sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

flatus desinfetantis

Mais uma acha para a fogueira, é o que diz o Diário de Notícias de hoje.

Depois do papa Bento 16 ter levantado a excomunhão sobre os irmãos da Fraternidade de S.Pio 10º, depois das declarações do bispo integrista Richard Williamson, a uma televisão sueca, negando a existência das câmaras de gás, nos campos de concentração nazis … O bispo Williamson disse que só uns 200 a 300 mil judeus terão morrido em campos de concentração, mas por causas outras , que não o envenenamento em câmaras de gás. Depois disso tudo, que levou a um protesto formal por parte do Grande Rabinato de Jerusalém. De tal forma que até acabou por cancelar-se o encontro inter religioso, que estava marcado para Março que vem… Ora depois disto tudo – que toda a gente já vê como um preocupante passo atrás no diálogo entre cristãos e judeus - surge agora um outro bispo da mesma congregação de S. Pio 10º a tentar pôr água na fervura, mas, ao que o jornal relata, foi como apagar fogos com gasolina.

Floriano Abrahamowicz, responsável por um dos pólos da comunidade de S,Pio 10º, no nordeste de Itália, disse a um jornal italiano – o Tribuna de Treviso - que haver , havia… câmaras de gás, nos campos de concentração , mas que o padre Williamson talvez se tenha precipitado, ao pronunciar-se sobre questões técnicas que não domina. No caso, o das câmaras de gás. Imprudente, foi a expressão usada por este padre Floriano. Porque ele, o padre Floriano, apesar de reconhecer que também não aprofundou a questão, tem a certeza que as câmaras de gás existiram mesmo, só que… E aqui é que surge a novidade, ou se quisermos e nos permitirem, a redundância: a nova novidade! Segundo o padre Floriano, as câmaras de gás dos campos de concentração nazi eram usadas para desinfecção. Citemos o padre Floriano: “Sei que as câmaras de gás existiram, pelo menos para desinfectar, mas não saberia dizer se elas causaram mortos ou não porque não aprofundei a questão.” Não terá sido decerto por falta de tempo, que a guerra já acabou há mais de 60 anos. Houve tempo para uma pessoa informar-se, pelo menos antes de se pronunciar sobre assunto tão delicado. Mas, adiante. Diz o padre, que fez entretanto questão de assumir as suas próprias ascendências judaicas, que não saberia dizer se as câmaras de gás causaram mortos ou não… Ora, tendo em conta e aceitando como verdadeira a alegada ascendência judaica do padre Floriano, ainda bem para ele, que nunca saberia dizer se as câmaras de gás causaram mortos ou não. E adiante uma vez mais, que já estamos quase a chegar.

Antes disso, honra lhe seja feita, o padre Floriano lembrou ainda o genocídio dos arménios pelos turcos. Mais de um milhão de mortos, que se alguém tivesse negado, ninguém se ofenderia, pelo menos não tanto como em relação aos judeus… O mesmo se poderia dizer em relação à Grande Fome, com que o estalinismo soviético condenou à morte milhões de ucranianos, nos anos 30… E diz o padre que o holocausto judeu é ás vezes sobrevalorizado. Diz o padre Floriano que ás vezes se dá uma supremacia ao Holocausto judeu, sobre outros genocídios históricos e que isso é criticável. Diz o padre Floriano, que a polémica agora levantada é parte de uma manobra contra o Vaticano. Rodeando essa teoria da conspiração do padre Floriano, poderíamos acrescentar em rodapé, que o chamado Holocausto judeu, não apagando da História outros crimes semelhantes, pode servir justamente de exemplo e alerta para que, pelo menos neste ponto particular, a História se não repita…

Mas vamos lá ao ponto que interessa. À tal novidade surpreendente. Reconhecendo que não aprofundou rigorosamente a matéria, o padre Floriano diz, no entanto, que as câmaras de gás dos campos de concentração nazis serviam para desinfectar.

Ao que consta era mais ou menos o que se dizia, na altura, às pessoas que eram mandadas lá para dentro. Alegadamente, segundo o que a História conseguiu apurar, era precisamente isso que lhes era dito, aos prisioneiros. Que iam tomar um revigorante duche e ser pulverizados com um inócuo desinfectante, para evitar doenças e contágios.

Na altura, consta que, pelo menos a princípio, ainda terá havido quem acreditasse nisso.

E hoje, passados mais de 60 anos sobre o fim da guerra, pelos vistos, ainda há!

Há o padre Floriano!

Só de saída e por curiosidade, o padre Floriano ainda nos há-de dizer que merdas, é que ele desinfecta com gás, lá na paróquia onde prega!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

que saudades do aviário do Freixial!...

Ora vamos aos anúncios!

