terça-feira, 15 de abril de 2008

Diz Alejandro que é um avanço. Alejandro está radiante, segurando na mão o contracto que torna finalmente legal o pequeno telemóvel que guarda ciosamente no bolso do casaco. Durante anos Alejandro viveu fora da lei. O telemóvel que tinha era clandestino. Fora registado em nome de um cidadão estrangeiro. Era essa a única forma, na Cuba de Fidel, de um cidadão cubano poder usufruir dessa maravilha tecnológica – o telemóvel. Agora, na Cuba de Raul, o uso de telemóvel foi liberalizado. Já não é de uso exclusivo de estrangeiros ou de quadros e responsáveis políticos da Nação. A partir de agora, Alejandro é um homem livre, nesse sentido em que pode deixá-lo tocar sem constrangimento em qualquer lado, no meio da rua, onde for e tirá-lo depois com gesto largo, do bolso do casaco e atender a chamada com voz firme e sem medo de ser preso, ou ver-lhe confiscada a arma do crime – no caso e uma vez mais – o telemóvel.
Ora a notícia diz que, ontem, em Cuba, as filas davam a volta ao quarteirão, para comprar telemóveis. Diz ainda que o custo de um único destes aparelhos, vendidos em exclusivo pela companhia nacional dos telefones cubana… custa cada um cerca de 9 vezes o salário de um cubano médio. Ou seja, um cubano ganha em média 18 dólares por mês. Um telemóvel dos mais baratos custa-lhe 65 dólares. Dos mais baratos é já quatro vezes o ordenado…! Até 9 meses de trabalho só para pagar o aparelho de qualidade mediana. Acontece que, segundo a notícia, o número de gente disposta a esse sacrifício fazia uma fila a perder de vista em todas as sucursais da telefónica cubana.
Dê-se para já de barato – ou melhor – de graça mesmo, os custos das próprias chamadas e serviços, para além da quase certa febre de novidade que leva muito boa gente a muitos e generosos desvarios. E nisso, os adolescentes cubanos, para já, não hão-de ser muito diferentes dos do resto do mundo, pelo menos do mundo que usa telemóveis.
Mas para já, Alejandro está feliz. E está feliz porque agora tem um objectivo muito concreto e definido na vida: trabalhar um ano para juntar para um telemóvel novo.
É miserável como objectivo de vida? Será. Bem pior é não ter objectivo nenhum.


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