terça-feira, 7 de outubro de 2008

Rezam as crónicas da História da Electricidade

Rezam as crónicas da História da Electricidade, que tudo começou na Antiguidade, na Grécia antiga. Quando Tales de Mileto, ao esfregar um pedaço de âmbar numa pele de carneiro, observou que pedaços de palha eram atraídos pelo âmbar. A palavra eléktron significa âmbar em grego.

Ora, portanto e em última análise, poderia dizer-se que a culpa é de Tales de Mileto. Mas não. O que diz o Diário de Notícias é que a culpa foi da criança. Da criança de 7 anos que se agarrou ao poste eléctrico, se pôs a abaná-lo e apanhou um choque que a mandou para o hospital

Ora vamos lá a desvendar o mistério. Os factos ocorreram em Fevereiro deste ano, em Viana do Castelo. Um menino de 7 anos foi electrocutado quando, na brincadeira, se agarrou a um poste de iluminação pública. O caso foi para tribunal e agora o Ministério Público acaba de concluir – e é essa a notícia – que a culpa foi da criança, arquivando-se assim a queixa contra a EDP, apresentada pela família da vítima. Os pais estão obviamente indignados com a decisão do tribunal.

Ora, faltava então um quarto para as 9 da noite desse 23 de Fevereiro. Os pais tinham ido à papelaria, logo ali e ele ficou à espera na rua. Enquanto esperava ter-se-á agarrado, na brincadeira e em simultâneo, a um poste de iluminação e um sinal de trânsito, ao mesmo tempo e com os braços abertos. Foi isso que provocou a descarga eléctrica. De tal forma que teve de receber assistência hospitalar, durante 12 horas e mesmo assim, há que voltar periodicamente ao médico, que estas coisas podem deixar sequelas, que só mais tarde se revelam e manifestam… Mas voltemos aos factos.

Segundo o relatório apresentado por técnicos da EDP – escreve o DN – no interior do poste haveria um cabo eléctrico que não estaria convenientemente isolado e, ao agarrar-se ao poste e ao abaná-lo, a criança pode ter feito soltar o tal cabo mal isolado e depois, ao segurar o outro poste metálico – é a lei da física e da electricidade - o corpo fez de condutor eléctrico e provocou a descarga. Diz o relatório da EDP que, muito provavelmente o rapaz estaria a abanar o poste… foi isso… diz que não havia tensões entre terra e massa metálica mas que, abanando o poste, o voltímetro digital apresentava valores de tensão descontínuos… Foi isso que provocou o acidente. A criança pôs-se a abanar o poste e apanhou um choque que o cuspiu para o chão. A culpa foi da criança, diz a EDP. O Ministério Público também acha que sim e mandou arquivar o processo.

Porque se a criança não tivesse agarrado o poste e não se tivesse posto a abaná-lo, nada de mal teria acontecido.

Deixemos de lado e para já saber que força poderá ter uma criança de 7 anos para abanar até o deixar todo desconjuntado por dentro, um poste de iluminação pública, que é suposto estar bem agarrado ao chão, não nos vá cair em cima qualquer coisa mais que uma fulminante descarga eléctrica… deixemos isso. Fiquemos só por esta conclusão brilhante do Ministério Público. Enfim, brilhante, mas pouco rigorosa. Que em verdade, e voltando ao principio, se não fosse Tales de Mileto ter descoberto os princípios básicos da electricidade. Se não fosse gente como esse André Marie Ampère e outros dessa laia se terem posto a estudar as propriedades e segredos da electricidade e um caso como o de Viana do Castelo, este de que vos falo, poderia sempre ser explicado por obra de um qualquer espírito malino, que de súbito tivesse encarnado no corpo do miúdo, fazendo-o estremecer, ficar hirto por segundos e ser depois cuspido para o chão, como possuído pelo próprio diabo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

uma evidência impossível de contornar

E isto da realidade é, como alguém já disse, “uma evidência impossível de contornar”.

