Portugal absteve-se, por ver tantas vantagens como inconvenientes na decisão, mas mesmo assim, e apesar da maioria não qualificada, a proposta acabou por ser aprovada. ontem em Bruxelas. E chega de nariz de cera. Vamos ao que importa.
A partir de agora, a fruta e leguminosas deixam de novo de ter de respeitar as regras de normalização impostas pela Comissão Europeia. Foi a própria Comissão quem propôs a alteração, aprovada por 127 votos contra 206 e duas abstenções, entre as quais a portuguesa, já vimos. Foi mais gente a votar contra, mas não chegou para a tal maioria qualificada que chumbasse a proposta.
A proposta, justifica-a a Comissão Europeia com a necessidade de eliminar alguma burocracia e evitar desperdícios. E ele, o desperdício, chegava aos 20% da produção. Em Portugal por exemplo – e este é um aparte - o Banco Alimentar contra a Fome estava impedido de receber fruta e produtos não normalizados – os chamados produtos com defeito. Isto porque, segundo Isabel Jonet, do banco alimentar, o ministério português da agricultura se atrasou a enviar para Bruxelas a informação sobre a entrega, em Bancos Alimentares, ou organizações semelhantes, de produtos que não respeitam as normas comunitárias de calibragem. A burocracia de que se falava… E por causa disso, é ainda Isabel Jonet em declarações ao jornal Público… por causa disso, desde Janeiro que os habituais 85 milhões de kilos de géneros entregues, por ano, no Banco, pelos produtores, sofreramum corte drástico. Diz que já em Outubro, a Federação dos Bancos Alimentares pediu urgência na resolução do problema, mas sem resposta, pelo menos até hoje. Hoje, o que acontece é que esses produtos e no caso concreto da fruta, ou são enterrados, ou vendidos para Espanha, para fazer refrigerantes.
Mas o protesto alarga-se por toda a Europa, agora contra esta medida. Os agricultores europeus estão contra o fim da normalização da calibragem, porque acham: primeiro, que ela não vai fazer baixar o preço da fruta e dos legumes, por exemplo… A comissária europeia da agricultura acha que antes pelo contrário. Um porta-voz da Comissão Europeia diz, por seu lado, que assim se acabam com cem mil páginas de legislação, prevalecendo a lógica da regulação mínima. Quanto aos agricultores, acham também e ainda segundo dizem, que o que vai acontecer é abrirem-se as portas aos fornecedores de outros países.
Em Portugal, a CAP também torce o nariz ao fim da calibragem. Diz que assim o consumidor deixa de ter pontos de referência para comparar preços.
Já p’ra não falar no dinheiro gasto nas máquinas de calibragem, que foram forçados a comprar entretanto…
E, entretanto também, um dirigente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha diz que o problema é a qualidade. Que a partir de agora, não é que ela seja toda má, o que acontece é que deixa de haver a garantia de que a fruta seja boa. Diz que Bruxelas o que quer é ajudar o mundo rural de países terceiros, à custa do mundo rural europeu. Estes são os argumentos soltos e mais sonantes.
A questão que fica por responder é só esta. Porque é que não se pode garantir a qualidade dos produtos?!... Só porque Bruxelas não o exige!? Isso não é verdade, parece-me... O que está em causa é só a calibragem. A normalização dos tamanhos. Ou se quisermos, uma versão horto frutícola do Todos Diferentes Todos Iguais e, no caso, todos a saber à mesma coisa quase nenhuma.
E… esse susto do mercado europeu vir a ser invadido de produtos não normalizados vindos dos tais países terceiros?... Faria assim tão grande diferença, se essa invasão fosse protagonizada, por exemplo, por um exército de tangerinas, ou maçãs reineta, desde que viessem todas alinhadinhas, como soldadinhos de chumbo, numa caixa engalanada?...
Hoje, uma edição falsa do New York Times anunciando, por exemplo o fim da guerra, não só não chegou para acabar de facto com ela, como lançou a indignação nalguns meios, a começar pela própria direcção do New York Times, que não achou graça nenhuma à ideia.
