sábado, 28 de abril de 2007


~há dias assim

sexta-feira, 27 de abril de 2007


A maneira matreira
Como a matemática se mete
Na metafísica
O despudorado à vontade
Com que o tempo
Nos dá a exacta medida
Da liberdade



“Continuamos hoje, portanto…”olhava para as mãos com ar distraído, enquanto, com as orelhas, ia espantando as moscas que lhe voavam à volta da cabeça. A voz saia-lhe arrastada e monocórdica, mal sobressaindo do ruído de fundo, dos carros passando, lá em baixo, na rua.
“Continuamos hoje, portanto, a falar das consequências nefastas…” – sublinhava sempre o “nefastas” com uma lentidão exasperante e ridícula! Há pessoas que têm um jeito especial para pronunciar certas palavras de forma a torná-las odiosas! Era este o caso.
“Nefastas! Dos efeitos imprevisíveis; dos danos irreversíveis...” – e balançava o corpo para a frente, acompanhando a cadência das sílabas, num movimento untuoso e pendular. E ao fazê-lo, esticava a cabeça de uma forma absurda, que lhe dava o ar de pássaro bêbado. Por vezes, era difícil conter o riso…
“Falar-vos dos perigos escondidos debaixo dos tapetes semânticos e das mantas semióticas com que se cobrem as línguas de trapos!” – sempre gostara de frases extensas e pomposas. Enfim, nem sempre. Houve uma fase em que não disse nada, outra em que não dizia nada que se aproveitasse e uma outra em que só dizia a palavra: “fungas”. Enfim, fases…
“Alertar-vos para as múltiplas e complexas ambivalências e dissemias com que se confronta a comunidade actual, enquanto tal…” – aqui, ele sabia que a polémica era mais que certa. Toda a Academia se agitava, há muito, à volta deste problema. Uns defendiam que se deveria entender a comunidade actual enquanto tal; outros que ela deveria ser entendida enquanto coisa e tal; outros ainda, que a avaliação deveria ter em conta tal e coisa… Enfim, critérios!

….


E por agora, chega !
Arre gaita.

"o BÉBÉ
qUE NASCEU a CHEIRAR
A BAGAÇO"





por estranho que pareça, foi isto que ouvi esta manhã na telefonia.


p'lo menos, na minha telefonia...



Dei comigo, agora mesmo, a pensar nisto: porque é que eu guardo certas merdas?! Ou, pondo a questão de outra maneira: certas merdas, porque insisto eu em continuar a carregá-las de um lado para o outro, mesmo quando mudo de casa, de vida, ou simplesmente de lixo !... São coisas, que sei de antemão, que nunca mais, ou muito pouco provavelmente, voltarei a revisitar, ou ser-me-hão de qualquer utilidade prática, ou urgente...


Depois concluí, para me calar : se formos a ver, também a torre de Belém, não a visito todos os dias, nem moro lá dentro e no entanto, não a desejo ver demolida, nem acho que deva ser deitada abaixo, por causa disso ! Ora aí está!


Ora aí está! - concluí para me calar, ou só para adiar uma vez mais a arrumação da casa ?!...