quinta-feira, 11 de março de 2010

puta de diferença

Vem no Correio da Manhã e se a trago aqui à conversa, nem é tanto pelo facto em si, mas mais particularmente por via de uma declaração curiosa, de que vos darei conta já a seguir. Primeiro vamos aos factos. 
Está a decorrer por estes dias, no campus de Justiça , em Lisboa, o julgamento de Maria Paula Dias, pelo atropelamento mortal de duas pessoas, no Terreiro do Paço, em Novembro de 2007.
Diz o Correio , citando uma das testemunhas do acidente, que o carro vinha depressa e as mortes aconteceram de repente... diz ainda o Correio, que foi ontem conhecido o resultado do relatório social, que dá conta da recusa da ré em aceitar ajuda médica e que a qualifica como uma pessoa fria de afectos e fácil de irritar... Acrescenta-se ainda, que justificando a recusa em receber apoio psicológico, Maria Paula Dias, que é também e por coincidência psicóloga de profissão... terá respondido... citando: "Gosto da dor fechada em mim. Tenho de aceitar esta situação e só depois ser ajudada."
E a situação em que a psicóloga Maria Paula Dias está envolvida, como já vimos , é a de ter de responder pelo atropelamento e morte de duas mulheres, que esperavam no passeio, junto à passadeira, no Terreiro do Paço, que o sinal abrisse, para atravessarem a rua e ir apanhar o autocarro para o emprego...
E nestes casos, como é normal, contrata-se um advogado, para conduzir o caso... seja do lado da acusação, como da defesa, claro está.  E contrata-se um advogado, porque sempre é melhor deixar para um técnico, a tarefa de explicar aos juízes, em linguagem apropriada, o que realmente se terá passado, ou aquilo que se quer provar, que realmente se passou... Porque um advogado estudou para isso, conhece os procedimentos judiciais, domina a linguagem jurídica, está, abreviemos assim, no seu meio. E neste caso, o advogado de defesa de Maria Paula Dias chama-se Paulo Camoesas e é citado, logo na página seguinte, a esta onde o Correio dá esta notícia breve...  Diz então Paulo Camoesas, advogado,  em defesa de Maria Paula Dias... "a Maria Paula não atropelou ninguém. Ela colheu 3 pessoas. Não pode ser acusada pelo que não fez."
Enfim , em rigor e boa verdade, poder pode, sempre e não seria a primeira vez que isso acontecia, em tribunais portugueses, e não só...  mas é para isso que servem os julgamentos, para apurar a verdade, tanto quanto se consiga... para que, finalmente, ninguém seja, não acusado, mas condenado, por qualquer coisa que não fez.

E neste caso, podemos admitir que Maria Paula não atropelou ninguém, mas que, em vez disso, colheu 3 pessoas, como faz questão de sublinhar o advogado Paulo Camoesas... 
Pois então, seja. 
Seja então por isso, que Maria Paula Dias está a ser julgada... por isso que Maria Paula Dias está a ser acusada... de ter colhido 3 pessoas, sendo que duas delas morreram quase instantaneamente e de forma aparatosa...
Seja então por isso. Fará grande diferença, na apreciação judicial?... É que para as pessoas que morreram e para os familiares que sobreviveram não faz  diferença nenhuma. Provavelmente não fará mesmo puta de diferença nenhuma.

3 comentários:

Pareceres disse...

É um facto de que para a familia das vitimas não fará diferença nenhuma se foram colhidas ou atropeladas..., mas será que o seu pensamento é tão redutor que entenda que um tribunal julga em nome das vitimas ? Será que um Tribunal deve aplicar a justiça de maneira a que a qualificação do acto importe aos familiares das vitimas ?
Um Tribunal aplica a justiça em face de um ilicito cometido , e para o bem da sociedade.Se fosse em nome das vitimas, seria uma vingança, e não é isso que se pretende.
Se uma pessoa é colhida... é sinal que não estava na estrada ( como foi o caso ), e sim que estava no passeio. De outra forma teria sido atropelada.
Uma coisa é uma carro ir em despiste e depois de bater num semáforo ir colher transeuntes no passeio ( como foi o caso ), coisa diferente será atropelar que vai na passadeira.
E na verdade um arguido não pode , nem deve, ser acusado pelo que não fez. Se o fôr então o tribunal tem que alterar a acusação, ou dá-la como não provada.
Assim se fará a competente justiça, que é o que se propõe e não um caça ás bruxas.

a última estação disse...

