sexta-feira, 12 de março de 2010

como um penalti falhado

A notícia merece destaque de primeira página, pelo menos no Correio da Manhã e no 24 Horas, sendo que, o 24 Horas, reclamando-se, como se sabe, ser o jornal das estrelas, faz mesmo a capa e a manchete com a notícia ... Por razões talvez óbvias... é que Cristiano Ronaldo é uma estrela... um astro cintilante do auto-proclamado desporto rei – o futebol, pois claro.
E é capa do 24, porque está arrasado, com a notícia da morte de um primo, num acidente de viação. 
Diz o jornal, que este primo  tinha 32 anos e que esta morte é um dos momentos mais tristes da vida de Cristiano Ronaldo.
Ambos os jornais publicam uma fotografia de Ronaldo, para ilustrar a notícia... são bastante semelhantes aliás e ambas devem ter sido tiradas após o craque do Real Madrid ter falhado um pontapé  livre, ou até mesmo a marcação de um penalti.. Ronaldo surge – na do 24 Horas, em mancha de página interia... surge de sobrolho franzido e levando as mãos à cabeça, de boca aberta, mais de espanto incrédulo, que de outra coisa qualquer, como por exemplo um bocejo, ou o prenúncio de um espirro. No entanto, tudo leva a crer que a escolha desta fotografia – ainda mais se atentarmos nas legendas... craque do Real Madrid está destroçado... tudo leva a crer portanto, que esta fotografia pretenda ilustrar, talvez, o espanto, o desgosto, o choque... de Cristiano Ronaldo, com a notícia da morte do primo...
Ora... e se tivessem escolhido uma fotografia de Ronaldo, por exemplo, no chão, torcendo-se com dores – reais ou encenadas, que no futebol, já se sabe... mas enfim, no chão contorcendo-se, com uma expressão de dor , dobrando-se em posição fetal, como se tivesse levado um murro no estômago... não seria mais ajustado ?...
É que assim... Esta expressão, que Ronaldo apresenta na capa do 24... tanto pode ilustrar a reacção à morte de um parente, como um penalti falhado , como até o espanto, de quem vê alguém tropeçar e deixar cair para o chão uma pilha de pratos da Vista Alegre, ou até mesmo da extinta Fábrica de Loiça de Sacavém!...

quinta-feira, 11 de março de 2010

puta de diferença

Vem no Correio da Manhã e se a trago aqui à conversa, nem é tanto pelo facto em si, mas mais particularmente por via de uma declaração curiosa, de que vos darei conta já a seguir. Primeiro vamos aos factos. 
Está a decorrer por estes dias, no campus de Justiça , em Lisboa, o julgamento de Maria Paula Dias, pelo atropelamento mortal de duas pessoas, no Terreiro do Paço, em Novembro de 2007.
Diz o Correio , citando uma das testemunhas do acidente, que o carro vinha depressa e as mortes aconteceram de repente... diz ainda o Correio, que foi ontem conhecido o resultado do relatório social, que dá conta da recusa da ré em aceitar ajuda médica e que a qualifica como uma pessoa fria de afectos e fácil de irritar... Acrescenta-se ainda, que justificando a recusa em receber apoio psicológico, Maria Paula Dias, que é também e por coincidência psicóloga de profissão... terá respondido... citando: "Gosto da dor fechada em mim. Tenho de aceitar esta situação e só depois ser ajudada."
E a situação em que a psicóloga Maria Paula Dias está envolvida, como já vimos , é a de ter de responder pelo atropelamento e morte de duas mulheres, que esperavam no passeio, junto à passadeira, no Terreiro do Paço, que o sinal abrisse, para atravessarem a rua e ir apanhar o autocarro para o emprego...
E nestes casos, como é normal, contrata-se um advogado, para conduzir o caso... seja do lado da acusação, como da defesa, claro está.  E contrata-se um advogado, porque sempre é melhor deixar para um técnico, a tarefa de explicar aos juízes, em linguagem apropriada, o que realmente se terá passado, ou aquilo que se quer provar, que realmente se passou... Porque um advogado estudou para isso, conhece os procedimentos judiciais, domina a linguagem jurídica, está, abreviemos assim, no seu meio. E neste caso, o advogado de defesa de Maria Paula Dias chama-se Paulo Camoesas e é citado, logo na página seguinte, a esta onde o Correio dá esta notícia breve...  Diz então Paulo Camoesas, advogado,  em defesa de Maria Paula Dias... "a Maria Paula não atropelou ninguém. Ela colheu 3 pessoas. Não pode ser acusada pelo que não fez."
Enfim , em rigor e boa verdade, poder pode, sempre e não seria a primeira vez que isso acontecia, em tribunais portugueses, e não só...  mas é para isso que servem os julgamentos, para apurar a verdade, tanto quanto se consiga... para que, finalmente, ninguém seja, não acusado, mas condenado, por qualquer coisa que não fez.

