sexta-feira, 26 de junho de 2009

Manuela, a refundadora da Nação

Vem no I , com fotografia da própria e este título breve:; “Manuela fala ao PSD”.

É natural que o faça, já que , a Manuela de que se fala, é dirigente máxima do partido. Manuela Ferreira Leite, que, diz o jornal, já sente que o PSD é uma alternativa de poder (bom, enfim, disso nunca ninguém teve dúvidas, que o PSD, quase desde que a democracia foi reinstaurada em Portugal, é uma alternativa de poder, neste regime de alternância, a que nos fomos habituando… PSD, PS, de vez em quando uma coligaçãozita ao centro, ou mais descaída para a direita, ou mais a pingar para a esquerda… por aí… mas prossigamos a leitura… que é uma alternativa ao poder e prometeu (Ferreira Leite, claro) ontem, aos militantes – abrem-se aspas… “romper com todas as soluções adoptadas pelo PS em termos de política económica e social”... fecham-se as aspas , para se reabrirem já de seguida, sublinhando uma declaração ainda mais fulminante: “Vamos repudiar todas as receitas que o PS tem estado a adoptar para o país”… aqui, o jornal diz que- garantiu.

Não vai portanto sobrar pedra sobre pedra… Porque, para a líder social democrata, parece não haver nada que se aproveite, nada que mereça ser sequer readaptado à ideologia e método de trabalho do partido que dirige.

Da última vez, que ouvimos assim um discurso tão radical, não foi ainda há tanto tempo assim. Lembram-se?... Isto está muito pior do que imaginávamos… isto não vai lá senão com duas legislaturas… é que o país está … isso … Que o país estava de tanga… um descalabro, que só se resolvia em dois mandatos… Do resto, também devem estar recordados.

Outro discurso, a que também já nos habituámos, é o que – enfim, não exigindo logo à partida essa garantia de prolongamento de tempo - vai dizendo, mesmo assim, que metade da legislatura se gasta a remendar os erros herdados da anterior gestão, do anterior governo… metade do tempo a reequilibrar a barca da Nação e a estabilizá-la no rumo certo… depois, claro, se quando chega a hora da verdade, o balanço deixa a desejar… pode sempre dizer-se que foi por falta de tempo e que foi culpa das Oposições, se não se conseguiram os resultados prometidos.

Mas agora não. Porque Ferreira Leite sabe que pode contar com uma nação valente, que não se intimida, nem vira a cara aos grandes desafios, aos heróicos feitos… uma nação que vergou Adamastores, uma nação que deu ao mundo a boa esperança, onde antes rugiam tormentas… É por isso que Manuela Ferreira Leite pode prometer aos militantes que, se chegar a S. Bento pela porta grande, vestirá essa personagem de exterminadora implacável .

Há-de ser – se for – muito mais estimulante, heróico mesmo, convenhamos, do que esse outro cenário, de um país de tanga e encolhido, escondendo as vergonhas, para a Europa e o resto do Mundo não verem.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

fuck off rockabilly

A iniciativa era do jornal, por isso acabou a chamar-se, ao encontro, o "Ifórum".

Um encontro realizado ontem, no museu do Oriente em Lisboa, patrocinado pelo jornal "I" e que se propunha discutir e debater o futuro de Portugal.

Por lá passaram figuras mais ou menos conhecidas e relevantes da actualidade… Biz Stone, o criador do Twiter, a mais recente e muito popular rede social da Internet. É considerado, pela Time, uma das pessoas mais influentes da actualidade.

Outra presença, aguardada com expectativa, era a de Nassim Taleb, o libanês radicado nos EUA, ex-corretor da bolsa, filósofo e autor do "Cisne Negro”, um livro que tem sido um êxito de vendas.

E entre as presenças portuguesas… chegamos ao que vínhamos… entre os convidados portugueses estava Joe Berardo. E foi enquanto empresário e investidor que tomou a palavra, no painel de arranque e – diz o jornal I, na edição de hoje, em balanço do encontro que… "Berardo foi igual a si próprio"… esta expressão é curiosa e magnânime… quer dizer, dá para dizer tudo, do melhor ao pior… vamos a ver o que será desta vez...

Diz então o jornal que Joe Berardo tomou a palavra e arrasou a regulação, usando, como ponto de partida , exemplos da sua própria vida profissional.

Passemos á citação… respeitem-se então as aspas : “ em 1998, o Banco Privado Português fez algo que me beneficiou, mas depois falei com o meu advogado e pedi-lhe: Sell those fucking shares." Fecham-se as aspas e volta-se ao jornal, que diz que foi assim que falou Joe Berardo, logo na intervenção inicial.