No 24 Horas de hoje publicam-se dois anúncios, que podem augurar um futuro brilhante. Ora, em tempos de crise e com o fantasma do desemprego a forçar a porta, uma proposta tão generosa atrai todas as atenções e desperta o maior interesse. Mas vamos ao que importa. E o que importa é que se procuram pessoas criativas… Para quê? Para sairmos depressa e sem sequelas desta crise mal amada?... Ainda não. Procuram-se pessoas criativas para escrever uma telenovela.

Anuncia-se que vai começar em breve, na Casa do Artista, em Lisboa, um curso de escrita criativa para televisão. Vão ser 40 horas à média de uns 7 euros à hora, ou seja, o curso vai custar 295 euros, sendo as inscrições limitadas e onde os participantes – diz o anúncio – terão a oportunidade de aprender as técnicas. Todas as técnicas e passos para escrever um guião de telenovela. Diz-se também que os interessados só podem ter entre os 18 e os 99 anos de idade e gostar de escrever (esta era escusada) e serem criativos. Muito criativos, de preferência.

Salta-se depois uma meia dúzia de páginas para cairmos num outro anúncio em tudo semelhante a este primeiro. A mancha gráfica é igual; só o que se pede é que é outra coisa. Aqui procuram-se pessoas entre os 12 e os 99 anos (uma vez mais o número mágico, 99 anos… quase como nos supermercados, ao estilo, 99 euros e 99 cêntimos… Adiante…Entre os 12 e os 99, para actores e apresentadores de televisão. O resto da convocatória segue pelo mesmo rumo que o anterior. O sítio é o mesmo, a Casa do Artista, o curso tem duração idêntica: 40 horas e o custo idem - 295 euros. A diferença está então no pormenor do escalão etário abrangido. Ou seja, para escrita de telenovelas, o limite mínimo de idade é de 18 anos, já para apresentador ou actor, 12 anos é a idade mínima admitida. Do resto, já percebemos que se pode ter até aos 99 anos. O que a verificar-se e a verificar-se com êxito, pode querer dizer que, por um dia destes, podemos ter uma simpática nonagenária a apresentar o boletim meteorológico, ou um venerável ancião a conduzir um qualquer concurso de televisão em prime time. De inédito teria relativamente pouco que – cito de memória – há uma senhora já de avançada idade, que faz ainda um sucesso tremendo nos Estados Unidos, com um programa de televisão sobre sexualidade… Mas adiante. É ou não uma boa notícia, saber-se que há ainda este nicho de oportunidade e ainda por cima tão alargado, que promete trabalho para gente dos 12 aos 99 anos?.... Pode acontecer que acabem todos por não fazer rigorosamente nada com esse mesmo curso… Ou seja, pode ser que ninguém lhes dê trabalho, mas o saber não ocupa lugar e aprender a escrever telenovelas, ou a apresentar um programa de televisão é conhecimento que dá sempre jeito a qualquer pessoa de qualquer idade. Ainda mais, com facilidades de pagamento, como diz o anúncio já em rodapé e letra miúda. O que se torna mais difícil é perceber, porque é que os cursos de escrita criativa estão vedados a menores de 18 anos… Terão os menores de 18 anos menos capacidade criativa, menos gosto pela escrita?!... E para actores ou apresentadores esse limite é o dos 12 anos porquê? Porque não os 10 anos, por exemplo? Ou os 15, que é um número tão bonito?!... E já agora, que estamos com a mãos nos números… algum dos professores destes dois cursos está realmente convencido que consegue formar actores em 40 horas? Actores e escritores ou até mesmo apresentadores de televisão?... Em 40 horas? Em 15 dias?!... Assim mesmo, depressa e bem?... Por este andar, ainda me levam o Conservatório à falência!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

D.Pedro era gago! E isto é histórico.

Esta história podia resumir-se em menos palavras ainda, das que foram precisas para redigir o título da notícia. E o título o que diz é que – "Ministra lésbica para governar islandeses”. Vem no Diário de Notícias. Podia resumir-se em menos palavras, mas não seriam, talvez as mais apropriadas para a circunstância.

Vamos à notícia. O presidente da república da Islândia – e depois da demissão do governo de centro direita – pediu à esquerda para governar o país até Maio e às próximas legislativas. Citando a France Press, o DN diz que o chefe do estado islandês se reuniu com os líderes dos vários partidos e acredita que se pode, rapidamente, formar um Governo com os sociais-democratas e os Verdes. A presidente dos sociais-democratas já avançou um nome para chefiar esse governo. É a ministra dos Assuntos Sociais. Chama-se Johanna Sigurdardottir e, a confirmar-se esta nomeação, escreve o DN, será a primeira vez que os islandeses têm no lugar de primeiro-ministro uma mulher e lésbica assumida, que casou com outra mulher há 7 anos. Falta saber o que os Verdes dizem desta proposta, remata entretanto o Diário de Notícias. Enfim, rematar, não é o caso, que a notícia segue ainda com mais alguns pormenores de circunstância, como o cenário da contestação popular, a posição da Islândia face à União Europeia e a luta entre os partidos na corrida ao poder… Mas para o que conta, chega o que ficou dito. E o que ficou dito e anunciado logo à partida e em letra gorda é que a Islândia pode vir a ter uma mulher lésbica como primeira-ministra.

