sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

do mau gosto e do bom senso

A história é terrível, mas teria de ser contada. Quanto mais não fosse como aviso e alerta. Alerta para as entidades responsáveis e aviso para toda a gente, que usa normalmente, ou por acaso, este apeadeiro de Coimbrões, em Vila nova de Gaia.
Foi lá que, ontem, eram umas 11 da manhã, uma jovem foi atropelada mortalmente por um comboio.
Tinha 16 anos, estudava numa escola do Porto e, consta que, as autoridades sanitárias só compareceram uma hora depois no local, para certificar o óbito e autorizar a remoção do corpo da jovem da linha…
O ano passado morreram 3 pessoas, atropeladas por comboios, neste mesmo troço. Já lhe chamam a “Passagem Negra”, a este apeadeiro de Coimbrões.
Pois… e a notícia ficaria por aqui, para o essencial da história. Mas o Jornal de Notícias quer ir mais longe e, p'ra que não restem dúvidas sobre a fiabilidade da informação, o jornal publica a fotografia do comboio em causa. Parado, ao que parece no exacto local do atropelamento. À porta, olhando a linha, um revisor da CP – parece, visto daqui. Do outro lado do comboio, do lado de lá, alguns populares, meia dúzia deles parece conversarem entre eles, comentando o sucedido, talvez… e sabe-se que a fotografia foi tirada nesse espaço de tempo em que se esperava pelo delegado de saúde. Isso parece certo, porque, por baixo do comboio, consegue ver-se nitidamente, um vulto, que parece um corpo embrulhado num oleado, ou um qualquer outro tecido azul claro.
E é aqui que haveria de chegar. A que, no dia em que precisar de ver fotografias destas para acreditar que é mesmo verdade o que o jornal escreve e me conta… então, definitivamente deixo de ler jornais.

Mas não para já.
Para já deixo-vos esta outra notícia, em quase tudo idêntica à anterior.
Trata-se uma vez mais de um atropelamento. Só que foi já ante ontem e no Cacém, perto de Lisboa, linha de Sintra.
Uma jovem também, que atravessava a linha, falando ao telemóvel, foi colhida pelo comboio.
E o que vai ser dito pode custar-me caro, mas arrisco na mesma.
Diz o Diário de Notícias que, pouco antes do acidente mortal, a jovem terá mandado uma mensagem SMS para uma tia, onde escreveu esta frase magnífica: Estou muito feliz, não sei porquê…
Quantos de nós não desejaria – já que dela ninguém escapa – que a velha senhora nos surpreendesse assim mesmo, num desses fantásticos momentos de bem-aventurança.

Mas bom, hoje é sexta, fim-de-semana à porta… dois dias para descontrair e não pensar em coisas tristes.
E voltemos ao JN. Na capa, chamando para a notícia que há-de estar lá para a página 16, o JN escreve assim:
TRABALHO
“Dez mil empregos rejeitados todos os meses”. E depois explica, em letra mais miúda: “Salários muito baixos justificam recusas”… Ao todo, dois terços da oferta foi declinada e as vagas ficaram por preencher.
Mas, fiquemo-nos só pela entrada: Dez mil empregos, que foram rejeitados por mal pagos, é certo, mas não interessa. O que importa é que foram 10 mil ofertas de emprego, que só não foram aceites pelas razões que já vimos e não me obriguem a repetir. Acompanhem-me só nesta conta : 10 mil vezes 15 dá 150 mil.
Ou seja, daqui a 15 meses, o primeiro-ministro – por este andar – verá satisfeita, não a promessa, já sabemos, mas o desiderato eleitoral, de criar 150 mil novos postos de trabalho. Se as pessoas os rejeitam…bom, enfim, que se há-de fazer? É a vida!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

tudo bons rapazes. gajada fixe.

