sexta-feira, 11 de julho de 2008

E tudo isto porque o autarca nunca perdeu a esperança de que a justiça fosse reposta.

Foi por isso, que o caso se arrastou 18 anos pelos tribunais e que, segundo o Correio da Manhã, chegou mesmo a arrastar-se pelos gabinetes dos ministérios.

Um caso sério, portanto. E o caso reporta-se, como já percebemos, a 18 anos atrás. Até esse Novembro de 1990, quando Adelino Gaspar, presidente da Junta de Freguesia de Santa Eufémia, Leiria, ia a passar pela rua, a caminho do trabalho e se deparou com um cidadão, que estava erguendo um muro, diz que, ilegal. O autarca terá denunciado essa ilegalidade, o que provocou uma reacção exuberante, por parte do cidadão. Exuberante mesmo. A murro! É assim que o jornal descreve os factos: o cidadão reagiu a murro. E com tal veemência que – continua o jornal – o autarca esteve 120 dias sem trabalhar e – continua a notícia – a empresa não lhe pagou o ordenado. Presume-se que se esteja a falar de outra qualquer empresa, onde o autarca trabalhe, para além da Junta; que a junta de Freguesia, enquanto função pública, julgo que não costuma suspender os vencimentos, quando os funcionários estão de baixa… acho!... Mas também é irrelevante, que o que conta é que o caso seguiu para tribunal, por lá andou 7 longos anos, até que foi dado por encerrado, com a absolvição do agressor. O autarca não se conformou. Fez-se uma reunião de conciliação entre as partes e Adelino Gaspar terá dito então, que só queria ser ressarcido dos custos com o hospital e dos salários, que deixou de receber. Em vão. Nem juízes, nem o próprio agressor se comoveram e a saga continuou. O autarca avançou então com um pedido de indemnização, ao abrigo de uma lei de 1985. No caso, a lei 324 desse mesmo ano. A que protege os servidores civis do estado vítimas de actos criminosos. O processo passou de Governo em Governo, de legislatura em legislatura e com isto passaram também 18 anos. O autarca disse ao Correio da Manhã, que é " triste sentir tanta falta de apoio porque somos…” ( isto é Adelino Gaspar, falando) “…porque somos os primeiros a dar a cara”. Pois sim. Neste caso, a metáfora não podia ser mais a propósito. Adiante. Continua o autarca dizendo que nunca perdeu a esperança de que a verdade fosse reposta. O que terá finalmente acontecido agora, depois do despacho em Diário da República lhe ter dado a razão que pedia e decretado o pagamento de uma indemnização de 44. 627 euros.

Comecemos por aqui. Como é que se avaliam estas somas?

44. 627 euros por um murro na cara. E se fosse um pontapé num outro qualquer sítio?!... E por 45 mil euros, que tipo de agressão é que é consentida? Ou, neste caso, castigada? E depois, para continuar, 44 627 euros é uma conta pouco prática. Parece que os estamos a ouvir: se tiver aí dois euros, eu pagava-me de 630...

Nós estamos aqui a brincar, mas o caso é sério. Já o tínhamos avisado ao principio. E é sério, não tanto pelo murro que o autarca levou. Que deve ter sido de respeito, para o pôr 4 meses de baixa.. mas não tanto por isso. Mais pelo facto de ter havido um processo, que andou 18 anos a empatar o serviço, por causa de uma coisa, que bem se podia ter resolvido de forma rápida e eficaz, há precisamente 18 anos já! Como?… isso é coisa que não me ouvirão dizer aqui neste sítio.

Entretanto, uma observação: um soco de 44 mil euros, nem o Cassius Clay, nos seus melhores tempos!

Mas, acompanhem-se nestas contas: Dizia ele, o autarca, que queria ser ressarcido do tempo que esteve sem receber vencimento e das despesas hospitalares. Ora, nessa contabilidade,. 44. 627 euros podem dar qualquer coisa como 10 mil euros por mês, de ordenado, sobrando ainda 4.627 euros, para despesas hospitalares. Continua a ser um exagero.