E comecemos então por aqui…a forma verbal em causa… Sell – neste contexto é um imperativo. Ora , há uma diferença substancial, entre pedir e mandar. Mas adiante… Diz então o jornal, que o empresário Joe Berardo, logo no painel de arranque do fórum internacional, onde se debatia o futuro de Portugal, terá dito, a propósito, já vimos do quê, que… "sell those fucking shares"…

Seria suposto ter graça, ou tornar o ambiente mais "cosy" – já que estamos com anglicismos… a verdade é que o que saiu foi uma expressão ordinária e sem graça, seja em inglês retorcido, francês erudito, ou português das docas. Uma alarvice a que só faltou a vigorosa coçadela dos testículos, ou um arroto, a acompanhar.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

a ética é fodido

Ora, os testes da sida nas escolas... A ministra da Educação, escreve hoje o 24 horas, diz que as notícias são alarmistas e que não haverá testes da sida nas escolas.

Já antes, a ministra da Saúde tinha dito que os pais podem decidir, se consentem ou não os testes, mas criticou a posição dos que se opõe, ou levantam reservas… A Associação de Pais, citada pelo 24, responde que não está contra os testes de despistagem, o que está em causa é que é preciso preparar pais e filhos, para a eventualidade desses testes revelarem más notícias.

No JN, repega-se na mesma história e o título anuncia que 5 unidades móveis vão mesmo oferecer testes a jovens junto a escolas…

Continua-se depois explicando que, “ao contrário do inicialmente veiculado, os testes não serão oferecidos dentro das escolas, como fez insistentemente questão de desmentir, ontem, o Ministério da Educação”.

É que ontem, o DN tinha dito que a iniciativa do Instituto da Juventude ia estar em escolas, discotecas e festivais. Essa informação fez levantar uma série de dúvidas éticas, tanto de pais, como de alguns médicos… reclamava-se a autorização de um adulto responsável. O jornal cita depois a responsável pela campanha, a Alta Comissária da Saúde , Maria do Céu Machado, que diz que as unidades móveis vão oferecer atendimento anónimo e confidencial a quem o pedir e que apesar da campanha se dirigir a uma população entre os 12 e os 25 anos de idade… diz que só a partir dos 14 anos é que – do ponto de vista ético – um adolescente tem competência e autonomia para decidir sobre a sua saúde… Também o Secretário de Estado da Juventude se junta à polémica, lembrando que a única novidade aqui é as unidades serem móveis, que de resto, já desde o ano 2000 que se fazem testes e sessões de aconselhamento e com sucesso e sem autorização de ninguém, como requisito obrigatório…

Enfim, as polémicas são assim mesmo, quando começam e ganham balanço …

Pois, do ponto de vista ético, todas as reservas serão admissíveis, que a ética, cada um sabe de si… agora a saúde pública é outra conversa e tem a ver com todos…

E , tendo como seguro que a ninguém vai ser apontada nenhuma bazooka à cabeça, forçando a realização do teste… seria talvez de boa política, ficar a saber-se, do real estado de saúde de cada um , jovem adolescente, ou de maior idade…

Só há duas respostas possíveis, ou o resultado é negativo, ou se despista qualquer foco de infecção, ou doença. Neste caso, o que preferis? Ignorar até ao último momento, ou agir com informação, a tempo e horas?

Preparar-se a gente para as piores notícias…

Bom, esse parece ser um dos princípios básicos de sobrevivência e até se calhar de alguma felicidade, nesta terra. É porque assim, se as notícias, em vez de más, forem boas… a alegria há-de ser 50 vezes maior.

Só uma curiosidade académica… não é verdade, que a avestruz enterre a cabeça no chão para se esconder. É um mito e uma injustiça. Não é a avestruz quem enterra a cabeça na terra quando se assusta e se calhar também não são os macacos que, quando caem à água, se agarram às orelhas!...

terça-feira, 23 de junho de 2009

mais uma para a novela da loira

Isto dos blogues é muito giro mas é uma merda, porque este postigo era para ler-se depois do que lhe vem abaixo. Assim fazia mais sentido, mas que se lixe vai assim na mesma e tem a ver, portanto com a história que abaixo melhor se explica.
Esta é portanto mais uma achega ao que já se disse.
Da afronta, de que Pacheco Pereira fala e do pedido de desculpas que reclama. Também aqui não há uma relação directa de causa e efeito, já que, da afronta, diz o próprio que é o que foi publicado e que o apresentava como a loura do PSD. Diz também que disso não se espanta porque é o nível do costume do autarca de Gaia. O que o espanta, entretanto, se bem que não chegue a considerá-lo nomeadamente como afronta, é o jornal ter publicado essa frase como título, revelando assim uma seriedade abaixo das expectativas do próprio. O próprio, que se sente enganado. Pensava que o jornal era um jornal sério e parece que não. Enganou-se e exige desculpas. Ora, estou em crer que, quem se engana é que costuma pedir desculpa...
Pronto, era só mais isto.

