sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

os tintins do cristiano e o pepino epistemológico

Afinal talvez não! Ou seja, pode ser que não; que se tenha enganado e que as imagens não sejam assim tão pornográficas e atentatórias do pudor, da moral e bons costumes dos foliões que, este fim de semana, vão brincar no Carnaval de Torres Vedras…

Antes, já o Ministério Público de Torres tinha dado provimento, à queixa e mandado retirar, do ecrã do Magalhães, as tais imagens alegadamente pornográficas. O Correio da Manhã publica a fotografia do computador da discórdia. E digo do computador, já que, das imagens em causa, mal se percebe o que representam. Tanto podiam ser mulheres nuas, como foi alegado, como outra coisa qualquer. Duvido mesmo que, na euforia do cortejo e à distância a que os carros alegóricos passam na rua, alguém conseguisse aperceber-se do que realmente estava impresso no ecrã do computador Magalhães. Mas adiante.

Diz o jornal, que a queixa partiu de um morador de Torres, que se queixou à Câmara que, por sua vez, levou o caso a tribunal, onde a magistrada, Cristina Anjos, parece, decidiu que, as imagens em causa, eram pornográficas e como tal deveriam ser proscritas do cortejo. O presidente da Câmara de Torres diz entretanto, que essa mesma magistrada já considera a hipótese de se ter precipitado. Diz que a magistrada se mostrou incomodada, com a polémica e que é provável que venha ainda a despachar no sentido de retirar o labéu ao Magalhães e considerar que as imagens não são afinal pornográficas. A verdade é que – e citamos de novo o presidente da Câmara de Torres… a verdade é que o corpo de delito, ou seja, a queixa foi acompanhada por fotos – e estamos já em plena citação… foi acompanhada por fotos desfocadas, que terão enganado a magistrada, levando-a a pensar que eram imagens pornográficas. Ora, pelo que acaba de ser dito, temos que esta magistrada terá olhado para umas fotografias desfocadas, de umas mulheres alegadamente nuas e concluiu que estava perante um portfolio pornográfico, que deveria ser banido da festa de todos os excessos. Que o Carnaval é isso mesmo. Desde sempre, por tradição e sina.

Já agora e curiosamente, do desfile consta também uma efígie gigante, de Cristiano Ronaldo, vestido à futebolista e sentado, de perna aberta, em cima de uma merda qualquer. Por uma das pernas dos calções, bem visível aos olhos de todos os foliões e folionas de Torres Vedras, aparece um garboso testículo do campeão. Quanto a isso não consta que tenha havido queixas. A Comissão de Festas agradece, que sempre foi mais fácil, lavar a cara ao Magalhães, do que seria cortar os tomates ao Ronaldo!...

E agora salto para as páginas do Jornal de Notícias, onde o casamento homossexual continua a ser notícia, mas agora por causa de uma espécie de sessão de esclarecimento, ou antes, de um debate que aconteceu ontem no Instituto de Malaguês – Malaguês é o nome de uma freguesia de Coimbra.

O mote do debate – justiça lhes seja feita – partiu de uma iniciativa do próprio JN, em conjunto com a Câmara Municipal da Maia e mais um mecenas, no caso o El Corte Inglês. E a iniciativa chama-se, já agora: “Entre Palavras – Fórum da Leitura e do debate de Ideias”.

E foi o que aconteceu… o debate de ideias. De um lado, os que apoiam a ideia dos casamentos homossexuais, em nome do livre arbítrio e da liberdade individual de cada um e da igualdade de direitos… Do outro, os defensores do “não”. Diz o JN, que os adeptos do “não” se mostraram preocupados, com a quebra da natalidade e a eventual e consequente extinção da humanidade.

Ora bem, vamos lá a ver se a gente se entende! O argumento exposto assim desta maneira faz quase todo o sentido, para além de ser vagamente assustador, ao anunciar, de forma tão violenta, o fim do mundo. É bem verdade, que dois homens, por mais que tentem e à luz da ciência actual, não podem gerar descendência… mesmo isto, já vimos que não é bem verdade, que ainda não há muito tempo, um homem engravidou e achou tanta graça, que até consta que quer repetir a experiência. Também no caso das mulheres, a menos que se exclua a inseminação artificial, não é fácil uma mulher engravidar, sem a ajuda de um parceiro macho… Mas, para o caso, isso também não interessa nada. O que talvez fosse boa ideia lembrar a estes jovens alunos é que, não há razão nenhuma directa, ou evidente, para os casais heterossexuais deixarem de ter filhos, só porque os homossexuais resolveram começar a casar-se todos entre eles… Só se for por uma qualquer espécie de pirraça, ou então, mais correcto ainda se calhar, por uma questão de solidariedade… Vocês não conseguem ter filhos, então nós também não os fazemos. Estamos convosco, pá!