Mas, detenho-me ainda um pouco mais nesta história, só por este pormenor…

Tal como na história que ontem vos contei, da Câmara de Alcobaça ter pago 180 mil euros por 20 minutos de espectáculo do ilusionista Luís de Matos, também aqui, a questão é simples e vagamente preocupante.

E a questão é esta: não censuremos Luís de Matos, por pedir 180 mil euros, por uma aparição de 20 minutos. Não critiquemos o autarca de Santa Eufémia, por pedir 44 mil euros, por ofensas corporais, ou outras, de falta de respeito… Atentemos antes e seriamente no facto, de haver alguém disposto a pagar 180 mil euros, a um qualquer ilusionista, por mais espectacular e mediático que seja, ou queira ser, por 20 minutos de espectáculo (nem que nesses mágicos 20 minutos, o ilusionista faça desaparecer Portugal, de Santarém para cima, num passe de prestidigitação! …) Atentemos seriamente, também, na lei, que manda pagar 44 mil euros de indemnização, a quem levar um soco. Enfim, não será decerto a toda a gente… Pergunto se, o agredido não fosse presidente da Junta, teria recebido semelhante indemnização… A questão é saber, se este tipo de compensações se limita a uma questão de respeito pelas hierarquias, ou pelo funcionalismo público, a partir de um certo escalão. É que, se for esse o caso, alguém anda a confundir respeito, com respeitinho. E isso não é bom sinal.


quinta-feira, 10 de julho de 2008

E vamos lá então a Luís de Matos.

A manchete diz que foi um número de magia muito caro. Os habitantes de Alcobaça e o presidente da Câmara também acharam.

Tudo aconteceu no domingo passado e o espectáculo propunha-se celebrar a consagração do mosteiro como uma das Maravilhas de Portugal. E diz também, que no programa se anunciava, que o ilusionista ia fazer desaparecer o Mosteiro de Alcobaça perante os olhos do povo. Era um número portentoso o que se anunciava. Daí que, apesar do número ser quase tão impressionante quanto o próprio mosteiro, ninguém terá reclamado por aí além. O contrato assinado com Luís de Matos era de 180 mil euros. Outro número impressionante, sem dúvida. 180 mil euros para fazer desaparecer o mosteiro de Alcobaça. Bem avisava o programa que iríamos assistir à “maior metamorfose de todos os tempos.”

À hora de todos os sortilégios, o povo ardia em impaciência. Aguardava o momento do prodígio. Por isso, assistiu com alguma ansiedade aos 17 longos minutos, em que Luís de Matos apresentou alguns vídeos antigos, de truques e passes mágicos ante-gravados. Depois, o grande momento!

E o grande momento durou 3 minutos e não chegou a beliscar, nem assim, a mais pequena pedra do velho mosteiro. Em vez disso, o que o povo viu, num lance rápido de 3 minutos, foi Luís de Matos – segundo conta o 24 Horas – libertar-se de um certo colete de forças. Et voilá! C’est tout. Bon soir et merci! Isto, em francês, só porque me apeteceu.

Na praça em frente ao mosteiro, o povo ficou sem saber o que pensar. Mas foi espanto de pouca dura. Hoje, é até o próprio presidente da Câmara, quem pede contas ao ilusionista. Diz que já entregou no gabinete jurídico da Câmara um pedido de averiguação, sobre se o contracto foi cumprido à letra. Diz também, que lhe soube a pouco e está solidário com a frustração das pessoas. Mesmo sem fazer desaparecer o mosteiro, diz o presidente, que de facto o espectáculo o deixou aquém das expectativas. Ou talvez elas – as expectativas – tenham sido colocadas altas demais… Também pode ter acontecido. É, aliás, essa a tese do próprio artista, Luís de Matos. Em carta dirigida à Câmara de Alcobaça, Luís de Matos terá escrito, que a culpa foi dos boatos, que se puseram a correr – presume-se que fale do boato de fazer desaparecer o mosteiro. Disse, que “o erro não está naquilo a que as pessoas assistiram, mas sim naquilo que lhes foi transmitido, que aconteceria e em que, ingenuamente, acreditaram”… Ora, essa é a pedra de toque da arte, que Luís de Matos cultiva e divulga! Fazer as pessoas acreditar, não naquilo que têm á frente dos olhos, mas naquilo que alguém os faz acreditar que têm à frente dos olhos... não é erro – é ilusionismo puro.

