sexta-feira, 7 de março de 2008

Vem no Correio da Manhã e se não é gralha, vamos ter de rever uma ou duas coisas sobre, por exemplo, o que é um hospital psiquiátrico.
Diz assim: Hospitais vão ter salas para inimputáveis. Até aqui, vamos indo. Mas, se entrarmos no corpo da notícia, lemos que, Três hospitais psiquiátricos vão ter, nos próximos 5 anos, serviços de internamento para doentes inimputáveis e difíceis. Isto segundo o Plano Nacional de Saúde Mental, que prevê ainda a criação de unidades de tratamento para perturbações do comportamento alimentar, nas regiões de Lisboa, norte e centro de Portugal…
Continua, a notícia, dizendo que esses serviços para inimputáveis serão criado nos hospitais Júlio de Matos, em Lisboa, Magalhães Lemos, no Porto e Sobral Cid, em Coimbra.
Do que se sabia até hoje, é justamente nos hospitais psiquiátricos que se costuma internar os doentes que, por razões inerentes à própria doença, são considerados o que vulgarmente se chama de inimputáveis…

Agora o Público traz outra versão, provavelmente da mesma história…
O plano de saúde mental prevê unidades de saúde mental para crianças e adolescentes até 2016 – EM TODOS OS HOSPITAIS –
Quanto aos psiquiátricos, pois a ideia é justamente desactivar alguns e ir distribuindo progressivamente os serviços por todo o território. Para que os serviços fiquem obviamente mais próximos dos utentes e, também, como forma de ir desmistificando alguns fantasmas que ainda persistem a rondar as doenças de foro psicológico e mental…
O ambicioso objectivo do plano aprovado pelo Governo é – segundo o Público – ter nos próximos 6 anos novas unidades de psiquiatria da infância e adolescência em todos os hospitais centrais e distritais.
Já o ano passado, a comissão nomeada para reorganizar os serviços, propôs que os médicos dos 6 hospitais psiquiátricos, que existem actualmente, fossem progressivamente transferidos para departamentos da especialidade, nos hospitais gerais portugueses. A meta é o ano de 2012. Aí espera-se que sobrevivam apenas os hospitais de Júlio de Matos, Sobral Cid e Magalhães Lemos. O documento publicado ontem em Diário da República garante que nenhum dos hospitais psiquiátricos actualmente em funcionamento será desactivado antes dos novos serviços estarem prontos para funcionar. Quanto aos médicos… Isso pode ser um pequeno problema. Diz o Público que as entradas de novos médicos em Lisboa, Porto e Coimbra terão de ser restringidas, por forma a evitar a concentração nas grandes cidades, em prejuízo do resto do país e do próprio plano aprovado e em marcha… Por outro lado, continua ainda o jornal, "para facilitar a fixação dos médicos fora dos grandes centros, há que criar incentivos financeiros e promover a vinculação aos serviços numa fase precoce”. O mesmo é dizer – garantir-lhes o emprego e o contratozinho, logo enquanto estão ainda na fase do internato.
O mesmo é dizer: pendurar umas cenouritas aí pelos hospitais e centros de saúde, a ver se alguém se convence.
Profissões há muitas… umas são profissões de fé… outras nem por isso.

De Tóquio a Londres. Os protestos contra a caça à baleia.
Em Tóquio, militantes da Greenpeace vestiram-se de baleia, em Londres, militantes da Sea Shepherd acorrentaram-se à varanda da embaixada japonesa… Isso enquanto, em Londres também, a Comissão Baleeira Internacional começava uma reunião de 3 dias, para tentar conciliar as partes e os interesses dos que se opõe e dos que defendem a caça à baleia.
É uma reunião informal. O ano passado conseguiu-se convencer o Japão a suspender a caça à baleia de bossa, que seria retomada agora, após uma moratória de 40 anos.
Em defesa da caça à baleia surge entretanto uma outra arma. Um argumento "ecologista"… o de comer carne de baleia como forma de salvar o planeta. Uma ideia que surgiu do lobby pró-baleeiro norueguês. Coma baleia e salve o planeta – dizem eles. E isto porque – e parece que é verdade – sai muito mais em conta produzir carne de baleia para a alimentação do que carne de vaca, ou de outras espécies mais comuns à mesa da refeição.
Por exemplo: para se conseguir um quilo de carne de baleia emitem-se 1 quilo e novecentos gramas de gases com efeito de estufa… para um quilo de carne de vaca, os valores sobem aos 15 quilos e 800. Seis quilos e meio para a carne de porco e 4 quilos e meio para a de galinha. O estudo foi apresentado pela High North Alliance, organização que representa as comunidades do Árctico.
A Greenpeace já desmontou este estudo, alegando que: comer carne tem sempre efeitos negativos para o clima e para o ambiente.

