quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Puta que pariu as donzelas ofendidas



Fico contente, a ser verdade, como os tribunais acabaram por concluir, a inocência de Paulo Pedroso no processo de pedofilia . Contente porque, a ser verdade, sempre é menos um ranhoso na lista dos culpados.
Agora o que me indigna, apesar de não me espantar por aí além, é o gajo vir agora pôr o Estado em tribunal e exigir uma indemnização de 600 mil euros por danos morais e materiais !
O bezerro não tem vergonha na cara? Que moral é que ele prega, afinal? Não deveria estar agradecido ao Estado português por, apesar das demoras e impasses e retrocessos processuais, investigar todas as suspeitas e indícios, para esclarecer, julgar e despachar o processo?! Não deveria ficar muito caladinho, até que o tempo lavasse a memória desse mau bocado que passou?! O gajo não percebe que não são os 600 mil euros que vão limpar da memória do povo - se o povo se importasse verdadeiramente com a reputação dele - a mancha, a pedra no sapato, a pulga atrás da orelha em relação à personagem dele?
De certeza que pertence ao Partido Socialista? O mesmo que está no Poder e pede contenção e esforço ao povo português?
Será que pensa que o dinheiro cai do céu?
Será que pensa, que andamos a contar tostões e a apertar o cinto para pagar indemnizações a "donzelas ofendidas" ?
Por outro lado, ou pondo a questão de outra forma mais perversa e provocadora: será que a consciência do jovem deputado se acalma com uma soma - neste caso - tão ridícula como a merda de meio milhão de euros ?!!!

Cheira-me a esturro. Mas é que me cheira tanto a esturro, que até tapa o cheiro a merda de toda esta história e respectivos protagonistas e figurantes.

E se tinha de ser dito, dito fica.

terça-feira, 28 de novembro de 2006


DIZEM-SE COISAS TERRÍVEIS NA TELEVISÃO.
O CARDEAL PATRIARCA ACABA DE DIZER QUE AS NAÇÕES NÃO SÃO SÓ OS SEUS GOVERNOS, MAS TAMBÉM OS SEUS POVOS.
É FANTÁSTICA, A DECLARAÇÃO E A EMINÊNCIA !
ACHO EU...

sexta-feira, 24 de novembro de 2006



ela nunca percebeu como as bebidas foram ali parar, mas segurou o copo e, sorrindo com um ar confiante, preparava-se para o levar à boca, quando qualquer coisa a fez mudar de ideias. a expressão transfigurou-se-lhe subitamente. a pose tornou-se hirta e desconfiada. e se tudo aquilo não passasse de uma encenação para a apanharem? uma enorme e tremenda conspiração para a comprometer e levarem a cometer o erro fatal ? poisou o copo lentamente sobre o balcão e deixou deslizar o corpo p'las costas do banco. conhecia o estratagema. pensou: pois sim, meus ricos, conheço muito bem o vosso estratagema, mas comigo não cola. lançou um olhar em volta. agora atenta, observadora e obrigada. e pôs-se à coca.






o super homem foi ao continente comprar um novo fato de super herói, que o que tinha já estava a ficar puído no meio das pernas e era uma vergonha, que já se lhe iam vendo as cuecas quando voava por sobre os prédios da cidade. quando lá chegou, foi logo direito à secção onde havia o fato que ele queria. e havia-os de todos os tamanhos e alguns até com inovações e retoques de muita imaginação e bom gosto, como aquele com guizos nas botas, diz que, inspirado nas renas do pai natal. já se via, a aterrar no telhado do Daily Planet, a chocalhar a guizalhada, p'ra impressionar a escanzelada da Miriam Lane!...mas não. no caso dele, havia de ser fiel ao padrão original e reconhecido em todo o mundo. uma questão de princípio e dever de ofício. um padrão manhoso como o diabo que o pintou. sempre o achou e disse a quem o quis ouvir. o problema é que nunca ninguém o quis ouvir, ou ligou importância. uma fatiota ridícula e incómoda! sempre o disse. mas quê... o que vale é que, p'lo menos, desistiram de lhe desenhar um triângulo florescente nos fundilhos, p'ra voar de noite!


o tempo não está para festas! - disse ele, coçando a sobrancelha. primeiro pensei que era mais uma daquelas crises de depressão, muito comuns nele, ou ainda mais simplesmente, uma daquelas banalidades que se dizem só p'ra não ficar calado. foi a expressão no olhar e a transpiração que começava a brilhar-lhe na testa e a tremer-lhe nas mãos, que o denunciaram de que algo de mais grave se passava. ainda tentei responder e desanuviar o ambiente: pois não, está uma ventania do caraças e chove que deus a dá! aí, limitou-se a repetir,com a mesma expressão obsessiva nos olhos: o tempo não está p'ra festas. parecia que olhava através de mim, como se eu não estivesse verdadeiramente ali! como se fixasse alguma coisa e alguma coisa aterradora que se revelasse mesmo atrás das minhas costas. decididamente, aquilo já não era um comportamento normal. resolvi contra-atacar!: pois não! festas agora só no Natal! aí, desviou o olhar e virou-se para a janela, num gesto lento e dramático demais, até mesmo para uma criatura naquela posição. imitei-lhe o gesto e o que vi gelou-me o sangue e a alma. insinuando-se p'lo silêncio do beco, avançava a sombra ameaçadora do Homem Aranha

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Não perca o próximo fenómeno! Chaputas tiram a vista ao Arco do Cego

Em verdade e ao certo, não sei o que terá dito a citada fonte... mas sei, porque li, em "Última Hora", na edição do Diário de Notícias desta quarta feira, o que escreveu o ilustrado jornalista que redigiu a breve.

Diz então que: " o denso nevoeiro que ontem caiu sobre a cidade de Lisboa provocou congestionamentos na ponte e... " que " a perca de visibilidade causada pela neblina fez com que o tráfego ficasse muito mais lento"... Diz ele que foi o que lhe "explicou fonte da Brigada de Trânsito da GNR" !
Pois terá sido. Nem me atrevo a duvidar de semelhante fenómeno atmosfeérico - isso mesmo - atmosfeérico.
Deve ter sido assustador e fascinante, atravessar a ponte com as percas enublando a vista! Milhares de pequenas percas voando por entre os pilares da 25 d'Abril! Iria mesmo mais longe. Dezenas de pequenas percas e (quem sabe!) talvez também algumas sardinhas e carapaus enjoados. Mas vamos ao cherne da questão. A verdade é que ninguém terá querido perder semelhante espectáculo. Forçosamente havia de circular "mais lento do que o habitual", o trânsito, o tráfego, o tráfico, o trolha !

quarta-feira, 8 de novembro de 2006


Quem me diz
Que mal eu fiz ?!
Euridíce
Orfeu
nos Infernos…
Que diabo
faço eu aqui?!
Hein?
Hi!