Quanto aos alunos, que participaram neste debate, andam no 8º e 9º ano… São miúdos dos seus 13… 14 anitos, por aí... Estão numa óptima idade, para aprenderem estas coisas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

o ministro não confirma e dos outros também não garanto nada

Já se viram expressões mais estranhas, em fotografias de gente em perfeito estado de lucidez e boa saúde. Basta que a máquina dispare no exacto momento, em que o fotografado está a piscar os olhos e que o apanhe então, de olhos semicerrados, para que o resultado seja o de uma pessoa ficar com ar esgazeado, ou mesmo de quem está à beira de uma apoplexia…. Não terá sido esse, o caso. Que o próprio já confessou, que estava sob o efeito de uns comprimidos, que davam sonolência e lentidão de reflexos e raciocínio. Tê-los-á empurrado – como se costuma dizer – aos tais comprimidos, com um copo de vinho, o que se revelou como uma mistura explosiva. E estamos a falar do episódio, que envolveu o ministro japonês das Finanças. A personagem em questão apresentou-se, como se lembram, com manifestas dificuldades de expressão, numa conferência de imprensa, sábado passado, depois de uma reunião com ministros das finanças e responsáveis bancários dos países do G7…Agora, passada a tempestade inicial, acaba de pedir a demissão do cargo. Pedido já aceite e até já há um substituto para o cargo, mas isso é outra história. Para o que nos trás aqui, contam, para já, as declarações do próprio ex-ministro… "Sinto-me terrivelmente mal por ter provocado tais embaraços ao público japonês e ao Parlamento" – fim de citação. O Diário de Notícias continua o texto relembrando e citemos, que esta parte é importante: “o ministro nipónico surgiu, então (então no sábado, claro!) com um aspecto que se assemelhava muito a alguém que estivesse sob o efeito do álcool. O rosto apresentava-se congestionado, o olhar um tanto ou quanto errático…” e por aí fora. Agora, fixemo-nos nesta passagem, em que o DN escreve que o ministro surgiu com um aspecto que se assemelhava muito a alguém que estivesse sob o efeito do álcool. Não diz que o ministro estava visível e inequivocamente embriagado. Diz que se assemelhava muito a quem estivesse sob o efeito do álcool. Ora, o ser e o parecer não serão, parece, sempre e forçosamente a mesma coisa, mas, uma vez mais, não é isso que nos trás aqui.

O que chama a atenção – e é por isso que foram inventados – é o título da notícia. A letra gorda, a que resume o essencial da importância. A frase forte, a ideia central, a informação depurada de todo o acessório. Pois, e o título da notícia, desta que acabámos de ouvir e que o DN hoje publica, é este: “Ministro japonês pede demissão por ter ido bêbado à reunião do G7”. Informação privilegiada, esta a que o DN teve acesso. O jornal diz, lá pelo meio do texto, que este ex-ministro era já conhecido por – citemos: “gostar do seu copo e ser um provocador nato…” Isso já seria conhecido, o que é novidade é que, apesar de todas as declarações oficiais e do próprio jornal reconhecer que a personagem tinha um aspecto que se assemelhava…ao que já vimos… apesar disso, o DN escrever, em letra gorda, que o ministro foi bêbado para a reunião do G7!

Não diz que parecia que estava com o seu copo, nem que estava azamboado, por ter misturado anti histamínicos, ou lá o que, foi com vinho. Diz que o ministro estava bêbado. É verdade que não diz que estava bêbado que nem um casco… diz só que estava bêbado. O ministro, claro.