E neste caso, podemos admitir que Maria Paula não atropelou ninguém, mas que, em vez disso, colheu 3 pessoas, como faz questão de sublinhar o advogado Paulo Camoesas... 
Pois então, seja. 
Seja então por isso, que Maria Paula Dias está a ser julgada... por isso que Maria Paula Dias está a ser acusada... de ter colhido 3 pessoas, sendo que duas delas morreram quase instantaneamente e de forma aparatosa...
Seja então por isso. Fará grande diferença, na apreciação judicial?... É que para as pessoas que morreram e para os familiares que sobreviveram não faz  diferença nenhuma. Provavelmente não fará mesmo puta de diferença nenhuma.

este Démocles tinha alguma ligação especial a armas brancas ?...

Vem aqui, na penúltima do DN, num cantinho dedicado às efemérides, que foi num 11 de Março, mas no de 1851, que estreou o Rigolleto de Verdi, no La Fenice, de Veneza e que no de 1957, a RTP inaugurava a série de Tele-teatro, com o monólogo do Vaqueiro de Gil Vicente... Já morreram todos. O Verdi, o Gil Vicente e o Tele-teatro na RTP...
Já quanto a este 11 de Março, o de hoje, de 2010, é dia de crónica semanal de Isabel Meireles, advogada, que hoje fala de como o Pacto de Estabilidade e Crescimento ( é assim que o designa) substituiu, para Portugal, o chicote do FMI, isto na consequência da entrada de Portugal na União Europeia... Porque, segundo a advogada, não basta alcançar o objectivo da moeda única e dos condicionalismos da União Económica e Monetária, antes, é preciso manter e prosseguir todos os critérios que permitiram a adesão e, em especial, os 3% do PIB em termos de défice orçamental e os 60% do PIB, no caso da dívida pública.
Mais adiante , Isabel Meireles lembra e alerta para uma diferença substancial, que distingue Portugal dos outros países fora da Zona Euro... é que, enquanto para estes, se não cumprirem os ditames da Comissão e do Conselho da Europa, mais não lhes acontece que receberem uma reprimenda, uma censura, ou eventualmente pressões diplomáticas ou políticas, para Portugal a coisa fia mais fino e , falhando os objectivos, pode ser sancionado. Primeiro, obrigado a um depósito sem juros... que pode passar à forma de coima, se não conseguir corrigir as contas no prazo de dois anos.
É então essa a ameaça, que pende sobre Portugal e a economia portuguesa, como a mítica espada de Dâmocles...
Conhecem certamente a história... Dâmocles, cidadão de Siracusa, contemporâneo do ditador Dionísio... Diz a enciclopédia portuguesa e brasileira que , sabendo Dionísio da inveja de Dâmocles, lhe propôs colocá-lo na sua posição, para que falasse com conhecimento de causa. Chamou-o ao palácio , recebeu-o com todas as honras e considerações devidas a um rei. Sentou-o no trono... Fez, no entanto, suspender sobre a cabeça de Dâmocles de Siracusa, uma espada presa por um fio. O episódio... a fábula foi recuperada por Cícero, nas Tusculanas e Horácio, na Ode 1ª...
A partir daqui, a expressão "espada de Dâmocles" ganhou o significado simbólico, que todos conhecem e que se aplica bastante perfeitamente ao caso de que se ocupa hoje Isabel Meireles, no Diário de Notícias. Daí , também, fazer todo o sentido que a crónica surja sob este título... Uma espada de  Dâmocles?... neste caso, não.. uma espada de Démocles!
Ora, indo agora a outras fontes, conclui-se que Démocles também temos... mas diz a História, que foi um orador grego... a História não revela se este Démocles tinha alguma ligação especial a armas brancas, ou parentes na Sicília...  o que se sabe é que há quem atribua às duas formas... Dâmocles e Démocles , a mesma origem, ou seja, o grego e que em grego quer dizer, este nome...  Dèmoclés. (será assim que se lê?...) Dèmoclés, que quer dizer em grego: Glória do Povo...
Mas voltando à crónica do DN... Dâmocles, ou Démocles...  cite-se O´Neill, citando o jagunço de Guimarães Rosa... "pão ou pães é questão de opiniães."