Quanto ao facto de se fazer pagar por 180 mil euros, de 20 minutos de espectáculo, em que passou vídeos, durante 17 desses minutos e gastou os 3 minutos restantes a libertar-se de um colete de forças… bom … isso são as leis do mercado. Luís de Matos diz que se faz cobrar segundo os valores do mercado publicitário. Acreditemos que sim; que, se se fizesse pagar pela tabela dos artistas de variedades, talvez tivesse saído mais em conta, aos cofres da Câmara de Alcobaça. Continua dizendo, o ilusionista, que há que ter em conta que não se trata aqui de promover iogurtes ou refrigerantes. Pois não. A notícia diz que, o que se queria promover, era o próprio mosteiro e a consagração do monumento como uma das Maravilhas de Portugal.

Agora… como é que aparece essa história de Luís de Matos ir fazer desaparecer o Mosteiro de Alcobaça?!

Talvez a resposta esteja no cartaz que anunciava a iniciativa… Na fotografia, vê-se, em fundo, o secular mosteiro e em primeiro plano o ilustre ilusionista, com aquele ar sério e enigmático que os ilusionistas costumam ter, quando estão a trabalhar… E na mão segura uma bola luminosa. Tem o tamanho de uma bola de voleibol de praia, mas deve ser a fingir bola de cristal.

Ali, onde está, e pela lei da perspectiva, o corpo do ilusionista tapa parcialmente a fachada do mosteiro. Ou seja, se Luís de Matos desse só mais um passo em frente, na nossa direcção, na direcção da objectiva do fotógrafo…, aí sim, teria mesmo feito desaparecer por completo o mosteiro de Alcobaça.

Ou se abrisse, em gesto exibicionista, a casaca negra, que o veste quase até aos pés… aí, nem precisava de sair de onde está!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vamos por partes. Já é de um gosto duvidoso… aliás, já é imagem propícia a situações caricatas, para não dizer mesmo, grotescas, às vezes. Falo dessas situações em que o notável, o ilustre convidado lança a primeira pedra, ou planta o pinheirinho simbólico, de uma qualquer cruzada de protecção ambiental.

Pois se , em vez de um notável, pusermos 8, ou 9 notáveis em linha, a fazer o mesmo gesto, o efeito pode tornar-se quase... ridículo.

E no Público de hoje, não só no Público, mas a do Público é maior, vê-se melhor… no Público de hoje, portanto, temos aí a fotografia destes 9 notáveis, irrepreensivelmente vestidos para a ocasião,dobrados pela cintura, pá na mão, a fazer que plantam uma árvore. E os nove notáveis são Berlusconi, Brown, Merckel, Bush, Fukuda, Sarkozi, Medvedev, Harper e Durão Barroso, fotografados em Toyako, no Japão, numa iniciativa paralela à cimeira do G8 e onde se pretende retratar, calcula-se, o empenhamento dos respectivos países e governos na luta pelo ambiente. O título da notícia diz que o G8 estabelece metas para reduzir emissões de carbono, mas quer mais petróleo. Ora isso, para o caso e de momento não interessa grande coisa. O que conta é esta fotografia.

