quinta-feira, 17 de abril de 2008


Duvidosa?!... Muito duvidosa mesmo.
Exagerada e alarmista?!...
Pois esse, meus amigos, é um dos segredos e alma do negócio!
O da publicidade, entenda-se. Havia mesmo, em tempos, um reclame que perguntava, a propósito acho eu de uma espuma de barbear, perguntava porque é que os publicitários eram todos uns exagerados. A pergunta era feita por um cavalheiro que ensaboava a cara com o novo produto que prometia espuma superabundante. O consumidor em causa duvidava da propaganda e era isso que ia comentando à medida que espalhava o sabão na cara e a espuma ia crescendo até lhe tornar quase ininteligível a fala …
Mas o que importa agora é que a polícia de segurança pública – vulgo PSP - está a investigar as circunstâncias em que uma empresa de segurança está a promover os seus serviços em alguns locais do concelho de Cascais. É assim, tal e qual que escreve o Público desta 5ª feira.
A campanha em causa alerta para – e abrem-se aspas – o "aumento de assaltos e actos de vandalismo”.
Ora o jornal fez questão em conferir a informação com a própria PSP e acontece que o comando metropolitano da corporação terá confirmado ao Público que as estatísticas de 2007 e deste ano não justificam qualquer alarmismo, embora se tenham registado alguns aumentos. Ora, aqui vamos introduzir, sub-repticiamente um " de facto" na expressão e ver como fica: embora se tenham – de facto – registado aumentos. O que continua a não ser caso para alarme.
Aliás, um responsável da própria empresa já reconheceu que o tom da campanha é talvez um pouco alarmista, mas devolve a responsabilidade à agência responsável. Enfim, também é verdade que, se achassem mesmo que o tom da campanha podia assustar alguém ou era menos próprio, podiam sempre ter dito a tempo e horas que obrigado, mas não obrigado, tentem lá de outra maneira… o que não foi feito.
E que, para o caso também será de menor importância. O que preocupa mesmo e muito a sério é o futuro de alguns homens políticos da nossa coisa pública. Esses que, quantas vezes até no próprio Parlamento, interpelam o governo e a Nação, lançando justamente esse alarme da insegurança crescente e sem controle. A ver se a policia os não leva ainda para averiguações e responso.

Sem alarme, mas definitivo e pragmático o Provedor da Arquitectura – sabiam que havia um? Adiante. – Francisco Silva Dias, o provedor da Ordem dos Arquitectos acha que a projectada ponte Chelas/Barreiro… não é o caso de não se parecer com nada, o problema é que se parece demasiado com as outras duas que já lá estão sobre o Tejo.
Diz o provedor que a qualidade estética daquelas obras de arte ficará comprometida. Bom, comecemos por aí. De engenharia serão, agora de arte, talvez pudéssemos deixar essa apreciação para outra altura, por isso adiante. Diz Francisco Silva Dias que " uma das características das obras de arte é serem singulares, mas, se temos 3 pontes iguais é a repetição do mesmo objecto e a sua desvalorização”.
Enfim, depende. Se pintarmos cada uma de cor diferente e suficientemente berrante e em vez de mais uma, construirmos mais umas 3 ou 4, todas iguais e todas diferentes na cor – berrante – isso é fundamental… podemos sempre dizer que é um tributo a Andy Wahrol.
Isso podemos dizer, agora dizer se é arte ou não, o melhor é perguntar a quem esteja mais por dentro do assunto.

quarta-feira, 16 de abril de 2008


Ora temos então que para a Europa e quase de um dia para o outro é a China e já não tanto os Estados Unidos da América do Norte o inimigo público nº 1. Enfim, talvez a linguagem seja aqui um pouco forte. O que se passa é que para 35% dos europeus, a China passou a ser encarada como a maior ameaça mundial, da actualidade.
A questão tibetana e o comércio são as pontas de lança dessa ameaça. Isto segundo um inquérito publicado pelo Financial Times. A sondagem foi feita em 5 países europeus: Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Espanha. Até hoje eram os Estados Unidos quem ocupava este lugar de honra. Depois da sondagem, apenas os espanhóis se mostraram fiéis a essa suspeita – a de que são os Estados Unidos a nação mais perigosa, mais ameaçadora da paz e estabilidade no mundo.
Enquanto isso, nos Estados Unidos a reacção é obviamente diferente, se bem que venha dar ao mesmo, em termos práticos e finais. Ou seja, para Washington, o perigo eminente que a China representa vem substituir e amenizar o labéu que até hoje pendia sobre alguns históricos do eixo do mal – a saber: Irão e Coreia do Norte. Ou seja, ou os americanos sabem de algum plano chinês para derrubar o Empire State Building, ou então o receio é que Pequim lhes tome de assalto os McDonald.