segunda-feira, 6 de novembro de 2006




sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Uma sondagem promovida por vários jornais de referência internacionais, que recolheu mais de quatro mil opiniões, revela que George W. Bush é visto como uma ameaça mais séria à paz mundial do que o líder norte-coreano, Kim Jong-il, e o Presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad...
(in "Público", 3 Novembro 06)
Já ouço algumas inteligências a comentar: pois, claro, está você a ver, isto, as sondagens valem o que valem...
PIRATAS DO AR
ANDAM NUS
A ROUBAR
O OXIGÉNIO

JOVEM SUICIDA
SE ÉS DINÂMICO
E ENÉRGICO
SUICIDA-TE

ESCÂNDALO NA BOLSA
AS BOAS ACÇÕES
FICAM COM
QUEM AS PRATICA

FOI ATROPELADO
NA PASSADA
SEXTA FEIRA
DAS INDÚSTRIAS

JOVEM BALEADA
NUMA FONTE
GERALMENTE
BEM INFORMADA

Pode ser um preciosismo. Uma embirração de velho, cisma de ocioso. O que se quiser!
Vem a propósito do tão cantado "saudosismo" lusitano... Seja lá isso o que for, a verdade é que esta terra grama sofrer! Não da morriña galega, ou da paixão dilacerante das tragédias gregas. Sofrer assim em banho-maria. Sempre e sem grande chama. Mas isso é outra prosa. Voltemos ao princípio.
E no princípio foi o verbo. A forma verbal!
A reportagem acompanhava a partida de soldados portugueses para um qualquer Afeganistão... No cais da partida, o repórter entrevistava a família dos bravos voluntários. Pois, o pior vai ser o Natal. E respondia a noiva. Pois, é a primeira vez que passa o Natal longe da família. E voltava o repórter. Vai ser mais difícil. Respondia a noiva. Pois, no Natal é que esperemos que as saudades sejam maiores!
Repararam no tempo do verbo?! Esperemos! Não - esperamos! Mas - esperemos!
É um desejo, o que noiva expressa! Como quem diz: que ao menos se ganhe alguma coisa com isto. O gajo está longe no Natal, mas sempre dá para sofrer mais um bocadinho de saudades.
Esperemos...

quarta-feira, 25 de outubro de 2006


A gaja do Telejornal
põe um ar profissional
e despeja com à-vontade
tudo o que é actualidade

do país e do estrangeiro
em trinta mil linguagens
todo o mundo o mundo inteiro
tudo a cores e com imagens

dificilmente se abranje
assim tanta informação
nem compaixão que se arranje
pelo menos tanta não

sábado, 16 de setembro de 2006

COMPRA-ME UM MORCEGO

Esta tem de ser dita!
A televisão que se reclama de serviço público - a RTP... pior!, o canal que se reclama de um campeonato aparte - a TV2 - apresentou este sábado um documentário ( parece-me - que já apanhei a coisa a meio) sobre um jovem monge tibetano que desce à cidade e se confronta com a civilização extra monacal.
Vamos ao que importa. O jovem monge passeia-se p'la cidade com o primo e a dado passo pede-lhe que lhe compre um morcego ( cito a tradução em legenda).
Achei estranho, mas, cada terra com seu uso... "Buy me a bat", foi o que o puto disse, ao que o primo lhe respondeu: "I already bought you a ball!" e depois disse qualquer coisa como, por exemplo, que não tinha mais guito p'ra lhe comprar também "a bat".
É verdade que, em inglês, "bat" - morcego e "bat" - taco de beisebol, se escrevem e pronunciam da mesma maneira. Mas quem se fica p'las legendas não tem obrigação de saber isso. A TV2 tem!
Resumindo e directo ao assunto - no caso, a quem traduziu e à RTP que comprou a desastrada legendagem :
-Compra-me um morcego!
-Eu dou-te é com um taco de beisebol na carola, tosco do caraças!

SEMPRE OUVI QUE HÁ MUITO MAIS
MARINHEIROS QUE MARÉS
QUER TRAGAS O MUNDO ÀS COSTAS
OU TRAGAS O MUNDO AOS PÉS

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

domingo, 27 de agosto de 2006

o Pulido Valente não sabe o que é uma carrinha de caixa aberta

Escreve o sr. Pulido Valente, na crónica deste domingo, no Público, que "ninguém deve contrariar um maluquinho com uma causa" E isto a propósito, entre outras coisas, da "rentrée de Manuel Monteiro, o presidente da "Nova Democracia"(N.D.) - ou "Democracia Nova", como interroga o articulista, fazendo-se de novas, em exercício blasé - p'ra rimar com rentrée .
Diz então que Manuel Monteiro foi a Vila Praia de Âncora, numa carrinha de caixa aberta ("o que será isso?", volta a interrogar o cronista Valente) para tentar arregimentar um eventual futuro eleitorado para a sua - dele, Monteiro - nova direita portuguesa. Com microfone, altifalante e cópias do Manifesto com que ele - Monteiro - espera convencer/converter os veraneantes da supra citada Vila P. d'Â.
Numa avenida de esplanadas cheias, Monteiro "pede desculpa" por "incomodar" e "fala 10 minutos", continua ele - o cronista Pulido .
A ideia com que fico, ao ler a prosa de VPV (Vasco Pulido Valente) é que ele - VPV - acha mal. Acha mal que um Monteiro qualquer se monte numa carrinha de caixa aberta ("o que será isso?") e vá chatear os banhistas de VPd' com os manifestos dele -MM(Manuel Monteiro)... Provavelmente acharia igualmente mal se a praia em questão fosse a Caparica, ou a dos Tomates - não vem ao caso. O caso é que, p'ra mim, a questão é outra. É que não vejo grande diferença entre esta "invasão de tranquildade" de MM em VPd e a dos pares de MM noutras praias, praças, largos, pracetas, mercados, estações de comboio e onde lhes dá na republicana gana, em comícios de rentrée, ou campanhas eleitoralescas ! O mesmo para a cobertura exaustiva que ainda se vai fazendo, dessas mesmas alegres campanhas, em rádios, televisões e jornais de referência, ou de deferência, ou o diabo a quatro, com as respectivas leituras informadas e esclarecidas de comentadores, cronistas e outra iluminada gente, que escreve e assina por baixo, sobre estas coisas da pulítica. A verdade é que ninguém os mandou vir e eles vêm na mesma. Com manifestos, esferográficas, bonés e sacos de plástico, beijinhos e abraços e conversa de ir ao cu, a chatear quem está e muitas vezes, sem pedir desculpa p'lo incómodo.
Mas, já estou como diz o colunista , ninguém deve contrariar um maluquinho com uma causa. Principalmente, um maluquinho "famoso".