E, estes aqui, “Estão prestes a entrar em campo”, anuncia o título do 24 Horas. Quem?... A selecção nacional de futebol?!... Não! Quem está prestes a entrar em campo é um novo canal de televisão. Vai chamar-se TVI 24 e, como o nome denuncia, está ligado à TVI. O 24 quer dizer que vai funcionar 24 sobre 24 horas, o que já não é novidade há algum tempo e que se vai dedicar à Informação. A estreia está marcada para o próximo dia 26. A expectativa é naturalmente muita. O director da estação, José Eduardo Moniz, deseja chegar rapidamente aos portugueses. Diz que é essa a meta do novo canal. Um propósito duplamente compreensível. Chegar ao público e de preferência de forma rápida e eficiente é o objectivo de qualquer um, que se lança no mercado; mais ainda, quando o território em que o negócio se move é o da comunicação. Aí, se não se chega rapidamente ao consumidor – neste caso – ao receptor da mensagem… cai-se naquela situação, a que alguns académicos chamam: falar sozinho. É portanto mais que legítima, a aspiração de José Eduardo Moniz, de chegar rapidamente aos portugueses e ao público em geral. Legítima também, de certa forma irreverente e corajosa, a intenção expressa do director de informação deste novo canal. João Maia Abreu – é ele o director de informação – diz que a TVI vai mexer na pacatez da concorrência. E ora aí está uma das coisas boas, ou se quisermos, um dos efeitos estimulantes da livre concorrência e do mercado aberto. Obriga as pessoas a mexerem-se e a não adormecer à sombra dos louros, ou de qualquer bananeira metafórica. Obriga-as a quebrar os marasmos, a ser criativas, dinâmicas, inovadoras… e é isso que, segundo o 24 Horas, Maia Abreu acredita que este novo canal pode vir a fazer. Quebrar o marasmo – “a pacatez da concorrência”. E diz mais… (deveria ter dito "mas", em vez de "e"…) Mas, diz mais, Maia Abreu. Diz que, o objectivo desta TVI24, é ultrapassar a SIC Notícias – ao que parece, a concorrência mais directa. É mesmo essa, aliás, a frase que o jornal escolhe para título, que diz assim: “Objectivo – ultrapassar a SIC Noticias.”

E aqui paramos um pouco.

Do outro lado da porta elas conversam. Conversa de circunstância, conversa de mães… os filhos, a escola…”Então o miguelinho já sabe escrever o nomezinho dele?” “ O miguelinho?.. É o melhor aluno da turma!...” “Pois sim, mas já sabe escrever o nome dele, ou não?”

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

no tempo em que os cavalos comiam ostras

Diz o Correio da Manhã, que o homem se arrisca agora a uma pena de 3 anos de prisão. O homem é identificado como um ex–emigrante português, de 58 anos e um auto didacta da arqueologia. Diz o jornal que, há já 4 anos que Mário Tavares – é como se chama – escava em terrenos públicos de Valpaços e Chaves, em busca de vestígios de antigas civilizações. Terá encontrado mais de cem objectos de riqueza inestimável – diz o jornal – mas que nunca os tentou vender. Aliás, parece que, face à riqueza histórica dos achados, nem há cotação no mercado para eles. Não forçosamente por isso, mas a verdade é que não vendia, tinha-os guardado em casa. Seriam talvez o seu pequeno tesouro pessoal, o seu pecadilho. Moedas e objectos em barro, granito e bronze e ferro… vestígios das épocas romana e medieval. Diz que usava um detector de metais, para o ajudar nas buscas…

Acontece que a Policia Judiciária acaba de o constituir arguido por, à face da lei especial que regula a matéria, ser crime, o que se chama de violação de vestígio arqueológico. Será essa a moldura, no quadro da situação presente. E é por isso também que este arqueólogo amador – e aqui no sentido, se calhar, mesmo literal da palavra… amador, o que trabalha por amor à arte… é por isso então que, pode vir a ser condenado a 3 anos de prisão. O Correio da Manhã lembra que, já o ano passado, tinha chamado a atenção para este "entusiasmo" – como lhe chama – o "entusiasmo" de Mário Tavares. Foi em Março, que o jornal o entrevistou. Na altura, tinha acabado de descobrir uns artefactos romanos, num terreno particular. Disse, então, que tinha autorização do dono do terreno, para fazer as escavações e que o Estado não tinha, por isso, nada que se intrometer. No caso, a intromissão de que falava, era a do Instituto Português do Património. Disse também que, depois desse episódio, esperava que as instituições competentes promovessem um levantamento do local. Já que, sozinho não o conseguia fazer.