Primeiro que tudo, devo dizer que espero sinceramente que não me tenha vindo aqui parar, guiado por algum motor de busca, induzido em erro pela palavra "puta", que incluí no título... Muito menos ainda pelo próprio título do blog! Que, se me permite recordar-lhe, Belfegor, de que este Belfaghor mais não é senão uma variante poética... era uma criatura bem pouco recomendável... quanto mais não fosse porque até houve quem lhe chamasse o "Demónio dos Peidos"! Já viu coisa mais desagradável?!...
Já quanto ao seu comentário... A verdade é que se a Justiça não decidir em nome e salvaguarda das vítimas... sejam elas, as vítimas mais directas dos casos presentes, sejam as eventuais e futuras vítimas de casos que venham a acontecer... seja a vítima, se assim preferir, a própria sociedade, ou até mesmo esse conceito mais abstracto, que é a paz social... o bem estar da sociedade, que é assim ameaçado por comportamentos desviantes, ou até mesmo azares do destino... que infelizmente também os há. Mas, nestes últimos casos, e na maior parte das vezes, acaba sempre por vencer o interesse do Bem-estar Social. da Paz. Da Ordem estabelecida.
Essa da "vingança" está bem achada, homem, só que levanta um problema burocrático danado... Nessa perspectiva, mais nenhum advogado pode falar em nome das vítimas, senão chamam-lhe logo mafioso... Já reparou onde isto nos pode levar?! Com que autoridade se pode ir a tribunal falar dos "Superiores Interesses da Criança", por exemplo?!...

Essa diferença entre "ser colhido" e "ser atropelado"... confesso que me colheu de surpresa e peço perdão se atropelei algum princípio básico da cultura geral... Prometo que vou ter mais cuidado. E a atravessar as ruas também.

Dos arguidos... Pois não deve, mas pode - ser acusado pelo que não fez. Pode sim senhor, garanto-lhe eu. Você nem sonha a maldade que vai por este mundo, homem de deus!
Bruxas!... Pois a isso, respondo-lhe com duas vulgaridades numa só... Não acredito nessas gajas, mas no entanto, ela move-se!
Saúde!

Pareceres disse...

Peço antecipadamente desculpa por uma eventual inconveniência, mas cumpre-me referir de que não entrei no blog, conduzido pela terminologia a que alude, mas apenas pelo nome do causidico nele referenciado.

Aproveito ainda para agradecer a explicação tendente ao entendimento do nome do Blog, que era do meu total desconhecimento ( como de tantas outras coisas no mundo ).

Quanto ao seu comentário ao comentário :)... A justiça sem duvida que decide atendendo ao bem comum e à paz social, mas por algum motivo o seu icone mais conhecido tem os olhos vendados , os ouvidos tapados e segura uma balança, como referência de equilibrio e de isenção.

Atenta-se na sua aplicação, não à vitima mas ao bem violado, quer pessoal, quer material. E assim tem que ser.
Decerto que se refere à prevenção geral e especial, mas aí intervem a dosimetria da pena. A Pena só deverá corresponder à medida da culpa.

E quanto ao ao facto de um advogado falar em nome das vitimas e ser chamado mafioso, cumpre-me informar-lhe de que fale um advogado em nome de quem falar desse titulo dificilmente se vê livre. Nem Deus agradou a todos.

Já no que se refere aos " Superiores Interesses da Criança " , deixe que lhe diga... relevam quando não se confrontam com os interesses dos pais. Pois que neste caso..., esses " Superiores Interesses ", são rápidamente ultrapassados, e vingam a maior pensão de alimentos... , o maior afastamento relativamente ao outro progenitor..., etc...etc...etc...

Essa do cuidado em atravessar as ruas está boa, mas atendendo à causa ou caso que está na genese destes comentários..., será de ter cuidado quando se está no passeio.

E acredite numa coisa...infelizmente já vi muita, e muita , e muita gente ser acusada do que não fez, mas isso não significa que esteja correcto, e para isso servem os tribunais, pois que acredite ainda, que todos os dias sou confrontado com a maldade que vai neste mundo... Mas felizmente que vivemos em sociedade, e que os comportamentos desviantes a que alude, regra geral pagam o seu preço.

Quanto às " Bruxas ".., como não tenho grande jeito para espanhol, deixe que por fim lhe diga no nosso bom Portugûes " que as há, há ". Nesse aspecto tiro-lhe o chapéu porque não podia estar mais de acordo.

Atentamente