sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

deixai vir a mim, as criancinhas! e os escuteiros, também. vá lá...

Arranca oficialmente este mês – diz o “Correio da Manhã” – o programa “Media Smart”.
O “Media Smart” propõe-se explicar, aos alunos do 1º e 2º ciclos, as técnicas usadas na publicidade.
A ideia junta a “Associação Portuguesa de Anunciantes” e o “Ministério da Educação”. Tem na mira as crianças entre os 6 e os 11 anos. Já a 20 de Fevereiro, nas escolas que aderirem ao projecto, assistir-se-á à primeira aula, onde será explicada a arte da publicidade. A arte e as manhas… Antes disso, a 13 de Fevereiro, no Porto, no Colégio Luso Internacional apresentam-se os estudos que já foram feitos por professores em testes piloto.
O programa divide-se em 3 módulos: Introdução à Publicidade, Publicidade dirigida às crianças e Publicidade não comercial…

E aqui a história chega a uma interessante bifurcação… Chega, só porque me dá jeito, convenhamos… E dá jeito para seguir por esta outra notícia, que tem a ver com curricula escolares… nos Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, as crianças da escola vão ter aulas de manuseamento de armas de fogo.
O estado da Virgínia Ocidental está a apreciar o projecto de lei, que se propõe treinar os alunos das escolas estaduais.
A noticia em si poderia soar preocupante. Tanto pelo facto de imaginar crianças da escola a treinar com armas de fogo, como se o país estivesse em guerra civil, ou à beira de uma invasão de marcianos, como pelo facto de isso poder indiciar a necessidade das crianças aprenderem de facto a manusear essas armas. Como quem diz, que o mundo se tornou um lugar tão selvagem, que há que andar preparado, desde os bancos da escola, desde o berço. Numa mão a chucha, na outra a bazuca!
Mas não. A notícia conclui e esclarece que, a medida tem a ver com outra guerra. Diz o “Jornal de Notícias”, que a medida visa travar a queda da emissão de licenças de caça, uma das mais importantes fontes de receita da Virgínia Ocidental!
Ficamos todos mais descansados. Afinal o mundo não é assim um lugar tão perigoso para se viver. Na Virgínia Ocidental, pelo menos não é esse o susto. O problema na Virgínia é a falta de consumidores… É a Economia, estúpido!

Agora voltemos atrás para seguir pela outra história/estrada de ainda há pouco…

E é que nem por estúpidos, nem por parvos!
Os escuteiros portugueses estão indignados e ameaçam levar o caso a tribunal.
Vem em todos os jornais… O “Corpo Nacional de Escutas” está indignado com a campanha de uma certa cadeia de armazéns, por alegadamente se sentir insultado. Querem que a empresa retire o anúncio, onde aparece um grupo de cidadãos de uma terra imaginária, a Parvónia, que desce à cidade para visitar o tal armazém. São os parvos, os habitantes da Parvónia. Desta excursão fazem parte, o suposto presidente da Parvónia, um militar, supostamente de alta patente e fardado, uma jovem vestida de “Miss”, vencedora de um qualquer concurso de beleza e… um escuteiro! Na campanha, parece que o escuteiro é retratado como o mais parvo dos quatro. É pelo menos essa a leitura que faz o "Corpo Nacional de Escutas", que quer levar a empresa a tribunal, por sentir que estamos perante um insulto aos perto de 80 mil escuteiros que existem em Portugal. A empresa diz que é uma brincadeira e que em todos os países, onde a campanha passa, a ideia é a mesma e ainda não causou polémica. E que não há, nem nunca houve a intenção de ofender directamente ninguém; nenhuma corporação, entidade, ou classe social, o que seja...
Mas,seja como for, na Internet, já corre uma petição, para que a campanha seja retirada das televisões, outdoors... Um dirigente escuteiro disse ao “Diário de Noticias” que não havia necessidade de usar a figura de um escuteiro fardado. Podia ter-se escolhido um jovem qualquer, que fizesse a mesma cara de parvo para a câmara, sem precisar de estar fardado e muito menos de escuteiro.
Espera-se agora a indignação das concorrentes a “Miss”, dos generais e militares em geral e todos os presidentes em exercício, ou candidatos a qualquer carreira politica. Já que são estas, as 3 restantes personagens retratadas na campanha!...
Claro que, depois do curso de que vos falava no início, se não nos tornarmos mais preparados para responder às armadilhas da publicidade, esperemos que se nos desperte algum sentido de humor, ou pelo menos que se aprenda a “desimportantizar” certas – alegadas – ofensas e atentados ao bom nome, ou a qualquer outra coisa que nos faça falta.

