sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Abriu hoje no Porto mais um Centro Comercial.
Desde quando isto é notícia?... Não há muito tempo, mas é.
Diz que vai ter mais de 70 lojas e um Health Club: o sucedâneo actual dos velhos ginásios…
Abre em grande! Já ontem muita gente se juntava, do outro lado da porta, do lado de fora, a ver o que havia para ver, ou seja, quase nada. Quase nada, para além das costas de um segurança que montava guarda à porta. E depois o resto lá para dentro, os corredores, as montras das lojas ainda fechadas….Só isso.
Abre em grande e apresenta-se como ponto de encontro entre clientes e comerciantes, o que, para um centro comercial, convenhamos que é surpreendente e quase revolucionário!
Diz também que quer ser a ágora dos tempos modernos, a lembrar a Grécia Antiga… A verdade é que ontem – diz o Jornal de Notícias – já alguns reencontros se deram, à porta do novo Centro Comercial. Gente que não se via há muito tempo e que se encontrou, por causa da curiosidade que os levou até ali… E hoje, “se deus quiser e a patroa vier, cá estaremos” – disse mesmo um dos entrevistados ontem ao JN.
Lá estarão para ver as montras, para ver, quem sabe, velhos amigos desaparecidos, familiares esquecidos… ou só para passear de um lado para o outro, como barata tonta perdida no seu próprio labirinto…
O Centro, para além do tal ginásio com nome fino, tem ainda um supermercado – dos mais baratos, a julgar pelo nome - e outra loja, que também pelo nome poderá eventualmente ter a haver com produtos de informática, ou multimédia – chama-se Media Market… pode ser. Seja como for, são as âncoras do projecto: o ginásio com nome estrangeiro, o supermercado de preços económicos e esta terceira loja. Aqui a comparação com a ágora grega começa a derrapar mais para o lado do mercado persa, mas adiante…

A questão é que – e aqui as alterações climáticas não devem ter grande culpa – os tempos mudam e é cada vez mais normal, aos fins de semana, por exemplo, vermos cenários de autênticas cidades fantasma… Ninguém nas ruas, nem nos parques, jardins, esplanadas, praças… mas se procurarmos no Shoping local… ah bom!

Os tempos mudam, sem que se dê conta e de repente, quando se vai a ver… já está!

Por exemplo, Carolina Salgado…
“Corrupção”, o filme que João Botelho muito oportunamente construiu a partir do livro da ex- namorada de Pinto da Costa, vai, ao que consta, de vento em popa. Mal acabou de estrear e numa semana já foi visto por mais de 100 mil pessoas!
É curioso que o jornal Correio da Manhã já fala no filme como sendo de Alexandre Valente, o produtor, já que Botelho retirou a assinatura – a zanga foi pública e quase mais popular, à altura, que o próprio filme. Não que ele não tivesse mérito próprio, pelo menos o de ser de toda a actualidade e trazer um certo perfume de escândalo e alguma perversão, que resulta sempre, numa terra onde as poucas diversões que sobram são… visitar centros comerciais ao domingo!
Mas adiante. Dizia que os tempos mudam e quando se vai a ver já está.
Por exemplo, Carolina Salgado...
Diz o Correio da Manhã que a jovem anda em tournée nacional, a ajudar na promoção da fita. Diz o Correio da Manhã que – e atenção que vamos sublinhar esta parte – diz que a escritora passará amanhã por vários centros comerciais no norte do país. Depois vai descendo Portugal abaixo até aos algarves...
É extraordinária a rapidez com que certas coisas acontecem!
Saberá Carolina Salgado, que afinal é escritora?!
É que foi tudo tão rápido!...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

É o resultado de um inquérito do “Daily Telegraph” e o “24 horas” de hoje faz-lhe o resumo. Pergunta a tituleira: “Haverá 10 leis mais estúpidas que estas? “
A ver…
Comecemos por uma, que nem será das mais surpreendentes. Em Inglaterra, é considerado acto de traição colar um selo com a face da rainha de pernas para o ar…
Depois, em York, é permitido matar um escocês, desde que ele se encontre junto às antigas muralhas da cidade… de arco e flechas!
Na Escócia, se alguém nos bater á porta a pedir para usar a casa de banho, não podemos recusar-lhe a entrada.
E quanto a estas necessidades básicas… diz a lei que, se a questão envolver uma mulher grávida, ela tem liberdade completa para resolver a questão onde e como quiser, Diz a lei, que até um capacete de um policia pode servir.
Mas há mais, no ranking do desvario…
Em Liverpool é proibido uma mulher estar em topless…. A menos que trabalhe numa loja de peixinhos tropicais.
E peixes tropicais não tanto, mas se uma baleia vier a morrer nas praias da velha Albion, manda a lei que a cauda do animal seja oferecida á rainha e a cabeça ao rei .