Foi Cavaco Silva, ontem no discurso do 5 de Outubro. O presidente da República disse – e passo a citar a própria citação do Jornal de Notícias - “Quando a realidade se impõe como uma evidência não há forma de a contornar.”

Foi o que disse Cavaco, que entretanto confessou também – é aliás essa a própria manchete da notícia no JN- disse Cavaco e citemos: “Não escondo que vivemos tempos difíceis!”. A verdade é que, mesmo que o tentasse, é pouco provável que o conseguisse.

Mas fixemo-nos antes nessa outra afirmação. A de que, quando a realidade se impõe como uma evidência, não há forma de a contornar.

Haver há. Enfim, a verdade é que, se se quiser mesmo e muito, há sempre forma de contornar a realidade. Os subterfúgios são muitos e alguns sobejamente conhecidos. Alguns têm nomes pomposos – demagogia, sofisma, teimosia, alienação… ou então, se quisermos, pode dizer-se que é uma questão de fé. Coisa tão inabalável como sem explicação.

E foi também disso que se queixou ontem Bento 16. A falta de fé dos homens. Diz o Papa que a culpa é de uma certa cultura moderna. Diz Bento 16 que, quando o Homem se proclama proprietário absoluto de si mesmo e único mestre da criação, cresce a arbitrariedade do poder, os interesses egoístas, a injustiça e a exploração e a violência.

Isto foi ontem, quando o Papa abriu o sínodo, que vai debater, até dia 26, o papel da palavra de deus e da Bíblia.

Enfim, o alerta ficou dado e, sem irmos tão longe como a arbitrariedade do poder e os interesses egoístas, fiquemo-nos só por esse pequeno exemplo que ilustra precisamente a falta de fé, de que o Papa se queixa. Fiquemo-nos pelas declarações de Cavaco Silva. Diz o presidente que quando a realidade se impõe como uma evidência não há forma de a contornar… Ora bem!, haver, há. Haja Fé!


De inovação nos dá conta o DN de hoje.

De inovação e investigação e tudo isso a propósito do lançamento da primeira pedra do centro de investigação da Fundação Champalimaud. Um gesto simbólico sempre. O do lançamento da primeira pedra. Em verdade tão simbólico quanto patético, na maioria das vezes. Mas ninguém leva a mal, nem se atreve a escarnecer destas praxes e rituais. A primeira pedra, a primeira árvore…

O dignitário, que tarefas destas não são entregues a qualquer um… o dignitário empunha a pá e – com cuidado para não sujar o fato – lança a pá à terra para plantar a árvore, ou enche-a de massa de cimento para assentar a tal primeira pedra.

Pois o Diário de Notícias publica hoje a fotografia do lançamento da primeira pedra do centro de investigação da Fundação Champalimaud.

Na foto vê-se Sócrates – por inerência de funções – executando o tal gesto ritual. De pá de pedreiro na mão? Não tanto. Sócrates dobra-se para a frente e com todo o cuidado, de braço esticado poisa uma espécie de tijolo esbranquiçado sobre uma pequena prateleira verde, que se ergue na frente de um pequeno veículo de 4 rodas que lhe rasteja à frente. O engenho foi construído de propósito na e pela Universidade de Aveiro – é o que diz o jornal: que a Universidade de Aveiro construiu de propósito este robô para que ele – o robô – transportasse este pequeno tijolo esbranquiçado até ao local onde simbolicamente se vai assentar a primeira pedra do tal centro de investigação.

Sócrates estica-se, sorridente, depondo o tijolo na prateleira frontal do robô como quem dá um osso a um cão, ou como quem lhe dá a cheirar o pau, ou o pantufo, que vai ser lançado para longe, para o cão o ir buscar.

Leonor Beleza, presidente da Fundação, assiste sorridente em 2º plano.

O robô, esse não podia ter um ar mais feliz, pela distinção e honra que lhe foi concedida. A bem dizer, só lhe falta abanar a cauda.