quarta-feira, 30 de abril de 2008

Última hora e a ver se é desta!
Vem no Correio da Manhã e diz assim: Amanhã… – porque remete para a edição de amanhã - “Amanhã: o que se passou na noite em que a menina desapareceu.”
Ora a menina em causa é a pequena Madeleine McCann, desaparecida do Algarve, está agora a fazer um ano. E se o jornal cumprir o que promete, vamos então finalmente ficar a saber o que se passou com a pequena Maddie McCann. Nós, os pais da criança, as polícias que investigam o caso e o mundo inteiro que o tem seguido à distância pela comunicação social… Já não era sem tempo.

Ora, outras guerras…
Na ilha de Lesbos, na Grécia, 3 habitantes – o Diário de Notícias diz que são mesmo só 3, os habitantes que se indignaram e avançaram com a queixa para o tribunal. Eles querem o exclusivo do uso do termo "lésbica” e “lésbico”. Um dos protestantes é membro de um grupo nacionalista pagão da ilha de Lesbos e quer que a Justiça proíba, por exemplo, a União Grega dos Homossexuais e Lésbicas de usar o nome para identificarem as respectivas vocações sexuais.
Claro que sim, que a lenda diz que foi em Lesbos que viveu Sapho, a poetisa inspiradora de alguma corrente de pensamento – no caso o da homossexualidade feminina… mas daí até terem usurpado a designação… Os cidadãos de Lesbos redigiram a reclamação num texto a que chamaram: “A infelicidade de ser lésbico/ lésbica”. Dizem que são vítimas de uma violação psíquica e moral. Acusam os homossexuais de lhes terem roubado um nome que indica uma referência geográfica e que, por causa deles, se vêem envolvidos, eles, os verdadeiros lésbicos e lésbicas, numa enorme confusão e promiscuidade semântica.
O caso é mesmo sério e já tem audiência marcada para Julho, no tribunal de Atenas. Quanto aos homossexuais gregos, da referida organização, esses já disseram que acham ridícula a acusação, mas que, se forem chamados a depor, que lá irão alegremente e sem problemas, dizer de sua justiça.
A ilha de Lesbos fica no nordeste do mar Egeu. A estância de Eressos, estância balnear, é de facto muito procurada por lésbicas de todo o mundo – diz a notícia. Lésbicas … enfim, sexualmente falando, claro, que as outras já o são por nascimento e registo civil… Acontece entretanto que a cidade capital da ilha se chama Lesboa, diz ainda o DN. Ora então acabe-se com a contenda! Os habitantes de Lesboa, porque não se passam eles a chamar Lesboetas, que acabava-se de uma vez com a… enfim, com a zanga, vá.


E agora o Irão. O procurador-geral do Irão está indignado, preocupado e decidido a fazer frente à invasão do país por essa insidiosa tropa de elite de Barbies, Batmen e Homens-Aranha…
Diz que é um verdadeiro assalto! O Harry Potter, o Super-Homem…no fundo a importação incontrolada desses brinquedos ícones de uma certa cultura ocidental está a minar os alicerces da cultura islâmica. Tem efeitos culturais e sociais nefastos – disse o procurador. Ainda mais, que a maioria é importação de contrabando. O protesto já seguiu em forma de carta para a presidência da república. O procurador exige medidas de urgência para travar a invasão, para proteger a cultura islâmica e os valores da revolução.
E é que não são só as Barbies e os Harry Potters… ele são jogos e vídeos e filmes e banda desenhada… é toda a cultura – ou pelo menos uma certa cultura ocidental – que vai ganhando terreno no Irão e isso, para o procurador é um preocupante sinal de alarme.
Já se tentou quase tudo. Proibir a venda. Rusgas nas lojas. Os comerciantes disfarçavam a mercadoria. Contra-atacar com versões nacionais da Barbie americana. Sara e Dara, as Barbies árabes foram um fracasso comercial, apesar da semelhança com as primas do ocidente. E com isto tudo, até agora só se conseguiu mesmo expulsar a diabólica boneca, virtualmente, digamos. Ou seja, o site da Barbie foi barrado aos internautas iranianos. Foi só até onde se conseguiu chegar.
Mais que boicotes económicos, diplomáticos, ou o que seja… Mais que ameaças militares, ou de sanções internacionais… Teerão ter-se-á apercebido da real e mais sinistra ameaça que paira sobre o país e a civilização islâmica. Um pelotão de Barbies … uma legião de Homens-Aranha… uma frota de Super-Homens de collants e toalha ao pescoço… um esquadrão de miúdos amarelentos e franzinos, de óculos, montados numa vassoura sobrevoando os lares e invadindo os quartos das crianças…
Já se imaginou exército mais fraldiqueiro e destruidor? Não há! Sem ironia, mesmo. Não há.