E é justamente nos Estados Unidos da América do Norte que o Papa está em visita de Estado, por estes dias.
Ontem, voando a caminho de Nova Iorque Bento 16 disse que estava envergonhado e que os padres pedófilos não deveriam ser padres. Ou antes que os pedófilos não podem ser padres. Ficou prometida uma homilia para sábado que vem a propósito do assunto. Um assunto que já custou, à Igreja Católica, 2 mil milhões de dólares em indemnizações às vítimas.
O papa disse então que estava profundamente envergonhado. Dificilmente poderia ter dito outra coisa qualquer … a verdade é essa. Garantiu entretanto que crimes destes nunca mais hão-de acontecer no seio da Igreja a que preside. Disse também que não consegue compreender como é que houve padres que puderam trair assim as obrigações a que estão sujeitos. Disse ainda, o Papa, que a prevenção é a melhor forma de combater a pedofilia. E que essa prevenção deve começar nos seminários, com uma profunda preparação espiritual, humana e intelectual dos aspirantes ao sacerdócio. Deus o oiça, que apesar de tudo e mesmo sem as aberrações pedófilas de que se fala, a preparação espiritual, humana e intelectual é coisa que dá sempre jeito, seja a um padre, ou a qualquer pessoa com responsabilidades de contacto directo com o público. Com as pessoas. Com o resto do mundo. É o nosso sacerdócio. De nós todos.


E, de repente, li assim: alunos processados por computador. Mas era obviamente um erro de leitura. E isto, meus amigos, erros de leitura são uma coisa terrível e de resultados por vezes assombrosos e surpreendentes. Mas antes disso vamos a um exemplo prático. Por exemplo, eu ligava o computador e escrevia no meu blogue, ou num desses sites de conversação em linha, de opinião avulsa… escrevia, identificando-me como, por exemplo, bispo de Cracóvia, escrevia, por exemplo que o Papa era um ladrão de cavalos, ou que andava a roubar couves para fazer sopa. Pela mesma ordem de razões a que se prende a notícia, não era o tribunal dos homens o que me esperava, mas a excomunhão, o degredo, o fogo do Inferno, a condenação eterna!
Mas vamos à história. E a história passa-se em Sintra, mais concretamente na secundária da Portela de Sintra.
O conselho executivo da escola não gostou de ler os comentários que alguns alunos publicaram na Internet, num site muito popular de conversação e troca de opiniões e delírios poéticos e românticos.
Acontece que os comentários publicados se referiam a alguns professores da escola. Os alunos iam dizendo, uns para os outros e para quem aterrasse, por acidente que fosse, na página em causa, o que realmente pensavam dos professores que tinham, o que realmente lhe ia na alma.
Os comentários não são dos mais lisonjeiros, convenhamos – por exemplo chama-se labrega a uma professora, a outra, levanta-se a questão se ela – e passamos a citar – baterá bem. Em forma de desafio lança-se a questão: quem achar que a professora de Biologia não bate bem venha comentar aqui… e a questão põe-se porque alegadamente a referida professora tem o hábito de dançar enquanto dá a matéria. Noutro caso, a questão que se levanta é sobre uma outra professora, a de ginástica, que os alunos criticam e acusam de pouca compreensão com a pouca preparação física de alguns alunos. Chegando-se mesmo a acusá-la de discriminação em relação a um dos estudantes da escola.
Por estas e por outras é que o caso ameaça seguir para os tribunais. A presidente do conselho directivo terá já convocado uma reunião com os pais dos alunos para lhes dar conta do processo disciplinar em curso. Um processo a cada aluno. E mais ainda, a escola vai avançar com um processo cível por difamação dos professores em causa.
O jornal Correio da Manhã escreve que tentou saber, junto da escola, porquê uma reacção tão – violenta quase – esta do processo cível. A escola terá respondido que só tem obrigação de responder à Direcção Regional de Educação de Lisboa. E isto por mais que os pais se queixem ou questionem da pertinência da medida anunciada – a do processo cível.
Ora aí está o primeiro erro. Parece que gravito quanto baste. É que a escola tem sim senhor de prestar contas aos pais dos alunos. Para já e em primeiro lugar porque são quem lhes paga os ordenados e depois porque, mais que obedecer a ordens e hierarquias e burocracias e outras alegorias… a escola tem mesmo e em primeiro lugar que saber o que pensam e acham e querem os pais dos alunos. Mesmo que eles estejam completamente errados. Tem de ouvi-los e dialogar com eles e procurar com eles as soluções que são precisas para todas as situações que se passam portões adentro da escola.
Não se pode soltar aos 4 ventos o chavão da escola integrada, não se pode exigir e reclamar a presença dos pais e encarregados de educação para depois os deixar a falar sozinhos quando têm uma opinião que colide com a da escola. É que a verdade é que já vários pais dos alunos em causa se manifestaram achando a reacção um pouco excessiva, em relação aos factos.
Depois temos este pequeno pormenor – o de que tudo se passa no ciberespaço. Onde, como já se viu, qualquer um se pode fazer passar por qualquer um e dizer o que lhe passa pela cabeça. Isso é tecnicamente possível e só muito dificilmente desmascarável.
Mas tirando isso, a Internet tem essa outra característica que a torna única como meio de expressão e comunicação. É o sítio onde a liberdade é tanta que, se fossemos a levar a sério e à letra tudo o que lá vem escrito e publicado, já nos tínhamos todos refugiados numa gruta à espera do fim do mundo.
Por outro lado, sendo uma porta tão despudoradamente aberta ao mundo, a Internet é o sítio onde as maiores intimidades se revelam sem constrangimento. Com o mesmo à vontade com que se confiam a um diário os pensamentos mais secretos, os medos, as alegrias…
Mas voltemos ao assunto. A verdade é que esta secundária da Portela de Sintra perdeu uma oportunidade doirada de ficar a saber, sem grande esforço, o que os alunos realmente pensam dos professores que têm. Em vez disso resolveu processá-los. A partir de agora, os comentários talvez desapareçam da Internet, mas vão certamente crescer de tom e violência, pelos corredores, passos perdidos e recreio da escola. Vai uma aposta?...


