sábado, 4 de março de 2006




«O mais difícil é o que está por fazer», afirma José Sócrates ao ser questionado sobre os sacrifícios que vai pedir aos portugueses. Em entrevista ao EXPRESSO, o primeiro-ministro mostra-se, porém, optimista sobre a coabitação com o novo inquilino de Belém
"Primeiro-ministro considera que "o mais difícil é o que está para vir"
O primeiro-ministro considera que os objectivos e medidas mais difíceis ainda estão por vir, como disse em entrevista hoje publicada pelo "Expresso", na qual reafirma querer reduzir este ano o défice de seis para 4,8 por cento.
(público 4março06)



O OPTIMISMO DE MÃOS NOS BOLSOS !!!?!!!
(e já viram pose mais optimista?...)

...p'ra optimismo, optimismo e meio; tire lá as mãozinhas dos bolsos e reduza mas é essa merda para os zero %. coisa d'homem, optimismo a sério, sem anestesia nem rodriguinhos pindéricos! mostre lá aos mariconsos de bruxelas, que portugal ainda é um país de gente brava e destemida!
...assim como assim, "dificuldades" já nós estamos acostumados a esperar...

quarta-feira, 1 de março de 2006


QUANTOS FADOS
SE ESCONDEM NESTAS VIELAS
NESTAS PEDRAS
DAS PAREDES DESTE CHÃO
NO SILÊNCIO
DESTAS RUAS NAS JANELAS
QUE ME ESPREITAM
NO MEIO DA ESCURIDÃO
QUANTOS FADOS
QUANTOS SEGREDOS GUARDADOS
QUANTAS VIDAS
QUANTOS PASSOS E PAIXÕES
SE PERDERAM
JÁ NESTES BECOS CALADOS
INSENSÍVEIS
AO BATER DOS CORAÇÕES
Por isso não ouviu o tiro, nem o grito, nem o baque seco e desconjuntado do corpo a cair.
Foi só quando desligou o aspirador que estranhou o silêncio.
O próprio canário tinha parado de cantar, encavalitado, muito direito, no poleiro da gaiola.
E, se isso fosse possível, parecia que o silêncio vinha justamente do quarto de dormir.
Daí, precisamente.
Endireitou-se, segurando caído, ainda na mão, o tubo do aspirador.
Rosto afogueado e perplexo. O suor brilhando no pescoço.
Visto assim, parecia quase o Exterminador Implacável.


tens a certeza
diz-me lá tens a certeza
tens a certeza que é mesmo isso que queres
tens a certeza
diz mas diz-me com franqueza
comer com as mãos
tens a certeza sem talheres
tens a certeza
que é com as mãos
a sopa e tudo
e o esparguete
a omoleta o pudim flan

sentas-te à mesa
e a comer é uma tristeza
nem parece
que és filho da tua irmã



NÃO SÃO AS COISAS SÓ O QUE PARECEM
NEM TUDO O QUE PARECEM ELAS SÃO
E NESSA CONDIÇÃO É QUE ELAS TECEM
POR VEZES UMA CERTA CONFUSÃO

HÁ COISAS QUE DE SIMPLES COMPLICADAS
SE TORNAM NESSA PRESSA DE DIZER
HÁ COISAS QUE NEM DITAS NEM EXPLICADAS
COISAS QUE SÓ VISTO FAZEM CRER

