sábado, 17 de novembro de 2007

dois em um

fala-se do sal e de que o pão português tem sal a mais. chamou-se o porta voz do estudo e ele disse que o pão português tem mais sal que o espanhol e do que o inglês. fiquei sem saber se era isso que fazia mal à saúde. lembrei-me do pão sem sal que se come em certos países e assustei-me com a iminência da minha própria morte.
mais à frente uma mulher falava dos riscos de tromboses derivado ao sal. dizia ela que uma pessoa podia ficar incapacitada, se fosse preciso, para o resto vida. no meu caso pessoal não faço muita questão que seja para o resto da vida, mas sublinho a expressão entre vírgulas. esse "se for preciso", que nem chega a ser propriamente uma bengala de linguagem em português e que surge aqui de forma quase disparatada, dá, no entanto, ao sentido da frase, uma intensidade e urgência verdadeiramente assustadoras.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O fim do mundo
Diz que se barricaram numa gruta, algures no centro da Rússia, à espera do fim do mundo. Para quem não saiba – estes fiéis de uma seita apocalíptica russa, acreditam que o fim do mundo deve chegar lá para Maio do ano que vem.
Até lá, ameaçam suicidar-se se alguém os quiser tirar à força da gruta onde se refugiaram, há 10 dias já, à espera do Dia do Juízo. A polícia cercou o local, mas não os quer pressionar, já que há muitas crianças entre estes fiéis visionários. Esperam que a fome os faça sair da gruta. Quanto ao guru da seita… diz que costumava dormir dentro de um caixão. Costumava, agora talvez não, porque já foi detido. Dizem que é esquizofrénico.

O fim do mundo… há-de chegar, eventualmente, ou de certeza. Agora, Telavive gostava que ele começasse por outro lado, que não por Israel.
A ver.
Escreve o Correio da Manhã, que Israel pediu à Disney para ver se o Hamas não lhe estará a violar direitos de propriedade… Isto porque, ao que consta, num certo programa de televisão aparece um ratinho de desenho animado - claro! - em tudo semelhante ao rato Mickey. Pelo menos as autoridades de Israel acham-no muito parecido e isso preocupa-as,o roubo de propriedade intelectual do Hamas aos criativos da Disney. Parece que é mesmo isso que as preocupa neste momento.
O ratinho chama-se Farfur e num dos programas em que apareceu terá dito… citemos: "estamos a preparar um mundo dirigido por islamitas." Para Israel, isto equivale à declaração de morte anunciada para o estado de Israel… quase uma declaração de guerra. Mas, a crer na redacção do Correio da Manhã, a preocupação israelita neste caso é mesmo saber se não há roubo ou violação de direitos de autor.
Não tanto a tal ameaça sobre a sobrevivência de Israel enquanto Estado, mas a preservação de identidade do rato Mickey. De memória não sei, mas talvez se tenham começado outras guerras por motivos ainda mais estúpidos.

E vamos ao 24 Horas.
Em Peso da Régua, um revendedor de bilhas de gaz bloqueou a entrada do prédio com a carrinha da distribuição. Assentou-a mesmo em cepos, sem rodas nem nada, para que não houvesse dúvidas, que dali só sai à grua…
O caso está em tribunal, a Guarda Republicana diz que não pode fazer nada, a Câmara da Régua também não…