Durão Barroso, mal se vê, encolhido lá ao fundo , por trás de Stephen Harper , do Canada. Em primeiro plano está Berlusconi, sorridente, cravando a pá na terra, onde se irá plantar a pequena árvore simbólica. Ao centro, em pé, George Bush. Segura a pá sem grande convicção e olha para o lado, para a chanceler alemã, que, curvada, se prepara para lançar mãos à obra. Bush, não. Olha para Merckel, enquanto segura nas mãos a pá de ferro, com o ar de quem não percebeu ainda muito bem qual é a ideia. Como se dissesse a Ângela Merckel : comece lá a senhora, para eu ver como é que se faz...

Depois, mais á frente e ainda no Público, aí está outra bela fotografia. As primeiras damas.

O chá está servido, mas só para senhoras, diz a legenda da fotografia. E as senhoras são então as primeiras damas dos 8 paíeses reunidos em cimeira.

Foi ante ontem, que as esposas, dos presidentes das repúblicas representadas no encontro, se encontraram. Para tomar chá. Diz que passaram uma tarde divertida na ilha de Hokaido, que foi onde a fotografia foi tirada. Divertiram-se a dobrar quimonos e a aprender tudo sobre a cerimónia do chá. A primeira dama japonesa, anfitriã, mostrou como se prepara o chá verde, com uma pequena cana de bambu e como deve ser depois servido. Na fotografia,as damas pousam no meio de uma plantação de chá, sorridentes, como quem está de férias.

Aí está outra bizarria do protocolo, esta de levar as primeiras damas de passeio, quando se vai em visita de trabalho ao estrangeiro.

Adiante que George Bush ainda não saiu de cena. Pousemos, por ele, a pá de plantar boas intenções e vamos ver o que se tem dito por aí do presidente norte americano. Robert Redford, actor, disse á Playboy mexicana que Bush é como Nero. Está á janela da Casa Branca a ver a América a arder. Lapidar.

Mário Soares, a propósito de Guantanamo, diz que a base americana é comparàvel a um campo de concentração e que a culpa é da administração de George Bush.

E em S. Francisco da Califórnia, pergunta-se ao povo, que estátua erguer a George Bush, quando ele sair da Casa Branca.

A questão vai a referendo. Há já 12 mil assinaturas, que pedem o refendo. Enfim, a questão nem é saber que memorial se há-de erguer ao presidente. Que isso já há uma ideia. E é essa ideia, que 12 mil californianos querem levar a referendo. E a ideia é … dar o nome de George Bush a uma ETAR. Nem mais! A uma estação de tratamento de águas residuais.

Enfim, para uma pessoa que, vimos na fotografia, está tão empenhada na luta pelo ambiente, ter o nome ligado a uma ETAR, até nem vem muito a despropósito.

...&...

Frutas e legumes!

Deverão ser distribuídos de graça nas escolas da União Europeia.

O título ocupa toda a largura da página. Continua depois, que o novo programa, de adesão voluntária, é também um instrumento contra esta nova forma de injustiça social: há mais obesos entre os mais pobres.

O aparente paradoxo desfaz-se num instante – há mais obesos entre os mais pobres, porque os alimentos hipercalóricos são geralmente mais baratos – explica o jornal.

Pronto, desfaz-se o equívoco. O jornal não confundiu obesidade com sub alimentação, que também faz crescer a barriga, mas é outra coisa.

Ora o programa pode custar 90 milhões de euros à Comissão Europeia, que se dispõe a financiar o projecto em 50% do seu custo – ou até 75% , nos países mais pobres.

A situação é que há mais de 5 milhões de crianças obesas na União Europeia. Mais 22 milhões delas com excesso de peso e com tendência a engordar: O número. O número é que tem tendência a engordar. Um aumento estimado em 400 mil novos casos por ano. Fala-se já em epidemia.

E é por isso, que a Comissão Europeia está disposta a pagar 90 milhões de euros, por ano, para incentivar o consumo de fruta e legumes nas escolas. O programa entrará em vigor no próximo ano lectivo e é de adesão voluntária. A fruta e os legumes são já ementa obrigatória em muitas escolas; o que se pretende agora é que essa distribuição seja gratuita.

