sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

quase pior a amendoa, que o cianeto... apesar de, como dizem, terem ambos um gosto muito parecido(!)

Ora comecemos por aqui. Diz o Diário de Notícias que o BES – Banco Espírito Santo -quer mais 150 mil novos clientes no retalho.

Para o administrador do Banco, citado pelo jornal, estes 150 mil novos clientes fazem parte da “estratégia de manutenção de uma trajectória de elevada ambição em termos de dinâmica comercial”… Ora, termos técnicos aparte, esperemos que o BES tenha mais sorte com os 150 mil novos clientes, que outros tiveram, quando sonharam com números idênticos, em outras guerras.

Depois, recua-se um par de páginas neste Diário de Notícias e eis que surge esta assombrosa manchete. Digo assombrosa, porque, à primeira leitura, o título vale quase como um susto. Diz assim: “Famílias sem dinheiro agravam crise em 2009”. Homessa! As famílias sem dinheiro agravam a crise, ou reflectem antes os efeitos dessa mesma crise?! Quem nasceu primeiro afinal? O ovo ou a galinha? Ainda hoje ninguém sabe.

Agora neste outro caso – e voltamos a ele, desculpem, mas os jornais não se têm calado com o assunto nos últimos dias… o dos casamentos homossexuais. E hoje, o DN cita a opinião de um partido que se auto proclama de Nacional e Renovador. É o PNR, cujo líder, José Pinto Coelho terá ontem manifestado o veemente repúdio pela proposta socialista, de levar a matéria a discussão, para já no congresso do partido… depois se verá, se o assunto sobe a discussão parlamentar…

Ora, a primeira dúvida que surge é saber até que ponto se deve ou não dar eco a certas declarações e opiniões e tomadas de posição. Mas também há quem diga, que não há silêncios inocentes e calar, ou fazer que não se sabe é meio caminho para as mais desagradáveis surpresas. Mas não nos dispersemos e já que temos a valsa começada, como diz a cantiga… vamos em frente.

Disse então José Pinto Coelho em nome da Renovação Nacional, que está veementemente contra a discussão, no congresso socialista, do assunto dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Não é o único nem o primeiro. Mas depois, os argumentos começam a diluir-se e ficar um pouco difusos. O primeiro argumento é que esses casamentos vão destruir a sociedade, Aliás, vão destruir os valores da sociedade. Só que depois, a argumentação segue por outros caminhos, quando o líder Nacional Renovador anuncia a determinação no combate à promoção da homossexualidade. E aqui já não se fala em casamento. Fala-se no combate à homossexualidade, ou à promoção da homossexualidade… Ou como se, a possibilidade de um casamento civil, fosse aliciante quanto baste, para um heterossexual decidir reciclar-se, ou, se quisermos, renovar-se e abrir-se a outras experiências…

Mas faltava ainda conhecer o verdadeiro Graal, que faz mover o líder dos nacional renovadores… diz José Pinto Coelho que é para enfrentar os dogmas do pensamento único. Essa é uma das razões que levam José Pinto Coelho, em nome da Renovação Nacional, a opor-se veementemente à discussão, no congresso do PS, dos casamentos de que se fala… Para enfrentar os dogmas do pensamento único. Fica por saber qual a abertura de Pinto Coelho para levar o assunto a discussão de um futuro congresso do partido que representa. Em nome do pensamento plural, claro está!

E, ainda à volta das polémicas declarações que negam o Holocausto , o Papa Bento 16 acaba de condená-las, como inaceitáveis e intoleráveis.

Mas que, mesmo assim, mantém a decisão de reintegrar no seio da madre igreja o padre inglês da Fraternidade de S. Pio 10º. O tal bispo que disse que nunca houve câmaras de gaz em Auschwitz e Dachau e nos outros campos de extermínio nazis. Ontem, no Vaticano, durante o encontro com associações religiosas judaicas, o papa sublinhou que a Igreja está profunda e irrevogavelmente comprometida em rejeitar todo o anti-semitismo… Convenhamos que a relação causa efeito não é aqui completamente clara, ou seja… quando o bispo inglês nega a existência das câmaras de gaz, é indiferente quem eventualmente possa ter sido morto, nessas câmaras que, segundo ele, nunca existiram. Ou seja, tanto faz que tenham sido judeus, ou ciganos, ou deficientes, ou outra qualquer gente, que para a doutrina social nacionalista fosse considerada como sub espécie, ou ameaça perversa.