segunda-feira, 8 de março de 2010

a cagar na passerelle.


E ora aqui está uma frase, um título, uma chamada de capa, que abre caminho a todas as dúvidas e perplexidades...  É que se fica sem saber o que falou mais alto... se a declaração em si, se a forma que essa mesma afirmação tomou e que o Diário Económico hoje transcreve, em chamada de primeira página, com a fotografia tipo passe do próprio protagonista e autor da afirmação. Morais Sarmento. Nuno Morais Sarmento, ex ministro dos efémeros governos de Durão Barroso e Santana Lopes. 
Em grande entrevista de 3 páginas, Morais Sarmento fala de muita coisa.. é natural que o faça, se é uma grande entrevista... Mas o jornal escolheu uma frase, em que Morais Sarmento analisa e resume  a prestação pública de Aníbal Cavaco Silva, enquanto presidente da República... a prestação pública, nesse sentido de... aquilo que Cavaco diz publicamente.
Ora então vamos lá a ver qual é o veredicto de Morais Sarmento, sobre o que diz Cavaco: "Quando Cavaco fala..." – citemos – "...quando Cavaco fala sentimos um mau hálito político."
Escusa-se a gente de ler o resto... que Morais Sarmento acha que o presidente é um homem  sério , mas que também há-de ser responsabilizado pelo desgoverno do país. O desgoverno vai com aspas...
Escusa-se, nem será bem o termo... a verdade é que depois de um título destes... tudo o que vier a seguir é ruído... 
Ora, haveria o jornal de ter guardado esta frase, esta apreciação de Morais Sarmento, para as páginas interiores, onde a entrevista se desenrola?... Em nome do bom gosto , mesmo sabendo que gostos não se discutem? Talvez não...  Talvez que, confrontado com tão vívida apreciação, não restasse ao Económico outra alternativa, senão puxar a frase, para manchete e chamariz da história...  "Quando Cavaco fala sentimos um mau hálito político..." -   frase de efeito...  quanto mais não seja pela deselegância...
Talvez não restasse ao Económico outra saída, que sublinhar esta apreciação quase escatológica, que Morais Sarmento faz das declarações públicas do presidente da República...  a dúvida que fica é saber o que poderá ofender mais o visado por esta crítica de Nuno Morais Sarmento... os termos em que foi resumida... ou o próprio conteúdo da afirmação...?   ou seja, dar a entender, que o que diz Cavaco trás o cheiro de matéria em decomposição... 
Coisa desagradável , sem dúvida, o que faz com que, esta declaração de Morais Sarmento na primeira página do Diário Económico de hoje, consiga ter quase o mesmo encanto, o mesmo chique, que uma top model a cagar na passerelle.