quinta-feira, 23 de março de 2006




TORNICOTIM TORNICOTÃO

CÁ ESTÁ

O SALTITÃO



GARANTEM QUE O VIRAM GRITANDO NO MEIO DO FOGO COMO UM ANIMAL FERIDO ESPOREANDO O CAVALO FAZENDO-O RASPAR A TERRA COM FORÇA

GARANTEM QUE ERA UM GRITO TERRIVEL QUE SE SOBREPUNHA AO CAOS DA NOITE EM VOLTA

GARANTEM QUE NOS OLHOS TINHA UM LUME MAIS VIVO QUE O PRÓPRIO FOGO QUE O RODEAVA

UMA COISA ESTRAAANHA...!

quarta-feira, 22 de março de 2006

SERÁ QUE O PEIXE CONGELADO
RESPIRA O AR CONDICIONADO
QUE HÁ NA ÁGUA OXIGENADO
E FRITO EM ÓLEO SATURADO
FICARÁ COLASTERADO
E JÁ MUDANDO DE ASSUNTO
COMO A SANDES DE PRESUNTO
E COMO É QUE UM ANALFABETO
COME UMA SOPA DE LETRAS
E BEBE O CALDO COM O QUÊ
UM QUÊ DE NOVE
OU UM CÊ DE CONCHA
E QUE FAZ UM OPERÁRIO DA SETENAVE
NA PRAIA DO MAGOITO
DA 7NAVE NO MAG8

segunda-feira, 20 de março de 2006


O HOMEM CARACOLETA
TEM UMA PENA PATETA
VÊ POR UMA LUNETA
REDONDA E CIRCUNSPECTA
E QUANDO A COISA ESTÁ PRETA
DÁ UMA VOLTA COMPLETA
E MAIS MEIA PIRUETA
ATÉ A COISA DAR CERTA

O HOMEM CARACOLETA
É UMA TRETA CONCRETA

“A TRISTE TRISTE HISTÓRIA DE ZÉMANEL LANZARUDO”