E será isso que Bento 16 quer dizer quando afirma, como o fez, ainda no mesmo contexto e circunstância, que – abram-se as aspas – "o ódio e o desprezo por homens, mulheres e crianças, que se manifestaram com o Holocausto, foram um crime contra a Humanidade" E continua, o papa, dizendo que isso "devia ser claro para todos, especialmente para os que se baseiam na tradição das sagradas escrituras, segundo as quais cada ser humano é criado à imagem e semelhança de deus.

E aqui é que tropeçamos neste pequeno imbróglio… Então e os que não fazem assim tanta questão quanto isso, nessa divina ascendência, terão eles, por causa disso, menos direito à vida e a ser tratados com a dignidade mínima, que cada ser humano merece e com o respeito que cada um deve ao vizinho do lado, seja ele, o bispo da Cantuária, ou o mais irredutível heresiarca?!...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

duas patuscas personagens

É ás vezes nas pequenas coisas, que se escondem as maiores surpresas, as mais surpreendentes revelações. Atente-se então nesta breve do Diário de Notícias.

Tem a ver com a lei, que descriminaliza a interrupção voluntária da gravidez – vulgo – lei do aborto.

Diz o título, que as mulheres são as vítimas. E diz, citando a Federação Portuguesa pela Vida, que ontem, na voz da presidente Isilda Pegado, considerou que, as grandes vítimas da liberalização do aborto, são as mulheres, exigindo ao Estado que defina objectivamente qual o seu papel. Disse, Isilda Pegado, que o que se vê todos os dias são mulheres com depressões, arrasadas pela situação do aborto. Fica por esclarecer se as mulheres, de que Isilda Pegado fala, se sentiriam menos deprimidas e arrasadas, se o aborto continuasse a ser proibido e praticado na clandestinidade, com todos os riscos conhecidos e imprevistos… Sobra entretanto a revelação surpreendente de Isilda Pegado… de que são as mulheres as vítimas! É estranho, mas pode ser verdade, que sejam as mulheres as vítimas. Tão estranho, como se dissesse que são elas também as beneficiárias do fim dos abortos clandestinos. Tão estranho como, de repente, ouvir uma federação, que se auto proclama defensora da vida, esquecer-se dos nascituros e decretar que são as mulheres as principais vítimas de uma interrupção voluntária da gravidez. E já agora, a palavra "voluntária", será mesmo só uma liberdade poética a enfeitar a frase, ou qualquer coisa mais? E,admita-se que sim, que nunca é uma opção tão voluntária quanto isso… mas em verdade, alguém imagina um monólogo deste género:” … que tédio! Mais um dia sem nada p’ra fazer? Vou às compras, ao cabeleireiro, visitar as primas?... Melhor, já sei! Vou fazer um aborto.

É o diabo que anda à solta, é o que é!... O padre australiano Danny Nalliah não tem dúvidas, que o fogo que arde a olhos vistos na Nova Gales do Sul e no estado de Vitória é obra de Satanás, o próprio. Disse-o, ao jornal australiano The Age, que a protecção de deus abandonou o estado e Satanás está a atacar a nação. O sacerdote é também o líder de uma organização chamada Catch the Fire Ministries – ora, em tradução rápida, seria qualquer coisa como - Ministros que apanham o fogo. Será uma organização formada ad-hoc, na circunstância dos actuais incêndios? Ou o fogo de que se fala é mesmo o tal sulfúrico e endiabrado fogo dos infernos? … Isso não diz, mas diz – o padre Nalliah que, por trás de tudo, estão pecados como a aprovação da lei do aborto, o ano passado, na Austrália.

Por isso, o padre pede uma semana de oração e jejum para, entre outras coisas, presume-se – pedir piedade pela lei do aborto e outras leis injustas e ateias.

