sexta-feira, 23 de maio de 2008
Efeméride
A 23 de Maio de 1408 nascia, às portas de Alfama, Albano Borboleta, esforçado cultor de Artes Marciais e exímio Lavador de Janelas. Apesar de vir a tornar-se figura incontornável da cultura do seu século 15, teve uma infância discreta, apagadita mesmo. Ficou coxo aos dez anos, derivado ao coice de um burro, que lhe disputava a água no bebedouro municipal, do largo onde brincava. Os pais queriam-no a estudar leis, já as mães tinham outra ideia. Como não se entendiam, Albano Borboleta cresceu auto didacta na escola da vida e, p’ra dizer a verdade, até nem se deu mal. Um dia, porém, uma pessoa disse-lhe que assim não podia ser e ele, então, resolveu largar tudo o que estava a fazer e não fazer mais nada senão isso. P’lo menos, durante um bocado. Só mais tarde, mas muito mais tarde é que sentiu crescer em si a vocação! A que o iria tornar célebre e quase esquecido. A de Lavador de Janelas. Mais! A de Exímio Lavador de Janelas e Esforçado Cultor de Artes Marciais. Mas tudo isso corresponde a um período muito agitado da vida de Albano. Demasiado agitado até para tirar notas, ou fixar acontecimentos. Por isso mesmo, saltamos em branco este período fértil e frenético, se bem que fundamental, da vida de Borboleta e vamos ao que importa. Os pormenores mais bizarros, as histórias nunca contadas, os detalhes desconhecidos. Desconhecidos por todos; pl’o público em geral e até p’los próprios biógrafos e estudiosos do fenómeno. Incluindo, claro está, a nossa própria pessoa. Sabe-se, por exemplo que, um dia foi visto a beber água, com ar desconfiado, no bebedouro municipal. Seriam umas 10 da noite, segundo os relatos que sobreviveram ao fogo que se seguiu. Albano Borboleta debruçava-se sobre o tanque do bebedouro, mas as orelhas viravam-se-lhe para trás, tremendo de nervosismo mal disfarçado… e pouco mais se sabe, dessa noite fatídica. O grande incêndio que reduziu, minutos depois, a vila a cinzas, acabou, ingratamente, por ocupar as principais linhas da memória do povo local, apagando quase por completo o testemunho desse feito magnífico, que foi o regresso de Albano ao bebedouro da praça, anos depois do coice do burro o ter posto a coxear para a vida inteira! Posto isto, seria quase injusto, se não imperdoável, mesmo, na data em que se celebra a comemoração em memória de uma personalidade tão rica e importante, não salientar aqui a riqueza e importância da personalidade e da memória do homem que hoje aqui nos traz e que, no seu tempo, nunca haveria de imaginar que estaríamos aqui hoje, a falar dele. Nem ele, nem eu, se mo tivessem perguntado ontem à noite. Bom dia.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
E valha-nos Santa Tecla!
Diz assim, o título do Jornal de Notícias: “Manifestação contra o tráfico de droga.” A negro, como a situação pede e justifica.
Os moradores do bairro de Santa Tecla, em Braga, continua o sub título, afirmam que o negócio se faz dia e noite sem parar e acusam a Polícia e a Câmara de nada fazerem.
Foi por isso que os moradores de Santa Tecla saíram ontem à rua, em manifestação de protesto. Uma moradora do bairro, entrevistada pelo jornal, diz que nunca viu tanta miséria, nem tanta droga no bairro de Santa Tecla…
E depois a fotografia que ilustra a notícia e o protesto. E lá vem a frase estafada, das imagens e das mil palavras… só que, neste caso, a imagem traz, isso sim, alguma perplexidade à história. É que, na fotografia, o que se vê são algumas crianças em protesto, sim senhor, isso percebe-se pelos braços levantados, pelos punhos cerrados da criança, que surge em primeiro plano e também pelo cartaz que a outra empunha, logo atrás da primeira. Ergue-o bem alto, acima da cabeça para que o mundo veja. Para que o mundo saiba. Para que o mundo veja e saiba o quê?!... Que as crianças de Santa Tecla estão contra a impunidade com que o tráfico de droga se faz no bairro?... Deveria ser, já que é disso que a notícia trata e fala. Mas não. O que se diz no cartaz é outra coisa bem diferente. O que se diz no cartaz, em forma de protesto, aceito, admito… o que se diz no cartaz é que não há droga no bairro!!! O que se lê no cartaz escrito à mão, talvez pelo próprio miúdo que o empunha… ele terá o quê? Uns 13, 14 anos?... O que se lê é isto: “Não há droga no nosso bairro”. “Há” do verbo haver. Estão a ver?...