duas à margem:

primeiro, a chapelada a Alexandre O?Neill, p'lo neologismo e p'lo conceito. è mesmo preciso "desimportantizar" muita merda nas nossas vidas...

segundo ( e não resisto a) contar uma anedota/adivinha...

Sabem o que é um grupo de escuteiros? Como se define, reconhece?

é um grupo de putos, vestidos com uma farpela ridícula, comandados por um gajo ridículo, vestido com uma farpela de puto.

contaram-ma há muito tempo e já na altura lhe achei graça...


quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

oh Wagner, pá! Vai tocar minuetes p'rà tua rua!

Assim mesmo, presto con fuoco! António Wagner Diniz, director da Escola de Música do Conservatório Nacional, diz que o que interessa à ministra da Educação é ter um milhão e setecentos mil jovens a cantar "Eu vi um Sapo", em vez de dezassete mil com formação de qualidade.
Ora tudo isto vem a propósito da recente decisão do Governo de "democratizar" – e as aspas vêm no texto do “24 Horas” – "democratizar", portanto, o ensino da música, tirando-a do Conservatório e levando-a para as escolas do ensino básico.
Ora bom, ponto primeiro: parte-se do princípio de que, futuramente, serão cantigas como a do sapo, que vão constar do reportório das aulas de iniciação musical nas escolas primárias. Essa e outras como essa. Excluindo a hipótese de que algum professor tente chamar a música por outras portas e travessas…
Adiante.
Depois, continua a notícia…adagio maestoso, que o Estado deixará de apoiar o ensino vocacionado e a formação individual, acabando com o ensino supletivo, que o mesmo é dizer, acabando com a possibilidade do aluno, que esteja a estudar numa escola regular, poder ter "apenas" aulas de música no Conservatório.
Ponto segundo: este “apenas”! Ter aulas “apenas” no Conservatório… Ter, seja o que for, apenas num sítio, à primeira, parece uma situação um pouco apertada nas mangas, mas enfim, também é a primeira vez que vejo aspas em democracia, como quem isola qualquer coisa da peste, ou do pouco próprio! …
Presto agitato, Wagner Diniz continua que, se a proposta do governo for avante, quem quiser ter aulas de qualidade terá de ir para o privado, vendo a despesa subir consideravelmente.
Ponto terceiro… muito breve este: elogio em causa própria é coisa que também deixa algumas dúvidas. Que é o que está a fazer o director da escola de música do conservatório. “Quem quiser ensino de qualidade”… pressupõe-se que não é na escola primária que o vai ter. Ou no Conservatório, ou numa outra qualquer escola especializada.
Diz a notícia que pais e alunos – da escola de música do conservatório, entenda-se - estão contra esta medida anunciada pelo Governo.
Ponto quarto: adagio affettuoso… nada leva a crer que, quem tem os filhos a estudar no Conservatório, seja obrigado a cancelar as matrículas e ir aprender música para a escola primária
lá do bairro…
Mas a questão, continua Wagner Diniz, allegro vivace, é que assim , os dezassete mil alunos que actualmente frequentam os seis conservatórios que existem em Portugal, podem passar drasticamente para os mil e quinhentos! Isso pode eventualmente acontecer mas aqui, as notas em causa, têm obviamente a ver com outra música…
Mas voltemos ao sapo de que se falava ao princípio e citemos o professor Wagner Diniz: ”A ministra prefere ter um milhão e setecentos mil jovens no Estádio Nacional, a cantar o "Eu vi um sapo" do que dezassete mil com formação de qualidade”…
Ponto 5, moderato con amore: como é que o professor consegue sentar, ou mesmo em pé, pôr um milhão e setecentos mil jovens no Estádio Nacional!?...
Ponto 6, andante scherzando: com uma orquestração a preceito, quem me garante que este sapo não saltaria do charco, a que a grande música o condena, para – adagio maestoso – conquistar um lugar ao sol da Grande Música Clássica?!... Enfim, um clássico já ele é, à sua maneira, claro.
De resto… moderato cantabile, por mais que se queira e sonhe e se deseje um país de virtuosos, a verdade é que – alegro vivace – se o sapo da cantiga conseguir cativar um milhão e setecentas mil crianças para a Música – que ela é grande sempre, não se aflija Wagner Diniz– soa, assim à primeira, uma ideia interessante. Se os não conseguirmos enfiar todos juntos no Estádio Nacional, paciência. É pena, mas paciência. E é pena, porque haveria de ser coisa majestosa. Wagneriana, quase.

