sexta-feira, 4 de abril de 2008



Chegou então o fim do mundo. Pelo menos para Piotr Kouznetsov, o líder da seita ortodoxa russa que se refugiou, há 5 meses, numa caverna à espera do Dia do Juízo.
Ele, mais os seguidores, claro está. 34 pessoas ao todo. Barricaram-se num abrigo subterrâneo, na região de Penza, que fica a uns 700 km a sudoeste de Moscovo, já que perguntam… E chegaram mesmo a ameaçar fazer-se explodir, se a polícia os tentasse fazer sair do buraco. Acontece que longa se tornava a espera e o mundo não havia meio de acabar. Foi isso que fez perder a paciência aos fiéis e voltarem-se contra o profeta do apocalipse.
Acontece que parte do tecto da gruta terá entretanto caído, o que é sempre desagradável, mesmo quando se está à espera que o mundo acabe e nós com ele.
Uns começaram a desistir, discreta e pacificamente, saindo da gruta e voltando ao mundo exterior…
E agora foi a vez dos últimos se fartarem e revoltarem-se mesmo e violentamente contra o líder da seita. Diz o jornal que o guru sofreu mesmo um traumatismo craniano grave, no meio da refega. Enquanto isso, os sobreviventes do holocausto, que afinal não houve, abandonaram a gruta e regressaram à vida normal.
Agora a verdade é que, para o líder da seita a profecia realizou-se mesmo, de certa forma, ou seja, o mundo acabou mesmo. Pelo menos, o dele. Ou seja, para ele próprio, a diferença não há-de ser muita.

E já agora, para que não se diga que nunca se dá destaque, nestas efémeras crónicas, à actualidade económica, que faz as manchetes dos jornais da especialidade, pois paremos então hoje aqui mesmo nesta inequívoca capa do Diário Económico.
Uma capa que não deixa margem para dúvidas. A fotografia ocupa por inteiro a capa do jornal. A legenda que a explica foi reduzida ao mínimo. Meia dúzia de palavras de sentido vago, quase encriptado, o que só pode querer dizer que a imagem vale aqui, de facto, mais que mil palavras.
E que diz a imagem? Que o actor e modelo fotográfico Paulo Pires fez a barba. É a primeira e mais óbvia conclusão a que se chega quando se chega à capa do Diário Económico desta 6ª feira. É verdade que a podia ter feito um pouco melhor para a fotografia. À barba. A cara do actor podia de facto estar mais escanhoada, mas, se calhar, se assim fosse, já não seria notícia, nem merecia a capa do Diário Económico.
Mas assim, tal e qual como está, com a cara de quem fez a barba com uma gilette já com meia dúzia de barbas no currículo, o actor Paulo Pires recebe os leitores na capa do Diário Económico, como se essa fosse de facto a notícia mais importante que o jornal tem para dar hoje aos leitores. É esta a face visível do jornal, nos expositores dos quiosques e tabacarias. Claro que, quem quiser saber mesmo o que é que o jornal tem para dizer hoje aos leitores, das duas uma, ou compra o jornal, às cegas, ou, se quisermos, confiando cegamente em que o que o jornal trás para contar vale mesmo 1 euro e 50 cêntimos e depois seja o que deus quiser… Ou então pode sempre tentar discretamente folhear o jornal, ainda no expositor, para saber o que vem lá dentro.
Ora acontece que esse é um gesto que muitos vendedores não gostam. E se calhar com razão. Se toda a gente pegasse e folheasse os jornais antes de os comprar, ao fim de um bocado os jornais haveriam de estar num tal estado de sujidade e desalinho que já ninguém os quereria comprar, nem por 15 tostões, dos antigos.
Mas adiante que, hoje, de fotografias estamos bem.
Durão Barroso acusado de saber da utilização de barcos com prisioneiros suspeitos de terrorismo. Depois dos voos da CIA que sobrevoaram e utilizaram mesmo território nacional português para o transporte de prisioneiros a caminho de Guantanamo, agora a Reprive, organização de defesa dos direitos humanos, veio denunciar a utilização de um navio prisão norte americano, que terá cruzado as nossas águas e feito escala em portos portugueses. A denúncia da organização acusa Durão Barroso, enquanto primeiro-ministro de Portugal, de estar ao corrente destas movimentações.
O Diário de Notícias trás a história e a fotografia que a ilustra.
Diz a legenda: Durão visado sobre navio prisão. E na fotografia, Durão Barroso aparece meio escondido atrás do que pode ser a ombreira de uma porta. Tem as mãos nos bolsos e uma expressão que pode denunciar alguma apreensão. Eventualmente até a expressão de quem diz, ou pensa, oh diacho, como é que eu vou agora convencer esta gente de que não tenho culpa nenhuma naquilo de que me acusam?...
Pois já no Jornal de Notícias a fotografia que ilustra a mesma notícia é bem diferente. Aqui Durão aparece, como presidente da Comissão, percebe-se que sim por causa da plaquinha colocada sobre a mesa à frente e que o identifica como tal.
A fotografia foi tirada durante uma sessão de trabalho de uma qualquer instância comunitária. Percebe-se que sim pelo aparato e pelas outras personagens que se sentam ao lado dele. E aqui não há dúvidas que Durão já ultrapassou o susto, ou a expectativa que lhe ensombrava o rosto na foto do DN. Aqui Durão sorri aberta e francamente. Quase como se dissesse… o quê?!... Que já foi tudo esclarecido e provado como um enorme mal entendido?... Ou então não! Ou então, que sabia sim senhor, e daí?!...