Diz o miúdo, que não há droga no bairro dele. Será esse o protesto?! A falta de droga em Santa Tecla?! Terá o miúdo, ou os toxicodependentes de Braga, de ir à Galiza comprar o que lhes falta em Santa Tecla?... Claro que não! Esperemos… Ou talvez este miúdo não seja de Santa Tecla! Talvez seja de outro bairro de Braga, onde, nesse sim, não há droga. Talvez o miúdo se tenha infiltrado na manifestação e feito à fotografia só para irritar os de Santa Tecla... Ou talvez não. Talvez o que devesse estar ali escrito fosse outra coisa...O que seria para estar escrito no tal cartaz talvez fosse “Não à droga no nosso bairro”. Mas sem o Agá do verbo haver, naturalmente. Não à droga… o “à”, aqui é a contracção da preposição "a" com o artigo definido "a", no caso. Se fosse "o" seria, por exemplo, não ao analfabetismo. Por exemplo.
Portanto, pode ser que não seja só o flagelo da droga, o que assola o bairro de Santa Tecla. Que, droga, apesar do cartaz, parece que não falta em Santa Tecla. O que falta é alguém que – com alguma boa vontade – avise estes miúdos que a língua portuguesa tem destas coisas… e que, ainda mais com fotógrafos à vista, seria só questão de riscar – à pressa que fosse – o H intruso… À pressa! Sem agá, que, e o problema se calhar até é esse… há pressa. E por haver tanta pressa, é que às vezes se cai em esparrelas destas.
Que depois a pessoa cresce e vai-se acostumando e depois para corrigir a mão torna-se mais complicado. Depois… pode ser já tarde demais.
Ainda no JN fala-se da crise do sector da média e da comunicação social. Foi essa uma das conclusões da Conferência, que ontem encerrou trabalhos na Universidade Católica em Lisboa. O Jornalista do JN cita Paulo Faustino, autor de um estudo onde se conclui que a crise se revela em aspectos como a fragmentação dos públicos e a "perca" de influência da imprensa. É assim que está aqui escrito.! A perca de influência…
Pois seja. Sigamos o cherne!
Vem no Financial Times e o Público transcreve-lhe o essencial.
E o essencial é que a Pepsi e Coca-cola vão acabar com a publicidade dirigida a menores de 12 anos. Dizem que é a forma de ajudar a combater a obesidade infantil. A verdade é que os menores de 12 anos dificilmente têm dinheiro próprio para comprar pepsis ou o que seja. A menos que os pais, ou um irmão mais velho lhes financie a compra. Mas também é verdade que para muita gente é mais fácil dizer manda lá vir uma cola para a criança, do que explicar à criança que há alternativas tão refrescantes como a coca-cola e muito mais saudáveis. É verdade também que se deve tornar ainda mais trabalhoso explicar à criança porque é que não pode beber coca-cola quando o resto da família o faz sem constrangimento…
Adiante.
O Banco Mundial não vai ajudar as vítimas. As vítimas do ciclone na Birmânia. Será que o Banco Mundial foi à falência?!... Não. O que acontece – conta o Jornal de Notícias – é que o Banco Mundial está de relações cortadas com a Junta militar, que governa a Birmânia, aliás Myanmar. Uma situação que se arrasta desde 98. Assim mesmo e só por isso.