p.s.

devo confessar, já que estamos aqui só nós e estamos entre amigos, que me deu um prazer muito particular, ler esta crónica, esta manhã, na Antena 2, da RDP...


quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

pola lei e pola grei e viva o rei .

A Câmara Municipal de Lisboa vai criar uma comissão de "boas práticas", para prevenir a corrupção.
É assim que abre a notícia do “Público” desta manhã. Depois continua que, as relações dos técnicos municipais com gabinetes de projectos e promotores são uma situação preocupante.
A Câmara vai hoje discutir a criação da tal “Comissão de Boas Práticas”… A ideia partiu de António Costa, o presidente. A Comissão será composta por 3 personalidades designadas pela Assembleia Municipal e por uma maioria de 2 terços. O mandato há-de demarcar-se do mandato dos restantes órgãos autárquicos, de forma a garantir a isenção e independência. Tal como acontece com outras autoridades reguladoras…
Um mandato que há-de monitorizar as áreas mais expostas ao risco de corrupção, diz o “Público”, o jornal. E as áreas mais expostas são as do urbanismo e a da contratação pública. Casos recentes revelaram ligações pouco recomendáveis entre funcionários da Câmara de Lisboa e entidades e empresas promotoras de projectos sujeitos a aprovação camarária, ou a concurso público. Mais de 30 funcionários foram identificados como tendo, ou tendo tido já ligações profissionais com o sector imobiliário e da construção civil, o que os torna parte interessada. É então preocupante, diz a magistrada do Ministério Público, cuja sindicância aos Serviços de Urbanismo da Câmara de Lisboa, desencadeou o processo que levou à criação desta tal Comissão de Boas Práticas.
Podia ser uma boa notícia, se não fosse ela revelar uma coisa que é tudo menos uma boa notícia.
A saber… Que é preciso criar uma comissão especial e dar-lhe um nome , assim, gentil e cordato, das “boas práticas”, para que se faça o que deve ser feito. Naturalmente e sem alarido.
Diz a notícia, que a Comissão vai criar também – elaborar é o termo – códigos de conduta e códigos de boas práticas e acompanhar a sua aplicação… Códigos de conduta e boas práticas haveria de ser coisa para fazer parte da dieta de qualquer pessoa, juntamente com o leite materno, com o aprender a andar e a desenhar as primeiras letras. Haveria…
Lê-se também – e já o referimos – que há áreas mais expostas ao risco de corrupção. Ou como se dissesse, que há estradas perigosas e que o IP5 é um itinerário assassino, esquecendo que por lá passam centenas de automobilistas e nem todos se despistam, ou provocam acidentes…
Uma “Comissão de Boas Práticas” provoca assim uma alegria e uma surpresa, semelhantes à que nos invade quando entramos, por exemplo, num café, ou restaurante e os empregados são atenciosos, o serviço funciona, a comida recomenda-se e a conta vem sem enganos que prejudiquem o cliente.

Dizia ser João César Monteiro, que tinha desistido de viver numa sociedade sem classes e se ia conformando a viver numa sociedade sem classe! Enfim, é uma forma de ver a coisa.