Mas a verdade é que a cópia quase perfeita do jornal, distribuída ontem de manhã em vários pontos de Nova Iorque e Washington, enganou muito boa gente. Isto apesar da surpresa de algumas das notícias publicadas. Anunciava-se por exemplo o fim da guerra no Iraque e o regresso das tropas, o livre acesso à universidade e a criação de um sistema de saúde universal. Enfim, só boas notícias. A ideia geral vinha logo na tituleira, onde se glosava o lema do próprio jornal nesta frase: Todas as notícias que nós esperamos um dia vir a publicar. Enfim, mais ou menos isto em tradução livre.
Pois acontece que estas liberdades desagradaram sobremaneira à direcção do jornal – ainda mais que alguns dos colaboradores desta edição mistificadora eram jornalistas do próprio New York Times... E desagradaram tanto, que a direcção do jornal anda agora a ver se descobre os autores e os responsáveis por esta edição. O jornal Público já os descobriu. O Guardian também e até já falou com eles… Diz que foram os auto denominados Yes Men, um grupo da esquerda norte americana. Mas, garantem que para além da ideia, só ajudaram na distribuição dos mais de um milhão de exemplares impressos. Toda a edição, 14 páginas cada exemplar, foi financiada por pequenos investidores e elaborada por voluntários. Na primeira página remetia-se toda essa mirífica actualidade para um certo 4 de Julho – dia nacional da América… no caso, o 4 de Julho do ano que vem. Uma das colaboradoras desta edição pirata, chamemos-lhe se não vos choca… disse que. depois de 8 anos de Inferno – a alusão dispensa traduções – depois de 8 anos de Inferno, chegou a hora de começar a imaginar o céu e fazer mais pressão que nunca para conseguir a mudança desejada pela nação americana e pelo mundo
Pois, mas não! Porque a verdade, a realidade, essa está logo aqui na página ao lado…
No estado da Louisiana, o Ku Klux Klan matou uma mulher. que queria abandonar a organização. Uma neófita. Mulher de 44 anos. Morta a tiro, domingo passado, num perdido pântano do delta do Mississipi, onde decorriam as cerimónias de iniciação. Consta que a meio do ritual ela terá mostrado vontade de desistir e ir-se embora. Vontade de abandonar o grupo. Ter-se-á seguido uma discussão entre ela e o chefe da seita. Discussão que se resolveu abatendo a tiro de pistola a refractária.
Os responsáveis pelo crime, escreve o Público, acabaram por ser descobertos, quando perguntavam, numa loja, como limpar da roupa os vestígios de sangue, que lhes tinham ficado. Do resto, no local do crime, todos os eventuais vestígios já tinham sido apagados e o corpo escondido algures. Enfim, o sítio é mesmo recolhido e só lá se consegue chegar de barco. E foi aí que, segundo o relato, esta mulher se submeteu a rapar o cabelo todo, como, ao que parece, ordena o ritual de iniciação e se entregou aos ritos iniciáticos da Ku Klux Klan. Diz o sheriffe de Tammany, no Lousiana, que os rituais do Ku Klux Klan se resumem no essencial em acender tochas e correr pelos bosques.
No essencial talvez, no acessório não me cheira que seja essa a fama que os tornou mais populares…
Deixem então que vo-la apresente: A Toxina Botulínica tipo A, que é um complexo proteico purificado, de origem biológica, obtido a partir da bactéria Clostridium Botulinum. Que, por sua vez, é uma bactéria anaeróbia, que em condições apropriadas à sua reprodução, (10ºC, sem oxigénio e certo nível de acidez) cresce e produz sete sorotipos diferentes de toxina… Dentre eles, o sorotipo A é o reconhecido cientificamente como o mais potente e o que proporciona maior duração de efeito terapêutico.
Ora bem, apresentações feitas, falta dizer que em Israel lhe chamam Prosigne – marca comercial… na Suécia Dysport e nos Estados Unidos, BOTOX. E deste já toda a gente decerto ouviu falar.
