segunda-feira, 10 de novembro de 2008

obviamente, demito-me...

As universidades têm maus gestores, Diz Mariano Gago. Escreve o Público. Os títulos, nos outros jornais, não andam muito longe disto. Diz-se depois que, apesar disso e mesmo debaixo de críticas, o ministro do Ensino Superior mantém a confiança na gestão autónoma das instituições. O mesmo será dizer, que para Mariano Gago, o defeito não será do sistema, mas antes de quem o gere. O que, convenhamos, torna tudo muito mais fácil. Fosse do sistema, a culpa do que vai mal no Ensino Superior em Portugal e aí sim, a coisa seria bem mais complicada. Não só porque, aquilo a que se pode chamar "o sistema" remete-nos para uma realidade muito mais imponente e, com certeza também, de muito mais difícil conserto, como também e ao mesmo tempo nos remete para o campo do quase impalpável, do intangível… o sistema. Mas não. Mariano Gago não tem dúvidas e admite que há maus gestores nas universidades públicas portuguesas, sendo que esse facto não chega para beliscar a confiança que o ministro continua a ter no modelo de gestão autónoma das Universidades. Ouçamos o ministro: “Tenho confiança na universidade e na sua capacidade mesmo quando ela tem dificuldades de gestão. Esses dirigentes…” – os maus gestores – “…eles próprios corrigirão essa atitude, ou serão substituídos.” (por quem, como, onde e quando …) Deixemos falar o ministro: “quando a lei é violada, o ministério intervém imediatamente sobre as universidades, mas garante a sua autonomia. Compete às universidades encontrar as melhores formas de se gerir e compete ao ministério ajudar as universidades a encontrar as melhores formas de se gerirem…” Voltamos ao mesmo: como, quem, onde, quando? … Até aqui só percebemos que, segundo ao ministro, compete às universidades encontrar as melhores formas de se gerirem… espera portanto, e isso já vimos, que sejam os mesmos maus gestores a dar-se conta da própria incompetência e corrigir a mão, ou até, em último caso, apresentar a própria demissão, por manifesta incapacidade de exercer o cargo que desempenham.

Ora tudo isto foi dito e posto à consideração dos presentes, durante o encontro de Mariano Gago com dirigentes associativos do Ensino Superior, que decorreu ontem em Almada. E durante esse encontro, a questão que mais pareceu preocupar os estudantes foi o financiamento. O financiamento do Ensino Superior. Ainda a semana passada, 15 ex reitores faziam chegar a carta a Belém e S. Bento. Alertavam Sócrates e Cavaco para a falta de dinheiros, nas instituições de ensino superior. E ontem, Mariano Gago respondeu sem medo. Uma resposta clara, decisiva, arrasadora. Abram-se as aspas: “O que é muito importante verificar é que, mesmo num período de dificuldades orçamentais no nosso país, as universidades e politécnicos no seu conjunto conseguiram ao longo destes 3 últimos anos que a totalidade das receitas cobradas do orçamento de Estado fossem em linha com o que acontece com os restantes países da OCDE.”

Ora a questão era a falta de dinheiro, de financiamento para o satisfatório funcionamento das Universidades Públicas portuguesas e o jornal Público transcreve o que terá sido a resposta do ministro a esta questão e ela foi que : “O que é muito importante verificar é que, mesmo num período de dificuldades orçamentais no nosso país, as universidades e politécnicos no seu conjunto conseguiram ao longo destes 3 últimos anos que a totalidade das receitas cobradas do orçamento de Estado fossem em linha com o que acontece com os restantes países da OCDE.”

Se a pergunta fosse a que horas é a última camioneta para a costa de Caparica… Que resposta daria o ministro?...

Bruxelas quer ultrapassar o impasse provocado pelo veto irlandês.

É o ante-título da notícia, que hoje ocupa uma página inteira na edição do Público. Em letra maior explica-se que a União Europeia pressiona Dublin a mudar a Constituição para viabilizar o Tratado de Lisboa e, logo a seguir, que várias forças, a começar pela presidência francesa, querem que a Irlanda transforme o referendo ao texto europeu, num referendo à sua – dela Irlanda – lei fundamental.

Na legenda à fotografia, que ilustra a matéria, escreve-se que alguns eurodeputados pediram em Junho respeito pelo não irlandês, sufragado em refendo nacional.

Na fotografia e de costas para nós, um homem está sentado no que poderia bem ser uma bancada parlamentar. Ao lado dele, sobre a bancada, numa folha A4, em letra bem grande exige-se o respeito pelo veto irlandês. Respect the Irish no – é o que se lê. Nas costas da camisola que este homem veste – camisola verde, as cores da Irlanda, também o chapéu que traz na cabeça, é alegremente decorado com pequenos cornichos verdes e pretos em toda a volta… Nas costas da camisola pode ler-se que 26 Estados membros da União viram negada a hipótese de um referendo ao Tratado de Lisboa.