Foi o próprio director executivo quem o disse, ontem, em Singapura. O Banco Mundial mantém a política de não oferecer dinheiro aos países que não pagam as suas dívidas. Isto, apesar – disse-o – apesar e mesmo considerando as questões humanitárias e as vítimas registadas. E das vítimas, os números falam em 78 mil mortos, 56 mil desaparecidos e 2 milhões e meio de desalojados.
Problema deles. Para o Banco Mundial a questão nem é sequer estar a ajudar um país governado por uma Junta militar repressiva e prepotente. Que já não era, como se viu, sequer ajudar a população civil… Que não tem culpa da Junta que tem e que foi dizimada pelo ciclone. A questão aqui é muito mais simples. Terrivelmente mais simples. O Banco Mundial não dá dinheiro a quem tem contas em aberto. Ou seja, se a Junta militar pagar o que deve ao Banco Mundial, então talvez…
E depois… assim mesmo é que deve ser! Um Banco é onde se deposita o dinheiro, na esperança que nenhum ladrão no lo roube de debaixo do colchão da cama e na esperança também de que entretanto ele cresça um pouco à força de juros e assim… Isso é o mais simples e elementar que um Banco pode fazer e para o que foi criado. E mesmo quando o Banco abre os cordões à bolsa e empresta algum dinheiro a alguém, faz questão, à partida, de saber se a pessoa tem capacidade para pagar, com os devidos juros, claro, o dinheiro emprestado. Tirando essa novidade extravagante do micro crédito, os Bancos tradicionais é assim que funcionam. Aceitam os depósitos de quem tem dinheiro para depositar… dinheiro que o Banco depois usa lá nos seus próprios negócios e investimentos. Dinheiro, que há-de entretanto gerar algum lucro, também para o depositante e original proprietário do depósito. Ou então empresta dinheiro a quem tem já, senão algo de seu, a garantia de que, se as coisas derem para o torto, o Banco não há-de ficar a perder.
Isso, os Bancos tradicionais já fazem. Agora, ajudar coitadinhos em dificuldades, é que por amor de Deus!... Um Banco é um Banco, não é a sopa do Sidónio. A sopinha dos pobres!...Ainda mais, o Banco Mundial! Francamente, uma coisa com aquela importância e com tantas responsabilidades. Por amor de Deus! Não! Claro que não! Claro que nunca! Olha a porra da conversa, não querem lá ver!
Diz assim, o título do Jornal de Notícias: “Manifestação contra o tráfico de droga.” A negro, como a situação pede e justifica.
Os moradores do bairro de Santa Tecla, em Braga, continua o sub título, afirmam que o negócio se faz dia e noite sem parar e acusam a Polícia e a Câmara de nada fazerem.
Foi por isso que os moradores de Santa Tecla saíram ontem à rua, em manifestação de protesto. Uma moradora do bairro, entrevistada pelo jornal, diz que nunca viu tanta miséria, nem tanta droga no bairro de Santa Tecla…
E depois a fotografia que ilustra a notícia e o protesto. E lá vem a frase estafada, das imagens e das mil palavras… só que, neste caso, a imagem traz, isso sim, alguma perplexidade à história. É que, na fotografia, o que se vê são algumas crianças em protesto, sim senhor, isso percebe-se pelos braços levantados, pelos punhos cerrados da criança, que surge em primeiro plano e também pelo cartaz que a outra empunha, logo atrás da primeira. Ergue-o bem alto, acima da cabeça para que o mundo veja. Para que o mundo saiba. Para que o mundo veja e saiba o quê?!... Que as crianças de Santa Tecla estão contra a impunidade com que o tráfico de droga se faz no bairro?... Deveria ser, já que é disso que a notícia trata e fala. Mas não. O que se diz no cartaz é outra coisa bem diferente. O que se diz no cartaz, em forma de protesto, aceito, admito… o que se diz no cartaz é que não há droga no bairro!!! O que se lê no cartaz escrito à mão, talvez pelo próprio miúdo que o empunha… ele terá o quê? Uns 13, 14 anos?... O que se lê é isto: “Não há droga no nosso bairro”. “Há” do verbo haver. Estão a ver?...