Agora sim, vamos á actualidade. Vem do Brasil, Rio de Janeiro, e diz que está em marcha o programa de fornecer, de forma gratuita, esse tipo de tratamento, ou intervenção micro cirúrgica, se assim se pode dizer, aos mais pobres da cidade, ou do Estado, ou por aí… O tratamento com BOTOX é um bocadito caro e considerado mesmo um pequeno luxo. O Diário de Notícias, que publica a história, lembra mesmo que é um tratamento, uma prática, se quisermos, que nos remete imediatamente para o universo glamoroso das estrelas de Hollywood, que se recusam a envelhecer, pelo menos a olhos vistos. No Brasil, consta que o próprio presidente Lula da Silva é adepto do BOTOX, mas isso, para o caso, não conta nada. O que se conta é que, desde segunda feira passada e até diz 19, há umas 200 senhas disponíveis, na Sociedade Brasileira de Medicina Estética, para quem se queira submeter gratuitamente a essa intervenção. Para quem quiser arriscar, diz a notícia. E a palavra “arriscar”, aqui, deixa uma frestazinha, por onde já começa a entrar uma estranha corrente de ar. Mas, adiante. É que há, e primeiro que tudo, que certificar-se o real estado de pobreza do candidato. Estado de pobreza mesmo, já que o rendimento máximo permitido é de 500 reais por mês – o que em euros dá uns 180 euros por mês. Essa é condição sine qua non. O candidato tem de fazer prova inequívoca de pobreza. Do resto, para quem achar que o BOTOX não é coisa de que precise muito, pode escolher outro tipo de tratamento, ao mesmo custo zero. Por exemplo, tratamento com laser para a acne, depilação definitiva, ou peelings químicos, ou ainda tratamentos contra as varizes.
A notícia explica entretanto que, este programa, vai permitir aos estudantes de medicina praticarem e acumularem experiência, nos diversos actos clínicos, enquanto permite aos pobres receberem um tratamento de luxo, só acessível a gente de posses.
Para experiências, portanto. Para os jovens médicos fazerem experiências e ganharem prática. É o que está aqui escrito.
As intervenções, conclui o DN, serão supervisionadas por médicos professores responsáveis pelos alunos. Diz-se ainda que, desde 1988, umas 10 mil pessoas terão já sido objecto de intervenções semelhantes, eventualmente nesta circunstância de gratuitidade… aqui a notícia não é muito clara. Ora o que parece claro é que, para fazer de cobaia a médicos em estágio, uma pessoa com rendimentos um pouco superiores, ou mesmo até, um rendimento francamente folgado, servia perfeitamente.
Aliás, se de rugas de expressão se trata… (e, o rir, como se sabe, vai vincando com o tempo, as suas rugas de expressão…) é bem possível, que os mais afortunados sejam também e ao mesmo tempo os mais enrugados, já que têm mais razões para isso. Para rir. Corres-lhes bem a vida.
Quanto aos outros, a estes pobres que o Rio de Janeiro quer que continuem lindos… pois podem continuar sequinhos de corpo, talvez até, de vez em quando com um insolente ratinho a sambar-lhes pela barriga vazia, mas de cara!... Ah bom, de cara, há-de ser uma alegria! Há-de poder dizer-se que: olha, vêem-se-t’as costelas, mas… estás com boa cara, vês!?...
E como é que alguém pode ter a coragem de querer acabar com as horas felizes de uma pessoa?!...
À primeira, parece coisa de uma crueldade extrema. Mas vamos à notícia. Diz o de Notícias, o Diário de Notícias, que a comissão de assuntos internos do parlamento britânico apelou ontem ao fim das chamadas, em inglês – Happy hours, o que, em português corrente, se traduz naquelas horitas em que os bares baixam o preço das bebidas alcoólicas. O efeito é o esperado. Bebe-se francamente mais, durante essas horas. O parlamento britânico acha mesmo que essa operação de marketing, aliada às promoções, que muitos supermercados fazem às bebidas alcoólicas, são as culpadas pelo consumo excessivo de álcool no país.