quinta-feira, 24 de agosto de 2006


tudo se resume a esta filosófica geringonça da necessidade e satisfação :
levar o copo de água a Garcia.
- Betty, um ginger ale à mesa 9 !
é uma da tarde
é hora d'almoço
em Queluz Ocidental
o fogo que arde
não causa alvoroço
é o de um churrasco
no quintal
há coisas que não sei porque se mexem
nem se não era bem melhor ficar paradas
não sei explicar fenómenos que acontecem
não sei explicar as coisas agitadas

domingo, 20 de agosto de 2006

Reconheço que é dar confiança a mais ao azeiteiro do Alberto João Jardim, mas não resisto a perguntar: em nome de que autonomia é que o palhaço se ofende com o anunciado corte de verbas do Governo Central à sua pérola do Atlântico?!...O cagarolas, que se nega a divulgar a lista dos vigaristas que fogem ao fisco na Madeira, que passa a vida a insultar toda a gente do cont'nente, a agitar a bandeira de uma pseudo-independência bacoca, a espalhar aleivosias aos quatro ventos e a cagar d'alto sobre todos, sem respeito nem vergonha.. é com a mesma sem vergonha que vem reclamar a esmola dos financiamentos regionais.
Reconheço-lhe razão num ponto: os jornalistas não prestam. Se prestassem, não lhe davam um segundo sequer de tempo de antena, uma linha nos jornais. Deixavam-no a falar sozinho

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

atentai nesses heróis
que do alto das muralhas
comem laranjas e mandam
as cascas assim ao calhas
atentai neles que são
quem a história há de’screver

'tá bem e as cascas no chão
qual deles as vai varrer?...

ainda que mal pergunte...

PODES TER MUITA RAZÃO
PODE SER MUITO INTERESSANTE
SE EU OUVIR COM ATENÇÃO
‘TÉ PODE SER IMPORTANTE
PODE SER OU TALVEZ NÃO
E AINDA QUE MAL PERGUNTE
? O QUE É QUE ESTÁS A DIZER ?...

É QUE P’RA DIZER A VERDADE
AINDA NÃO PERCEBI
NEM SEQUER MEIA METADE
E GARANTO-TE EU A TI
NEM SEQUER É MÁ VONTADE
E AINDA QUE MAL PERGUNTE
NÃO SEI SE TU ESTÁS A VER …

QUE EU GOSTO DE OUVIR FALAR
QUEM BEM FALA E SABE E DIZ
COISAS QUE FAZEM PENSAR
E NOS TORNAM MAIS FELIZ
? MAS NÃO PODES ASSOAR
E AINDA QUE MAL PERGUNTE
ESSE PINGO DO NARIZ ?...

COMO QUERES TU QUE OUÇA
NÃO ME POSSO CONCENTRAR
NEM POR MAIS QUE EU ME TORÇA
ME CONTORÇA NÃO VAI DAR
COMO QUERES TU QUE OUÇA
E AINDA QUE MAL PERGUNTE
COM ESSA PENCA A PINGAR ?...



Ž/ 27/10/05

sexta-feira, 4 de agosto de 2006


"O Governo central não tem nada a ver com isso, nem pode fazer absolutamente nada" em relação à proibição que Alberto João Jardim decretou à administração fiscal da Madeira de poder revelar a lista de contribuintes faltosos no arquipélago...Quem o diz é José Luís Saldanha Sanches. O problema, afirma o fiscalista, "é que na prática a Madeira, como os Açores, acabam por ser na mesma subsidiados pelo Estado central através do Orçamento do Estado"... E considera que a nega de Jardim à divulgação daquela que já é conhecida como a lista negra dos devedores ao fisco é "uma questão política". Esta aparente impotência do Governo central de dar a conhecer os devedores madeirenses é reconhecida pelo Ministério das Finanças. Ao DN, fontes oficiais disseram: "Há base legal para isso, portanto, não se pode fazer nada."
(Francisco A. Leite in Diário de Notícias, 4 Agosto)
E se déssemos a independência à Madeira? A sério mesmo, acham que Portugal perderia assim tanto com isso?! Far-nos-á assim tanta falta? O Alberto João é que não faz falta nenhuma, de certeza. Isso garanto eu.
"Inaceitável." É desta forma que os médicos contactados pelo DN caracterizam a decisão de alguns hospitais travarem a compra de medicamentos inovadores para conter despesas...
O bastonário Pedro Nunes diz que a medida denota "um corte cego" a que a Ordem vai estar atenta.
Ricardo Camacho, médico especialista na área do HIV/sida - que, juntamente com o cancro, é responsável pela maior fatia das despesas - não tem dúvidas em afirmar que se trata de "um escândalo nacional", "admitido em público com todo o despudor".
"Inaceitável" é também a palavra utilizada por Jorge Espírito-Santo, presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos. "Os clínicos não se opõem à racionalização da despesa, a questão é a forma como isso se faz...
(Rute Araújo in Diário Notícias - 4 Agosto)
Inaceitável é a roubalheira que muitos médicos fazem, não admitida em público, mas com igual despudor, na calada das vigílias e com a cumplicidade de todos, enfermeiros e serventes dos hospitais. A isso é que a Ordem deveria estar atenta.
Os clínicos não se opõe à racionalização da despesa. Só lhes fica bem. Podem começar por comprar, eles próprios, os medicamentos que precisam para as clínicas privadas e consultórios particulares onde trabalham em paralelo, em vez de os roubarem dos hospitais. Não sei quanto se poupava, mas dava para curar algumas gripes e sarar alguns eczemas.
(Belfaghor in Belfaghor, 4 Agosto)

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Proponho aqui um Movimento Nacional de Luta contra os Morangos com Açúcar, a Floribela, o Batatoon e outras Merdas Semelhantes, que andam a envenar o ar das nossas crianças e a destruir-lhes a inteligência por dentro.
Retiro tudo o que disse, se o Povo - e aí, há que ir a referendo - fizer mesmo questão em viver, daqui a um par de anos, num país de merda governado por atrasados mentais.
o Gugu escapou com o rabo à seringa, num processo de alegado tráfico de influências. Não que se tenha provado a inocência do jovem e promissor advogado (acho que é advogado, o bezerrito), mas porque - é o que dizem - o processo foi arquivado. Agora o Gugu quer que o Estado o indemnize numa batelada de cacau. Provavelmente por danos morais, ou honra manchada... e que tal um balde de esterco p'la cabeça abaixo, oh artista?!
(claro que Gugu é nome fictício, acho mesmo que a própria personagem é uma ilusão de gente, uma proto coisa bastante bem conseguida)
Os médicos estão em braza porque o governo se prepara para mexer na forma e cálculo de pagamento das horas extraordinárias. Terão, eventualmente, toda a razão. A questão é que ameaçam recusar-se a fazer urgências, se a medida for para a frente. Não falam em greve, que isso poderia vir a sair-lhes do bolso... falam em recusa pura e simples, o que, ao que parece, podem legalmente fazer, em certas circunstâncias. A representante de uma merda qualquer com autoridade para falar em nome deles, veio dizer à televisão, que é uma profissão altamente qualquer coisa, do género de "exigente", ou "punitiva" ou ... enfim!, dá trabalho!
Porque é que ninguém os avisou, quando se inscreveram na Faculdade de Medicina? Pergunto uma vez mais: porque é que cabrão nenhum avisou estes gajos?!!!
A verdade é que isto das urgências não é pera doce! Dorme-se mal nos gabinetes, o café das máquinas é uma merda e de vez em quando lá aparece um tipo todo fodido para o médico ter de observar. Se ainda por cima não dá guito, já 'tou como o outro: cura-te a ti próprio e vai bardamerda!
Há uns enfermeiros, no norte( vi no telejornal), que fazem finca pé às novas fardas propostas p'la administração do hospital onde trabalham. Camisolita amarela, a dizer enfermeiro e calcita azul escuro. Dizem que não e teimam em vestir as antigas batas brancas. Dizem que não e não me admirava que "endurecessem as formas de luta", se for caso disso. Fico feliz por eles. Fico feliz por não terem mais nada com que se preocupar senão as cores e corte das fardas. E estou solidário com a heróica luta dessa gajada... mas, pergunto eu, porque é que não estudaram para médico ou barbeiro?! Já que fazem tanta questão na puta da bata branca...