Vamos ao “DN” – “Diário de Notícias”, mas antes vamos ao ponto prévio.
Ouvi dizer, não garanto, ouvi dizer, que, na publicidade… pelo menos na televisão, a publicidade a coisas que tenham a ver com saúde – desde pastas dos dentes a outras drogas avulsas – só mesmo profissionais do sector é que estão autorizados a dar a cara e a aparecer nos anúncios. Disseram-me que era em nome da fiabilidade da propaganda. Da seriedade da campanha, da dignidade da própria profissão… É por isso que, um médico que apareça na televisão a dar a cara por uma marca ou produto, tem mesmo de ser médico. Não pode ser um actor contratado para o efeito. Enfim, a verdade desta afirmação está para ser comprovada, mas, para o efeito, dispensemos essa confirmação…
Porque, aqui, do que se trata é da tropa. Melhor, das Forças Armadas… Em geral.
E diz o “Diário de Notícias” que a banda do Exército admite cancelar a participação nas cerimónias de homenagem a D. Carlos, a 1 de Fevereiro, quando passarem 100 anos sobre o dia do regicídio.
Parece que a cerimónia em questão é uma iniciativa particular. Não oficial, portanto. E esse é o motivo que levou, ontem, os deputados de todos os partidos, sem excepção, a manifestarem-se contra a presença da banda do Exército, nas tais celebrações.
O assunto foi mesmo falado na Comissão Parlamentar de Defesa, que terá mandatado o respectivo presidente para transmitir esta preocupação ao ministério da tutela. O da Defesa.
Em defesa, portanto, da transparência e do respeito pelas instituições e de todas as éticas, que possam ser invocadas num caso destes…

Saltemos então para a página 5 deste mesmo “Diário de Notícias”.
A meio da página, abre-se a caixinha do anúncio a um modelo de um automóvel que, pelo preço anunciado – diz a legenda – é difícil imaginar. Na fotografia, espreita a um canto a dianteira de um automóvel, que até pode ser o modelo em questão. No passeio, uma placa de estacionamento proibido, ao pé da qual, um polícia de trânsito faz que multa um carro que não está lá. Talvez seja esse o gancho do trocadilho. É difícil imaginar um polícia a multar um carro que não existe! É no mínimo idiota; mas isso ainda é o menos… os publicitários tratarem o público como idiota, já vai sendo costume. O problema é quando o público responde como tal, mas isso, são outras loas, que para o caso não interessam… Adiante. Pode ser que o polícia não o seja de facto. Contrariando a tese, não confirmada e de que vos falava ao principio…. só profissionais de saúde podem fazer anúncios a produtos ou marcas que tenham a ver com saúde… pode ser que o polícia não seja policia. Como também pode ser que o seja…
Em qualquer dos casos, é essa a leitura que se faz e se pretende: um policia, um agente de trânsito, fardado de colete reflector e chapéu de pala e botas de montar ( é verdade que não se vê nenhum distintivo que o identifique como policia a sério, mas, para o que conta e importa… é um policia que aparece num anúncio a um automóvel, na página 5 do “DN” e certamente noutros jornais também…)
Bom, mas se aqui, no caso do anúncio, se pode pôr a hipótese de não ser mesmo um polícia a sério… no caso recente, de uma certa parada espectacular que desceu a avenida da Liberdade, o caso é diferente.
A parada em causa juntou os artistas todos da estação – um canal privado de televisão, se ainda não tinha dito… Artistas de variedades, apresentadores variados, e convidados ilustres, desde tigres em jaulas a vistosas caravanas representando os patrocinadores habituais do tal canal.
E no meio do desfile, quem desce a avenida, garbosa e tonitruante?... A charanga da Guarda! A fanfarra da Guarda Nacional Republicana a cavalo! …

Ora bem, que terá esta televisão privada, que o rei D. Carlos não tem? Tirando os patrocínios…
Ou, pondo a questão de outra forma… Andamos, portanto, a brincar com a tropa!?...