O ex ministro das finanças Peter Costello já disse que apoia a semana de jejuns e orações, mas pelas vítimas dos incêndios, que do resto, acha má política misturar o sofrimento das pessoas, com questões políticas… disse mesmo que acha “chocante, cruel e errado”.

Mas dizia o padre Nalliah, que deus abandonou a Austrália por causa de coisas como a lei do aborto. Foi isso que levou Deus a permitir que Satanás, ele próprio, executasse o castigo divino. Temos então, deus e o diabo trabalhando em equipa! Pode ser um bom sinal de que, ao mais alto nível, as coisas estão bem entregues… adiante portanto.

Mas há aqui uma dúvida! Porque é que agora se fala em obra de Satanás, quando, por exemplo em 1918 e no ano seguinte, a gripe espanhola matou mais de 12 mil pessoas e ainda hoje se diz que essa foi a pior tragédia que se abateu sobre o país… Gripes não contam? Então incêndios. Os que arderam entre esse Dezembro de 1938 e o Fevereiro do ano seguinte fizeram quase 500 mortos, mais do dobro dos que se contabilizaram já. Diz-se, que o número de vítimas mortais nos incêndios que agora ardem pode chegar às 3 centenas – de momento aproximam-se das 200. Em qualquer dos casos, não se chega aos 500! Mas, esses incêndios, provocados pela onda de calor, e que são, por seu lado e até ao momento, a pior tragédia envolvendo fogos na Austrália não seriam também um sinal de que deus estava zangado, já, nessa altura, em 1938 e soltou o diabo p’ra pegar fogo à Austrália, ou ainda não?

Não interessa. Já foi. Mas agora e desta vez, não sobram dúvidas… o diabo anda à solta e, garante o padre Nelliah, não é um pobre diabo qualquer, mas Satanás ele próprio…Enfim, Satanás ele próprio…O comandante em chefe de todas as legiões infernais… será talvez um pouco exagero, mas uns pequenos diabretes endemoninhados, aí, talvez. É que, para além da extraordinária onda de calor e das trovoadas e raios que explicam alguns dos casos, há ainda a opinião dos especialistas e investigadores, que apontam para fogo posto. E é por isso que as autoridades australianas mobilizaram uma unidade especial, para perseguir os responsáveis incendiários. A notícia não diz se, nessa unidade especial, se inclui algum exorcista… Sabe-se que, quando os apanharem, aos criminosos incendiários, é por homicídio involuntário, ou mesmo homicídio em primeiro grau, que hão-de responder, não tanto por blasfémia ou heresia. A César o que é de César.

Talvez que, quando trovoadas e eclipses se explicavam por insondáveis fúrias e destemperos divinos, a vida fosse mais maravilhosa, tivesse maior mistério, mais encanto… mas também se morria muito mais. Haviam mais doenças e o saneamento básico… meninos, desculpem, mas era uma choldra!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

I feel gay today. oh so gay!...

Estava na agenda e o Diário de Notícias lembra hoje, que a Conferência Episcopal Portuguesa se reúne esta 3ª feira em Fátima, para discutir várias coisas e encontrar soluções e remédios. Assim meio vago, porque, como disse ao jornal o porta-voz da conferência, vai ser mais uma reunião de trabalho do que assembleia plenária, e que, por isso, não se pode antecipar grande coisa sobre a agenda de trabalhos…

Sabe-se só que, em jeito de período antes da ordem do dia, se há-de debater a crise económica e, aqui sim, tentar encontrar os tais remédios para a resolver, sendo que há assuntos mais importantes para resolver, do que alegadamente os chamados assuntos da actualidade. O que parece certo é que na mesa de trabalhos, dos 8 bispos convocados para este Conselho, está a questão dos casamentos entre homossexuais. Diz o título do DN, que os bispos debatem hoje a posição a tomar sobre casamentos gay. Assim mesmo, em inglês, como se foi tornando hábito; como se não houvesse tradução em português para essa circunstância… Mas adiante, que isto de nomes trás muito que se lhe diga.

E disse. Já o disse, o próprio cardeal Policarpo, em Janeiro, que na matéria em apreço, o problema pode ser o nome que se dá, à coisa em si. Casamento.