"Não pense mais nisso!" - foi o que lhe disse. Depois, erguendo o braço da mão que segurava o machado e num gesto rápido e vigoroso, cortou-lhe a cabeça de um golpe.

sexta-feira, 21 de julho de 2006

OH ANHUCA TRAZ-ME BURRIÉS”



Entrou no café e disse: oh anhuca traz-me burriés!
Ele devia saber que muita gente não gosta de ser tratada de certas maneiras.
O rapaz rodou sobre os calcanhares e fitou-o nos olhos.
Toda a gente se calou. Os que estavam sentados e os que estavam de cócoras. Os que estavam deitados, a maioria já estava a dormir. Alguns até roncavam. Aliás, o ronco desses era a única coisa que se ouvia, nesse momento, em toda a sala. Como se uma legião fantasma de burriés gigantes avançasse sobre as cabeças de todo o mundo sem que nada o pudesse impedir.
E ficaram assim um bocado. Há quem diga que terá sido um bom bocado. Mas a maioria desses provou-se entretanto sofrerem do sindroma do pastel de nata. Perde-se a noção do tempo.
Então? Repetiu ele. Aquela insistência veio adensar ainda mais a tensão que já pairava no ambiente. O rapaz não pestanejou, continuando a olhá-lo fixamente nos olhos, sem se mexer. A situação ameaçava eternizar-se, quando a porta se abriu e entrou uma lagosta suada e a correr que nem uma sapateira. Todos os olhares caíram sobre a recém chegada. Depois de se levantarem, voltaram aos olhos dos presentes acabados de desembrulhar, enquanto a lagosta se assoava a este guardanapo. É verdade! Este mesmo que aqui vêem. É aliás a única prova de que tudo se passou realmente e nada disto é fruto da minha imaginação, ou vontade de vos agradar e entreter com histórias de fantasia e absurdo.
Parada no meio da sala, alvo de todos os olhares, a lagosta sentia-se um pouco desprotegida e ridícula. Olhou-os a todos em volta girando as antenas, como se procurasse o National Geographic das lagostas. A temperatura em volta ia gelando à medida que a água aquecia p’ró banho. Ninguém se arriscava a mexer um dedo, um café, ou sequer onde não fosse chamado. Um silêncio religioso e contundente escorria p’las prateleiras dos salgadinhos. O tempo pingava da torneira da tuborg. A lagosta desejava ter nascido no Minho, chamar-se Augusta e viver casada com um guarda-florestal.
O rapaz avançou um passo. Arrastava os calcanhares de forma provocadora e cínica, que lhe dava cabo das solas e nem produzia grande efeito. Parou dois metros mais à frente. Era perceptível já, a espuma que lhe começava a escorrer p’lo canto da boca e p’lo nariz. As pessoas na sala agarravam-se às cadeiras, batendo os dentes com o frio, que era cada vez maior.
A lagosta arrastava-se discretamente p’lo chão, tentando sair de cena, o mais rapidamente possível, sem ser notada. É fantástica a capacidade das lagostas, de se disfarçarem para escapar aos predadores e pessoas com mau feitio. Algumas espécies conseguem assumir formas estranhas, como rissol de camarão, ou chamussa de frango com caril.
O rapaz fez então uma coisa assombrosa. Abriu ainda mais os olhos e falou p’los cotovelos. Literalmente p’los cotovelos. Claro que, como tinha as mangas por cima, a voz saia-lhe um pouco abafada, mas dava perfeitamente para perceber o que dizia e o tom em que o fazia. Burriés! Burro és!
O sangue gelou-se nas veias e artérias principais das pessoas e dos animais. Tinham acabado de ouvir a pior coisa que alguém podia ouvir ao cimo deste mundo e continuar vivo, como se não tivesse ouvido nada! A mais antiga praga, o mais violento esconjuro que os Antigos deixaram em tenebrosa herança, sinistro legado.
Via-se que ele não estava a ver a verdadeira dimensão do problema, mas, mesmo assim, qualquer coisa o deve ter alertado. Olhou em volta e esboçou um sorriso. Deveria dizer: forçou um sorriso. Depois, olhando para a lagosta e coçando a cabeça, também ele se começou a transformar em carapau de escabeche. Há quem garanta que ainda sugeriu tremoços, se fosse possível; mas também isso não é certo e mesmo se fosse, não era relevante para a narrativa, nem adiantaria nada à verdade dos factos.
Quanto ao guardanapo. Sim senhor. Limpem-se os senhores a ele, que eu por mim, lagosta, nem aprecio muito.