Diz o miúdo, que não há droga no bairro dele. Será esse o protesto?! A falta de droga em Santa Tecla?! Terá o miúdo, ou os toxicodependentes de Braga, de ir à Galiza comprar o que lhes falta em Santa Tecla?... Claro que não! Esperemos… Ou talvez este miúdo não seja de Santa Tecla! Talvez seja de outro bairro de Braga, onde, nesse sim, não há droga. Talvez o miúdo se tenha infiltrado na manifestação e feito à fotografia só para irritar os de Santa Tecla... Ou talvez não. Talvez o que devesse estar ali escrito fosse outra coisa...O que seria para estar escrito no tal cartaz talvez fosse “Não à droga no nosso bairro”. Mas sem o Agá do verbo haver, naturalmente. Não à droga… o “à”, aqui é a contracção da preposição "a" com o artigo definido "a", no caso. Se fosse "o" seria, por exemplo, não ao analfabetismo. Por exemplo.
Portanto, pode ser que não seja só o flagelo da droga, o que assola o bairro de Santa Tecla. Que, droga, apesar do cartaz, parece que não falta em Santa Tecla. O que falta é alguém que – com alguma boa vontade – avise estes miúdos que a língua portuguesa tem destas coisas… e que, ainda mais com fotógrafos à vista, seria só questão de riscar – à pressa que fosse – o H intruso… À pressa! Sem agá, que, e o problema se calhar até é esse… há pressa. E por haver tanta pressa, é que às vezes se cai em esparrelas destas.
Que depois a pessoa cresce e vai-se acostumando e depois para corrigir a mão torna-se mais complicado. Depois… pode ser já tarde demais.
Ainda no JN fala-se da crise do sector da média e da comunicação social. Foi essa uma das conclusões da Conferência, que ontem encerrou trabalhos na Universidade Católica em Lisboa. O Jornalista do JN cita Paulo Faustino, autor de um estudo onde se conclui que a crise se revela em aspectos como a fragmentação dos públicos e a "perca" de influência da imprensa. É assim que está aqui escrito.! A perca de influência…
Pois seja. Sigamos o cherne!
Vem no Financial Times e o Público transcreve-lhe o essencial.
E o essencial é que a Pepsi e Coca-cola vão acabar com a publicidade dirigida a menores de 12 anos. Dizem que é a forma de ajudar a combater a obesidade infantil. A verdade é que os menores de 12 anos dificilmente têm dinheiro próprio para comprar pepsis ou o que seja. A menos que os pais, ou um irmão mais velho lhes financie a compra. Mas também é verdade que para muita gente é mais fácil dizer manda lá vir uma cola para a criança, do que explicar à criança que há alternativas tão refrescantes como a coca-cola e muito mais saudáveis. É verdade também que se deve tornar ainda mais trabalhoso explicar à criança porque é que não pode beber coca-cola quando o resto da família o faz sem constrangimento…
Adiante.
O Banco Mundial não vai ajudar as vítimas. As vítimas do ciclone na Birmânia. Será que o Banco Mundial foi à falência?!... Não. O que acontece – conta o Jornal de Notícias – é que o Banco Mundial está de relações cortadas com a Junta militar, que governa a Birmânia, aliás Myanmar. Uma situação que se arrasta desde 98. Assim mesmo e só por isso.
Foi o próprio director executivo quem o disse, ontem, em Singapura. O Banco Mundial mantém a política de não oferecer dinheiro aos países que não pagam as suas dívidas. Isto, apesar – disse-o – apesar e mesmo considerando as questões humanitárias e as vítimas registadas. E das vítimas, os números falam em 78 mil mortos, 56 mil desaparecidos e 2 milhões e meio de desalojados.