HÁ COISAS QUE SE DIZEM EM SEGREDO
HÁ COISAS QUE NÃO SE PODEM DIZER
HÁ COISAS QU’EM SILÊNCIO METEM MEDO

SEGREDOS QUE DITOS FAZEM TREMER
DIZER QUE A MORTE CHEGA SEMPRE CEDO
DIZER QUE O AMOR É TRISTE VÊ-LO MORRER

As iscas

Eu quero sentir a sensação das iscas
ao mergulhar no óleo que ferve na frigideira!
Eu quero sofrer, mirrar como elas
o que elas sofrem e mirram!
Quero ser o óleo que ferve
e a frigideira que o contém,
quero ser o fogo que ferve o óleo
que frita as iscas!
Quero e não quero,
eu sou o que já não sou,
eu digo o que já não digo!
Eu quero não ser,
não dizer,
não querer,
não, não, queijo, queijo,
queijo não,
eu quero é iscas!
Eu quero ser o dente que morde o pão!
Eu quero ser o pão e o dente que o trinca!
E quero ser o homem que trinca o pão,
eu quero ser o momento
em que o homem ferra o dente sobre o pão
e sobre a isca
e sobretudo
se for de Inverno
e mesmo que esteja frio
e os barcos fiquem no rio,
parados, sem navegar,
eu quero ser o Rossio,
a Graça, o Lumiar,
o sítio onde houver a tasca.
Eu quero ser a tasca
e o homem que nela entra
e pede uma isca no pão!
E quero ser a isca e o pão!
E o acto de fritar, de partir, de mastigar,
de engolir, de digerir, de defecar !
Eu quero ser a alegria, a satisfação,
a plenitude angélica desse homem
que come a isca no pão !
Quero ser esse Zen, essa ventura,
ou mesmo a azia do óleo da fritura !
Quero ser tudo a um tempo,
a azia da isca e o prazer,
a plenitude e o fígado fodido
e o copito de branco e o arroto
e a nota amarrotada sobre o balcão
e o troco e o bolso
onde esse troco for guardado !
E quero sentir a sensação
das moedas de vinte e cinco tostões a tilintar !
Eu quero ser os atacadores do sapato
do homem que come a isca !
Eu quero ser o fado Hilário !
Eu quero ser tudo ao contrário
e ser a isca e comer um homem à dentada,
e ser pão e comer uma frigideira à dentada,
e ser óleo e fritar moedas
de vinte e cinco tostões à dentada !
HOP LÁ HEI HOP EIA !
UPA HIP HOP HUPA !
Eu sou o cruzamento de todas as linhas !
Eu sou eu !
Eu sou um dos meus muitos outros !
Eu sou o que ainda foi !
E quando morrer, quero ser enterrado com batatas!



Sentimento de um acidentado

Nas nossas ruas aos anoiteceres
Há tal melancolia e um tal ar de enterro
Que mesmo o eléctrico para os Prazeres
Mais parece o autocarro para o Desterro



De flanela quereria eu as pantufas
Que teus níveos pés aqueceriam, oh,
De flanela suave e quente, doce Etelvina,
Daquelas todas forradas de pelo, oh!
Para não te ver assim enregelada
A tiritar, batendo o dente, coitadinha,
Sujeita a ficares, quem sabe, constipada,
Ou até a apanhar uma gripe, oh alma minha!

Gentil te deporia as tais pantufas
Que teus pés aqueceriam a teus pés
E nesse gesto com ele o meu coração,
Dona do qual há muito tempo já tu és.
E nelas teus níveos cujos tão pequenos
Abrigarias do frio que gela, oh,
E eu me sentiria do mal o menos
O mais feliz dos mortais, o menos só.

Uma palavra tua, um gesto teu,
Um assomar que fosse a essa janela
E logo louco viria a correr eu
Trazer-te umas pantufas de flanela.
Mas não, cruel ingrata, oh, tirania,
Ateimas em negar-me essa ventura.
Queira Deus, apanhes uma pneumonia
Que te leve a arder em febre à sepultura!

...Claro que, quando o bolo chegava ao fim e a fava não aparecia a mais ninguém, toda a gente percebia que já tinha sido comida, discretamente entre uma geropiga e uma casquinha de abóbora cristalizada. Já tinha sido comida e por quem?...
O problema é que, com a idade – que ela sempre foi assim, ao que parece – com a idade, os dentes foram-lhe faltando e uma vez foi o diabo, que a senhora engasgou-se mesmo a sério... uma aflição mesmo.
A tua avó – disse-lhe eu – o espirito do natal ainda acaba por matar a tua avó !
nem tudo é o que parece
nem tudo o que parece
é

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006



E LÁ VAI O ZÉ MEDALHAS
POR ESSA’STRADA DE DEUS
NÃO N’AS QUER POR ISSO DÁ-LHAS
P’RA QUEM TEM MÉRITOS SEUS

FURACÕES E PASSARINHOS
CONSTIPADOS E A ESPIRRAR
ARDE A MATA E OS CAMINHOS
CAI A PONTE E AO JANTAR
LIGAS O TELEJORNAL
E FICAS MAIS DESCANSADO
PARECE QUE AFINAL
TEMOS TUDO CONTROLADO

NA TERRA DO ZÉ MEDALHAS
HÁ COM CADA MEDALHADO
QUE SÓ VISTO SE ACREDITA
QUE SÓ VISTO NEM CONTADO
NESTA TERRA ABENÇOADA
DE HEROINAS E HERÓIS
HÁ UMA MEDALHA GUARDADA
‘TÉ P’RÓ ZÉ-ZÉ DOS ANZÓIS

E ESTA TERRA BEM MERECE
UMA MEDALHA A PRECEITO
UMA PALMADA NAS COSTAS
UMA COMENDA NO PEITO
A TERRA DA BRAVA GENTE
QUE DA CAUDA DA EUROPA
‘TÉ AO PELOTÃO DA FRENTE
A TODOS VAI DANDO SOPA

OH MEDALHINHA TÃO BELA
TOMA LÁ QUE DÁ O ZÉ
AJEITA-A BEM NA LAPELA
COM A MÃO QUE FOR MAIS AO PÉ

Quem tinha muita pinta era o Bexigas,
por toda a cara era pintas a granel...
Por isso é que lhe chamavam o Bexigas,
que o nome mesmo dele é Zé Manel !