O DN cita entre aspas o cardeal José Policarpo… “Chamem-lhe outra coisa, mas não lhe chamem casamento”.

Sabe-se que a Igreja vai continuar a lutar pela promoção do casamento e da família – disse o porta voz da Conferência – e que entre outras coisas vai continuar a preparar os noivos para o matrimónio e a aconselhar as famílias e casais que precisem. Mas, tudo isso, desde que sejam casais heterossexuais---ou seja, um homem e uma mulher … uma mulher e um homem… agora casamentos entre duas pessoas do mesmo sexo é que nem pensar. Ora aí está! Ora aí está, que não é isso que a Igreja, através da voz do cardeal José Policarpo, diz e defende. A Igreja não parece ofender-se por aí além, se duas pessoas do mesmo sexo se casarem. É verdade que também não explica se, depois de o fazerem –e se isso vier mesmo a ser possível em Portugal – lhes dedica uma catequese especial, ou simplesmente os expulsa da Casa de Deus… O que se sabe de certo e seguro é que é fundamental, pelo menos para o cardeal Policarpo , que não se chame casamento às futuras e eventuais uniões matrimoniais entre pessoas do mesmo sexo. O mesmo seria quase dizer que, à sexta-feira, dia de penitência, podes comer a carne que quiseres, desde que lhe chames carapau de gato.

Ou, um pouco mais longe, já que o céu é o limite… Podes adorar quem tu quiseres, desde que não lhe chames Deus!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

trolhas e engenheiros


O Público de hoje dedica-lhe página inteira e para ilustrar a história até publica a fotografia do protagonista. A história, ou melhor, a notícia é a de que José Sócrates promete baixar as deduções fiscais para os mais ricos. Foi ontem, no Porto, onde o secretário-geral foi apresentar a moção ao Congresso e aproveitou para anunciar a tal medida fiscal, que alegadamente vai repor alguma justiça e equilibrar a balança entre contribuintes mais ricos e outros de menores rendimentos. Os economistas dividem-se entre a justiça desta medida e o eleitoralismo, eventualmente implícito no anúncio do primeiro-ministro. De uma forma genérica, as opiniões balançam entre a justiça do princípio em geral e o fraco impacto que a medida poderá vir a ter, no balanço e contas final.

Campos e Cunha, por exemplo. O ex- ministro das Finanças acha que, medidas destas, deveriam surgir integradas num pacote de reformas fiscais e não assim, de forma avulsa e ad hoc , ou, como Campos e Cunha disse – mais para preparar eleições do que para resolver a vida dos portugueses… António Nogueira de Campos, ex- secretário de Estado das Finanças, é dos que acham que a medida vai ter pouco impacto , já que envolve montantes relativamente pequenos. António Carlos Santos, ex- secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, sob o consulado de Sousa Franco, concorda com o princípio em geral. Acha-o justo e principalmente bem-vindo, nesta altura de crise aberta e declarada.

Agora, Sócrates ele próprio. Ontem, no Porto, defendeu a sua dama, dizendo que não há nenhuma razão, para aqueles que são mais ricos passarem a deduzir o mesmo, que a classe média portuguesa deduz… Continuemos a citar o primeiro ministro… que têm despesas com a educação, despesas com a saúde, muito bem (isto é Sócrates a falar), mas as suas deduções (deduz Sócrates)) não devem ser o mesmo que são para a classe média. Ora, é uma opinião respeitável, sendo que, tendo em conta que os descontos e deduções são feitos em percentagem dos rendimentos… é de uma elementar aritmética que, quem tiver mais rendimentos acaba por contribuir com uma parcela maior, para o deve e o haver… haveria de ser assim… e assim seria se todos declarassem rigorosamente o que realmente ganham e todos cumprissem o que a lei determina e o Fisco obriga…

E chegamos à fotografia. A legenda diz que Sócrates, ontem, no Porto, destacou a política fiscal. E ainda bem! Ainda bem, que a legenda explica o que está a fazer o primeiro-ministro, ou o que acabava de fazer, quando o fotógrafo disparou o instantâneo.