Problema deles. Para o Banco Mundial a questão nem é sequer estar a ajudar um país governado por uma Junta militar repressiva e prepotente. Que já não era, como se viu, sequer ajudar a população civil… Que não tem culpa da Junta que tem e que foi dizimada pelo ciclone. A questão aqui é muito mais simples. Terrivelmente mais simples. O Banco Mundial não dá dinheiro a quem tem contas em aberto. Ou seja, se a Junta militar pagar o que deve ao Banco Mundial, então talvez…
E depois… assim mesmo é que deve ser! Um Banco é onde se deposita o dinheiro, na esperança que nenhum ladrão no lo roube de debaixo do colchão da cama e na esperança também de que entretanto ele cresça um pouco à força de juros e assim… Isso é o mais simples e elementar que um Banco pode fazer e para o que foi criado. E mesmo quando o Banco abre os cordões à bolsa e empresta algum dinheiro a alguém, faz questão, à partida, de saber se a pessoa tem capacidade para pagar, com os devidos juros, claro, o dinheiro emprestado. Tirando essa novidade extravagante do micro crédito, os Bancos tradicionais é assim que funcionam. Aceitam os depósitos de quem tem dinheiro para depositar… dinheiro que o Banco depois usa lá nos seus próprios negócios e investimentos. Dinheiro, que há-de entretanto gerar algum lucro, também para o depositante e original proprietário do depósito. Ou então empresta dinheiro a quem tem já, senão algo de seu, a garantia de que, se as coisas derem para o torto, o Banco não há-de ficar a perder.
Isso, os Bancos tradicionais já fazem. Agora, ajudar coitadinhos em dificuldades, é que por amor de Deus!... Um Banco é um Banco, não é a sopa do Sidónio. A sopinha dos pobres!...Ainda mais, o Banco Mundial! Francamente, uma coisa com aquela importância e com tantas responsabilidades. Por amor de Deus! Não! Claro que não! Claro que nunca! Olha a porra da conversa, não querem lá ver!
terça-feira, 20 de maio de 2008
“Os hamburgers fizeram a fama da McDonalds e os seus produtos têm o mesmo sabor em qualquer continente.” Começa bem, a notícia do 24 Horas!
Sabem todos ao mesmo, seja qual for a latitude e a qualidade e gosto das carnes autóctones de cada país, ou região. Prodigioso, no mínimo.
Mas menti-vos. Menti, porque o lead da notícia não é esse. Diz assim, a manchete: “Sai um McTuga.”
E porquê? Porque, diz o jornal, depois do sucesso, ou melhor, aproveitando o sucesso das sopas e o Euro 2008, a McDonalds decidiu criar uma série de novos produtos, exclusivamente a partir da gastronomia nacional.
Para começar fala-se em 3 sanduíches, preparadas exclusivamente com produtos tradicionais portugueses. Não se sabe ainda quais, que o segredo sempre foi a alma do negócio. Desde a especulação na bolsa até às sandes de torresmos, ao que parece.
O que se sabe é que as novidades devem sair para o mercado já a 2 de Junho e serão baptizadas com o nome genérico de “Portugal.” Fonte da empresa adiantou ao jornal, que foram feitos estudos de mercado, para saber qual a preferência dos consumidores. O jornal especula sobre se as sandes serão de choco frito, ou queijo e marmelada, ou de pataniscas de bacalhau… Seja como for, fica a expectativa… respeitando a lógica e a tradição da McDonalds, será que as pataniscas, o queijo com marmelada, os torresmos, as sandes de leitão da Bairrada vão saber mesmo ao que dizem, ou acabam todos a saber a carne de vaca texana?
E, por outro lado, se a iniciativa for mesmo às raízes da gastronomia portuguesa, será que Bruxelas, ou a lusa ASAE vão fechar os olhos à entremeada no pão, e à tripa enfarinhada?... Enfim, pode-se sempre alegar que a iniciativa é de uma empresa estrangeira e aí invocar a não ingerência, em assuntos externos ao País.
Depois, logo aqui ao lado, na página direita abre-se a fotografia. No meio de uma assistência variada e jovem, duas personagens se erguem empunhando o que poderia ser uma trompa alpina, ou um djiridu australiano… mas não. O que a fotografia ilustra são dois jovens fazendo que fumam dois gigantescos cigarros. Dois gigantescos cigarros de marijuana. E depois o título: “Porta quase aberta para a cannabis.”