Agora a eleita.
A
lei mais absurda, ao que parece ainda em vigor na Grã-bretanha, é a que proíbe qualquer cidadão de morrer... no Parlamento!
Isto é a coisa mais estúpida da lei inglesa, para 25% dos inquiridos pelo Daily Telegraph.
Acham os ingleses que é mais estúpido que essa outra que os proíbe de entrar na Câmara dos deputados vestindo uma armadura de ferro.

E depois há ainda a lei que ultrapassa todas pela direita e, apesar de recolher apenas 3% dos votos, é matéria de estudo, que abre caminho a interessantes hipóteses…
Diz assim – e cito como vem no “24 horas”- em Inglaterra, é ilegal omitir às autoridades fiscais algo que não se queira que se saiba, mas é legal não prestar informações sobre aquilo que o cidadão não se importe de divulgar.
Ou seja, a ver se nos entendemos…
O cidadão que foge aos impostos, que faz um desfalque numa qualquer empresa, pública, ou privada, que defrauda, de qualquer forma, os cofres do Estado e o erário público… é de prever que não queira muito que se saiba! Pois, mas não pode ser. Pela lei, é obrigado a confessar todos os crimes.
A menos…
A menos que confesse que o quer fazer, o que lhe permite o direito de não o fazer.
Portanto e para não vos roubar mais tempo, em Inglaterra, basta um ladrão reconhecer que está disposto a confessar um crime, para ganhar o direito a não o fazer, ou negar todas as acusações, ou ocultar provas, recusar-se a depoimentos comprometedores…
É muito mais que uma simples charada. Muito mais que um sketch humorístico na linha do nonsense típico britânico. É toda uma filosofia. Um tratado de ética. Pressupor que o criminoso reconhece a falta e está disposto a admiti-la publicamente, assumindo todas as responsabilidades. Não porque é forçado a fazê-lo, mas porque se sente obrigado a fazê-lo. Por imperativo próprio. Uma questão de consciência moral e cívica.
Talvez o legislador inglês estivesse cheio de boas intenções, ao pensar numa lei destas. Talvez fosse só uma sugestão, uma esperança vaga de que as coisas se encaminhassem nesse sentido…
Se era essa a ideia, falhou. Falhou porque as coisas não foi por aí que se encaminharam e hoje, ao ler uma lei destas, a única coisa que acontece é a gente sorrir, ou espantar-se. Como se de repente, d. Afonso Henriques entrasse por S. Bento, de armadura e toledana, a interpelar o governo da república!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Começam hoje em Lisboa os dias europeus do desenvolvimento.
As “Jornadas Europeias do Desenvolvimento”, que juntam, para além de instituições europeias, várias organizações da ONU e outras, não governamentais…
Vai-se avaliar a estratégia de cooperação que nos resgate das alterações climáticas que se anunciam.
Uma cooperação a pensar, neste caso muito concreto, nos países mais pobres de África, onde essas alterações se vão sentir com mais gravidade.
Tudo indica que é nessa zona do planeta que os efeitos serão mais devastadores. Onde se depende essencialmente dos recursos naturais para sobreviver, onde não há uma política de Estado Social, onde se morre de doença por falta de salubridade … As alterações climáticas: secas, inundações e outros fenómenos meteorológicos extremos vão, irremediavelmente e sobremaneira, afectar essas populações…
A ironia de tudo isto – escreve o jornalista do Público – é que, os mais pobres do planeta pouco ou nada contribuíram para o descalabro climático a que se chegou, mas vão ser eles, os que mais hão-de sofrer, quando o dia chegar…

E há-de chegar o dia da assinatura do Tratado de Lisboa!
Só não se sabe se lá se cá…