Platex sed lex. Disse-lhe ele com um ar profissional e descontraído. O mesmo ar com que percebeu que não o estava a convencer. Por isso tentou a volta por outro lado. É o material que se usa agora, amigo! Tem aqui para a vida inteira. E quem lhe disse, respondeu com ar desconfiado, que eu vou durar esse tempo todo?!
Ele defendia a tese que era preciso partir as pernas a um gajo primeiro, para depois ele aprender a andar. Uma teoria que ele defendia com um sorriso, enquanto levava a cerveja à boca.
Já devia passar das 6 da tarde e o movimento lá fora tornava-se ruidoso e impaciente. Sabia que podia confiar no empregado da recepção. Já o conhecia há muitos anos. Quase desde que para ali vinha. Era um polaco, que imigrara muito novo com a família, fugindo dos guetos da Nova Ordem. Um homem que ainda hoje calçava os sapatos ao contrário e dois números abaixo p’ra nunca se esquecer do sofrimento dos seus compatriotas.
Desviou as persianas da janela e o cabelo dos olhos. Olhou para baixo e espantou-se com o tamanho das pessoas lá em baixo. Pensou: ou o prédio cresceu, ou as pessoas estão a ficar mais pequenas! Mas não perdeu muito tempo a pensar no assunto. Havia coisas mais importantes a fazer, como lavar os dentes e ir para a cama. Pensou duas vezes e à terceira já se tinha esquecido do que tinha pensado da primeira vez. Por isso também não perdeu mais tempo a pensar nisso e foi para a cama sem lavar os dentes. Antes de se deitar, ligou para a recepção a perguntar as horas, só para se certificar. O polaco não estava de serviço essa noite e quem atendeu foi uma voz feminina de sotaque estrangeiro, mas não era espanhol. Ficou surpreendido e preocupado. Isto podia alterar-lhe os planos todos. A voz do outro lado da linha esperava que ele dissesse alguma coisa. Improvisou e começou a contar uma história fantástica de uma cabra que comia botões e tinha um corno encarnado e outro verde. Temia que alguém pudesse desconfiar do que se preparava, nessa noite. Qualquer passo em falso podia comprometer o esforço de meses e deitar tudo a perder. Percebeu que a rapariga do outro lado se impacientava e tentou então o tudo por tudo e perguntou-lhe as horas. Depois de um breve silêncio, ouviu-se um clique na linha e uma confusão de vozes em fundo, falando num dialecto que desconhecia. Pigarreou em catalão e depois em siciliano, mas do outro lado continuava a confusão de vozes em fundo. Tentou então cantar o hino nacional sueco, a ver se impressionava alguém. Foi então que do outro lado da linha, uma voz aflita gritou qualquer coisa, que não percebeu bem, mas lhe pareceu: hortaliça! Depois o silêncio. Poisou o auscultador e foi até à porta verificar se estava bem fechada. Fechou também a boca e abriu os ouvidos, um de cada lado. Ligou a televisão e regulou o som de maneira a não chatear os vizinhos, mas a abafar os ruídos do quarto. Depois foi até à janela e olhou, desta vez, para cima. Arre gaita, pensou, se isto é alto lá para baixo, lá p’ra cima não é mais baixo. Ficou confuso com esta conclusão espantosa e recuou até à cama, num movimento cambaleante e exótico. Deixou-se cair sentado, ao pé da cama. Mais propriamente, no chão. Ao pé da cama, mas no chão. Foi nesse momento que bateram à porta e ele aproveitou p’ra dizer que não estava. Disse-o de forma tão pouco convincente que ninguém acreditou e continuaram a bater na porta, com insistência. Sabia que era com insistência. Conhecia-lhes os métodos. Sabia que eles batiam sempre com insistência. Já era assim desde o tempo dos Campos de Amendoim Torradinho. Deixou-se ficar onde estava e começou a fazer caretas virado para a porta, em silêncio. Caretas horríveis. Sabia que eles odiavam aquelas caretas. Fazia-o de propósito, assim, atrás da porta, sem eles verem. P’ra que nunca soubessem, sequer, o desprezo que lhes tinha. E de repente deixaram de bater. Deixou-se ficar alerta. Arregaçou as pernas das calças do pijama e descalçou os chinelos para poder deslizar melhor p’lo chão do quarto. Subiu para a mesa-de-cabeceira e daí deslizou p’lo varão do cortinado até à cómoda, encostada na outra parede, em frente. Parou, de ouvido à escuta e rosa branca ao peito. Foi aí que a televisão começou a ficar com interferências e a deitar fumo por trás. Lá fora, uma sirene rasgou o ruído da rua, como um gato que tivesse entalado o rabo, por exemplo, na porta de uma ambulância. Sabia que tinha pouco tempo e mesmo o pouco tempo que tinha era bem capaz de chover. Se bem que a chuva podia acabar por ser uma preciosa aliada. Saltou para o chão, sem medo de ser ouvido. A ideia de que podia chover, deixara-o mais confiante e descontraído. Tanto que foi direito à lata dos caramelos e tirou uma mão cheia, com que encheu a boca com papel e tudo. Aproximou-se da televisão e deu-lhe uma pancada seca com a mão fechada. Depois outra, com a mão aberta. Não sentiu grande diferença e decidiu-se finalmente por um biqueiro no meio do ecran. Levantou a perna, tomou balanço, mas esqueceu-se momentaneamente do que estava a fazer e deixou-se ficar assim, de perna levantada, até sentir a outra perna dormente. Quando isso aconteceu, acordou-a com doçura e torradinhas. Era assim que ele as convencia a não o abandonarem. Sempre fora muito cuidadoso com o corpo. Estimava-o e defendia-o de todas as agressões externas. Costumava dizer: se ninguém escuta a voz do corpo, falarei eu por ele, custe o que custar, doa a quem doer. E assim era. Muitas vezes o viram em acesa discussão, falando pelos cotovelos, ou pelos joelhos, ou mesmo p’lo nariz, quando se constipou. Mas naquele momento sentiu que era a altura de ficar calado e não tirar conclusões precipitadas. Calculou, de cabeça, a distância entre as duas janelas e pensou que de nada lhe servia saber a distância entre as duas janelas, se não soubesse a velocidade a que o auscultador do telefone voaria, se o atirasse dali, de onde estava, até à outra ponta do quarto. Era uma tentativa arriscada demais até mesmo para a inutilidade do acto em si. De qualquer forma nunca conseguiria lançar o auscultador do telefone, com o aparelho ligado à parede. Foi essa conclusão que, uma vez mais, o tranquilizou e deu ânimo para comer mais uma mão cheia de caramelos.
Sentia-se tão descontraído que lhe apeteceu tomar banho. Foi até à casa de banho e pôs a banheira a encher. Depois espreitou p’la janela e esperou que o semáforo ficasse verde para entrar na banheira.
Tomar banho tinha, para ele, um efeito imprevisível. Muitas vezes saía da água a pingar, outras vezes caía numa espécie de transe cataléptico e desatava a cantar ópera em alemão, segurando o sabonete como se fosse um microfone. O problema é que o sabonete passava o tempo a escorregar-lhe da mão, o que o obrigava a baixar-se e não se percebia metade do que dizia, então, nessas alturas. A verdade é que, nas outras, também não. Mas isso nunca o preocupou. Era frio e calculista. Pouca gente alguma vez soube da maldade que se escondia por trás daqueles olhos piscos. Partir as pernas a um gajo primeiro, para depois ele aprender a andar. Uma teoria que ele defendia com um sorriso enquanto, levava a cerveja à boca. Mas agora era com a boca cheia de caramelos que pensava que, se calhar, era bem melhor assim! Toda a gente pensava que ele tinha embarcado no navio para as ilhas, enquanto, na verdade, ele se escondia ali, manobrando na sombra toda a sinistra estratégia, que essa noite haveria de virar o curso da História, de forma radical e definitiva. Tentou não se sentir mais confortado com este pensamento, porque já não tinha mais caramelos. Saiu da banheira, que sempre era o melhor que fazia. Ou isso, ou as malas para o Quilimanjaro. O problema é que não sabia falar quilimanjês! A menos que lhes fizesse um boneco. Mas será que os quilimanjares eram gente de bonecada? … Odiava quando estas dúvidas o assaltavam. Ainda por cima à saída do banho, quando o apanhavam só com uma toalhita à volta das pudendas. E ainda mais, uma pessoa ralar-se por causa dos quilimanjares! Mas quem eram os quilimanjares, afinal?! Parece que já nem o banho lhe estava a fazer proveito. Tentou acalmar-se. Mastigou mais uma mão cheia de caramelos imaginários e achou-se uma besta. Pois se estava a imagina-los, porque não imaginar coisa mais interessante que caramelos?! Tentou afastar esses pensamentos da cabeça e dos ombros. Fez um esforço de concentração, a ver se se lembrava de onde tinha posto as chaves do frigorífico, até que se lembrou que o frigorífico não tinha chave e respirou de alívio. Faltava pouco mais de meia hora e ele sabia que esses 30 minutos iam passar de forma dolorosa e fatal como um pepino. E um pepino dos doces, que ele há pepinos, que nem em 3 quartos d’hora, uma pessoa faz a digestão daquilo! Aguentou-se à bronca, que é sempre o melhor que se pode fazer, nestas alturas. E no caso dele ainda mais, que a altura era de um vigésimo andar! Por este andar, dizia ele, não vamos longe! Era o que ele costumava dizer: às vezes, era preciso partir as pernas a um gajo primeiro, para depois ele aprender a andar. Claro que muitas vezes, ninguém lhe agradecia o gesto, mas, a isso já ele se habituara. Não guardava rancores, nem cobrava facturas. Ele era, definitivamente, mais fracturas. Expostas, impostas, descompostas. De resto, não havia muito mais a acrescentar. Raras vezes o ouviram dizer qualquer coisa parecida com: o que é que eu ia a dizer, que não era mentira… Nada disso e até, às vezes, muito antes p’lo contrário! Quanto a rancores eram mais as vozes que as nozes. Outras vezes mais o que ouvides do que as pevides, quando não é mais o que apanhas do que as propriamente castanhas! A verdade é essa e isso ninguém nunca o conseguiu provar nem desmentir. Ora toma e embrulha, como se dizia na sua Bronx natal. Já lá não ia desde a Páscoa, mas nunca lhe perdera o jeito. Fazia os melhores embrulhos de toda a zona. Claro que toda a gente sabia o que ia dentro dos embrulhos, mas todos faziam que acreditavam que não sabiam de nada. Era melhor para toda a gente e toda a gente ficava melhor assim. Sentia às vezes aquela guinada violenta na coxa esquerda e isso lembrava-lhe os dias difíceis em que corria à frente da carroça do lixo, por aquelas vielas sujas, onde os gatos vão deixar as espinhas que já não comem, aqueles becos imundos e fundos como o diabo que os pintou. Aí então é que era pior! Estão a ver um camião do lixo a fazer a manobra num beco? Era sempre uma tourada, os homens do lixo acabavam sempre por se engalinhar numa zaragata do caraças e o lixo ficava por apanhar e que se lixe. Dias difíceis, em que as nêsperas não caíam do céu, nem os papos secos se vendiam nas farmácias! Resistiu a tudo. Sobreviveu e tornou-se forte. E ali estava, em cuecas e chinelos de quarto, pronto p’ra qualquer eventualidade, ou surpresa e prestes a tornar-se o homem mais importante do planeta inteiro, ou p’lo menos de uma parte jeitosa.
As luzes da rua davam ao quarto um aspecto de filme barato e sem enredo. Não gostava particularmente do aspecto, mas como era dado, dava-o de barato. O que o preocupava eram as sombras! As sombras chinesas, em especial. Nunca as compreendeu verdadeiramente. Isso irritava-o e deixava-o apreensivo. As sombras chinesas eram um mistério para ele. Tentava imitá-las e sentia-se ridículo. Ou então ficava muito quieto, à espera que se movessem. Esperando apanhá-las em falta, ou num movimento em falso. E aí, sentia-se mais ridículo ainda.
Partir as pernas a um gajo! Sabia que a violência da imagem lhe tinha já poupado muitos amargos de boca, como daquela vez em que o avisaram que a sopa estava azeda. Foi-se ao cozinheiro, partiu-lhe as pernas, p’ra ele aprender e veio-se embora, sem comer a sopa. Não se vangloriava destas coisas, mas tinha de admitir que lhe dava muito jeito a fama que tinha no submundo do crime e nalgumas adegas cooperativas. Dava-lhe, por exemplo, para andar de metro sem pagar, o que, nos dias de hoje, já não é pequena vantagem!
Eu sei dos meus fantasmas
Dos meus medos
Terrores que p’ra mim não tem segredos