O cidadão Kane morreu. Paz à sua alma.
Hoje, só falta aparecerem já de camisola vestida, apertando a mão ao presidente da SAD e do clube e a prometer que vão marcar muitos golos e, nalguns casos, garantirem que agora é que é, que chegaram finalmente ao clube do coração… pelo menos até qualquer Faianorde lhes acenar com um contracto mais interessante.
Bom, vamos lá… Falo dos directores dos órgãos de comunicação em geral.
O mercado de transferências, neste sector parece-se cada vez mais com o do futebol…
Na comunicação social portuguesa, o amor à camisola é já pouco mais que uma estafada figura de estilo, de uso por vezes um pouco suspeito e pouco recomendável… nada mais que isso.
Pelo menos a nível de chefias é o que parece.
Senão, como explicar que alguém pegue num projecto para o abandonar um par de anos, ou um par de meses, ou, por absurdo mesmo, um par de semanas depois? Para se mudar, às vezes mesmo, para a concorrência!
Porquê? Porque se deixou de acreditar no projecto? Porque se conclui não estar à altura do desafio? E se for esse o caso, quem garante que se esteja à altura de desafio idêntico, noutro sítio qualquer?... A saída, foi ela motivada por manifesta incompetência do sujeito em causa? E se for, quem garante, que a simples mudança de local de trabalho, o vai tornar, miraculosamente e de um dia para o outro, competente e útil e eficaz noutro sítio?
Talvez estejamos a entrar pela porta errada. Talvez não seja nada disto o que está em causa. Talvez seja mesmo irrelevante a capacidade profissional, na matéria em apreço – que é gerir um órgão de comunicação social. Geri-lo de forma séria e competente. Rigorosa e ágil, descomprometida e independente… Talvez isso seja o que menos importa para o caso. Talvez seja mesmo o que menos importa, que Eusébio joga agora a ponta de lança nesta ou aquela equipa. E, já agora, se marca golos, ou está só a correr para o currículo…
O que importa é a conferência de imprensa que o apresenta ao público e aos adeptos. O que interessa é a fotografia no jornal e as declarações entusiasmadas e auspiciosas. O espectáculo, enfim.
Isto, para quem está de fora e não tem nada a ver com o assunto, mas, mesmo assim gosta de sentir aquela sensação de estar bem informado e a par do que se passa de supostamente importante. Para os próprios, a questão é outra. O que importa é aparecer e não ser esquecido. O que importa é acumular pontos, como nos supermercados e nas bombas de gasolina. O que importa é manter o mercado iludido com a nossa importância e fazê-lo acreditar que sem nós não há futuro.
O mercado e o público também; que acabam por ser quase uma e a mesma coisa…
Enfim, quase, que nestas matérias, a vontade pública nem sempre é a vontade do público. Mas isso são já pormenores técnicos… Isso, o mister é que sabe.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

nabos, crimes passionais e fé em deus

Ora bom, não o conheço pessoalmente e o que ele fez não se faz, mas, por qualquer obscura razão, dou comigo a simpatizar com ele. Assim mesmo à partida e naquela simpatia solidária, compassiva…
O facto é que o homem, ex funcionário dos correios de Gaia, está a responder pelo roubo de mais de 300 cheques da Segurança Social.
Em tribunal defendeu-se dizendo que andava de cabeça perdida. Perdida de amores. E como se isso não bastasse , perdida de amores por duas mulheres ao mesmo tempo. E – o Grand Finale! – as mulheres em causa eram irmãs e não o largavam.
Diz que nunca teve nenhum proveito financeiro com os roubos. Entregava os cheques às duas irmãs, que depois – segundo diz – iam à sua, delas, vida… Fala em chantagem. Chantagem emocional, supõe-se.
Garante que nem faz ideia de quanto terá sido o total do dinheiro desviado, mas os jornais falam em mais de cem mil euros, no período de 2 anos, entre 2001 e 2003…
Tudo isto é matéria da Justiça. Da Justiça dos homens… e que se faça.
O resto é outra matéria… é paixão… é matéria dos deuses.


E o Metro do Terreiro do Paço!
Diz que foi só uma gota e que é normal, nos primeiros tempos, os materiais terem este tipo de resposta, à medida que a obra se consolida. Os responsáveis da nova estação do Metro vieram tranquilizar a população, dizendo que essas gotinhas de água, que apareceram no tecto da estação, são coisa normal – ainda mais com estas chuvas recentes… coisa normal e sem alarme.
O engenheiro responsável, entrevistado pelos jornais, garantiu que não se trata de infiltrações coisa nenhuma, são fissuras normais…
As pessoas ficaram preocupadas –cita o 24 horas – mas há uma razão simples para essas gotinhas que pingam do tecto… é que, parte da estação ainda não foi impermeabilizada; coisa que está previsto ser feita agora e entretanto, ao mesmo tempo que se acabam também as obras e arranjos no exterior da estação…
Portanto, parece que a obra foi inaugurada e apesar de boa parte dela ter sido construída meio abaixo de água, ou por aí, há ainda uma parte que não está preparada para lidar com essa situação: a da aguinha, que , como se sabe, é substância para se infiltrar pelos espaços mais acanhados e insuspeitos.
A questão, neste caso, é que, mesmo sem chuva, o Tejo há-de continuar a correr com água suficiente para inundar uma estação, ou duas… se calhar até mesmo 3.

E esta história lembra-me uma outra, que me contaram aqui há uns anitos e que vendo ao preço a que a comprei.
Foi aquando da inauguração da estátua de Nuno Álvares, às portas do mosteiro da Batalha. Diziam na altura os habitantes da vila, que, na pressa da inauguração, tiveram de plantar nabos nos canteiros à volta, já que não houve tempo , ou dinheiro, ou disponibilidade, já não me lembro…para arrelvar o local.
Plantaram-se nabos de rama verde e viçosa. Depois da cerimónia e longe da vista dos notáveis e ilustres oficiantes da inauguração, lá se levantaram os nabitos e plantou a relva definitiva e restante verdura decorativa.
Enfim, é difícil acreditar no rigor histórico deste episódio. Vale como anedota e pouco mais. É bem mais que provável, que nada disto tenha acontecido realmente, mas era isto que se contava, na altura, na vila da Batalha…
E é bem mais que provável, que a verdadeira verdade, neste e noutros casos, não esteja no que realmente aconteceu, mas naquilo que fica para contar: uma cerimónia bonita, uma obra asseada, e um canteiro de nabos a celebrar o evento !