Tudo por causa do ambiente.
A presidência portuguesa ainda ontem fez finca-pé que o Tratado de Lisboa fosse assinado… em Lisboa, a 13 de Dezembro… ao que parece, poucas horas antes de uma outra reunião em Bruxelas; uma Cimeira que reunirá os mesmos que supostamente hão-de assinar o Tratado. Ora isto implicaria que os 27 signatários haveriam de voar de Lisboa para Bruxelas para a tal cimeira…
Os ambientalistas protestam, que aviões para lá e para cá vão carregar o ar de CO2 sem necessidade nenhuma!
O próprio ministro dinamarquês dos estrangeiros prometeu já que vai levantar a questão, dia 19, na próxima reunião de ministros europeus… Diz que, para além do mais, não faz sentido realizar duas cimeiras em cidades diferentes e no mesmo dia…
A verdade é que, desde o Tratado de Nice, todas as cimeiras são obrigatoriamente realizadas em Bruxelas, desde 2002…
Mas as hipóteses estão em aberto e em discussão: ou a cimeira de Bruxelas se faz em Lisboa e aproveita-se para assinar também o Tratado que, por razões óbvias se fica a chamar Tratado de Lisboa, ou se faz a Cimeira em Bruxelas e assina-se lá o Tratado de Lisboa, que pode ficar na mesma a chamar-se o Tratado de Lisboa., ou antecipa-se a assinatura, em Lisboa, para uma semana antes, de forma a coincidir com a Cimeira euro-africana e aí aproveita-se a boleia da poluição dos aviões fretados para essa cimeira.
Foi Angela Merkl, quem primeiro chamou a atenção para esta sobreposição de datas: as da cimeira de Bruxelas e a da assinatura do Tratado em Lisboa…
Um vai e vem que representa um suplemento de 75 mil quilómetros e a emissão de 250 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera… o equivalente às emissões provocadas pelo aquecimento de uma casa europeia – enfim das mais fresquinhas – durante 25 anos.
250 toneladas de dióxido de carbono que, se o vento estiver de feição, pode bem descer tranquilamente o mapa e estender-se pelos céus de África, quem sabe…
Enfim, o que se sabe, é que – todos de acordo – o Tratado de Lisboa vai chamar-se mesmo Tratado de Lisboa, nem que o assinem debaixo de um coqueiro, no Burkina Fasso!
Isso é certo.
Já foi tratado.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

É uma figura conhecida em Portugal e foi mãe há pouco tempo.
E porque é figura pública foi notícia, a maternidade da jovem mãe.
Notícia surpreendente… diz que pediu para atrasarem a anestesia epidural, porque queria sentir o que sentem as mães pobres, que não têm posses para esses luxos anestésicos. Não prescindiu da injecção, só a fez atrasar um pouco, para ficar com uma ideia.

E aqui saltamos para Moscovo.
É a nova moda entre os novos-ricos russos. Fazerem-se passar por pobres.
Pagam quase 700 euros por uma noite, para se disfarçarem de vagabundos sem abrigo, ou de taxista, ou de prostituta… Sim, que a moda não arrasta só deputados e empresários, mas também as respectivas esposas. Ansiosos por emoções fortes. Já não lhes chega os saltos em queda livre, ou outras aventuras mais extremas e radicais. A emoção máxima é agora passar uma noite ao relento, nas ruas de Moscovo, ou vestir a pele de uma prostituta por uma noite…
! Por uma noite, que depois volta tudo ao normal. Banhinho tomado, um sono reparador em cama decente e limpa e no dia seguinte, os turistas da miséria alheia voltam aos seus empregos, sem sobressaltos e com uma ou duas histórias picarescas para contar.
Mas… estarão eles devidamente identificados? A polícia saberá distingui-los dos verdadeiramente sem abrigo, das prostitutas a sério?... E neste último caso, até onde estarão dispostas a ir, as esposas destes russos de sucesso?...
E como é que se divertem? Uma noite inteira ao relento e mal vestidos?...
E será esse o propósito? Divertirem-se? Ou perceber como vivem certas franjas da sociedade?... Ver para crer e, quem sabe, fazer qualquer coisa para tornar menos miserável a vida dos outros? Ou só para ficar com uma ideia? …
E por 700 euros - que é quanto se paga por uma aventura destas… - por 700 euros, não se poderia fazer qualquer coisa mais interessante com os sem-abrigo, do que macaquear-lhes a desventura e o desamparo?
Olha, por exemplo, os sem–abrigo portugueses precisam de meias!
A “Comunidade Vida e Paz” diz que é do que mais se queixam, quando o frio aperta. E o Natal já aí vem…
Meias! Mas se quiserem… toda a roupa é bem vinda. A recolha de donativos já está em marcha.
Quem quiser colaborar, pode fazê-lo através do site da “Comunidade Vida e Paz”
http://www.cvidaepaz.org/
De certeza, que se faz a festa e lava a alma por bem menos de 700 euros…