Em declarações à BBC, o presidente da comissão de assuntos internos disse que as Happy Hours tornam as pessoas infelizes.
E até aqui íamos indo. O consumo excessivo de álcool que é coisa que, como toda a gente sabe, pode bem configurar um problema de saúde pública, o que só por si, já seria preocupação suficiente… Fala-se depois em infelicidade. As happy hours tornam as pessoas infelizes. Uma conclusão paradoxal, mas perfeitamente admissível. Em verdade, por vezes, não há coisa mais triste que ver um bêbado feliz… mas adiante. E adiante, que ao que parece não é esse o mal maior, para esta comissão de assuntos internos. Voltemos às declarações do presidente da referida comissão: diz que a venda de álcool a preços reduzidos encoraja o consumo excessivo de álcool – até aqui já tínhamos chegado, mas continua… que esse facto obriga a polícia a mobilizar mais recursos para fazer face à violência. E se já repararam saltamos de súbito para um outro campo. O da violência, dos distúrbios na praça pública, ou nos bares e pubs ingleses, ou até mesmo, quem sabe, no lar doce lar, ou, como é público e notório, nalguns acontecimentos desportivos de grande afluência e popularidade… o futebol! Para que havemos de andar aqui, beating about the bush, como eles dizem!?...
Pois, é a violência e os meios que a polícia tem de mobilizar para a combater, o que está aqui em causa.
Não tanto a saúde pública. Não tanto o consumo excessivo de álcool ir queimando algumas células e outros recursos naturais da espécie humana, não tanto esse excesso revelar alguma insatisfação, algum mal-estar, ou desespero, ou falta de assunto em geral. Nada disso. O problema é que o consumo excessivo de álcool – pelo menos em Inglaterra – leva à violência, de tal forma que é preciso chamar a polícia. O problema, parece ser, afinal, que em Inglaterra, há gente, demasiada gente, que mal bebe um copo a mais, se revela uma autêntica besta.
As universidades têm maus gestores, Diz Mariano Gago. Escreve o Público. Os títulos, nos outros jornais, não andam muito longe disto. Diz-se depois que, apesar disso e mesmo debaixo de críticas, o ministro do Ensino Superior mantém a confiança na gestão autónoma das instituições. O mesmo será dizer, que para Mariano Gago, o defeito não será do sistema, mas antes de quem o gere. O que, convenhamos, torna tudo muito mais fácil. Fosse do sistema, a culpa do que vai mal no Ensino Superior em Portugal e aí sim, a coisa seria bem mais complicada. Não só porque, aquilo a que se pode chamar "o sistema" remete-nos para uma realidade muito mais imponente e, com certeza também, de muito mais difícil conserto, como também e ao mesmo tempo nos remete para o campo do quase impalpável, do intangível… o sistema. Mas não. Mariano Gago não tem dúvidas e admite que há maus gestores nas universidades públicas portuguesas, sendo que esse facto não chega para beliscar a confiança que o ministro continua a ter no modelo de gestão autónoma das Universidades. Ouçamos o ministro: “Tenho confiança na universidade e na sua capacidade mesmo quando ela tem dificuldades de gestão. Esses dirigentes…” – os maus gestores – “…eles próprios corrigirão essa atitude, ou serão substituídos.” (por quem, como, onde e quando …) Deixemos falar o ministro: “quando a lei é violada, o ministério intervém imediatamente sobre as universidades, mas garante a sua autonomia. Compete às universidades encontrar as melhores formas de se gerir e compete ao ministério ajudar as universidades a encontrar as melhores formas de se gerirem…” Voltamos ao mesmo: como, quem, onde, quando? … Até aqui só percebemos que, segundo ao ministro, compete às universidades encontrar as melhores formas de se gerirem… espera portanto, e isso já vimos, que sejam os mesmos maus gestores a dar-se conta da própria incompetência e corrigir a mão, ou até, em último caso, apresentar a própria demissão, por manifesta incapacidade de exercer o cargo que desempenham.