Ora então, comer carne tem sempre efeitos negativos para o clima e para o ambiente?!…
Para o clima e para o ambiente, para além da própria pessoa que a come, ao que consta e alguns defendem – os vegetarianos, por exemplo.
Agora, quanto ao clima mesmo e ao ambiente, ficamos curiosos por saber, o que acha a Greenpeace do próprio vegetarianismo, de que falava agora mesmo…
Se deixarmos de comer carne e desatarmos a comer, por exemplo, só verduras… quem travará o avanço dos desertos?

quarta-feira, 5 de março de 2008

E no Irão?
Diz que os manuais escolares estão feitos para doutrinar os alunos na guerra santa global. A denúncia vem de uma organização não governamental norte americana – o Centro para a Monitorização da Paz no Médio Oriente. Segundo esta organização, os livros escolares iranianos tentam inculcar a ideia de que o mundo está dividido entre bons e maus. E este será justamente o tema de uma conferência, que está agendada para estes dias em Washington, moderada pela directora deste Centro de Monitorização da Paz no Médio Oriente.
Ora temos então que, os manuais escolares iranianos, dividem o mundo entre bons e maus, o que para a organização de que falamos é – eventualmente – mau sinal e má pedagogia.
Enfim, a verdade é que o mundo está mesmo divido entre bons e maus. A dificuldade está às vezes só em distinguir uns dos outros.

“O padre italiano Piero Gelmini, acusado de abusos sexuais, foi afastado do sacerdócio pelo Vaticano”. É assim que abre a breve do “24 Horas” de hoje.
O sacerdote foi acusado de ter violado 9 jovens. A “BBC” deu a notícia e explicou que a decisão partiu do próprio Papa – o que provavelmente é normal nestes casos…
Temos portanto que o padre fica proibido de celebrar missas e de ministrar sacramentos como baptismos e comunhões. Pode, no entanto, continuar a dirigir a comunidade de apoio a toxicodependentes, criada por ele próprio e onde foram cometidas as violações. A acusação era justamente essa: a violação de 9 jovens que estiveram internados numa das casas, das mais de 150, que a Comunidade tem. Os abusos terão ocorrido desde 97 e até ao ano passado. Portanto não pode é celebrar casamentos e baptizados, nem dar missas. Enfim, situações em que seria muito pouco provável que o padre tivesse oportunidade de molestar sexualmente alguém… mas isso também nunca se sabe… Para já, salvou-se a honra do convento.

Ora, sem sair do “24 Horas”, deixo os olhos escapar para a fotografia, pequenita, que está aqui ao lado. Uma jovem, em lingerie preta e extravagante, ajoelha-se sobre um canapé de cabedal, segurando um chicote. Na outra mão, uma almofada onde se lê, a vermelho baton: “Chicotes e correntes são para o quarto, não para o circo”. A provocação é assinada pela “PETA”, organização de defesa dos animais. E é justamente essa a ideia. Sair, de forma engenhosa, em defesa dos direitos dos animais. Que, segundo a organização, têm o direito a não usar correntes, nem obedecer a ordens de chicote, para serem exibidos num circo. A dar-lhes algum uso, aos chicotes e correntes, que o façamos em jogos eróticos sado masoquistas.
A campanha está já curso na Índia. Fica por saber qual será a tradição de sexo sado masoquista na Índia… Do tântrico já ouvimos falar e vem daí… agora o sado masoquismo… Se não for ofensivo para a moral e costumes locais é já uma sorte, mas enfim, alguém deve ter estudado o mercado antes de avançar com a campanha…

E saltemos agora para o “Diário de Notícias”, mas sem largar o chicote. É que é justamente sob o silvo do látego que ele vai ser castigado.
“Cento e oitenta chicotadas para o professor que foi surpreendido a beber um café com uma aluna”.
A notícia vem da Arábia Saudita e consta que lá é crime, este tipo de atitudes. O professor em causa lecciona psicologia numa universidade de Meca. A polícia religiosa apanhou-o a beber um café com uma aluna e o castigo aí está: 8 meses de prisão e 180 chicotadas. O suspeito já admitiu a falta, o que o constituiu rapidamente em réu e acusado. Há também, diz o jornal, quem considere o professor inocente do crime de que o acusam… o de ter sido surpreendido a beber um café com uma mulher. No caso uma aluna.
Mas o surpreendente nesta notícia ainda não vos contei. É a forma como ela própria foi redigida. Sei que o jornalista assina com as iniciais C. F. e que, pelo que fica escrito, deve ser uma sumidade internacional em moral e bons costumes. Vamos ouvir?... É subtil, mas se ouvirmos com atenção ela está lá a insinuaçãozinha bacoca…
“Chama-se Abu Ruzaiz, é professor de Psicologia e bebeu um café com uma aluna. Hélas!” - escreve o periodista a itálico… "terá sido o pior erro da sua vida…"
E continua: “a polícia religiosa, que quase se cola às paredes à procura destas banalidades, ficou a saber do “crime”. E a palavra crime vem entre aspas. Mas não devia. Apesar do jornal ser português, o crime de que se fala passou-se na Arábia Saudita e lá dispensa aspas. É mesmo crime, sem ironiazinhas insidiosas.
Pois a questão é essa. Não há tempo. Se houvesse, tempo e paciência, talvez pudéssemos fazer esse exercício de comparação. Seja em relação à nossa própria História recente e lembrarmo-nos das bizarrias de costumes e de leis a que Portugal esteve sujeito, ainda não há muito tempo e mais ainda e para além disso, repararmos bem em certos usos e costumes – não forçosamente ilícitos – mas que devem fazer rir a bom rir muito cidadão de outras praias e culturas. Enfim, se forem bem-educados, riem baixinho. E se forem mesmo bem-educados, não vão para os jornais fazer trocadilhos serôdios com a cultura de outros povos. Claro que uma pessoa ser chicoteada por beber um café com outra do sexo oposto é muito desagradável e não fará muito sentido, seja à luz de que século e civilização, mas isso não cabe a nós julgar e muito menos fazer piadola, com aspas ou sem elas.