E isto porque, explica-se em ante-título – “os especialistas portugueses admitem o uso da cannabis como medicamento.” Explica-se depois, que a investigação vem da Catalunha e há especialistas portugueses, que admitem ser uma solução a ter em conta. A do uso da cannabis como medicamento. A experiência espanhola deu resultados animadores no tratamento de doentes com esclerose múltipla e nos efeitos secundários da quimioterapia. Resultados também a nível analgésico. Em Portugal já se fez uma experiência idêntica, com um medicamento feito a partir da cannabis, para controlar a dor, mas consta que teve pouca saída. Foi por isso retirado de circulação, diz o jornal.
A Associação Nacional de Esclerose Múltipla diz que não está provado que a cannabis seja eficaz e relembra que a morfina é ainda o método mais eficiente para combater a dor e é mais barata, desde que não comprada no mercado negro. O que de tão óbvio escusava de ser referido. Aliás, ninguém espera que, se a hipótese da cannabis fosse avante, os médicos e os hospitais a fossem comprar ao Casal Ventoso!
Agora o que espanta e quase desilude é esta manchete.
Porque, no corpo da notícia e com sublinhado do próprio jornal, se cita João Goulão, o responsável pelo Instituto das Drogas, que diz que o que "só não quer é que, à boleia da abertura à utilização clínica, se abra passo ao consumo lúdico da droga.” Isto foi o que disse João Goulão. Os outros especialistas na matéria reconheceram que há potenciais benefícios no uso da planta com fins terapêuticos e admitem vir a usá-la como novo medicamento… Mas o jornal preferiu puxar para manchete essa frase demolidora: “Portas quase abertas para a cannabis”… o que seria uma boa entrada, se a fotografia não mostrasse os tais jovens a fumar um cigarro gigante de faz de conta que cannabis!
Porque não é para isso que as portas estão quase abertas. Não é essa a ideia. Não foi esse o susto maior revelado pelos médicos e especialistas entrevistados. Não é para isso que as portas estão quase abertas, quanto mais não seja porque, para isso, quando as portas se fecham, a rapaziada entra pela janela…
Enfim, não é essa a notícia.
É actual e vem no Diário de Notícias.
Vão faltar médicos em Portugal dentro de 4 anos. É um alerta, é um alarme?... É o mais certo, diz o jornal, que explica que Portugal não está a formar médicos suficientes para responder a todas as solicitações, tanto nos hospitais públicos, como nos privados. E tanto mais que, continua o DN, até 2009, o ano que vem, portanto, vão abrir portas mais umas 20, ou 25 unidades privadas de saúde. Isso vai realçar o problema.
Os dois sistemas estão cada vez mais em concorrência aberta no mercado da saúde…
O jornal publica o índice das vantagens e desvantagens de ambos… O público tem um corpo de médicos experiente em várias especialidades. Tem equipamento topo de gama, tem urgências adaptadas a todo o tipo de situação. Tem o serviço gratuito ou quase e tem uma cobertura alargada a todo o território. Ter, tem. O problema aqui não é esse. O problema aqui é que o próprio Sindicato Independente dos Médicos acha que a solução para o interior do País é abrir vagas e obrigar os médicos a cumprir serviços mínimos nessas unidades.
No particular é a rapidez a palavra de ordem. Rapidez na marcação de consultas, rapidez na marcação de cirurgias, instalações modernas atendimento personalizado – parece um SPA… E, se não há listas de espera, também não há resposta para algumas situações de urgência e – falando de urgências – esse é um serviço onde os privados têm menos treino e capacidade de resposta.
Portanto e voltando ao título… vão faltar médicos em Portugal daqui a 4 anos.
Pois a verdade é que já estão a faltar médicos em Portugal … no Interior pelo menos há quem diga que só à força é que eles lá vão… os médicos.