Se se tivesse escrito que a Islândia pode vir a ter uma lésbica assumida como primeiro ministro… talvez se compreendesse. O assumir dessa circunstância sexual poderia ser novidade e merecer sublinhado em título. Acontece que de novidade não tem nada, já que a senhora, ao que consta e já era sabido, vive casada há 7 anos com outra mulher.

O facto de ser lésbica torná-la-á especialmente apta ou incapaz para a função que se anuncia?... Não consta que haja provas científicas que o assegurem. O facto de ser lésbica prenuncia que, no futuro, quando se falar do primeiro-ministro da Islândia, as pessoas vão dizer… ah! Essa!... Ou o jornal acha que todos diferentes todos iguais, mas, uns menos iguais que os outros?...

Puxar para título a circunstância de Johanna Sigurdardottir ser lésbica e eventualmente vir a ser também chefe do governo islandês… fazer-se este casamento à pressa, ou se quisermos esta união… de facto não será antes um sinal, subtil, mas preocupante de alguma homofobia escondida, com o rabito de fora?...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

hambúrgueres para a faixa de Gaza.

Ao arrepio de todas as crises, diz o Público que a MacDonalds, a multinacional dos hambúrgueres, está em alta.

“MacDonalds prepara-se para criar 12 mil novos postos de trabalho”, escreve o Público. Este ano, a companhia pensa investir mais de 2 mil milhões de dólares na abertura de mil novos restaurantes. Os lucros caíram em 23%, no último trimestre do ano passado, mas na contabilidade total, o ano até nem correu malzinho de todo. Os lucros cresceram 80%, um quase dobro que, em tostões contados, dá mais de 3 mil milhões de euros limpos. Arre porra, que é muito hambúrguer, digo eu…! E diz que, apesar dos preços da matéria-prima ter aumentado – a matéria prima são a carne, os queijos e essas coisas – apesar disso, o orçamento compôs-se, já que houve uma redução nos chamados custos operacionais. Custos operacionais soa a cortes nos salários e por aí, mas também pode ser que não. Ou pelo menos, que não tenha sido só aí, que se reduziram os custos operacionais...

E em Inglaterra a Câmara dos Comuns acaba de receber uma moção de censura à atitude da SKY News e da BBC, de se recusarem a transmitir uma campanha de recolha de fundos para as vítimas de Gaza.

112 deputados de diferentes partidos subscreveram a moção.

Primeiro foi a BBC, ontem foi a Sky News, quem anunciou a recusa, em transmitir o tal apelo. Uma campanha organizada pelo Comité de Emergência a Desastres – um grupo que representa várias ONG's, incluindo a Care e a Oxfam – uma confederação internacional que reúne 13 organizações humanitárias.

Os argumentos apresentados pelas duas estações de televisão foi o de que, transmitir a iniciativa, compromete os princípios de imparcialidade jornalística. O director da Sky acha que um apelo desta natureza – relembra-se que o apelo é o de recolher fundos para apoiar a população civil ,vítima das operações militares e do cerco à cidade de Gaza… diz então, o director da Sky, que não acredita que “um apelo desta natureza possa ser articulado com o equilíbrio que o jornalismo imparcial procura trazer ao prolongado e polémico conflito de Gaza.” Citei e continuo… Diz John Riley, o director da Sky, que “ninguém pode deixar de estar sensibilizado com o sofrimento humano dos dois lados do conflito e isso tem sido foco da maior parte da cobertura jornalística que a Sky tem feito na região.” Também a direcção da BBC acha que a transmissão da campanha iria “pôr em perigo a imparcialidade da estação”.

Há quem não pense assim e ontem mesmo alguns manifestantes chegaram a entrar nas instalações da BBC e queimaram os recibos da taxa de radiodifusão, que pagam pelo serviço público de rádio, em Inglaterra. Já no fim-de-semana, 5 mil manifestantes se tinham concentrado em protesto em frente à sede da BBC, no coração de Londres. Em Glasgow, protesto idêntico reuniu 50 mil pessoas, enquanto à redacção da BBC chegavam 11 mil reclamações por escrito. Sabe-se entretanto -e isso aumenta ainda mais a estranheza em relação à BBC – é que a estação pública já transmitiu, no passado, campanhas de recolha de fundos para outras zonas de guerra!

Seja como for e para a direcção da Sky, por exemplo, a cobertura jornalística do sofrimento de ambos os lados do conflito é tudo quanto a deontologia da profissão lhe permite… Então e se, em vez de campanha de solidariedade a favor das vítimas da guerra de Gaza, o apelo fosse proposto como publicidade paga?... Não se beliscava a deontologia jornalística, nem se manchava a honra do convento – aliás – a isenção, tão religiosamente defendida pela Sky News.