terça-feira, 4 de março de 2008

As palavras. As palavras têm significados próprios. Quando querem dizer alguma coisa, dizem. E dizendo, fazem por não deixar margem para dúvidas, sobre o que querem dizer. Tomemos o exemplo da palavra: Paleozóico. Diz o dicionário que paleozóico é um adjectivo relativo à era primária, ou paleozóica. Sendo a era paleozóica aquela era geológica, que sucede à proterozóica. Quanto à palavra, deriva do grego.
E isto tudo porque, esta terça feira, o “Diário de Notícias”, acompanhando o desenvolvimento da luta dos professores, reproduz, com sublinhado, duas páginas da ficha de avaliação de desempenho que, ao que parece, é um dos pomos de toda esta discórdia.
A legenda da fotografia alerta para, o que o jornal chama, “parâmetro de avaliação político”. E chama-lhe assim, porque, ao que consta, é assim que os próprios professores classificam algumas alíneas da tal ficha de avaliação. Vamos aos sublinhados.
A legenda explica que são critérios políticos, como os que o jornal sublinha, que obrigam os professores a calar a insatisfação, se não estiverem de acordo com as políticas de educação do Governo.
Isto é o que diz a legenda. O sublinhado o que diz, ou melhor, pergunta, é o seguinte: se o docente é visto como um factor condicionante da aprendizagem do aluno… Se for, a nota é zero.
Se o docente teve um papel neutro no processo de aprendizagem do educando… Se teve, a nota é três e meio…
E se o docente actuou de forma a ter um papel de incentivo no processo de aprendizagem do educando… aí a nota é 8 valores, ou 8 pontos, não sei.
Não sei, mas até aqui, parece quase lógico que, o professor que incentiva o processo de aprendizagem, mereça uma avaliação superior àquele que, não só não puxa, não desperta no aluno o gosto pelo saber e pelo aprender, como ainda se constitui como "factor condicionante da aprendizagem”.
Agora o outro ponto da discórdia.
Pergunta a ficha de avaliação se o docente verbaliza a sua insatisfação, ou satisfação, face a mudanças ocorridas no sistema educativo e ou na escola… Se o faz através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares… aí é um zero redondo.
Se verbaliza a insatisfação, ou satisfação, de forma serena e fundamentada através de críticas construtivas potenciadoras de reflexão… nesse caso é nota 7.
Em última hipótese, saber se a insatisfação, ou satisfação, se manifesta afirmando-se o docente como um agente de mudança, apresentando sugestões nos órgãos próprios, que visem a melhoria da qualidade do ensino e da educação que se pratica na escola. E esta é a postura que merece a nota máxima: 10 valores. E é isto.
Valoriza-se portanto quem se apresenta com uma postura pró activa. Sugerindo medidas que possam melhorar o funcionamento da escola e a qualidade do ensino. Isso, em desprimor da outra atitude de críticas destruidoras que possam destabilizar a escola e o trabalho dos colegas… Coisa estranha, esta!... Bizarra, quase.
É aqui que o jornal e, ao que parece, os professores vêem o tal juízo político. A alegada lei da rolha… E até podem ter toda a razão. Há mesmo quem defenda que tudo na vida do Homem é político. Se formos por aí, está tudo certo. Agora, se a intenção é denunciar uma perseguição, ou vigilância repressiva do livre pensamento… aí, teremos forçosamente de abrandar a marcha. Pelo menos, no que fica exposto e citado das tais fichas mal amadas, o único motivo de desconfiança que sobressalta é esse mesmo… o da desconfiança, ela própria. O de, quase historicamente, desconfiarmos sempre e à partida de quase tudo o que surge de novo, ou determinado por hierarquias superiores. Nesta última parte, a das hierarquias superiores, o de desafiar a autoridade…o comportamento é saudável e natural… mas, na adolescência! Depois, com a idade, costuma passar. Já quanto à primeira parte do enunciado – desconfiar de tudo o que soe a novidade – também já não é grande novidade! E já não é desde o velho do Restelo! Há quanto tempo é que isso já foi?...
Enfim, na mesma linha de frases sonantes e palavras redondas, diria que, em Portugal, a desconfiança é um comportamento talvez um pouco… paleozóico?!