Mariaan Fisher Boel, o comissário europeu da agricultura, diz que basta passear pelas grandes avenidas europeias, para verificar a dimensão do problema. Se passearmos por alguns bairros dos subúrbios, então aí se calhar ainda se vê melhor...

O jornal sublinha entretanto que, com esta proposta, se matam dois coelhos de uma só cajadada. Combate-se a obesidade infantil e – no âmbito da reforma da organização do mercado da fruta e legumes, que está em queda – tenta-se também travar o declínio do consumo destes mesmos produtos. Ou seja, em linguagem popular: junta-se a fome com a vontade de comer.

Em Portugal, entretanto e apesar de tudo, é ainda onde as crianças consomem mais fruta e legumes, mas é também, ao mesmo tempo, onde há mais crianças obesas.

Mas, voltando à parábola dos coelhos e do cajado… 90 milhões de euros por ano para incentivar o consumo de fruta e legumes, cujo comércio está em queda e ao mesmo tempo para combater a obesidade infantil. Os dois coelhos que se pretende abater de um só golpe. E se lhe juntássemos as crianças cujo problema é o inverso. Ou seja, as que, cujo problema é não engordar. Por nada em especial, só porque não comem, ou não comem o suficiente, ou se quisermos – socorrendo-nos uma vez mais de uma linguagem popular e se calhar pouco própria para este fórum… crianças que tem fome. Mesmo as que não vão à escola?!... Já eram 3 coelhinhos de uma só pancada.

A proposta foi aprovada , mas ameaça reabrir uma velha ferida, no seio da Igreja de Inglaterra. Eu conto.

O Vaticano criticou ontem a adopção do princípio de ordenação de mulheres bispos , pela Igreja de Inglaterra. Considerou mesmo, que a medida constitui um novo obstáculo à reconciliação entre as igrejas católica e anglicana. É assim que começa a notícia , no Diário de Notícias de hoje.

A reunião do sínodo da Igreja de Inglaterra decorreu em York, no norte do país e decidiu, segunda à noite, já, que as mulheres , que já podiam ser ordenadas sacerdote, possam a partir de agora ser ordenadas bispo.

O Vaticano diz que esta decisão é uma afronta à tradição apostólica mantida por todas as igrejas… do primeiro milénio e um obstáculo à reconciliação entre católicos e protestantes.

Enfim , já estamos no 3º milénio, a verdade é essa, mas , isto, cada um , saberá das suas próprias tradições e o respeito que lhe merecem. Ou seja, cada um saberá, que tradições fazem sentido manter e respeitar, à luz dos novos tempos, à medida da nossa actualidade.

Em Portugal, por exemplo, apesar de todos os protestos, toleram-se os toiros de morte em Barrancos. Há quem diga que é uma crueldade, mas o respeito por uma tradição local serve para ir consentindo, mesmo não aprovando a prática. Mas isto, dos toiros de Barrancos, foi obviamente uma intrusão a despropósito.

Fixemo-nos no essencial da história. E para acabar de vez com todas as dúvidas, o Vaticano lembra que Jesus, o Cristo, apenas escolheu homens para apóstolos.

Mas a polémica está instalada mesmo dentro da própria igreja anglicana. O Bispo de Cantuária, líder religioso dos anglicanos, teme uma cisão dentro da Igreja que preside. No principio deste mês, mais de mil religiosos – homens, decerto- entre eles 11 bispos, ameaçaram abandonar a Igreja, se a ordenação das mulheres bispos fosse aprovada.

Do lado dos mais conservadores a denúncia é que se está a criar uma Igreja dentro da Igreja. 300 deles estiveram há pouco tempo em Jerusalém e acabaram por assinar uma declaração conjunta, onde se critica o declínio espiritual do Ocidente.