Mas enfim, o que Portugal precisa mesmo é de mais licenciados. Pelo menos é o que garante a manchete do JN, citando Mariano Gago, o ministro das ciências tecnologias e ensino superior.
Foi ontem, à saída do ISCTE, onde falou durante a Conferência Internacional, na apresentação do relatório da OCDE sobre o Ensino Superior na Sociedade do Conhecimento. E disse então o ministro que Portugal acordou tarde para o Superior. Só muito tardiamente percebeu – e estamos a citar – Portugal só muito tardiamente percebeu que precisa de muitas mais pessoas com formação superior e que o número de licenciados não chega para fazer uma economia mais desenvolvida e um país mais culto. Isso é tudo capaz de ser bem verdade, mas permito-me uma pequena ressalva. Essa do país mais culto…. Tenho para mim que, Portugal deve ser um dos países mais cultos de toda a Europa civilizada. Pelo menos se atentarmos no número de licenciados que anda a vender pizzas pelo telefone ou atender reclamações em Call Centers! Dificilmente se encontra pessoal mais qualificado, mesmo em pizzarias italianas.

Também é verdade que há sempre alternativas, para quem se dê mal com pepperonis e afins. É que a Agência Espacial Europeia tem 8 vagas para astronautas!
Esperam-se umas 50 mil candidaturas. É obra. Tanto mais que durante 9 anos as admissões estiveram fechadas.
O concurso está aberto aos 17 países que pertencem à organização – a ESA. Portugal incluído.
Não se pense em grandes viagens inter galácticas. O objectivo destes novos recrutas fica-se pela Estação Espacial Internacional. Mas são missões consideradas de longa duração. Três meses e um trabalho de grande complexidade técnica e científica. O que pode implicar passeios no espaço, em tarefas de manutenção do material e dos diversos módulos da estação.
Diz a notícia que a idade ideal é entre os 27 e os 37 anos e o contracto é válido o compromisso é por 20 anos.
Informação mais em pormenor é conferi-la no sítio da organização na Internet: aqui fica – http://www.esa.int
Só uma última informação, para os candidatos masculinos, mas não forçosamente só para eles… enfim, para quem for mais desenvolvido de musculatura, mais encorpado e robusto não haverá grande hipótese à partida. E só por uma razão. O espaço útil no interior da Estação Espacial é reduzido e cada centímetro cúbico é valioso demais para ser ocupado pelos bíceps e peitorais de qualquer Tarzan Taborda com aspirações a Neil Armstrong.
A selecção é naturalmente rigorosa neste e outros aspectos mais técnicos e de preparação física. Por exemplo, da última vez, dos 22 mil candidatos, só 4 foram escolhidos.
Mas vale sempre tentar. Apesar de tudo é capaz de ser mais divertido do que vender Pizzas pelo telefone…