Ora tudo isto foi dito e posto à consideração dos presentes, durante o encontro de Mariano Gago com dirigentes associativos do Ensino Superior, que decorreu ontem em Almada. E durante esse encontro, a questão que mais pareceu preocupar os estudantes foi o financiamento. O financiamento do Ensino Superior. Ainda a semana passada, 15 ex reitores faziam chegar a carta a Belém e S. Bento. Alertavam Sócrates e Cavaco para a falta de dinheiros, nas instituições de ensino superior. E ontem, Mariano Gago respondeu sem medo. Uma resposta clara, decisiva, arrasadora. Abram-se as aspas: “O que é muito importante verificar é que, mesmo num período de dificuldades orçamentais no nosso país, as universidades e politécnicos no seu conjunto conseguiram ao longo destes 3 últimos anos que a totalidade das receitas cobradas do orçamento de Estado fossem em linha com o que acontece com os restantes países da OCDE.”
Ora a questão era a falta de dinheiro, de financiamento para o satisfatório funcionamento das Universidades Públicas portuguesas e o jornal Público transcreve o que terá sido a resposta do ministro a esta questão e ela foi que : “O que é muito importante verificar é que, mesmo num período de dificuldades orçamentais no nosso país, as universidades e politécnicos no seu conjunto conseguiram ao longo destes 3 últimos anos que a totalidade das receitas cobradas do orçamento de Estado fossem em linha com o que acontece com os restantes países da OCDE.”
Se a pergunta fosse a que horas é a última camioneta para a costa de Caparica… Que resposta daria o ministro?...
Bruxelas quer ultrapassar o impasse provocado pelo veto irlandês.
É o ante-título da notícia, que hoje ocupa uma página inteira na edição do Público. Em letra maior explica-se que a União Europeia pressiona Dublin a mudar a Constituição para viabilizar o Tratado de Lisboa e, logo a seguir, que várias forças, a começar pela presidência francesa, querem que a Irlanda transforme o referendo ao texto europeu, num referendo à sua – dela Irlanda – lei fundamental.
Na legenda à fotografia, que ilustra a matéria, escreve-se que alguns eurodeputados pediram em Junho respeito pelo não irlandês, sufragado em refendo nacional.
Na fotografia e de costas para nós, um homem está sentado no que poderia bem ser uma bancada parlamentar. Ao lado dele, sobre a bancada, numa folha A4, em letra bem grande exige-se o respeito pelo veto irlandês. Respect the Irish no – é o que se lê. Nas costas da camisola que este homem veste – camisola verde, as cores da Irlanda, também o chapéu que traz na cabeça, é alegremente decorado com pequenos cornichos verdes e pretos em toda a volta… Nas costas da camisola pode ler-se que 26 Estados membros da União viram negada a hipótese de um referendo ao Tratado de Lisboa.
O texto da notícia dá depois conta dos pormenores … de como Brian Cowen (o 1º ministro) está sob forte pressão, sobretudo por parte da presidência francesa, para que desbloqueie o presente impasse. De preferência ainda antes… bem antes das eleições europeias de Junho do ano que vem. Bruxelas quer uma resposta favorável da Irlanda já em Dezembro, na cimeira de líderes dos 27.
E – continua ainda o jornal – esse objectivo, esse calendário, segundo peritos comunitários, poderia ser cumprido se Dublin optasse por referendar a Constituição nacional alterada com as áreas em que pretende preservar a soberania nacional, em vez do tratado, que poderia assim ser ratificado pelo parlamento irlandês.
Claro que sobra sempre a possibilidade de – a fazer-se o tal referendo à constituição - o povo irlandês se pronunciar contra as desejadas , por Bruxelas, alterações à lei fundamental do Estado – Poderia sempre acontecer e , acontecendo, remeter-nos de novo para o mesmo sítio onde estamos neste momento.
