sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

a aldeia dos macacos

Até talvez que eles já nem se lembrassem, os eleitores do grande Porto, mas o PCP lembra-se bem e está – digamos – pouco satisfeito, com o alegado roubo de um slogan de campanha, usado pela CDU no Porto, nos anos 90.

A acusação recai sobre a candidata socialista, Elisa Ferreira, que já disse que não tinha conhecimento, que o tal slogan já tinha sido usado pela coligação democrática unitária.

A frase, o slogan em questão é este: “Porto para todos”.

O JN publica uma fotografia, de um cartaz da campanha de Elisa Ferreira e lá está: “Porto para todos”. O jornal publica também uma cópia de um folheto da CDU, desses idos anos 90, onde se lê: “O Porto para Todos”. Há aqui uma pequena variante, ou seja, a campanha socialista deixou cair o “Ó”, que definia o Porto, a que a CDU se referia na altura, mas isso não chega para marcar a diferença, segundo a denúncia do PCP. O que conta é o essencial da mensagem. E nesse contexto, um “Ó” a mais, ou a menos não resolve nem redime o alegado plágio. O que conta é que alguém se aproveitou de uma ideia de outro, como se fosse sua. Ou, na mais benevolente das hipóteses, alguém se escusou ao trabalho, de tentar inventar qualquer coisa de seu e pendurou-se, no caso, num slogan alheio, mas de alegado sucesso, para fazer campanha em nome próprio. Em qualquer das hipóteses poder-se-á a gente perguntar como é possível um tal descaramento… Sim é possível. E poderemos nós, algum dia perceber porquê e como estas coisas acontecem? Sim, nós podemos.

O que custa mais a perceber é esta fotografia que vem no Diário de Notícias. Os factos resumem-se num instante.

Uma mulher de Vila Verde, freguesia de Arcozelo, terá asfixiado até à morte uma filha recém nascida e enterrado o corpo nas traseiras da casa, nos fundos do quintal. A mulher aguarda julgamento em liberdade, diz o Diário de Notícias.

Mas, a fotografia… A fotografia, que o Diário de Notícias hoje publica a ilustrar a história, mostra o padrinho de uma das filhas desta mulher, agora acusada de infanticídio.

O homem está acocorado junto à pequena cova, de onde a policia terá resgatado o corpo da criança recém nascida. Uma cova muito pequena e ainda aberta, junto a um muro. O homem, com o braço direito apoiado sobre um joelho, deixa cair o indicador em direcção ao buraco aberto a seus pés. Junto da cova está ainda um pequeno sacho, uma pequena enxada. E aqui começa o disparate. O que está ali a fazer aquela enxada? Que nos interessa saber, se a cova foi aberta com um sacho, ou com as mãos nuas da mulher?!...

Mas há mais. Enfim, a expressão não é de todo evidente, ou seja, o homem não está propriamente a rir à gargalhada, mas é com um sorriso que mais se parece, a expressão deste homem. Padrinho de uma das filhas da mulher de quem se fala. O homem está portanto acocorado junto à cova, onde uma enxada caída tenta explicar que aquele buraco foi aberto por mão humana e não por qualquer animal estranho. E sorri. Sorri como é normal que as pessoas façam, quando pousam para a fotografia. Sorri talvez por simpatia com o jornalista e o fotógrafo do DN. Gente que veio de fora, da grande cidade para o entrevistar e pedir mostre lá onde é que foi… E ele mostrou. Acocorou-se à beira da cova, onde a bebé recém nascida foi enterrada e apontando-lhe o dedo tímido, sorriu. Sorriu como se dissesse: “foi aqui”. Como se dissesse… “foi aqui, que a gente encontrámos então o tal pote cheio de moedas!”

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

um santo incontestável

Vem no Diário de Notícias, que os ateístas portugueses criticam a canonização de Nuno Álvares Pereira, o santo Condestável.

Em sub título, vai-se explicando que a Associação Ateísta Portuguesa aponta o dedo às provas clínicas do milagre, que levou à canonização do beato Nuno Álvares Pereira.