Então mas… e que diabo de ideia?!…
Não, é que estavam a pensar em instalar gás natural no prédio, o que iria comprometer o negócio das bilhas de gás.
Acresce que o vendedor em causa é dono de 3 dos andares deste prédio e, quando a questão se colocou, ele votou naturalmente contra.
Votou vencido, mas não convencido. Com a carrinha a bloquear a entrada do prédio não só se impede a instalação do gás natural como, ao que parece, impede o acesso a bombeiros, em caso de necessidade, o acesso à rampa das cadeiras de rodas, o acesso a uma fuga rápida -longe vá o agoiro…
Agora, porque é que nem a Guarda Republicana nem a Câmara têm autoridade para tirar dali a carrinha?... Porque se trata de um condomínio privado e, só se as queixas dos vizinhos vencerem em tribunal, é que a policia pode forçar a remoção do veículo. Até lá, nem que o mundo acabe, ou o rato Mickey faça explodir as muralhas de Jerusalém !
“Morte violenta de passageiro polaco no aeroporto de Vancouver foi registada em vídeo. “
A gravação foi feita por um outro passageiro, que se encontrava na altura no aeroporto e que já a entregou à imprensa, com a devida autorização da família deste cidadão polaco.
Mas vamos aos factos.
O cidadão em causa esperava, há dez horas já – segundo a notícia do Publico – esperava há dez horas pela chegada da mãe, que o viria recolher ao aeroporto canadiano de Vancouver. Um estranho numa terra estranha não sabia e estava sentado à espera numa zona que lhe era interdita. Era a primeira vez que viajava de avião. Quase normal que não estivesse muito por dentro das regras do aeroporto. Mais, sendo polaco, também talvez não estivesse muito familiarizado com as regras e indicações em língua estranha… Consta que não sabia uma palavra de inglês… O facto é que estava nervoso. Bastante nervoso. É experimentar passar 10 horas à espera, num aeroporto qualquer, a ver…
Mas, vamos então aos factos.
Releio da notícia do Publico: Estava há 10 horas à espera na zona das bagagens. Visivelmente transtornado, deitou ao chão um computador portátil. Quatro polícias aproximaram-se dele. Terá dito que não o podiam acusar de nada, mas pouco mais terá dito. A descarga eléctrica que se seguiu deitou-o ao chão. Os polícias agarraram-no até deixar de se mexer, enquanto gritava e se contorcia com convulsões. A morte foi declarada no local.
Os testemunhos recolhidos dizem que, para além do nervosismo evidente, o cidadão polaco não metia medo a ninguém. As imagens mostram-no de facto meio desesperado, suando de nervosismo, a falar sozinho. O passageiro que gravou o vídeo, que serve agora como uma das provas do sucedido, garante que nunca, nem por uma vez, se sentiu ameaçado pela atitude deste polaco. Um comportamento estranho, irracional mesmo, mas só isso.
Estranha também que a policia tenha entrado logo – e neste caso pode bem dizer-se – entrado a matar, sem antes ter havido qualquer troca de palavras, de explicações, ou muito menos ainda, qualquer situação de conflito, ou desatino.
O cônsul polaco em Vancouver está em estado de choque. A Polónia pede explicações ao Canadá. O advogado da família estranha que nem as autoridades de imigração, nem a segurança do aeroporto se tenham preocupado em saber a razão da desorientação do passageiro, que ninguém, no fundo, o tenha orientado no meio daquela confusão, própria dos grandes aeroportos internacionais… Estranham e indignam-se com a única resposta que a policia canadiana de serviço ao aeroporto encontrou para esclarecer ou acabar com esse nervosismo. A saber… descarregar-lhe os 50 mil volts das pistolas Taser, em cima, sem bom dia, nem boa tarde.

Já agora, para que conste, no Canadá, nos últimos 4 ano, morreram 18 pessoas, na sequência desta nova política de, pelo sim pelo não, abater-se o suspeito e depois ver-se o que ele tem para dizer…
Neste caso, depois de morto, pouco terá.

A verdade é que falar com um morto deve ser tão esclarecedor como falar com um tijolo dentro de uma caixa de sapatos.
E afinal foi isso mesmo que a polícia descobriu, abandonado num quarto do hotel Sheraton em Lisboa.
Noticia do DN. Aconteceu ontem.
Chamou-se a polícia. A embalagem era altamente suspeita. Uma caixa de sapatos abandonada no quarto do hotel. Pesava… Não fazia tique taque, mas se calhar as bombas de agora já não fazem, só nos filmes… pelo sim pelo não chamou-se a brigada dos explosivos. A caixa não se abria ao olhar indiscreto dos Raios X então só havia uma solução… destruir a ameaça à força de agulheta. Um jacto de água. No fim, abre-se a caixa e em vez de bomba, o que se descobre é um bloco de betão! Um calhau de cimento.
O terrorismo afinal não é só rebentar prédios ou gazear populações… é mais fino… dá a deixa e depois deixa andar, como quem diz: aterrorizai-vos a vós próprios !