Em Portugal, e sobre este mesmo assunto, Maria Sande de Lemos, membro do movimento católico: "Nós somos Igreja", diz que não há nenhum impedimento teológico para, mesmo a Igreja católica, ordenar mulheres sacerdotes. Quanto a esta medida aprovada pelos anglicanos , diz que é uma atitude corajosa, que vem no seguimento do fim do celibato dos padres protestantes e que os católicos deveriam seguir esse exemplo. Mas isto, claro, é uma mulher a falar.

Seja como for e resumindo, ficamos a saber que, para o Vaticano, como Jesus só terá tido apóstolos homens, isso quer dizer que nenhuma mulher poderá ser porta voz, em que grau de sacerdócio for, da palavra de deus. Como se dissesse que do céu não podem cair pedras, porque não há pedras no céu. Ou como se esquecesse que foi Maria, mãe de Jesus, quem lhe terá ensinado as primeiras palavras. E muito provavelmente quem lhe terá escutado as últimas, também.

terça-feira, 8 de julho de 2008

E fiquemos ainda um pouco mais pelo DN.

Páginas meias, com a de Economia fica a de Ciência e é lá que se anicha a breve.

Breve, mas com direito a fotografia.

Sorridente, na sua barbicha grisalha, Israel Knohl é o rosto da notícia. Foi ele que investigou e estudou e concluiu.

Concluiu que a misteriosa estela, que se encontra guardada em Zurique e que remonta ao século 1º antes de Cristo, pode trazer nova luz às origens do próprio cristianismo. O investigador baseia a teoria nas inscrições em hebraico, que se encontram gravados na pedra. A partir daí, Israel Knohl especialista em estudo do Talmude e textos bíblicos e professor na Universidade Hebraica de Jerusalém… a partir dessas inscrições, Israel Knohl concluiu e afirma, que os judeus já sabiam da vinda de um Messias, que haveria de morrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia. Já sabiam de tudo isso, os profetas judeus, já o anunciavam, um século antes de Cristo vir ao mundo.

A afirmação está a levantar alguma polémica e a provocar o debate nos meios académicos. Há já quem compare a importância desta descoberta aos Pergaminhos do Mar Morto. Há quem garanta, que esta revelação pode trazer nova luz, sobre as origens da própria cristandade.

Matéria para os estudiosos e entendidos, que para nós outros, a evidência parece quase provocação. Pois não era já conhecida a profecia?!... Não vem ela nos textos sagrados, no Antigo Testamento?!... que o Messias haveria de chegar… Aliás, pergunto eu, se não fossem as profecias… estas ou outras semelhantes, que, de Messias, trás a nossa História já muito para contar… mas voltemos à questão. Se não fossem as profecias, alguma vez, algum Messias se atreveria a aparecer, fosse onde fosse, ou fosse a quem fosse?!...


Regressemos à Terra.

Tem chamada de capa em 3 jornais desta manhã.

O Público é mais comedido. Diz assim: “Governo prepara demissões no Teatro D. Maria”. E continua: será ainda durante esta semana que o governo vai demitir a direcção do D. Maria, sendo que, Diogo Infante terá já pedido a exoneração de director do Maria Matos e é o nome apontado para dirigir o Nacional.

No 24 Horas, a notícia trás já a fotografia do alegado novo director. “Diogo Infante convidado para dirigir D. Maria 2ª”, é a manchete do 24. Portanto, mais do que dizia o Público, o nome de Diogo Infante já foi mais do que falado. Haverá mesmo já convite expresso, segundo o 24 Horas.

Chegamos ao Diário de Notícias e todas as dúvidas se desfazem. Aqui, no DN, Diogo Infante já é o novo director do Teatro Nacional.

A garantia vem no título: “Diogo Infante confirmado no Teatro D. Maria.”

E, enfim, estas coisas acontecem. Ora por desgaste dos próprios, ou por necessidade simples de renovar, de arejar a casa e as ideias. Para ensaiar novos rumos. E isso, mesmo que não haja razões de queixa do modelo antigo, ou da competência de quem dirige.

