sexta-feira, 26 de maio de 2006



VIVE ASSIM UMA PESSOA
TODA A VIDA A PROCURAR
UM SENTIDO QUE INCLUA
TUDO O QUE HÁ P’RA EXPLICAR
VIVE ASSIM UM INDIVÍDUO
NESSE ENGANO SINGULAR
E AFINAL TODO O SENTIDO
SE ASSIM SE PODE FALAR
SE RESUME RESUMIDO
À TAMANCA DE ZANZIBAR

DEI A VOLTA AO MUNDO INTEIRO
POUCO FICOU POR EXPLORAR
MAS O QUE VI P’LO ESTRANGEIRO
DEVO-O AQUI CONFESSAR
POIS JÁ QUE É VERDADEIRO
NÃO SE PODE COMPARAR
NEM À LUZ DE UM CANDEEIRO
À TAMANCA DE ZANZIBAR

QUE MUITO TENH’EU CISMADO
MUITAS VEZES SEM PENSAR
QUE A CADA UM O SEU FADO
HÁ QUE SABÊ-LO CANTAR
À LUZ DE UM XAILE TRAÇADO
D’UMA GUITARRA A CHORAR
E O PÉZINHO BEM CALÇADO
NA TAMANCA DE ZANZIBAR

ZANZIBAR OH ZANZIBAR
DA TAMANCA D’ENCANTAR
QU’ACONCHEGAS O PÉZINHO
E O DEIXAS CONSOLADINHO
COM VONTADE DE DANÇAR
AINDA MAIS OH ZANZIBAR
QUE DO LONGE FAZES PERTO
AINDA MAIS –DEIXA ACABAR-
SE FOR ZANZIBAR ABERTO




diz-me tu dessa tão estranha matemática
que na soma dos factores não se comove
nem compadece nessa pressa tão pragmática
de assinar de cruz a prova dos Nove

mas repara que esses noves que ela tira
valem zero depois da prova tirada
quer dizer que no fim - e esta é gira-
a burra acaba por ficar sempre sem nada

e o soneto - que eu agora dei p’ra isto-
remata-se num passo e dois tercetos
que assim manda a boa literatura

ele há que ver o problema mas bem visto
que isto de hipotenusas e catetos
nunca fiando nem do círculo a quadratura

para o caso de eu morrer numa banheira...





quando eu morrer não haverá facas na cortina
nem a aflição de violinos lancinantes
bato c’os cornos fulminado numa esquina
e amanhã a vida segue como antes

e não será decerto crime violento
com a surpresa sanguinária de marat
dou quanto muito com os cornos no cimento
estrebucho uns dois minutos e já está

há-de ser já que a morte não a escolho
para ser uma morte ao meu tamanho
numa banheira de água bem desafogada

pode ser enquanto o diabo esfrega um olho
tanto faz se com sabão ou gel de banho
mas p’ra mim há-de ser coisa asseada