Sei dos meus presságios
Meus augúrios
Sei o que sinto em mim
Os meus suores

Conheço os mecanismos
E a mecânica
Comando os equilíbrios à distância
Controlo as temperaturas
Da demência
A data não interessa. O bezerro sabe-se que nasceu esperto e saudável e que teve um crescimento normal dentro daquilo que se esperava. Digamos que cumpriu os objectivos, mantendo uma discrição conveniente e útil, sem arroubos de brilhantismo bacoco, que lhe poderiam ter valido a arena. Nada disso. Sensato e sem pressa, preferiu guardar-se para o Grande Final. Discreto, como sempre, reparte agora, à minha mesa, os aplausos, com as batatas e o meio jarro de branco da casa.
Sejamos pragmáticos – disse ele, apontando-lhe a pistola ao meio da testa – se eu agora disparasse, aí bem no meio desses olhinhos piscos, ficava um buraquinho do tamanho de uma azeitona, por onde mal escorreria um fio de sangue, escuro e peganhento. Mas a parte de trás da cabeça, por onde a bala saísse, a coisa aí seria um bocado diferente. O tiro haveria de desfazer-te a nuca, espalhando os miolos por todo o lado. Uma coisa nojenta de se ver. Nojenta e deprimente, garanto-te eu.

Arre gaita, homem, você assusta-me!

quarta-feira, 14 de junho de 2006

and the magic word for tonight is...