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Vai ser hoje entregue, em S. Bento, um abaixo-assinado contra o "museu do Estado Novo", pensado para Santa Comba…
São 16 mil assinaturas. Teme-se que o anunciado museu venha a revelar-se como um santuário do salazarismo. Um local de peregrinação dos saudosos do fascismo português.
A verdade é que pouco se saberá, por enquanto, sobre que tipo de objectos e memórias o museu vai reunir, ou a lógica de organização do material recolhido. Sabe-se, para já, que parte do espólio de Salazar já foi doado por um sobrinho neto …
O protesto reclama contra o que considera a
"divulgação de ideologia fascista."

Ora bem, é sabido que logo a seguir ao 25 de Abril, tudo o que trazia ecos do regime deposto foi rebaptizado em nome da Revolução, em esconjuro da Longa Noite… Nada de mais natural e genuíno. Varrer da memória todas as más recordações. Apear os velhos heróis, que, reconquistada a liberdade, são remetidos ao lugar que lhes cabe na História, de pequenos tiranetes, de cruéis assassinos, de tresloucados visionários. Valeu o sermos o proverbial país de brandos costumes, para que a euforia revolucionária não tivesse chegado a extremos e excessos insanáveis, ou de que agora nos devêssemos arrepender ou envergonhar para o resto dos nossos dias…
Mas isso não quer dizer que não seja, passados estes anos todos, eventualmente interessante arejar e revelar à luz do dia, à luz da História, à luz da nossa capacidade de discernimento… tudo o que houver disponível e que nos ilustre e informe sobre os cantos mais escuros do nosso passado recente.
Na mesma lógica com que se conta a história de Peniche, do Tarrafal, de Auschwitz - faces ocultas da mesma moeda… Uma realidade não teria existido sem a outra, a verdade é essa. E se insistirmos em ver sempre e só uma das faces da realidade, seremos sempre alvo fácil de todos os fascismos, venham eles de onde vierem…

A verdade é que – é antigo o rifão : "pior cego é aquele que não quer ver"!
E, se de fascismos se fala e saudosismos e perigo para a democracia, ofensa à civilização… pois seria mais urgente, talvez, perceber onde mora e o que anda realmente a fazer, uma certa jovial rapaziada, que se auto proclama herdeira, filha órfã de certos nacionalismos serôdios e que – essa sim – sem rebuço nem complexos – publica manifestos, saúda de braço em riste, em locais públicos e alta voz, espanca negros e homossexuais, em nome da pureza da raça e se enfeita com os berloques que sobraram do 3º Reich… Sem grande esforço de pesquisa seria fácil dar com os apartados onde se escondem, seguir-lhes o rasto e confrontá-los com a Justiça, quando e sempre que for caso disso.

Enfim, até poderia ser verdade, que o tal museu do Estado Novo se revelasse fonte inspiradora para uma certa extrema direita com ideias revolucionárias… gente jovem com força ainda para pegar em armas e derrubar governos… mas, em verdade, não creio que seja esse o público maioritário do futuro e eventual museu . Para inspiração têm quanto baste já, em lojas que vendem todo o arsenal de quinquilharia nazi, têm livrarias onde se vendem os livros inspiradores, têm a internet, que até os ensina a fazer bombas em casa, se quiserem… Não me parece que seja num museu, onde eventualmente, a peça que pode despertar mais curiosidade seja o famoso par de botas de António Oliveira… não me cheira que seja aí que as novas falanges vão buscar a flama e inspiração para abriladas fascistas, futuras, ou em sonhos…
Depois, a verdade também é que se formos a ver … Lisboa - e fiquemos só por Lisboa - Lisboa está cheia ainda de placas e pequenos monumentos celebrizando gente que, se formos a ver bem, não deixou grandes saudades ao bom povo português. Nada mesmo!