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

coisas de puto, coisas de puta e os filhos da dita. mas, as crianças, meus deus!...

E da capa desta segunda-feira, ficam aí uma ou duas surpresas e quase perplexidades!
Quase ao estilo: sabia que…
Pois sabia que na Alemanha, uma em cada 6 crianças vive abaixo do limiar da pobreza?...Crianças com menos de 7 anos. São mais de 2 milhões e meio! É um número 16 vezes superior ao que se verificava há 40 anos atrás…

Em Roma, um vereador foi obrigado a demitir-se, depois de defender autocarros especiais e exclusivos, para levar à escola os filhos dos ciganos romenos. Parece que estes miúdos são particularmente “enérgicos”, o que torna impossível o controlo dos adultos que os acompanham nos autocarros… O vereador é comunista, o bairro em questão parece que também é mais ou menos isso, ou p'lo menos de forte implantação comunista. O próprio partido – a Refundação Comunista – demarcou-se da atitude deste vereador… O presidente da Câmara de Roma encerrou a questão com uma evidência: as crianças são todas iguais.

Mas voltemos às capas…
A do “Público” hoje traz Bush, George Walker Bush, presidente dos Estados Unidos da América e Bin Zayed al-Nahayan, príncipe de Abu Dabhi, dos Emirados Árabes Unidos.
Diz a legenda que Bush procura aliados para neutralizar o Irão…
Na fotografia, o príncipe árabe entrega ao presidente americano um falcão – passarito cuja figura e simbologia é escusado lembrar… pois a expressão do príncipe não é reveladora, por aí além, a do presidente também não… tudo não passa, afinal, de protocolo de Estado, gestos simbólicos, pequenas atenções e alegorias …
Agora, a expressão do falcão é que é curiosa!
Há que ver. De olhos vendados, patas presas à almofada que o sustém, o falcão inclina a cabeça ligeiramente de lado e tem um ar, uma pose, uma postura de corpo, que lhe dá um ar quase enigmático. Por um lado, parece que está ali de ouvido à escuta, a ver se entende o que dizem aquelas duas personagens, que o seguram e exibem… Por outro, parece recolher-se em atitude de humildade e quase reverência … Como a de um discípulo perante o mestre. Mas, vá lá saber-se que enigmas se escondem na cabeça de um falcão…

Pois como também não se sabe de que crime fala a capa do “24 Horas” …
Parece que os jornais ingleses lhe estão a fazer uma marcação quase homem a homem, a Cristiano Ronaldo… Ele, nega tudo.
Mas vamos à manchete do 24: “Ronaldo acusado de pagar orgia sexual com duas mulheres”.
Vejamos então… Terá pago a orgia sexual, com duas mulheres? Literalmente!? Ou seja, as referidas mulheres é que foram a moeda de troca, o capital com que a alegada orgia foi paga?... E é esse o delito?! Ou a acusação recai sobre o facto de Ronaldo ter alegadamente pago a referida orgia sexual? Pago mesmo. Em dinheiro, ou em cheque, ou transferência bancária. Euros, libras, dólares, não importa…E é justamente o facto de o ter feito que constitui delito e notícia? Se o não tivesse feito, seria ainda crime, ou não. Ou antes p'lo contrário? E notícia seria? E que notícia?!...”Ronaldo contracta duas prostitutas e manda-as embora sem pagar”? …
E, já agora, o facto do episódio incluir duas mulheres, conferir-lhe-á isso o estatuto de orgia sexual? Ou, pondo a questão de outra forma, a partir de quantos intervenientes é que se pode classificar um encontro como orgíaco?... Ou, se quisermos, de outra forma ainda: se a situação envolver apenas duas pessoas… aí, a classificação de orgia está fora de questão? Em definitivo?


Vem no “Diário de Notícias”: “Polaco encontra mulher no bordel”.
Surpresa! É que, o que ele sabia era o que ela lhe tinha dito e ele tinha acreditado - que ela tinha arranjado emprego numa loja nos arredores da cidade… Uma ajuda, para equilibrar o orçamento familiar…
A verdade, no entanto, é que – loja, coisa nenhuma! - era num bordel de Varsóvia que a mulher trabalhava. A notícia não explica concretamente a fazer o quê, nem interessa para o caso. O que interessa é que o marido descobriu a verdade e não foi por terceiros. Foi ele próprio, com os próprios olhos, incrédulos e chocados! Durante uma visita a esse mesmo bordel…
Diz que ficou p'ra morrer, ao vê-la ali. Achou que estava a sonhar, ou pior, a ter um pesadelo!
Em 14 anos de casamento, diz o jornal, que esta mentira foi como a gota de água e já correm os papéis para o divórcio.
Enfim, a noticia é breve e não explica muito mais … Fica por explicar, por exemplo, quem terá tido a surpresa maior.