para chegar ao vinte, há quem gaste uma vida inteira e nunca lá chegue, não que isso, provavelmente impeça de continuar a escrever e ser até brilhante. O que dificilmente será o caso, se nos preocuparmos mais com a pose, do que com o conteúdo, ou se andarmos tão distraídos de nós próprios, ao ponto de nos confundirmos com outra pessoa. Diz o jovem aluno que se calhar foi da composição… pois se calhar foi mesmo. Se calhar nem podia ter sido outra coisa, palhaço!
o papa vai a todas, chispa-te ósório
Vem no DN, este título: “Economistas apoiam reforma da ONU defendida pelo Papa”.
Caridade na Verdade, é o nome em português da encíclica de Bento 16, divulgada ontem. E é a partir daqui que surge então a manchete . Diz o DN, que as propostas de Bento 16, para fazer face à situação económica e financeira mundial, têm o apoio dos técnicos, embora com algumas modificações. Acrescenta-se também que Jerónimo de Sousa, o secretário geral do Partido Comunista Português, defende que a origem do problema está no sistema capitalista e ponto final.
Agora, as propostas do Papa, que mereceram o apoio dos economistas, como anuncia o título…
Defende Bento 16 a criação de uma verdadeira autoridade política mundial, para sanear as economias atingidas pela crise, evitar o seu agravamento e desequilíbrios ainda mais profundos. Ora isto passa por uma reforma, não só do sistema económico, como das próprias Nações Unidas. Em Portugal, entretanto, César das Neves, economista , lembra que já João 23 defendia uma reforma da ONU…
Mas, para Bento 16, a nova ordem mundial tem que garantir uma supervisão da globalização, tendo, como objectivos prioritários, o governo da economia mundial, o desarmamento, a segurança alimentar, a protecção do ambiente e a regulação dos fluxos migratórios. Tudo isto haverá que consegui-lo a partir de um princípio básico e fundamental… a ética amiga da pessoa – palavras de Bento 16.
Esta encíclica, Caridade na Verdade, a 3ª do pontificado do papa alemão, surge na véspera de mais uma reunião do G8, que se realiza em Áquila, Itália, cidade destruída por um terramoto, nesta primavera.
E fiquemos-nos por aqui, que o essencial fica dito.
O resto, conseguir passar desta auspiciosa carta de intenções aos actos... À acção concreta... À realidade…
Ora, partindo do princípio de que nenhum líder mundial – ou pelo menos nenhum destes que compõem o Grupo dos 8 - alguma vez teria a coragem de prometer, ou propor qualquer coisa contrária, ao que o papa acaba de propor… ou seja, não sendo de prever, que algum defenda publicamente coisas como a corrida às armas, o desgoverno da economia, a barbárie no mercado alimentar, a destruição do ambiente, e a completa anarquia dos fluxos migratórios… nenhum deles teria coragem para o fazer, sendo que é justamente o contrário que defendem e garantem, pelo menos à boca do discurso… O que falta então? Ou, o que pode vir acrescentar, esta carta de intenções , que não esteja já nas declarações de princípios, de qualquer candidato a governante?... Ou antes, o que falta acrescentar?...
Talvez só um – “se deus quiser...”
terça-feira, 7 de julho de 2009
isto é um desassossego do escanfandro
No JN, até se publica a fotografia do cartaz, para que não restem dúvidas e se perceba melhor o efeito e o impacto da coisa… Sobre um fundo indistinto, duas mãos soltam em voo uma pomba branca. Ao lado, em colagem, a fotografia de um caixão e por cima a legenda . E o que diz o anúncio?... Diz assim: “Oiça a Rádio Santiago e ganhe um funeral”.
“Tenha o funeral dos seus sonhos” – é o que se ouve, entretanto, nas emissões da Rádio Santiago, de Guimarães, diz o JN… O grupo, que detém a rádio, é também proprietário do jornal “o Comércio de Guimarães” , do “Desportivo de Guimarães” e da revista “Bigger Magazine” e está, portanto, segundo o jornal, a promover um concurso, cujo prémio é a oferta de um funeral.