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O que está em causa é um exame psicológico vinculativo, relativamente ao acesso à magistratura. A alteração à lei está em discussão e já levanta controvérsia entre governo e oposição.
Paulo Rangel do PSD pergunta se será legitimo, um psicólogo decidir se um magistrado deve ser mais duro que humanista. E pergunta ainda, se haverá um modelo psicológico ideal para um juiz… Haver, há de certeza! Há um modelo ideal para tudo na vida, senão... andamos a correr para quê?..
A verdade é que a lei actual prevê a entrevista chamada psicológica, mas pelo júri que avalia o candidato. Há um psicólogo presente, mas só para dar opinião. A decisão final é do magistrado entrevistador. A nova lei propõe que esse parecer clínico seja vinculativo e que em caso de dúvidas, ou de um primeiro "chumbo" no exame, seja dada uma segunda oportunidade e o candidato submetido a uma segunda avaliação, por outro psicólogo, ou equipa de psicólogos.
Para Paulo Rangel, se for avante a proposta, vamos ter um arquétipo de juiz desenhado por um psicólogo. Quando a matéria em análise é o comportamento humano, mesmo nos seus delírios e tragédias desviantes, talvez seja de bom aviso garantir que, quem o julga tem a cabecinha perfeitamente organizada e sem contas em aberto com a vida, ou com alguém em geral.

E depois a “Ordem dos Médicos recusa aborto e não muda o Código Deontológico”, grita o Público esta manhã, a toda a largura da manchete. Enfim, pode ser só uma questão de pormenor, quase lana caprina. O texto do código diz que a prática do aborto é uma falha grave. Vem no artigo 47 e a Ordem diz que esse é ponto assente. Diz também que nenhum médico foi penalizado por cumprir a lei. O que quer dizer que se, apesar do que manda o Código, o médico fizer o que manda a lei do país, a ordem dos médicos não o punirá; enquanto clínico, já que enquanto cidadão, esse e outros são delitos que cumpre ao Estado punir.
Para o actual bastonário, “a independência, autonomia e liberdade dos médicos não são negociáveis” e que por isso não se altera o regulamento interno da classe.
Se o mesmo fosse reivindicado por outro tipo de associações, grandes corporações, ou simplesmente pequenas quadrilhas de bandoleiros… havia de ser lindo! Sim, que os bandidos também hão-de ter a sua ética, o seu código de conduta, senão não se governavam…