E já de saída, abro a Visão … “A PT promete a televisão mais barata do mercado em Abril de 2009”… e não nos demoramos muito. Só para dizer que a questão não é essa! Enfim, ser a mais barata do mercado até pode ser uma boa notícia, acontece que há coisas que não se medem aos palmos, nem se pesam aos quilos, nem se avaliam ao tostão. O que quero dizer é que, se a qualidade não acompanhar o esforço, até de borla ela seria demasiado cara, a televisão… digital, analógica, a pilhas, ou a carvão de coque.

terça-feira, 29 de abril de 2008




Conta-me como foi. É o nome de uma série que a RTP passa por estes domingos, já ao fim da noite e que retrata o Portugal dos anos 60. Miguel Guilherme é o actor que representa o papel do pai da família protagonista da série. Até aqui tudo bem e reticências. Reticências porque a história começa aqui. No momento em que o jornal 24 Horas se cruza com Miguel Guilherme no Bairro Alto. Miguel Guilherme ele próprio, o actor, neste caso o cidadão. Diz assim a breve do 24, na página dedicada aos famosos: Miguel Guilherme passou pelo Bairro Alto este fim-de-semana. Continua a breve dizendo que foi visto a subir a rua do elevador da Bica. E diz ainda que ia sozinho. Mas de copo na mão. A notícia é clara nesse particular, Miguel Guilherme levava um copo na mão, na madrugada de sábado, quando o 24 Horas o viu a subir o elevador da Bica. Remata a notícia que Miguel Guilherme, apesar de estar sozinho, o actor se terá cruzado com alguns colegas de profissão com quem ficou à conversa.
E pronto. É só isto. A notícia não diz mais nada. O que é francamente preocupante e quase grave. Então Miguel Guilherme foi visto a subir a rua do elevador da Bica sozinho!? Na fotografia, que ilustra a breve, o actor aparece de casaco beije e camisa rosa desabotoada e sem gravata. A expressão é de facto de quem foi visto a subir o elevador da Bica sozinho. A verdade é que também podia retratar a cara de quem tivesse subido o elevador do Lavra, ou o da Glória. Podia mesmo ter até acabado de descer pelo de Santa Justa, que a cara não o haveria de desmentir, se fosse esse o caso. Mas não. Foi o da Bica, que aí vale o texto da breve para nos esclarecer. Por esclarecer fica entretanto a questão do copo que o actor alegadamente levava na mão. Cheio? Vazio? Meio cheio, ou meio vazio que, como se sabe, é uma velha questão filosófica que já fez secar muitas gargantas, sem grande consequência, para além de avaliar o estado de espírito de cada um?... Sabe-se que há quem prefira a primeira versão, quem prefira a segunda, conforme o optimismo da hora e da personagem em questão. Por isso adiante. E na hipótese do copo estar cheio?... Cheio de quê? E terá Miguel Guilherme conseguido vencer a subida com o copo cheio na mão e sem verter uma gota?
E o “apesar”, que abre o último período da prosa?... "Apesar de estar sozinho, o actor cruzou-se com alguns colegas de profissão, com quem ficou à conversa.” E se fosse acompanhado, excluía-se a hipótese de Miguel Guilherme encontrar mais alguém conhecido na rua, nessa madrugada e ficar à conversa? Claro que se fosse já acompanhado, enquanto subia a Bica, Miguel Guilherme talvez se demorasse um pouco menos na conversa com quem quer que fosse que encontrasse no caminho. E claro está – e ainda mais por maioria de razões – se a companhia fosse uma namorada – vamos supor – é também muito provável que o actor fizesse, o que se chama, vista grossa, aos transeuntes, que em matéria de amores e namoricos, mais que dois é já um engarrafamento…
Mas não. O jornal diz que o actor ia sozinho e que apesar disso encontrou uns amigos e ficou à conversa. É estranho. Quase insólito, mas foi o que aconteceu. A garantia é dada pelo jornal e nós só temos de acreditar, por mais bizarro que pareça.
Talvez a urgência do fecho de edição tenha impedido o intrépido repórter do 24 Horas de seguir o curso dos acontecimentos e respectivo desfecho.
Ficamos sem saber coisas fundamentais como: que levava Miguel Guilherme no misterioso copo? E o copo, ele próprio, era daqueles de plástico ordinário, ou cristal de Alcobaça?
E a tal conversa? Falaram de quê? E cumprimentaram-se como? E quantos amigos eram? Amigos recentes, ou de longa data? E cumprimentaram-se como? Um abraço efusivo e ruidoso? Um curto aceno de cabeça? Um aperto seco de mãos? E quem, cumprimentou primeiro quem? E com que mão o fez?
Enfim, são esta e outras angustiantes perguntas que nos ficam sem resposta. A menos que se consiga chegar à fala com o próprio. Com o actor Miguel Guilherme e pedir-lhe humildemente: Conta-me como foi…