Depois, o facto de se anunciar a abertura de mais uma vintena de hospitais privados não vai realçar coisa nenhuma, como diz o jornal. Citemos: “até 2009, mais 20 a 25 unidades de saúde privadas vão abrir portas, realçando esta realidade …”A de Portugal estar em défice de novos médicos. É que, nesses novos hospitais privados, o défice muito dificilmente se irá sentir, quase de certeza…
Resumindo e concluindo. Não vão faltar médicos em Portugal dentro de 4 anos. Já faltam. Pelo menos onde são mais precisos. Nas terras onde há menos oferta, onde os privados não acham interessante investir, onde tudo fica mais longe de tudo…
Não faltam médicos em Portugal; estão é mal distribuídos… ia a dizer mal habituados… o que era obviamente um lapso, espero que perdoável, tendo em conta a invernia que vai lá fora…
E adiante.
No DN ainda, a páginas 17, surge Cavaco Silva a pedir aos portugueses que superem a descrença.
Foi ontem, entrevistado na Escola Superior de Comunicação de Benfica em Lisboa.
Cavaco disse que esta fase da economia pode criar um certo sentimento de descrença nos portugueses, mas que não nos podemos resignar, nem desistir…
Pois não e haja saúde!
Sabem todos ao mesmo, seja qual for a latitude e a qualidade e gosto das carnes autóctones de cada país, ou região. Prodigioso, no mínimo.
Mas menti-vos. Menti, porque o lead da notícia não é esse. Diz assim, a manchete: “Sai um McTuga.”
E porquê? Porque, diz o jornal, depois do sucesso, ou melhor, aproveitando o sucesso das sopas e o Euro 2008, a McDonalds decidiu criar uma série de novos produtos, exclusivamente a partir da gastronomia nacional.
Para começar fala-se em 3 sanduíches, preparadas exclusivamente com produtos tradicionais portugueses. Não se sabe ainda quais, que o segredo sempre foi a alma do negócio. Desde a especulação na bolsa até às sandes de torresmos, ao que parece.
O que se sabe é que as novidades devem sair para o mercado já a 2 de Junho e serão baptizadas com o nome genérico de “Portugal.” Fonte da empresa adiantou ao jornal, que foram feitos estudos de mercado, para saber qual a preferência dos consumidores. O jornal especula sobre se as sandes serão de choco frito, ou queijo e marmelada, ou de pataniscas de bacalhau… Seja como for, fica a expectativa… respeitando a lógica e a tradição da McDonalds, será que as pataniscas, o queijo com marmelada, os torresmos, as sandes de leitão da Bairrada vão saber mesmo ao que dizem, ou acabam todos a saber a carne de vaca texana?
E, por outro lado, se a iniciativa for mesmo às raízes da gastronomia portuguesa, será que Bruxelas, ou a lusa ASAE vão fechar os olhos à entremeada no pão, e à tripa enfarinhada?... Enfim, pode-se sempre alegar que a iniciativa é de uma empresa estrangeira e aí invocar a não ingerência, em assuntos externos ao País.
Depois, logo aqui ao lado, na página direita abre-se a fotografia. No meio de uma assistência variada e jovem, duas personagens se erguem empunhando o que poderia ser uma trompa alpina, ou um djiridu australiano… mas não. O que a fotografia ilustra são dois jovens fazendo que fumam dois gigantescos cigarros. Dois gigantescos cigarros de marijuana. E depois o título: “Porta quase aberta para a cannabis.”
E isto porque, explica-se em ante-título – “os especialistas portugueses admitem o uso da cannabis como medicamento.” Explica-se depois, que a investigação vem da Catalunha e há especialistas portugueses, que admitem ser uma solução a ter em conta. A do uso da cannabis como medicamento. A experiência espanhola deu resultados animadores no tratamento de doentes com esclerose múltipla e nos efeitos secundários da quimioterapia. Resultados também a nível analgésico. Em Portugal já se fez uma experiência idêntica, com um medicamento feito a partir da cannabis, para controlar a dor, mas consta que teve pouca saída. Foi por isso retirado de circulação, diz o jornal.
A Associação Nacional de Esclerose Múltipla diz que não está provado que a cannabis seja eficaz e relembra que a morfina é ainda o método mais eficiente para combater a dor e é mais barata, desde que não comprada no mercado negro. O que de tão óbvio escusava de ser referido. Aliás, ninguém espera que, se a hipótese da cannabis fosse avante, os médicos e os hospitais a fossem comprar ao Casal Ventoso!