Acontece entretanto – e os jornais referem-no com mais ou menos ênfase… acontece que, o actual director do Nacional, ainda não foi oficialmente notificado pelo ministério da cultura, de que vai ser dispensado, ou substituído, ou exonerado, ou… em linguagem mais simples – despedido. Diz o 24 Horas, que Carlos Fragateiro, o actual director do Nacional, nunca conseguiu falar com o ministro da tutela. O 24 Horas tentou, por seu lado, falar com a actual direcção do Nacional, mas sem sucesso. O mais que conseguiu foi ficar a saber, que a notícia terá apanhado toda a gente de surpresa. Não a notícia de que Fragateiro vai ser exonerado, mas sim a de que já há substituto convidado para o fazer. Aliás, ao que parece, nem uma nem outra.

Já o Diário de Noticias adianta, que a nomeação do novo director, poderá ser feita nas próximas horas, mas que o actual director ainda não foi notificado pelo ministério de Pinto Ribeiro, que terá sido, aliás e entretanto o mesmo que convidou Diogo Infante para assumir o cargo.

O actor esteve desde 2005 à frente do Maria Matos. Consta que, desaguisados com a empresa gestora do espaço, o levaram a pedir a demissão do cargo. Na altura em que a notícia saiu para os jornais, dizia-se que Diogo Infante teria já recebido, ou tinha no horizonte, uma outra proposta interessante de trabalho; “um convite especial”, escreve o 24 Horas. O DN diz que o nome de Diogo Infante já era apontado desde 5ª feira passada, como o substituto de Carlos Fragateiro, para o Nacional.

E chegamos ao que vínhamos. Como é que… ou melhor ainda, porque é que ninguém avisou Carlos Fragateiro, em primeiro lugar?! Diria mesmo, em primeiríssimo lugar.

Será agora apanágio da cultura, a falta de educação?!

Ora, vamos a contas.

E em Portugal, temos o exemplo desta actriz, que está no desemprego e à procura de trabalho. Não é nenhuma estreante, nem sequer figura de segunda linha, ou de brilho apagado. Pelo menos, foi bastante popular e muito recentemente ainda, em muita série de televisão e telenovela. Falo da actriz Maria Dulce, que está há 3 anos sem trabalho e diz que pronta a aceitar qualquer proposta. Enfim, em tempos de guerra não se limpam armas e a actriz diz que já aceitou mesmo um trabalho num restaurante de uma estalagem, para equilibrar as finanças domésticas.

Aos 71 anos de idade e com 58 anos de carreira, a actriz Maria Dulce vive actualmente com 300 euros de pensão. Enfim, 300 e pouco.

Estreou-se em 1950, no cinema, com Frei Luís de Sousa, de António Lopes Ribeiro. Fazia o papel de Maria, a filha de Manuel de Sousa Coutinho.

E assim de repente, ao ouvir-me dizer isto, parece quase que estou a escrever um obituário…. Longe vá o agoiro, se bem que, em face à situação exposta, e para todos os efeitos práticos, é um bocado o que o mercado está a fazer a esta -e se calhar, desgraçadamente, a outros actores e actrizes da nossa terra também… – a enterrá-los vivos.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Comecemos por aqui. Há provavelmente tantas razões e circunstâncias, que ditam a riqueza de uma pessoa, como a sua pobreza. Tantas quanto e, provavelmente também, tantas como. Ou seja, as razões podem ser as mesmas, se bem que se manifestem, na vida de cada um, de forma diferente e inversa, mesmo. Isto é óbvio e quase redundante.

E vem isto a propósito do apelo do Papa. Bento 16 apelou ontem aos países mais ricos – que hoje se reúnem no Japão, em mais uma cimeira do G8 - para que se envolvam na luta contra a pobreza e a fome no mundo.

Foi na celebração semanal do Angelus, que o Papa insistiu, para que os mais ricos coloquem esse combate como prioridade nas respectivas agendas.

Ora então, vejamos. A luta contra a pobreza e a fome no mundo não me parece que seja luta para os mais ricos e de barriga aconchegada.