Poderia também Bruxelas, perante tão ingrata e desagradável conclusão, propor então a Dublin a grande solução, ou a solução final, se a expressão vos não ofende. Falo da máxima brechtiana… Porque não demitir o povo e eleger um outro?
A verdade é que, dê-se-lhe as voltas que se quiser, agora ninguém pode dizer que não sabia. A verdade é essa e não há volta a dar. Já que lhe perguntaram, o povo irlandês disse Não, ao Tratado de Lisboa. Podem aprová-lo com os votos que quiserem, ou à revelia de toda a gente, mas a verdade é que, o povo irlandês não quer o Tratado de Lisboa.
Vamos partir, entretanto, do princípio que o povo irlandês sabe do que realmente trata, o Tratado. Mas isso já seria outra conversa que não cabe aqui.
E aqui, pode ser a crise económica a afectar o mercado publicitário nos jornais portugueses... Quer dizer, pode ser que vá faltando o dinheiro aos empresários para investir em publicidade. A verdade é que, o que aqui nos trás desta vez é o pequeno anúncio, que o DN publica hoje, na página vizinha do lado da de economia.
Mas não na de economia, ressalve-se já. É na página dedicada à ciência que o DN publica, na esquerda baixa, a fotografia que anuncia e revela… o Infinito.
Parece ser só um pedaço de céu, mas a imagem – garante a legenda – mostra as galáxias mais longínquas que já se conseguiram ver da terra. Decerto que sim. Devem ser alguns desses pontos mais ou menos brilhantes que se vêem salpicando o fundo negro da fotografia. Mais ou menos, porque é assim mesmo. Uns brilham mais, outros menos. A legenda não explica, nem a fotografia assinala de forma especial, quais os pontos, que neste pedaço de céu, correspondem às tais galáxias. Será tudo o que a moldura da fotografia encerra? Aquela quantidade incontável de pontos luminosos? Ou só os mais brilhantes? Ou só os mais afastados, os mais pequeninos?...
Diz a legenda, que parece só um bocado de céu. Admitamos que sim. Também poderia ser um bocado de papel salpicado de tinta, que o efeito seria idêntico. Mas fiquemos por este pedaço de céu, onde o DN garante que se podem ver distintamente as galáxias mais longínquas da terra. O DN garante que sim, o que torna a fotografia muito mais imponente e desfaz todos os possíveis equívocos da fotografia ter sido tirada por um qualquer amador, da janela de casa, com uma pequena kodak descartável. O que em verdade, também poderia ter acontecido, com resultados muito semelhantes, pelo menos aos olhos de um leigo. Mas não. Aqui, diz o Diário de Notícias, estamos perante essa terrível imensidão do universo. Estamos na última fronteira. Estamos o mais longe que até hoje o olho humano conseguiu chegar, na exploração do espaço cósmico.
O DN diz que é o Infinito. Essa coisa preta salpicada de pontos brilhantes. O Infinito, portanto. Mesmo sem ir tão longe, fotografias destas servem sempre para nos lembrar, que não somos assim tão grandes quanto isso. Quer dizer, à escala do Universo somos até bastante pequenitos. Mas, por outro lado… pelo outro lado, por onde o Infinito também se abre e nos desafia… por esse lado, o do infinitamente pequeno, aí a coisa muda de figura, sem consequência de maior, mas muda.
Temos então que, se o DN publicasse uma fotografia de uma qualquer observação microscópica, conseguida por uma qualquer super lente… também aí se poderia falar de Infinito. E também a imagem haveria de ser majestosa e – se calhar – bem capaz de nos confundir e remeter para outros universos. E também ela, como esta, nos levar a reflectir sobre a nossa magnífica insignificância.
E também ela, como esta, levar-nos a concluir que, se o mercado da publicidade não estivesse em crise, em vez do Infinito, talvez o DN fechasse aquele cantinho que sobrou da página, com um anúncio a outra coisa qualquer… a esta empresa de limpezas, por exemplo, que garante rigor nos serviços e que aparece, no mesmo sítio precisamente, onde estava o Infinito, mas duas páginas à frente.