Ao JN, Häendel de Oliveira, o administrador, disse que a ideia surgiu “na linha de postura de inovação que a empresa tem seguido” e dá exemplos. Já se fizeram, na Rádio Santiago , passatempos que ofereciam vacas vivas, porcos ensebados , ou esse outro, que escondeu notas pelos jardins, para uma espécie de caça ao tesouro, calcula-se… Diz o administrador, que Portugal tem falta de ideias e que é preciso inovar e fazer coisas diferentes. E assim foi feito.
Para ganhar o funeral, basta recortar os cupões, que vêm impressos nas publicações do grupo e de que já falámos… o Comércio de Guimarães, o Desportivo e a tal revista com nome em estrangeiro. Diz ainda, o administrador, que sabe que esta é uma acção de choque, mas que há que reconhecer e admitir, que muita gente desconta todos os meses, qualquer coisinha, para pagar o próprio funeral, daí que, não ache nada do outro mundo, o passatempo que propõe. É o que se costuma chamar, juntar a fome com a vontade de comer… se me permitem o plebeísmo
E porque de uma campanha de marketing se trata, há que ter um slogan à altura. Directo e decisivo, fulminante e demolidor … para o caso escolheram este: “Rádio Santiago e os seus ouvintes… juntos até que a morte os separe.”
E os meus amigos o que acham?… quer dizer, qual preferem... Este , “juntos até que a morte os separe”…ou o outro que dizia… “tenha o funeral dos seus sonhos”… é melhor este não é ? O até que a morte os separe faz lembrar mais um casamento do que um funeral, não acham?
E o desassossego… no caso, o “Livro do Desassossego” de Pessoa.
Diz que “há frases do livro que pedem cinema” e foi por isso que, apesar de muitos considerarem que é impossível, passar o “Livro do Desassossego” ao cinema, João Botelho está apostado em fazê-lo.
O protocolo foi ontem assinado na Coelho da Rocha, na casa Pessoa. O protocolo com a Câmara de Lisboa, que vai financiar em 200 mil euros a realização do projecto.
Trinta anos depois da “Conversa Acabada”, João Botelho volta a Fernando Pessoa, para aquele que considera “o mais arriscado dos projectos”, em que até hoje se envolveu.
E temos a fotografia, que o Correio da Manhã publica para ilustrar o momento solene, dos cumprimentos entre o realizador João Botelho e o presidente da Câmara, António Costa. Diz a legenda: “António Costa cumprimenta João Botelho sob o olhar atento do produtor Alexandre Oliveira”. Ora, o que acontece é que, enquanto António Costa cumprimenta, sorridente e inclinado em reverência, o realizador João Botelho, este estica-lhe o braço, meio de esguelha, enquanto olha na direcção do fotógrafo. Ao lado, lá está de facto o produtor Alexandre Oliveira, da Ar Filmes… quanto ao olhar atento, já é outra coisa. Oliveira olha, declaradamente para fora de campo, de sorriso rasgado. Pode estar a olhar atentamente para alguma coisa, mas não seguramente, nem para o presidente da Câmara, nem para o realizador, nem para o efusivo cumprimento que ambos trocam. Aliás, pela fotografia, parece que a única pessoa que está atentamente a fazer qualquer coisa é o próprio presidente António Costa.
Mas, regressemos ao filme, para citar João Botelho, tal como o Correio da Manhã o faz, logo à entrada da prosa. Diz assim - João Botelho, claro – : “ Antes deram dinheiro ao Saura (Carlos Saura) para filmar e mal, o fado, agora que mo deram a mim, pode ser que eu filme e bem, Pessoa”.
Pode ser que sim… Esperemos todos que sim. Façamos todos um esforço colectivo de concentração solidária para que sim. Rezemos, para que sim. Acendamos as velas, que as nossas devoções permitam, para que sim. Invoque-se o próprio Pessoa e respectivos heterónimos, que é Hora!
E mesmo que não fosse, 200 mil euros sempre é dinheiro e o tempo não está para festas.