ZÉ MANEL LANZARUDO ERA CONHECIDO NO MUNDO DO CRIME COMO O MAIOR FILHO DA PUTA QUE DEUS AO MUNDO DEITOU TODOS O TEMIAM E NINGUÉM O RESPEITAVA OS ÚNICOS AMIGOS QUE TINHA ERAM A FACA E A FORÇA MUITOS GARANTEM TÊ-LO VISTO MATAR POR PRAZER OU DESENFADO TAMBÉM TEVE UM TRISTE FIM O POBRE SAFADO COISA QUE JÁ SE SUSPEITAVA TODOS O TEMIAM NINGUÉM O RESPEITAVA ZÉ MANEL LANZARUDO NAVALHA DE PONTA E MOLA PODIA TER SIDO TUDO TIVESSE ELE IDO À ESCOLA A NOITE COMEÇARA MAL NA TELEVISÃO PREVIAM TROVOADA P’RÓ FIM DE SEMANA E ISSO DEIXAVA ZÉ MANEL LANZARUDO EM BRAZA ERA SUPERIOR ÁS SUAS FORÇAS NÃO CONSEGUIA CONTROLAR A TROVOADA DEIXAVA-O DESCONTROLADO TEVE UMA INFÂNCIA INFELIZ O PAI CANTAVA O FADO A MÃE MORREU DA PORRADA QUE LEVAVA TODOS O TEMIAM NINGUÉM O RESPEITAVA ZÉ MANEL LANZARUDO NAVALHA DE PONTA E MOLA PODIA TER SIDO TUDO SE O TIVESSEM MANDADO À ESCOLA NO BECO DA MEIA LARANJA O MARRECO PUNHA A GRAFONOLA A TOCAR TODAS AS NOITES SEMPRE À MESMA HORA ACERTARAM QUE ESSE SERIA O SINAL COMBINADO ZÉ MANEL LANZARUDO COSIA-SE NAS SOMBRAS DO BECO COMO UM GATO À PROCURA DE QUALQUER COISA ERA MINUCIOSO NÃO DEIXAVA NADA AO ACASO QUEM SE METIA COM ELE TINHA AS FAVAS CONTADAS QUEM NÃO QUER SER LOBO NÃO SE METE EM CALDEIRADAS BEM O DIZIA MAS NINGUÉM O ESCUTAVA TODOS O TEMIAM MAS NINGUÉM O RESPEITAVA ZÉ MANEL LANZARUDO NAVALHA DE PONTA E MOLA PODIA TER SIDO TUDO TIVESSE ELE IDO À ESCOLA OUVIU-SE UM TIRO E UMA PORTA A BATER UM VIOLINO NO TELHADO E UM FÓSFORO A ARDER O ZUMBIR DE UMA MOSCA A POISAR NA SARJETA E UMA ÁRIA DA TOSCA P’LA JANELA ABERTA ZÉ MANEL DE SOSLAIO TREPA P’LA VARANDA E O QUE VÊ LÁ DENTRO PÕE-LHE A CARA À BANDA NA CAMA SEM VIDA UMA GALINHA MORTA SOBRE A ESCREVANINHA NEM UMA LINHA TORTA NUM RASGO D’INSTINTO VIRA-SE NUM REPENTE VIRA DOIS DE TINTO E TRÊS DE AGUARDENTE JÁ BEM EMBALADO COM A ALMA QUENTINHA DESCE P’LO TELHADO ATÉ À COZINHA PEGA NA ESFREGONA E NUM GESTO BRUTAL ATIRA COM ELA P’RÓ MEIO DO QUINTAL COMO IA A PASSAR NA RUA UMA VELHA SACOU DA NAVALHA E CORTOU-LHE UM’ORELHA E A VELHA AOS GUINCHOS SOCORRO E ACUDAM MAS NINGUÉM SE MEXE NEM QUE OS SACUDAM COM O ZÉ MANEL POSSESSO NINGUÉM ARRISCAVA TODOS O TEMIAM NINGUÉM O RESPEITAVA ZÉ MANEL LANZARUDO NAVALHA DE PONTA E MOLA PODIA TER SIDO TUDO SE O TIVESSEM MANDADO À ESCOLA JÁ PASSAVA DA MEIA NOITE E A LUA ESCONDIA-SE POR ENTRE AS NUVENS ZÉ MANEL LANZARUDO DOBRAVA-SE SOB O PESO DA MALDADE ENQUANTO DEIXAVA O CORPO DESLIZAR P’LO ALGERÓS DA MANSARDA SENTIA O ACRE DO SANGUE NA LINGUA UMA ESTRANHA LASSIDÃO PERCORRER-LHE O CORPO COMO UMA DESCARGA ELÉCTRICA DE REPENTE O CÉU DESABOU COMO UMA COUVE A TERRA TREMEU E O CHÃO COMEÇOU A DEITAR FUMO ZÉ MANEL LANZARUDO SÓ TEVE TEMPO DE DIZER UM PALAVRÃO CUMPRIU-SE O PIOR RECEIO O QUE ELE MAIS RECEAVA VEIO UM RAIO E PARTIU-O AO MEIO TODOS O TEMIAM NINGUÉM O RESPEITAVA ZÉ MANEL LANZARUDO NAVALHA DE PONTA E MOLA PODIA TER SIDO TUDO ...




O abcesso obsceno
Começou muito pequeno
Mas depois agigantou-se
Ganhou corpo alambazou-se
Inchou que nem um texugo

O abcesso obsceno
Começou muito pequeno
Mas depois sempre em crescente
Foi-se tornando insolente
A querer tomar conta de tudo

O abcesso obsceno
Foi conquistando terreno
Os ouvidos a cabeça
Osso a osso peça a peça
Até estoirar o cérebro todo

Esse obsceno abcesso
Não pense que eu enlouqueço
Que eu dentes é guerra antiga
Abcesso de uma figa
Dou-lhe dois murros que o fodo