Dizem que estamos perante um aproveitamento do momento de crise e que, o anúncio da canonização, os deixou perplexos. Dizem também que esta contestação pretende combater o manto de obscurantismo, que vigora em Portugal. O presidente da Associação, Carlos Esperança, diz, em tom de alerta, que os portugueses correm o risco de se transformarem num grupo de beatos que assiste serenamente a tudo isto sem questionar a veracidade do milagre… o milagre, já agora, o milagre de que se fala foi ter curado as queimaduras de uma sexagenária, Guilhermina de Jesus, chamava-se a senhora, segundo rezam as crónicas, que afirmam que foram uns salpicos de óleo, que lhe provocaram as queimaduras… num olho… o esquerdo. Aqui, o presidente da Associação quase que se indigna. Diz-se surpreendido, Carlos Esperança, por a classe médica não ter ainda tomado uma posição na defesa da ciência e da medicina. Diz Carlos Esperança que, se os médicos acham mesmo que um guerreiro pode curar o olho da dona Guilhermina, então não fazem falta as unidades de queimados. Depois, já em tom irónico, diz o jornal, Carlos Esperança sublinha que um vulto histórico da dimensão de Nuno Álvares não se engrandece com a cura de uma queimadela ocular, quando há tantos amputados, a quem o crescimento de uma perna facilitaria a vida e, que isso sim, seria mais relevante para o prestígio de Nuno Álvares.

Ora bem, fica a informação e ainda duas pequenas dúvidas. O presidente da Associação Ateísta Portuguesa apela ao espírito crítico dos portugueses, para não acreditarem em afirmações sem provas e não confundirem a superstição com a realidade… isto porque, como também já se disse, os portugueses correm o risco de se transformarem num grupo de beatos, que assiste serenamente a tudo isto sem questionar a veracidade das provas do milagre. E chegamos então à primeira dúvida. Em havendo, as tais provas que a Associação exige e reclama, os ateístas, que a Associação representa, começariam eles também a acreditar em milagres?... A outra dúvida é esta… Nuno Álvares é beato desde 1918… a partir do mês que vem é santo – o santo Condestável. Ora acontece que, a menos que seja outro ( mas não é ), este Nuno Álvares já era santo Condestável pelo menos desde 1959, que foi quando começou a dar nome a uma freguesia do bairro de Campo d’Ourique. A freguesia de Santo Condestável, que nasceu do desmembramento da freguesia de santa Isabel. E também como a santa, o Condestável Nuno Álvares tem direito a uma igreja com o nome dele. A igreja do santo Condestável, em Campo de Ourique. A cúria romana e os ateístas portugueses, parece que foram ultrapassados pela direita nesta matéria.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

pelo menos lá...

Em sub título, vai-se dizendo que o homem tem 25 anos, vive sem abrigo na zona de Cascais e que, ao ser detido, mais uma vez pela polícia, e, ao ser ouvido pelo juiz do tribunal, pediu para ir preso, nem que fosse preventivamente. O juiz fez-lhe a vontade e mandou-o para a prisão de Caxias.

Ora, porque é que este sem abrigo de Cascais, toxicodependente – que isto, um mal nunca vem só, diz a sabedoria popular … – porque pediu ele para ir preso?... Porque já se conhece demasiado bem, para saber que, na rua, a tentação é muita e sente que corre um risco permanente, de reincidir no crime?... Por precaução, antes preso que à mercê de tentações perigosas?...

Não será tanto por aí. Diz o jornal, o 24 Horas, que o homem pediu para ir preso, porque, ao menos na prisão, tinha comida e um tecto para se abrigar do frio.

Diz o jornal, que o detido é suspeito de mais de dez assaltos a prédios e habitações e lojas na região de Cascais. Já em finais do ano passado tinha sido detido por essas mesmas razões, mas foi mandado em liberdade. Na altura, foi apanhado em flagrante, dentro de uma igreja na zona de Sintra. Tinha assaltado a caixa das esmolas e de caminho aproveitado para passar a noite na igreja. Antes disso, já tinha sido detido e preso durante dois anos por roubo.

Diz ainda, a noticia do 24, que o protagonista desta história nasceu e viveu parte da infância num bairro degradado da região de Cascais, que entretanto foi demolido para dar lugar a uma urbanização de luxo. Consta também que, nos últimos meses, terá voltado, de vez em quando, ao sítio onde antes se erguia o velho bairro, para assaltar alguns dos apartamentos, que vieram substituir as barracas – a polícia até ironizou a respeito, dizendo que ele nunca esqueceu as origens... Acontece que, segundo o 24 apurou em relação às origens deste homem, sabe-se que nunca conheceu a família. Viveu a infância e adolescência em orfanatos e centros de reinserção social, até chegar à idade adulta e ser largado à sua sorte.

Mas isto é o que diz o jornal… o que ele disse, ao juiz foi muito mais directo e pragmático, ao pedir que o mandassem para a prisão… “Pelo menos lá tenho comida, uma cama para dormir e não passo frio”.