o trolha e a loira burra

Confesso que não sei se o visado o fez nas páginas do próprio jornal, que protagonizou a ofensa. Se o fez ao abrigo de um qualquer direito de resposta, ou indignação. Fê-lo, contudo, no blog que mantém na Internet.

Pacheco Pereira, José Álvaro Machado Pacheco Pereira, historiador, professor universitário e político está indignado e exige um pedido de desculpas.

Mas vamos aos factos. E os factos recuam à edição de Sábado passado do jornal I, que puxava para manchete uma citação de Luís Filipe Menezes, em entrevista ao jornal… Lia-se na manchete- “Pacheco Pereira é a loira do PSD”. Aqui no DN está escrito – “loura” – enfim, é o mesmo, sendo que, acho eu, loura soa menos loira, que loira propiamente dito, mas é loura que aqui está e para o visado vai dar ao mesmo.

Pacheco Pereira não gostou do que leu e agora quer proibir a publicação da entrevista, que ele próprio, entretanto, deu também a este mesmo jornal. Como forma de protesto. Escreveu Pacheco Pereira, no blog pessoal, que não o surpreende a linguagem do autarca de Gaia, que o comparou a uma loura , mas que, um jornal que se pretende sério, escolha uma frase insultuosa para título... isso é afrontoso. Diz que acedeu, em conceder a entrevista, em parte por respeito à entrevistadora, a jornalista Maria João Avilez, mas que se sente enganado, quanto à seriedade do jornal e que, assim sendo, enquanto não houver um pedido de desculpas pela afronta, não autoriza a publicação da entrevista e que já o disse mesmo a Maria João Avilez…

O Diário de Notícias conferiu com algumas autoridades na matéria, desde Aarons de Carvalho, enquanto especialista e professor de Direito e Deontologia da Comunicação, até ao presidente do Conselho Deontológico dos Jornalistas e todos concordaram que, indignado pode estar, mas o que não pode é , legalmente, impedir a publicação da entrevista. Que os argumentos apresentados são paralelos à própria entrevista. Que é ao jornal, que compete decidir onde publicar e que título puxar, para a entrevista de Menezes, Pacheco, ou seja de quem for… Que a frase da polémica é uma citação do entrevistado, no caso, Luís Filipe Menezes e não um comentário, ou opinião do jornal…

E aqui, a verdade é esta… um dos bê à bás do jornalismo é justamente escolher para título “a frase” … aquilo que se destaca, seja pelo inédito, pelo horrível, pelo surpreendente, pelo importante, pela actualidade urgente, pela proximidade, pelo insólito, pelo controverso, pelo inesperado… enfim e em bom rigor também, pelo que mais obviamente impressiona o leitor de passagem e o faz parar e comprar este , em vez daquele jornal. Chamam-lhe, entre amigos… a lei do mercado. Dura lex, molaflex, como se diz...

Depois temos o insulto em si… a afronta, de que se queixa Pacheco Pereira. Sendo que aqui não se explica muito bem, de que afronta se queixa … De facto, pelo menos actualmente, loiro não é, loira ainda menos, que , muito mais que a barba na cara , tudo na fisionomia e vulto de Pacheco Pereira desfaz todas as dúvidas quanto ao sexo. É um homem, não uma mulher.

Sobra, claro, essa outra …a de se invocar a circunstância dessa coloração capilar, como sinónimo de menos clarividência, ou rapidez de raciocínio, ou alguma futilidade... o mito da loira burra. E isso, claro que é uma afronta… para as loiras, primeiro que tudo, para as mulheres em geral, logo a seguir, para quem lança a perfídia, por fim.

Enfim, é pelo menos uma graça de gosto duvidoso, se bem que as próprias pareçam conviver pacificamente com a blague… não havendo, para além disso, nenhum estudo científico, que comprove essa relação causa efeito…

De resto, espantemo-nos nós, já que o próprio diz que não se espanta e até já está habituado … citemos uma última vez Pacheco Pereira… “não me pronuncio, como é óbvio, sobre a entrevista de Menezes que está ao seu nível e que não me surpreende…”

Ora bem, diz que não se pronuncia e acabou por fazê-lo. Disse-o sem o dizer. Como Luís Filipe Menezes, afinal.

bezerrices revisited

E voltamos a ele, mas com cuidado, que isto é matéria sensível, já se percebeu. Muito sensível mesmo. Falo da bezerrada de quinta feira passada no Campo Pequeno em Lisboa, que prometia a presença do famoso bezerrista franco mexicano Michelito Lagravaré, de 11 anos.