MENOS CAGANÇA
MELHOR LIDERANÇA !

sexta-feira, 26 de maio de 2006



VIVE ASSIM UMA PESSOA
TODA A VIDA A PROCURAR
UM SENTIDO QUE INCLUA
TUDO O QUE HÁ P’RA EXPLICAR
VIVE ASSIM UM INDIVÍDUO
NESSE ENGANO SINGULAR
E AFINAL TODO O SENTIDO
SE ASSIM SE PODE FALAR
SE RESUME RESUMIDO
À TAMANCA DE ZANZIBAR

DEI A VOLTA AO MUNDO INTEIRO
POUCO FICOU POR EXPLORAR
MAS O QUE VI P’LO ESTRANGEIRO
DEVO-O AQUI CONFESSAR
POIS JÁ QUE É VERDADEIRO
NÃO SE PODE COMPARAR
NEM À LUZ DE UM CANDEEIRO
À TAMANCA DE ZANZIBAR

QUE MUITO TENH’EU CISMADO
MUITAS VEZES SEM PENSAR
QUE A CADA UM O SEU FADO
HÁ QUE SABÊ-LO CANTAR
À LUZ DE UM XAILE TRAÇADO
D’UMA GUITARRA A CHORAR
E O PÉZINHO BEM CALÇADO
NA TAMANCA DE ZANZIBAR

ZANZIBAR OH ZANZIBAR
DA TAMANCA D’ENCANTAR
QU’ACONCHEGAS O PÉZINHO
E O DEIXAS CONSOLADINHO
COM VONTADE DE DANÇAR
AINDA MAIS OH ZANZIBAR
QUE DO LONGE FAZES PERTO
AINDA MAIS –DEIXA ACABAR-
SE FOR ZANZIBAR ABERTO




diz-me tu dessa tão estranha matemática
que na soma dos factores não se comove
nem compadece nessa pressa tão pragmática
de assinar de cruz a prova dos Nove

mas repara que esses noves que ela tira
valem zero depois da prova tirada
quer dizer que no fim - e esta é gira-
a burra acaba por ficar sempre sem nada

e o soneto - que eu agora dei p’ra isto-
remata-se num passo e dois tercetos
que assim manda a boa literatura

ele há que ver o problema mas bem visto
que isto de hipotenusas e catetos
nunca fiando nem do círculo a quadratura

para o caso de eu morrer numa banheira...





quando eu morrer não haverá facas na cortina
nem a aflição de violinos lancinantes
bato c’os cornos fulminado numa esquina
e amanhã a vida segue como antes

e não será decerto crime violento
com a surpresa sanguinária de marat
dou quanto muito com os cornos no cimento
estrebucho uns dois minutos e já está

há-de ser já que a morte não a escolho
para ser uma morte ao meu tamanho
numa banheira de água bem desafogada

pode ser enquanto o diabo esfrega um olho
tanto faz se com sabão ou gel de banho
mas p’ra mim há-de ser coisa asseada

quinta-feira, 27 de abril de 2006







TENDÊNCIA P’RÓ DISPARATE
FORTE PROPENSÃO P’R’ASNEIRA
DESDE SEMPRE ESTE DISLATE
ME SEGUIU A VIDA INTEIRA
TODO O LADO EM TODA A PARTE
E ATÉ DE TODA A MANEIRA

EM HAVENDO DOIS CAMINHOS
SEGUINDO UM P’RA CADA LADO
GARANTO QUE O MAIS CERTO
É IR P’LO CAMINHO ERRADO

E DEPOIS SE MAIS Á FRENTE
VOLTAR A TER DE ESCOLHER
ESCOLHA OU NÃO É INDIFERENTE
ACABO SEMPRE A PERDER

E SE FOR PRECISO AJUDA
E ME OFEREÇO P’R’AJUDAR
NEM AÍ A COISA MUDA
QUALQUER COISA HÁ-DE FALHAR

DESDE PERGUNTAR POR QUEM MORREU
QUE É UM LAPSO PATÉTICO
OU COMO JÁ ME ACONTECEU
DAR CHOCOLATES A UM DIABÉTICO

E QUANDO UM SILÊNCIO TREMENDO
É URGENTE ALGUÉM QUEBRAR
ACABO SEMPRE DIZENDO
O QUE HAVERIA DE CALAR

DIREI DE FORMA GROSSEIRA
QUE A COISA NÃO TEM DEBATE
É UMA GUERRA UMA CANSEIRA
E PERCO SEMPRE O COMBATE
NESTA PROPENSÃO P’R’ASNEIRA
TENDÊNCIA P’RÓ DISPARATE


VI NA TELEVISÃO, UMA REPORTAGEM SOBRE UM CASAL DE VELHOS QUE FOI BURLADO POR DUAS GAJAS QUE SE FAZIAM PASSAR POR TARÓLOGAS, OU BRUXAS, OU P'LO DIABO, ELE PRÓPRIO... NÃO VEM AO CASO!, O QUE APANHEI - E JÁ APANHEI A HISTÓRIA A MEIO - FOI QUE , AS GAJAS CONSEGUIRAM CONVENCER OS VELHOS A PASSAR-LHES UMA DATA DE GUITA, MAIS O OURO E TUDO O QUE FOSSE CABEDAL CAMBIÁVEL... QUANDO APANHEI A HISTÓRIA, ESTAVAM OS VELHOS DE CU P'RÓ AR, A EXPLICAR Á REPORTAGEM COMO AS GAJAS OS CONVENCERAM A ENTERRAR O GUITO TODO, QUE LHES TINHAM PASSADO, DENTRO DE UM TRAPO, NUM VASO, NO QUINTAL. E COM A PROMESSA, DE QUE, DAÍ A 20 DIAS, O OURO QUE TINHAM ENTERRADO TERIA DUPLICADO ! ASSIM MESMO, COM UMAS REZAS - AO QUE PERCEBI - P'LO MEIO. ASSIM MESMO. DEPOIS A VELHA É QUE FOI ESPERTA E QUIS VERIFICAR O QUE ESTAVA REALMENTE DENTRO DO TRAPO QUE AS GAJAS SE PREPARAVAM PARA ENTERRAR NO VASO - QUE ELA IA MOSTRANDO, DE CU P'RÓ AR E O VELHO AO LADO...- E DISSE: MOSTRE LÁ E AÍ, AS GAJAS PIRARAM-SE E O QUE ESTAVA NO TRAPO ERA GRÃO, PEDRAS E PAPÉIS A FINGIR DE NOTAS. O VELHO NÃO QUERIA ACREDITAR. CONFIOU ATÉ AO FIM. A VELHA É QUE FOI ESPERTA.
E EU FIQUEI A PENSAR: A VELHA FOI ESPERTA PORQUE QUIS CONFIRMAR, UMA ÚLTIMA VEZ (COMO QUE ADIVINHANDO, COMO QUE SE DESPEDINDO) QUE O SEU RICO DINHEIRINHO ESTAVA REALMENTE ALI AMARRADITO E PRONTO P'RÓ ENGRIMANÇO, DENTRO DO PRODIGIOSO TRAPO... ASSIM MESMO. PORQUE DE RESTO, TAMBÉM ELA ACREDITAVA QUE, SE ENTERRASSSE UMA SACA DE OURO NUM VASO, NO QUINTAL, COM UMAS REZAS, E AS ARTES DE DUAS BRUXAS, 20 DIAS DEPOIS, O OURO TINHA DUPLICADO DEBAIXO DA TERRA !. ASSIM MESMO.
E DEPOIS DEI COMIGO A PENSAR : QUE CHOQUE TECNOLÓGICO É QUE O RAPAZ SÓCRATES PENSA DAR A ESTES VELHOS QUE VIVEM NA ERA DO FEIJOEIRO MÁGICO?!...
PODE COMEÇAR POR LHES DAR UMAS CONSOLAS COM O JOGO DO SUPER MÁRIO...