E a notícia acaba aqui. Não diz se, entretanto, as tais instituições, de que falava, promoveram ou não os levantamentos, ou o que fosse… Sabe-se é que, todo o espólio que guardava em casa, está agora à guarda do museu de Macedo de Cavaleiros e que a Judiciária o constituiu arguido, num processo crime de violação de vestígio arqueológico, que lhe pode valer 3 anos de prisão efectiva.

O que se sabe também, apesar de não ter grande coisa a ver com esta conversa, é que o património nacional continua a ser vendido, aos cacos e em peças, para enfeitar casas e jardins de gente com gosto requintado, o mesmo acontecendo a muita arte sacra, neste caso, claro, para gente de gosto requintado e também devotas paixões.

Só uma última questão, enfim, quase tão desgarrada do assunto, como a anterior… e se em vez de o mandar prender, o contratassem para ajudar nas escavações?!...

E, antes que me esqueça, deixem que vos cite Edward Estlin Cummings, poeta, pintor, ensaísta, dramaturgo e norte-americano.

E que o cite, tal como o Público hoje o faz. E diz assim: “Vivo tão acima dos meus rendimentos que se pode quase dizer que vivemos separados”.

Para bom entendedor, esta meia palavra só peca por tardia.

E já que estamos no Público, deixemo-nos ficar só mais um bocadinho, porque é justamente o jornal Público, que hoje anuncia, na primeira página, que mais de 35 mil imigrantes conseguiram a nacionalidade portuguesa, durante o ano passado. Um número 4 vezes superior, em relação ao ano de 2007. O jornal explica este aumento com a entrada em vigor da nova lei da nacionalidade. É por isso que, segundo o jornal, as faces dos portugueses estão a ficar cada vez mais heterogéneas… gente de África, dos Brasis, da Moldávia…

E depois, a fotografia, que o Público escolheu para ilustrar a notícia.

Presume-se que esta mesa, que aparece em primeiro plano cheia de papéis amontoados em pequenas pilhas ordenadas e mais ou menos classificadas segundo o assunto e o andamento do processo, tenha sido tirada numas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, assoberbado, como já se previu, de trabalho, por estes dias…

Não se sabe se a fotografia foi ou não encenada. Ou seja, não se sabe, se esta quantidade enorme de papéis amontoados numa certa ordem caótica sobre a mesa, em primeiro plano, foi de facto posta ali para ilustrar de forma simbólica a quantidade de trabalho com que o SEF se confronta, depois de Schengen e dos acordos de livre circulação. Não se sabe, portanto também e logicamente, se é mesmo assim que os documentos estão arrumados, ao monte em cima de uma secretária…O que se sabe é que, precisamente um dos montinhos empilhados sobre a mesa diz respeito a vistos de Schengen. Sabe-se, porque está lá escrito, garrafal, na página de rosto, que surge na fotografia. Um outro montinho, já quase fora do enquadramento, dirá respeito, por seu lado, aos chamados “Vistos de Estado”, também se consegue ler sem esforço. E pelos vistos há mais, só que na fotografia já se não consegue ver o que está escrito nesse outro que, este sim, já só deixa ver o início da frase. Vistos de… o resto já não se vê. Agora o que não deixa mesmo margem para dúvidas nenhumas é este outro que se destaca bem ao centro do instantâneo. E aqui, a primeira coisa que salta à vista é que, palavra Visto, não aparece. Em vez dela, temos a palavra “Títulos”.

“Títulos caducados…”, para ser mais preciso e rigoroso. E caducados, já agora, há quanto tempo?, para ser só um bocadinho mais exacto… Há muito tempo. É o que está aqui escrito: “Títulos caducados há muito tempo. “

Sejam lá esses títulos o que forem, para o que interessa e mais importa, já caducaram há muito tempo. Há tanto tempo, se calhar, que até já nos esquecemos de os arrumar onde não estorvem. É que, pela fotografia, o espaço livre em cima desta secretária é mesmo pouco para tanta papelada à espera de despacho.

Só mais uma dúvida aritmética… quanto tempo é muito tempo? E bastante tempo? E qual deles é mais tempo? Que pena não termos agora tempo para esclarecer esta quase angústia metafísica…