A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens pronunciou-se contra e a Inspecção Geral das Actividades Culturais acabou por assinar o despacho, que proibiu a participação do jovem toureiro na corrida de Lisboa e numa outra , sábado, em Portalegre.

Diz o Diário de Notícias, de onde recupero a história, que a decisão da Inspecção-geral se baseou no parecer desfavorável da Comissão de Crianças e Jovens… diz também, que agora o empresário do pequeno toureiro ameaça agir judicialmente contra a Comissão de Crianças. Quer que seja autorizado o cumprimento dos contractos que Michelito tem agendados para Portugal e se isso não acontecer, o caso segue para tribunal…

Acontece entretanto – está aqui escrito – que (o melhor mesmo é citar à letra e de meia praça) “o bezerrista franco mexicano foi impedido de tourear quinta feira em Lisboa, com base na inexistência de um atestado passado por um médico de Medicina no Trabalho.”

Perfeitamente. Partindo do princípio, que esse atestado não se limitava a confirmar a menoridade do jovem toureiro, que não é para isso que os atestados médicos servem, para isso há as certidões de nascimento... o que fica? Enfim, o que ficaria, se esse atestado tivesse aparecido a tempo e horas… provavelmente apareceria um documento garantindo que este Michelito estava de boa saúde e em condições de trabalhar… já que de Medicina no Trabalho se trata . E se assim tivesse sido, o que se seguiria? O jovem toureiro já podia entrar na arena do Campo Pequeno?

Ora, se a questão é a menoridade do artista, porque é que se vai dar esta volta sinuosa e acrobática? Porque é que não se diz , muito simplesmente, que em Portugal não há lugar para toureiros de menor idade e ponto final. É proibido e não se fala mais nisso...

E não tanto por ser considerado trabalho infantil, que isso é coisa que temos com alguma fartura em outras arenas , ao que se vai sabendo… uns mais bem pagos, outros nem por isso… uns com mais exposiçâo mediática e em horário nobre nas televisões, outros no discreto aconchego de oficinas semi clandestinas, ou mesmo no recato do lar, ao serão, em família…

Claro que, no caso deste Michelito, a história é decerto outra… deve estar melhor treinado, para lidar com toiros, que muitos meninos portugueses, para trabalhar com algumas máquinas e ferramentas… Deve ser francamente mais bem pago e melhor tratado, que todos esses meninos de que falo e até mesmo, eventualmente, os outros, os das telenovelas e os dos anúncios e os das passagens de modelos e por aí…

E já agora também, se a questão é mesmo a violência e crueldade do espectáculo, porque não se interditam as toiradas a espectadores de menor idade?...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

quando a palavra vale mais que mil imagens

Vem no Correio da Manhã e é uma história triste. Tristemente bela, também. Uma menina norte americana de dez anos tinha um cancro incurável e estava em fase terminal, mas não queria morrer sem ver um certo filme de desenhos animados, acabado de estrear, nos Estados Unidos… Desde Abril, quando visionou o trailer do filme, que deixou expresso esse desejo – esse último desejo – ver o filme antes de morrer. O jornal cita as palavras da própria – “Estou pronta para morrer, mas vou esperar pelo filme.” A empresa distribuidora tomou conhecimento desse desejo e resolveu mandar um funcionário a casa da menina, com uma cópia do filme, para uma projecção especial e privada, só para ela. Diz o Correio da Manhã, que a doença tinha-a já privado da visão, pelo que foi a mãe, quem lhe foi narrando toda a acção, enquanto ela ia ouvindo os diálogos e imaginando o resto.

Do enredo, diz o Correio que conta a história de um velho rabugento, que depois de enviuvar resolve conhecer a América do Sul. E resolve então fazê-lo desta forma original e espectacular… atando balões… milhares de balões à casa, por forma a fazê-la levantar voo…

Diz a notícia, que a menina acabou por falecer, 7 horas depois de ter visto o filme.

Fica essa imagem… uma casa elevando-se no ar, suspensa por milhares de balões coloridos, rumo a uma qualquer América do Sul, ou mais longe ainda, mais alto, mais magnífico, quem sabe… que aqui e ao contrário do que se diz normalmente… a palavra deve ter valido mais que um milhão de imagens.