Mas esta outra vem de Espanha e é inédito. Um arcebispo de Granada está a ser julgado por injúrias, calúnias, assédio moral, lesões e coacções a um outro sacerdote… É a primeira vez que um sacerdote da Igreja enfrenta os tribunais seculares, em Espanha.
Foi ontem, o primeiro dia do julgamento. E que disse o arcebispo espanhol, logo, para que não restassem dúvidas ao tribunal?...
Disse que os bispos são perfeitamente livres nas decisões que tomam nas suas dioceses.
Poderia ter invocado um qualquer código deontológico. Poderia dizer que não reconhecia a um tribunal laico, a autoridade para julgar um caso ocorrido no seio da Igreja. Que só quem está no convento é que decide o que lá vai dentro e outros aforismos parecidos. Ou podia muito simplesmente ter explicado ao juiz que certo tipo de instituições é muito ciosa lá das suas coisinhas.
Puta que as pariu, não desfazendo.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A óptica do utilizador – expressão muito utilizada em informática…
E a expressão nem é despropositada, já que a questão, aqui, também passa muito pelos computadores.
Merece duas páginas na edição de hoje do Público.
E diz assim:
“Vai a pirataria matar a cultura? E a FNAC?”
Obviamente que a questão não é se a pirataria ou a FNAC, qual delas pode vir a matar a cultura!...
O despacho vem de Paris e continua… “Numa era em que os consumidores têm acesso gratuito, através da Internet, a jornais, filmes ou jogos” ( e num futuro próximo “a livros e filmes” também) “importa questionar qual o futuro das indústrias culturais.”
A correspondente do Público, em Paris, falou com o presidente da FNAC, Denis Olivennes, que acredita que o futuro depende da regulamentação.
Ora bem, a FNAC, que abre hoje mais uma loja na área da grande Lisboa e, ainda esta semana, mais outra em Braga, queixa-se de que as vendas estão a baixar, por causa das trocas de ficheiros gratuitos através da Internet. Diz que as receitas de quase 5 milhões de euros do ano passado podem ser afectadas por esta selvajaria cibernética.
É um território sem lei, queixa-se Olivennes. A pirataria e a oferta gratuita de produtos culturais é o resultado do capitalismo selvagem, o que neste caso e para a companhia que representa… é mau.
Enfim, talvez o não seja tanto para os beneficiários directos dessa facilidade de acesso aos tais bens culturais… Também é verdade que muitos artistas – mais na área da música – ou estão a rescindir contractos com algumas majors do mercado, ou a começar a gerir o próprio produto desde o momento da criação até ao balcão da loja, sem intermediários, ou simplesmente colocam os trabalhos na rede, para download gratuito, ou a troco do que o comprador achar justo, como preço… Para selvajaria, parece uma selvajaria simpática, quase!
A verdade também é que a Indústria sabe, que não é multando estes novos piratas que se vai conseguir estancar a sangria; mas, hábitos velhos morrem devagar e ainda não conseguiu, a Indústria, encontrar a solução que a resgate deste capitalismo selvagem que a ameaça.
O que a Indústria não sabe é que ninguém prefere um ficheiro, descarregado da Internet, a um disco prensado em fábrica, com capa cuidada e a cores, folheto incluso com informação e bonecada … a menos, claro, que a Cultura, em si, se apresente com outras urgências e , à falta de melhor, o consumidor prefira mesmo assim , uma cópia eventualmente de pior qualidade e sem tantos atavios, mas que lhe permita o acesso a esses produtos, do que ter de prescindir deles por falta de dinheiro.
Mas não nos dispersemos.
Regressemos ao título.
“Pode a pirataria matar a cultura?” Portanto a pergunta é: pode a troca ilegal de ficheiros, fotocópias e outros suportes matar o fenómeno cultural? Fenómeno cultural, que poderíamos, grosseiramente, definir como a troca descomprometida e sem grandes preocupações de lucro, de toda a informação, de toda a inteligência, de todo o génio humano… poderá essa divulgação, feita sem constrangimentos de mercado, matar a cultura?... Fazê-la chegar o mais longe possível e tendencialmente a custo zero, pode matar a própria cultura? É bem possível...

E cá estamos na tal coisa da óptica do utilizador, porque, é claro que se falarmos da Indústria da Cultura, aí o cenário pode ser diferente! Mas também a Indústria é a Indústria, problema de industriais, enfim, outra guerra, outro cenário.

Ponto dois: E, num cenário tão negro e desregrado, que industrial de bom senso é que teima em abrir lojas condenadas à falência?

Ponto terceiro e último:
Saberiam os corsários espanhóis, os piratas da coroa inglesa, os terríveis flibusteiros de todas as Caraíbas que, em pleno século XVI e assim de sabre nos dentes e muitas vezes mal alimentados, estavam a inaugurar a era do capitalismo selvagem? … Ou que estariam, ainda que por diferida influência, a provocar a queda dos grandes industriais da cultura do século XXI e, mais grave que isso, quem sabe, a mergulhar o mundo e toda a Humanidade numa nova era de obscurantismo e ignorância?!...