sexta-feira, 24 de novembro de 2006



o tempo não está para festas! - disse ele, coçando a sobrancelha. primeiro pensei que era mais uma daquelas crises de depressão, muito comuns nele, ou ainda mais simplesmente, uma daquelas banalidades que se dizem só p'ra não ficar calado. foi a expressão no olhar e a transpiração que começava a brilhar-lhe na testa e a tremer-lhe nas mãos, que o denunciaram de que algo de mais grave se passava. ainda tentei responder e desanuviar o ambiente: pois não, está uma ventania do caraças e chove que deus a dá! aí, limitou-se a repetir,com a mesma expressão obsessiva nos olhos: o tempo não está p'ra festas. parecia que olhava através de mim, como se eu não estivesse verdadeiramente ali! como se fixasse alguma coisa e alguma coisa aterradora que se revelasse mesmo atrás das minhas costas. decididamente, aquilo já não era um comportamento normal. resolvi contra-atacar!: pois não! festas agora só no Natal! aí, desviou o olhar e virou-se para a janela, num gesto lento e dramático demais, até mesmo para uma criatura naquela posição. imitei-lhe o gesto e o que vi gelou-me o sangue e a alma. insinuando-se p'lo silêncio do beco, avançava a sombra ameaçadora do Homem Aranha

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