Agora o que espanta e quase desilude é esta manchete.
Porque, no corpo da notícia e com sublinhado do próprio jornal, se cita João Goulão, o responsável pelo Instituto das Drogas, que diz que o que "só não quer é que, à boleia da abertura à utilização clínica, se abra passo ao consumo lúdico da droga.” Isto foi o que disse João Goulão. Os outros especialistas na matéria reconheceram que há potenciais benefícios no uso da planta com fins terapêuticos e admitem vir a usá-la como novo medicamento… Mas o jornal preferiu puxar para manchete essa frase demolidora: “Portas quase abertas para a cannabis”… o que seria uma boa entrada, se a fotografia não mostrasse os tais jovens a fumar um cigarro gigante de faz de conta que cannabis!
Porque não é para isso que as portas estão quase abertas. Não é essa a ideia. Não foi esse o susto maior revelado pelos médicos e especialistas entrevistados. Não é para isso que as portas estão quase abertas, quanto mais não seja porque, para isso, quando as portas se fecham, a rapaziada entra pela janela…
Enfim, não é essa a notícia.
É actual e vem no Diário de Notícias.
Vão faltar médicos em Portugal dentro de 4 anos. É um alerta, é um alarme?... É o mais certo, diz o jornal, que explica que Portugal não está a formar médicos suficientes para responder a todas as solicitações, tanto nos hospitais públicos, como nos privados. E tanto mais que, continua o DN, até 2009, o ano que vem, portanto, vão abrir portas mais umas 20, ou 25 unidades privadas de saúde. Isso vai realçar o problema.
Os dois sistemas estão cada vez mais em concorrência aberta no mercado da saúde…
O jornal publica o índice das vantagens e desvantagens de ambos… O público tem um corpo de médicos experiente em várias especialidades. Tem equipamento topo de gama, tem urgências adaptadas a todo o tipo de situação. Tem o serviço gratuito ou quase e tem uma cobertura alargada a todo o território. Ter, tem. O problema aqui não é esse. O problema aqui é que o próprio Sindicato Independente dos Médicos acha que a solução para o interior do País é abrir vagas e obrigar os médicos a cumprir serviços mínimos nessas unidades.
No particular é a rapidez a palavra de ordem. Rapidez na marcação de consultas, rapidez na marcação de cirurgias, instalações modernas atendimento personalizado – parece um SPA… E, se não há listas de espera, também não há resposta para algumas situações de urgência e – falando de urgências – esse é um serviço onde os privados têm menos treino e capacidade de resposta.
Portanto e voltando ao título… vão faltar médicos em Portugal daqui a 4 anos.
Pois a verdade é que já estão a faltar médicos em Portugal … no Interior pelo menos há quem diga que só à força é que eles lá vão… os médicos.
Depois, o facto de se anunciar a abertura de mais uma vintena de hospitais privados não vai realçar coisa nenhuma, como diz o jornal. Citemos: “até 2009, mais 20 a 25 unidades de saúde privadas vão abrir portas, realçando esta realidade …”A de Portugal estar em défice de novos médicos. É que, nesses novos hospitais privados, o défice muito dificilmente se irá sentir, quase de certeza…
Resumindo e concluindo. Não vão faltar médicos em Portugal dentro de 4 anos. Já faltam. Pelo menos onde são mais precisos. Nas terras onde há menos oferta, onde os privados não acham interessante investir, onde tudo fica mais longe de tudo…
Não faltam médicos em Portugal; estão é mal distribuídos… ia a dizer mal habituados… o que era obviamente um lapso, espero que perdoável, tendo em conta a invernia que vai lá fora…
E adiante.
No DN ainda, a páginas 17, surge Cavaco Silva a pedir aos portugueses que superem a descrença.
Foi ontem, entrevistado na Escola Superior de Comunicação de Benfica em Lisboa.
Cavaco disse que esta fase da economia pode criar um certo sentimento de descrença nos portugueses, mas que não nos podemos resignar, nem desistir…
Pois não e haja saúde!
domingo, 18 de maio de 2008
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