


AS ÁRVORES PLANTADAS
AS PESSOAS PARADAS
AS PAREDES PINTADAS
PLANTADAS PINTADAS
PARADAS
PESSOAS ÁRVORES E
PAREDES
ABENÇOADAS
dos Anjos Desolados, deles todos, ele era o mais Cruel, o mais Perverso. capaz de quase tudo, sem pecado. a imagem do Diabo & seu reverso.
Quando os olhares se cruzaram, ambos estavam a olhar para outro lado e não deram por nada. Há momentos assim; decisivos, se bem que, de tão fortuitos, acabam por se revelar irrelevantes, na roda do acaso. Fizeram por disfarçar o embaraço com uma sandes em cada mão e uma garrafa de água em cada bolso. Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade. Sentiam que a cidade lhes apertava o cerco e acertava ao perto. Acertaram os relógios e apertaram o passo. Passaram as sandes de uma para a outra mão, o que não adiantou grande coisa em termos relativos, ou seja, continuaram sem nenhuma mão livre. Resolveram, por isso, começar a falar pelos cotovelos. Devo dizer-lhe –começou o primeiro- que não confio em ninguém, p’r’além de mim e da minha mãezinha… acho tudo isso muito bonito – deixou cair o outro- só espero que a sua mãezinha lhe acuda, se a coisa der para o torto…continuaram a olhar cada um para seu lado, como se não se conhecessem, o que era o caso, aliás. Muito bem – cortou o primeiro, parando de repente e encarando o outro com ar desafiador. Primeiro olhou-o de cima, com o ar que não deixava dúvidas sobre quem mandava ali, naquele momento. Depois experimentou olhá-lo de baixo, com o ar de quem já viu tudo o que havia a ver e estava só a fazer por parecer interessado. Por fim, olhou-o de lado, com desconfiança e foi isso que lhe chamou a atenção. Você – recomeçou, agora mais lentamente- você ponha isto na cabeça –enquanto lhe estendia um chapéu de palha, um pouco gasto, mas ainda em bom estado. Preferia não o fazer –respondia agora o outro sentando-se no muro de pedra, sobre o abismo- essas coisas alegres dão-me um ar sombrio, para além de que já tenho, na minha cabeça, muita coisa com que me preocupentear. Com um gesto despreocupado, rodou o corpo, atirando as pernas sobre o muro, para o outro lado. Ficou a vê-las cair pela ravina escarpada e tudo. Lá se vão elas – apontava para as pernas que caíam, aos trambolhões, batendo nas pedras aguçadas, ravina abaixo- é o chamado pernas para que vos quero… você tem a noção –atacava agora o primeiro – que o que acaba de fazer é uma perfeita estupidez! – via-se que o homem estava em brasa. Você acaba de me cortar as pernas! Carago! O outro ria, agarrando a barriga para não cair do muro. Arre porra! Engraçado você falar nisso das pernas!... Acha mesmo engraçado? –cortou o primeiro. O outro parara de rir quando se levantou de um salto, como se uma mola lhe saísse do cu, o que de facto acabava de facto de lhe acontecer. Saltando por sobre o insólito da situação, gritava-lhe agora em solavancos semióticos: e você acha que, depois disto, a nossa conversa ainda tem pernas para andar?!...