FAZ ASSIM...


SEI QUE NÃO VAIS COM A MINHA CARA
QUE NÃO APRECIAS O MEU VISUAL
FAZ ASSIM FECHA OS OLHOS E IMAGINA
QUE ESTÁS A BEIJAR UM GUARDA FISCAL

NÃO ACHAS GRAÇA ÁS MINHAS GRAÇOLAS
AS MAIS SOFISTICADAS P’RA TI SÃO TRETAS
FAZ ASSIM FECHA OS OLHOS E IMAGINA
QUE É O SHOPENHAUER A FAZER CARETAS

domingo, 16 de abril de 2006


No dia em que a paneleiragem governante me prometer uma SOCIEDADE DE GENTE FELIZ, em vez de me acenar com a cenoura da competitividade e da produção e do sucesso e da puta que os pariu....
tem o meu voto!

sábado, 15 de abril de 2006


CANÇÃO TRISTE

escrevia jornalinhos no liceu
escrevia jornalinhos no liceu
e era tudo o que fazia
de resto ninguém o conhecia
escrevia jornalinhos no liceu

depois engordou e ganhou corpo
depois engordou e ganhou corpo
gordo que nem um texugo
lustroso que nem um porco
depois engordou e ganhou corpo

casou com uma miúda que era coxa
casou com uma miúda que era coxa
de uma paralisia lixada
coisa de nascença coitada
tirando isso uma rapariga encantadora

no dia em que foi pai fez uma festa
no dia em que foi pai fez uma festa
convidou a família inteira
p'ra uma granda borracheira
e a miúda no hospital cheia de dores

nunca foi de fazer ondas nem noitadas
nunca foi de fazer ondas nem noitadas
ele a fazer jornalinhos
a coxinha e os filhinhos
nunca foi de fazer ondas nem noitadas

e depois chegou a avô e teve netos
e depois chegou a avô e teve netos
e sentava-os nos joelhos
e cobria-os com afectos
enquanto eles lhe brincavam com a dentadura

já velhinho deu-lhe p'ra fazer colecções
já velhinho deu-lhe p'ra fazer colecções
desde selos a botões
coisas com recordações
de quando escrevia jornalinhos no liceu


São os meus vícios as minhas vicissitudes
que justificam meus gestos e atitudes
tomara eu que os tomassem por virtudes

são os meus vícios as minhas aberrações
que todos temos cada bela seus senões
até aquela da história dos sete anões

são os meus vícios a minha fatalidade
daquelas coisas que s'apuram com a idade
que se requintam com o tempo em qualidade

são os meus vícios se quiseres o meu trapio
é os cromossomas é a puta que os pariu
seja o que for não é defeito é feitio

domingo, 2 de abril de 2006


senhor dos sonhos proféticos
heréticos e poéticos
dos pesadelos patéticos
fantásticos e frenéticos
das visões fantasmagóricas
assombrações alegóricas
teorias pitagóricas
umas frígias outras dóricas
e outras hipercalóricas
livrai-me dos suores frios
destes terrores arrepios
d'acordar todo partido
senhor dos gestos simbólicos
das charadas metafóricas
dos avatares diabólicos
das perspectivas exóticas
oh hiperbólica coisa
oh cataplasma inefável
oh alergénica gosma
oh coisa desagradável
misteriosa e polémica
e sempre inexplicável

sexta-feira, 31 de março de 2006

ensaio crítico


mísia

O trajecto solitário da mísia
Não mísies aí
Diz que sofreu o trauma do pós 25 d’abril
Diz que o fado não vende
Agora canta em espanhol
Não mísies aí
Diz que o fado está na moda
Mas ela prefere a tasca do careca
E canta em espanhol
Gravou um disco multimédia
Com uma forte componente teatral
E bonecos
Quem não sabe ler vê os bonecos
Diz que é um diálogo entre várias disciplinas artísticas
E diz que é uma esponja,
Que bebe de tudo
Por supuesto e olaré xiquita
25 d’abril sempre
Não mísies aí

( a verdade é que ninguém sabe, da mísia, a metade !...)


O lobo e o cordeiro em telhado de Zink quente




Ele falava do medo, dizia-se rodeado de lobos.
Lobos em pele de cordeiro, dizia ele, dizendo que sabia que corria o risco de não ser compreendido.
Dizia que o povo era a coisa mais horrivel para perceber as coisas.
Falava de poesia e fazia questão de dizer poesiasinha.
Quando ela estava já p’lo beicinho, atirou-lhe chicuelina e fatal:
Lembrem-se que o hitler era vegetariano e se calhar também não gostava de touradas!

Se tu fores a s. Francisco
Vê lá não esqueça
O chapéu na cabeça
É que lá
Em s. Francisco
É tal o sol
Que pode fazer mal
E a insolação
Não é brincadeira
Dá uma comichão
Dá cá uma coceira
Se tu fores a s. Francisco
Não fumes nada
Que um estranho te dê

‘sconfia sempre
qu’em s. Francisco
inté os pêxes
nadam em lsd

quarta-feira, 29 de março de 2006

NOTA DO EDITOR:

escusamo-nos, por razões óbvias, de sublinhar o carácter implícito e altamente comprometido, social e politicamente, deste blog. a verdade é que, por vezes, é bastante dificil, apesar da subtileza da linguagem estética e poética do autor, disfarçar as aguçadas farpas, os acutilantes sublinhados, os fulminantes pormenores que pontuam a presente obra.apraz-nos, no entanto, deixar aqui este reparo, em abono do interesse público e da verdade dos factos

ALBARDE-SE, PORTANTO, O BURRO À VONTADE DO DONO...

DEIXA-TE - DISSE-LHE EU - DE PALHAÇADAS
PORTA-TE - INSISTI - COM JUIZINHO
QUANDO NÃO - ACRESCENTEI -LEVAS BEM DADAS
BEM ASSENTES - PRECISEI - DUAS LATADAS
BEM NO MEIO - CONCLUÍ - DESSE FOCINHO



ERA UMA VEZ UM CAVALO

QUE VIVIA NUM LINDO CARROCEL...

quinta-feira, 23 de março de 2006




TORNICOTIM TORNICOTÃO

CÁ ESTÁ

O SALTITÃO