terça-feira, 15 de abril de 2008

Diz Alejandro que é um avanço. Alejandro está radiante, segurando na mão o contracto que torna finalmente legal o pequeno telemóvel que guarda ciosamente no bolso do casaco. Durante anos Alejandro viveu fora da lei. O telemóvel que tinha era clandestino. Fora registado em nome de um cidadão estrangeiro. Era essa a única forma, na Cuba de Fidel, de um cidadão cubano poder usufruir dessa maravilha tecnológica – o telemóvel. Agora, na Cuba de Raul, o uso de telemóvel foi liberalizado. Já não é de uso exclusivo de estrangeiros ou de quadros e responsáveis políticos da Nação. A partir de agora, Alejandro é um homem livre, nesse sentido em que pode deixá-lo tocar sem constrangimento em qualquer lado, no meio da rua, onde for e tirá-lo depois com gesto largo, do bolso do casaco e atender a chamada com voz firme e sem medo de ser preso, ou ver-lhe confiscada a arma do crime – no caso e uma vez mais – o telemóvel.
Ora a notícia diz que, ontem, em Cuba, as filas davam a volta ao quarteirão, para comprar telemóveis. Diz ainda que o custo de um único destes aparelhos, vendidos em exclusivo pela companhia nacional dos telefones cubana… custa cada um cerca de 9 vezes o salário de um cubano médio. Ou seja, um cubano ganha em média 18 dólares por mês. Um telemóvel dos mais baratos custa-lhe 65 dólares. Dos mais baratos é já quatro vezes o ordenado…! Até 9 meses de trabalho só para pagar o aparelho de qualidade mediana. Acontece que, segundo a notícia, o número de gente disposta a esse sacrifício fazia uma fila a perder de vista em todas as sucursais da telefónica cubana.
Dê-se para já de barato – ou melhor – de graça mesmo, os custos das próprias chamadas e serviços, para além da quase certa febre de novidade que leva muito boa gente a muitos e generosos desvarios. E nisso, os adolescentes cubanos, para já, não hão-de ser muito diferentes dos do resto do mundo, pelo menos do mundo que usa telemóveis.
Mas para já, Alejandro está feliz. E está feliz porque agora tem um objectivo muito concreto e definido na vida: trabalhar um ano para juntar para um telemóvel novo.
É miserável como objectivo de vida? Será. Bem pior é não ter objectivo nenhum.