Porque, se não fosse a legenda, teríamos de nos lançar à adivinhação. Passando a explicar… A sala está vazia. Ou seja, as cadeiras atrás de Sócrates estão vazias. Só o primeiro-ministro surge em grande plano erguendo os braços, flectidos por trás do pescoço, acima da cabeça, enquanto fecha a boca com força, apertando os lábios numa expressão que não se percebe se é de esforço, ou de um contentamento à beira da explosão. Uma atitude, ou postura, que facilmente se poderia confundir com o gesto de uma pessoa a espreguiçar-se. Acontece que, o olhar de Sócrates se perde para fora de campo. Já vos falei da expressão nos olhos?... É de um contentamento mal contido. Sócrates erguendo os braços por cima da cabeça, punhos cerrados, boca apertada num esgar de esforço e os olhos brilhando de um contentamento mal contido. Assim mesmo e tal e qual, descartada que seja a hipótese, por absurda e improvável, do primeiro-ministro estar a espreguiçar-se, resta uma legenda bem mais óbvia, que a que o Público escolheu. “Sócrates festeja o golo da selecção Nacional”. Podia ser a legenda e ninguém desconfiava. “Sócrates explica como se deve colocar correctamente um chapéu de campino”. Também encaixava. Mas não. Diz o Público, que Sócrates destacou ontem no Porto a política fiscal. Ora aí está… uma imagem vale mais que mil palavras?!... Olhe que nem sempre, shô tôr, olhe que nem sempre!


E esta notícia já por aqui tinha passado, pelas páginas do JN. Hoje acrescenta-se-lhe o veredicto final. O viaduto vai mesmo abaixo.

O viaduto do Forte da Casa, no concelho de Vila Franca de Xira. O mesmo que foi construído há 8 anos e nunca chegou a servir para coisa nenhuma.

Diz o jornal que, “com 8 anos de construção e 2 milhões de euros depois, a Câmara de Vila Franca vai demolir o viaduto do Forte, uma ponte cuja altura foi mal calculada, não tendo saída de um dos lados, por embater numa serra”. É bem verdade, que a fotografia não deixa dúvidas. O viaduto desemboca mesmo de encontro a uma colina sem saída aparente. Aparentemente, porque os construtores rodearam entretanto a situação construindo uma estrada contornando o morro, abatendo, segundo o JN, árvores centenárias inseridas numa área de Reserva Ecológica Nacional. Aliás, o projecto chegou a ser alvo de uma providência cautelar e de um relatório crítico, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, precisamente por se encontrar em áreas de redes agrícolas e ecológicas. Mas fixemo-nos no essencial e mais óbvio. E o óbvio é que o tal morro já lá estava, quando os planos foram desenhados no papel. Diz o jornal, que apesar de fiscalizado por uma empresa de segurança, cedo se percebeu que o viaduto não tinha saída, colocando-se na altura a hipótese de se escavar um túnel por baixo da colina. O que não chegou a ser feito, porque punha em risco as urbanizações vizinhas. Decidiu-se então construir uma estrada a contornar o monte. Desmatou-se o local e construiu-se uma estrada, que leva ao cimo da pequena serra. Mas, mesmo aqui, o tiro saiu um pouco ao lado. Consta que a estrada tem uma inclinação superior ao permitido por lei e tem lá pelo meio uma curva demasiado apertada para ser segura e que choca, além disso, com uma área de serviços do aeroporto da Portela…

A Câmara não sabe ainda quando, mas uma coisa é certa, o viaduto vai mesmo ser demolido, já que não serve a ninguém. Foi construído em contrapartida de umas licenças de construção, agora a Câmara espera reaver algum desses 2 milhões de euros gastos, com o dinheiro que conseguir, em outros licenciamentos futuros de novas urbanizações no Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria. Diz o jornal que, depois e a seu tempo, um outro viaduto será construído no mesmo local. Desta vez, uns metros mais alto, para não chocar com a serra.

Porque em verdade e bom rigor, a parábola em que a fé move montanhas não parece aplicar-se à engenharia civil, ou às obras públicas.