Os mais ricos podem estar vagamente, ou mais empenhadamente, solidários com a luta dos pobres, contra a sua própria pobreza. Os mais ricos podem também financiar, alimentar essa mesma pobreza, como garante da sua própria prosperidade. Os mais ricos podem igualmente gerir essa crise, à proporção e passo das suas conveniências e economias próprias. Os mais ricos podem até escoar para esses mais pobres algum excedente de produção, como forma de os manter vivos e no limiar da necessidade, da dependência de ajudas externas. Como forma também de aquietar algumas más consciências. Os mais ricos podem até, num rasgo de alguma ingenuidade e altruísmo, dar qualquer coisa mais que bons conselhos, ou instruções de boas práticas, para esses países e povos saírem da miséria. Mas a luta contra a pobreza pertence aos pobres. Os ricos, o mais que podem fazer é lutar contra a sua própria riqueza.

Ou antes, lutar contra o excesso. Contra essa doença infantil e egoísta de querer tudo, mesmo aquilo que não se vai ter tempo de vida suficiente para usufruir ou gastar.

Porque a questão está longe de reclamar que todos fiquem pobres, ou mais pobres, para equilibrar a balança. O que está em causa é que, o desperdício, aquilo que nos sobra chega bem para acabar com a fome no mundo, de um dia para o outro. Sem sofrimento.

O que está em causa, é que há meninos que crescem a querer os brinquedos todos só para eles e não deixam mais ninguém brincar.

O que está em causa, se calhar, é que, quem enche a boca com estas cruzadas redentoras, nunca passou realmente fome, nem faz ideia do que é ser pobre a sério.

Ou seja, pedir aos países ricos que lutem contra a pobreza, soa quase como pedir a um ditador que convoque eleições livres e multipartidárias, no país que governa.

Estoutra vem no JN e remete-nos para a cidade transmontana de Valpaços.

O padre Manuel Alves calou o sino do campanário em protesto contra o Café Central, que, na opinião do padre, faz má vizinhança e é mau exemplo. O Café Central fica portas meias com a igreja e com a casa paroquial. O padre queixa-se do barulho, que não o deixa dormir. Queixa-se também que, lá dentro, se passam coisas pouco próprias , como – citando o padre Manuel Alves – “desfiles de mulheres nuas.”

Por isso, e em protesto, resolveu calar o sino da torre. Durante um mês inteiro. Ou pelo menos até o café fechar as portas. Quanto à casa paroquial, diz que foi obrigado a pô-la à venda, enquanto ia fazendo a sua campanha contra o Café Central , da tribuna que lhe cabe – o altar da missa.

Acontece que, o café foi fechado pela ASAE. por causa de umas licenças em falta, mas o proprietário diz que o volta a abrir, assim que esse assunto se resolva. Quanto ao protesto do padre, o dono do café diz que tudo começou no fim de Maio, quando o café se abriu para uma festa de finalistas, que durou até ás 9 da manhã. Foi nessa altura, que o padre endureceu o discurso, difamando o Café e avançando com a tal acusação, do desfile de mulheres nuas… Diz o dono do café. Que diz mais… diz que sempre respeitou a vizinhança – no caso, a igreja - e que, durante o mês de Maria, na hora do terço, desligava a música e a televisão, para não incomodar o culto. Ora aí está uma coisa que - a ser verdade – é louvável e muito pouco comum. Quanto às insónias do padre Manuel Alves… Pois razão terá de se queixar, mas parece de um à vontade curioso, este, de, para reclamar um direito individual – no caso, o direito sagrado, admita-se, ao descanso – se utilize uma arma, ou neste caso, um estratagema – calar o sino – que é de usufruto de todos. Ou seja, o sino da igreja de Valpaços não é do padre Manuel Alves. O sino é da Igreja e a Igreja é dos fiéis filhos de deus. Deles todos. Mesmo os clientes do Café Central de Valpaços.

A César o que é de César!