O texto da notícia dá depois conta dos pormenores … de como Brian Cowen (o 1º ministro) está sob forte pressão, sobretudo por parte da presidência francesa, para que desbloqueie o presente impasse. De preferência ainda antes… bem antes das eleições europeias de Junho do ano que vem. Bruxelas quer uma resposta favorável da Irlanda já em Dezembro, na cimeira de líderes dos 27.

E – continua ainda o jornal – esse objectivo, esse calendário, segundo peritos comunitários, poderia ser cumprido se Dublin optasse por referendar a Constituição nacional alterada com as áreas em que pretende preservar a soberania nacional, em vez do tratado, que poderia assim ser ratificado pelo parlamento irlandês.

Claro que sobra sempre a possibilidade de – a fazer-se o tal referendo à constituição - o povo irlandês se pronunciar contra as desejadas , por Bruxelas, alterações à lei fundamental do Estado – Poderia sempre acontecer e , acontecendo, remeter-nos de novo para o mesmo sítio onde estamos neste momento.

Poderia também Bruxelas, perante tão ingrata e desagradável conclusão, propor então a Dublin a grande solução, ou a solução final, se a expressão vos não ofende. Falo da máxima brechtiana… Porque não demitir o povo e eleger um outro?

A verdade é que, dê-se-lhe as voltas que se quiser, agora ninguém pode dizer que não sabia. A verdade é essa e não há volta a dar. Já que lhe perguntaram, o povo irlandês disse Não, ao Tratado de Lisboa. Podem aprová-lo com os votos que quiserem, ou à revelia de toda a gente, mas a verdade é que, o povo irlandês não quer o Tratado de Lisboa.

Vamos partir, entretanto, do princípio que o povo irlandês sabe do que realmente trata, o Tratado. Mas isso já seria outra conversa que não cabe aqui.

E aqui, pode ser a crise económica a afectar o mercado publicitário nos jornais portugueses... Quer dizer, pode ser que vá faltando o dinheiro aos empresários para investir em publicidade. A verdade é que, o que aqui nos trás desta vez é o pequeno anúncio, que o DN publica hoje, na página vizinha do lado da de economia.

Mas não na de economia, ressalve-se já. É na página dedicada à ciência que o DN publica, na esquerda baixa, a fotografia que anuncia e revela… o Infinito.

Parece ser só um pedaço de céu, mas a imagem – garante a legenda – mostra as galáxias mais longínquas que já se conseguiram ver da terra. Decerto que sim. Devem ser alguns desses pontos mais ou menos brilhantes que se vêem salpicando o fundo negro da fotografia. Mais ou menos, porque é assim mesmo. Uns brilham mais, outros menos. A legenda não explica, nem a fotografia assinala de forma especial, quais os pontos, que neste pedaço de céu, correspondem às tais galáxias. Será tudo o que a moldura da fotografia encerra? Aquela quantidade incontável de pontos luminosos? Ou só os mais brilhantes? Ou só os mais afastados, os mais pequeninos?...

Diz a legenda, que parece só um bocado de céu. Admitamos que sim. Também poderia ser um bocado de papel salpicado de tinta, que o efeito seria idêntico. Mas fiquemos por este pedaço de céu, onde o DN garante que se podem ver distintamente as galáxias mais longínquas da terra. O DN garante que sim, o que torna a fotografia muito mais imponente e desfaz todos os possíveis equívocos da fotografia ter sido tirada por um qualquer amador, da janela de casa, com uma pequena kodak descartável. O que em verdade, também poderia ter acontecido, com resultados muito semelhantes, pelo menos aos olhos de um leigo. Mas não. Aqui, diz o Diário de Notícias, estamos perante essa terrível imensidão do universo. Estamos na última fronteira. Estamos o mais longe que até hoje o olho humano conseguiu chegar, na exploração do espaço cósmico.

O DN diz que é o Infinito. Essa coisa preta salpicada de pontos brilhantes. O Infinito, portanto. Mesmo sem ir tão longe, fotografias destas servem sempre para nos lembrar, que não somos assim tão grandes quanto isso. Quer dizer, à escala do Universo somos até bastante pequenitos. Mas, por outro lado… pelo outro lado, por onde o Infinito também se abre e nos desafia… por esse lado, o do infinitamente pequeno, aí a coisa muda de figura, sem consequência de maior, mas muda.

Temos então que, se o DN publicasse uma fotografia de uma qualquer observação microscópica, conseguida por uma qualquer super lente… também aí se poderia falar de Infinito. E também a imagem haveria de ser majestosa e – se calhar – bem capaz de nos confundir e remeter para outros universos. E também ela, como esta, nos levar a reflectir sobre a nossa magnífica insignificância.

E também ela, como esta, levar-nos a concluir que, se o mercado da publicidade não estivesse em crise, em vez do Infinito, talvez o DN fechasse aquele cantinho que sobrou da página, com um anúncio a outra coisa qualquer… a esta empresa de limpezas, por exemplo, que garante rigor nos serviços e que aparece, no mesmo sítio precisamente, onde estava o Infinito, mas duas páginas à frente.

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