segunda-feira, 28 de abril de 2008

As boas práticas lembram-me sempre, por qualquer estranho fenómeno inexplicável, a “Ensinança de bem cavalgar em toda a sela” de d. Duarte, o rei filósofo.
Mas neste caso, as boas práticas de que se fala são as de requerer. De requerer e perguntar, que não são propriamente a mesma coisa. Na Assembleia da República Portuguesa a diferença é mesmo decisiva.
Diz o jornal, no caso o Diário de Notícias, que S. Bento vai dispor de um "guia de boas práticas" para a realização de requerimentos e perguntas, por parte dos deputados. A medida foi já aprovada pelas bancadas socialista, social-democrata e do CDS-PP.
Durante uma conferência de líderes, os parlamentares terão concluído que as perguntas são instrumentos de fiscalização e actos de controlo político e que só podem ser feitas ao Governo e à Administração Pública, não podendo, por isso, ser dirigidas à administração regional e local. Já os requerimentos destinam-se a obter informações, elementos e publicações oficiais que sejam úteis para o exercício do mandato de deputado e podem ser dirigidas a qualquer entidade pública.
E pronto.
E pronto não! Falta dizer que o prazo para resposta às perguntas e requerimentos é de 30 dias, salvo na presente legislatura, em que o prazo se dilata para os 60 dias, por se estar ainda, segundo dizem, numa fase de adaptação ao novo regimento.
A verdade também é que já não têm muito tempo para se adaptarem às boas práticas. O actual executivo já leva 3 anos de governação e mais um bocadito e vai ter de ir novamente a eleições… e com ele, S. Bento e respectivos deputados.
Mas não é para já. Para já, PCP e Bloco de Esquerda manifestam algumas reservas em relação ao proposto. No caso, discordam mesmo que não se possa interpelar directamente entidades públicas independentes do Poder Central, sendo que essa mesma interpelação já pode ser feita se, em vez de tomar a forma de pergunta, se apresentar como requerimento.
Digamos que é só, ou quase, questão de rebaptizar a própria questão. Dar-lhe outra embalagem, colar-lhe outra etiqueta.
Agora a utilidade desta informação, para o público em geral… para além de ficarmos a saber que ele há uma diferença substancial e determinante entre uma pergunta e um requerimento e que essa diferença, pelo menos ao mais alto nível, é coisa de radical importância… essa fica por esclarecer -a utilidade da informação.
Pode-se sempre perguntar directamente aos protagonistas da história. Sendo o Parlamento um órgão do poder central, dispensa-se o requerimento.
Agora aos meus amigos é que, mesmo sem requerimento, deixem que pergunte se esta coisa das Boas Práticas, de que agora subitamente tanto se fala, não vos começa já a parecer um pouco uma espécie de Aloé Vera da Administração Pública?...

E Otelo!?...
Otelo Saraiva de Carvalho. Em entrevista de página inteira ao El País, Otelo apresenta-se como o guionista, protagonista e realizador do 25 de Abril, em Portugal. O 25 de Abril de 74, obviamente!
Lá mais pelo meio lê-se que a participação de Otelo nos acontecimentos – e citemos – “teve mais a ver com vocação de actor e realizador do que com a mente de estratego.”
Que Otelo Saraiva de Carvalho queria mesmo era ter sido actor! Foi para militar por influência e conselho do avô. Disso, já tínhamos ouvido falar, agora este protagonismo quase exclusivo de Otelo na Revolução é que é de facto surpreendente. Voltemos rapidamente às aspas: "Fui o autor do guião, da decoração, o protagonista, o director e não precisei de anotador… " terá dito Otelo.
E nós a pensar que o 25 de Abril e o Movimento dos Capitães tinham alguma coisa a ver um com o outro e se calhar nem tem assim tanto. Foi Otelo, ele próprio, homem dos sete ofícios e instrumentos… Otelo, um verdadeiro mouro de trabalho, nessa fria e leda madrugada.