quarta-feira, 2 de abril de 2008

30-3-8


Margarida Oliveira é a única reumatologista no interior, de Faro até Bragança. Diz o Público como exemplo.
A manchete, essa diz que os hospitais em zonas periféricas não conseguem atrair clínicos e que só foram preenchidas 10, das 115 vagas para médicos em unidades carenciadas.
Continua-se depois explicando que a maior parte das unidades fica no interior e serve uma população cada vez mais envelhecida. Diz-se ainda que é a concorrência dos hospitais-empresa quem vem aumentar estas dificuldades todas.
O jornal dá o exemplo do hospital de Castelo Branco, onde em Fevereiro abriram vagas para 6 médicos de várias especialidades e nenhuma delas foi preenchida até hoje. Todos os anos abrem dois concursos para preencher vagas de especialidades várias em hospitais mais carenciados. No último concurso, só 10 das mais de 100 vagas foram preenchidas.
Para o presidente do hospital de Castelo Branco contractar, o ano passado, um pneumologista e conseguir fixá-lo no posto de trabalho foi quase uma lança em África. Foi a excepção que confirma a regra.
Para um outro clínico, neste caso o presidente do hospital da Guarda, a falta de especialistas pode não chegar a comprometer o funcionamento das unidades hospitalares, mas, com uma população envelhecida (que os novos, já se sabe, procuram vida noutras urbes…) a situação pode complicar-se com as listas de espera a aumentar exponencialmente. Na Guarda, dos 124 especialistas necessários, o quadro fica-se pelos 70. Ao todo, entre internos e contratados, o hospital da Guarda tem 108 médicos no activo, mesmo assim, abaixo das necessidades.
Para o bastonário a culpa é do sistema, que avança a duas velocidades. Com a criação dos hospitais-empresa o mercado sofreu uma mudança substancial. Uma mudança que se reflecte não só nos ordenados, como também nas próprias condições de trabalho, tanto em instalações como equipamentos. É por isso e é só mesmo por isso. Diz o bastonário.
Para o bastonário, a abertura de vagas carenciadas – escreve o Público - é a herança de um tempo em que todo o sistema era público e era possível fazer uma "gestão centralizada das carências a nível nacional". Com a livre contratação dos Hospitais Empresa passa-se a um sistema de planificação central para funcionar o mercado, o que quer dizer… ganha – diz o bastonário - quem consegue atrair profissionais. A única coisa que os hospitais de gestão pública podem oferecer neste momento é um vínculo ao Estado. À função pública e esse foi já um chão que deu uvas. Não convence os médicos actualmente. Diz o presidente do Hospital da Guarda, que hoje só uma minoria se deixe encantar por essa regalia. Muitos, a maioria, preferem um vínculo precário à entidade empregadora, desde que isso os mantenha nos grandes centros urbanos. E mesmo isso… Em Faro, as 8 vagas abertas no concurso deste ano ficaram todas por preencher. E Faro nem fica propriamente por detrás dos montes…
Ora a solução entretanto encontrada tem sido a de contratar médicos de empresas externas e que prestam serviços pontuais para resolver questões, que essas, de pontual não têm nada. São tarefas e necessidades do dia a dia de qualquer hospital.
Em Beja a solução é aliciar os jovens médicos com prémios em dinheiro para os fixar ao posto de trabalho. Aos jovens médicos que ficarem por 3 ou 5 anos no hospital de Beja, a administração oferece incentivos remuneratórios no internato. Mas, apesar de ser um hospital-empresa, Beja avisa já que não tem orçamento milionário para pagar a médicos com dúvidas existenciais, ou outras…
O presidente do Conselho Nacional do Médico Interno faz o diagnóstico da crise e é sem reservas que diz que o problema é que a liberalização do sector veio na pior altura. Com a alegada falta de mão-de-obra, o que acontece é que os jovens médicos preferem, mesmo assim, ou por isso mesmo, aceitar contractos individuais de trabalho nesses hospitais-empresa, ou então virarem-se definitivamente para o privado. Esses hospitais do interior são pouco atractivos, têm más condições de trabalho e condições nenhumas de renovação ou de formação dos mais novos na profissão. Um quadro clínico da situação que é preocupante e prenúncio de morte para os hospitais do interior do país.
Fica portanto a informação para todos os eventuais futuros utilizadores das especialidades em défice nos hospitais públicos, portugueses… a culpa é do sistema, que ainda pensa que os médicos vivem do ar e que não têm mais nada que fazer que tratar de gente com problemas de saúde, perdida lá para os confins desse Portugal profundo, ou lá o que é, que era só mesmo o que mais faltava …