quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

o pé na poça

Diz hoje, um jornal, que José Sócrates e Alberto João Jardim rejeitam a ideia de declarar o estado de calamidade pública para a Madeira, para não se ter de reembolsar os turistas... Parece que sim, que haverá por aí uma cláusula, que prevê o reembolso, em casos de catástrofes naturais, ou coisa parecida... Seria interessante saber, que turista teria a coragem de exigir o reembolso da estadia, num caso destes...
O que se sabe é que muitos dos turistas, que ainda se encontram por estes dias hospedados na ilha, ou ficam no conforto dos hotéis, acompanhando eventualmente o que se passa lá fora através das televisões, ou saem em expedição fotográfica, visitando os locais da tragédia... porque, como escreve hoje o Público: Férias são férias...
Já quanto à cobertura jornalística em si própria... nas televisões, já se viu que a preocupação principal dos repórteres parece mesmo ser apurar o número exacto de mortos e eventualmente conseguir um directo, na altura em que mais um corpo for resgatado do meio do lixo... ("vulturídeo"... desculpem, mas não sei como esta me aterrou aqui a meio da conversa...  palavrita intrusa!... ) 
Vamos lá então, que do resto, repetem-se as evidências... ou seja, repete-se o discurso, de como as águas saltaram os leitos das ribeiras, de como a serra se precipitou por sobre as casas, encosta abaixo, de como as ruas e pontes e estradas ficaram intransitáveis e cobertas de destroços...  há ainda a sucessão de relatos, mais ou menos emocionados, mais ou menos sofridos, das vítimas sobreviventes...  
E os jornais vão seguindo mais ou menos pelo mesmo caminho... 
O Correio da Manhã, por exemplo... é já o segundo dia consecutivo, em que publica na capa as fotografias tipo passe de algumas das vítimas mortais... hoje, anuncia igualmente que foi já a sepultar uma criança de 5 anos, vítima do aluvião...
O Jornal de Notícias faz a capa com um quase milagre... não de ninguém, que tenha sido resgatado vivo, contra todas as expectativas, mas antes, a da salvação da própria Virgem padroeira da Cidade. A Senhora do Monte, que saiu ilesa das águas, que arrasaram a capela do largo das Babosas...
Mas voltemos ao Correio da Manhã por um instante, só para ganhar balanço, para a frase que aqui me trouxe agora...e tem a ver com legendas, com títulos, com as abordagens possíveis e descobertas, para o efeito, pelos jornalistas mobilizados para cobrir a situação na Madeira... 
Estamos portanto no Correio da Manhã... diz assim o título... "Catástrofe impressiona Cavaco." Cavaco Silva, obviamente, o presidente da República, que ontem visitou a ilha...   e então?... Que acham? Não acham estranho?! Digo eu,.. que o presidente da República se tenha impressionado com a catástrofe...?
Mas há melhor e mais surpreendente ainda. 
É este título do Diário de Notícias e ainda a propósito da visita de Cavaco Silva, ontem, aos locais da tragédia...
Estão sentados?...
Então lá vai!
Escreve o DN: "Cavaco Silva também molhou os pés"
Isso quer dizer o quê? Que molhou mais qualquer coisinha e também os pés? Ou que, Cavaco, como outros na ilha da Madeira, desde sábado para cá,  molhou os pés ...? 
E molhou como? Meteu o pé na poça?!...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ora aí está uma fatalidade

Citando a chamada de capa do Correio da Manhã, que fala em homicidas brasileiros sem controlo, explicando depois que se trata de cidadãos, que chegam a Portugal com visto de turista e alegadamente até para participarem em torneios de artes marciais e coisas parecidas, para acabarem cometendo crimes, que vão da extorsão ao roubo, passando muitas vezes , se for necessário, pelo homicídio...
Ora o 24 Horas puxa hoje uma outra história de crime que envolve , esta também, cidadãos brasileiros, imigrados em Portugal.
No caso, dá-se a notícia do julgamento, que corre no tribunal de Matosinhos e onde, ontem, foi chamado a depor o treinador do Sporting de Braga, Domingos Paciência. É que o treinador foi vítima de um assalto em casa, no 22 de Janeiro do ano passado.
Segundo a mulher do treinador contou no tribunal... citemos: "perguntaram-nos onde nos podiam fechar e meteram-nos na casa de banho..." Acrescentou que os filhos ficaram muito assustados, tanto mais que durante todo o assalto, um dos assaltantes (eram 3) lhes apontou uma arma, o tempo todo...
Ora, em tribunal estão 5 arguidos... diz o jornal que são suspeitos de uns 50 crimes de roubo, furto e sequestro na zona de Leça da Palmeira... 3 deles são os que assaltaram a casa do treinador do Braga... o jornal fala em suspeitos, mas acrescenta também que estes 3 arguidos já confessaram e admitiram o assalto... mais! Já o justificaram... e justificaram-no dizendo que não tinham nada que comer. Diz o 24, que asseguraram ao colectivo do tribunal de Matosinhos, que vieram para Portugal para trabalhar, mas que de repente a vida lhes trocou as voltas e ficaram, de um dia para o outro, sem dinheiro e sem comida...  ora aí está uma fatalidade,  que surpreendeu já muitas pessoas em Portugal, nos tempos mais recentes, sem que isso as leve a assaltar casas e apontar pistolas a ninguém...  Remata depois, a notícia, dizendo que no assalto à casa de Domingos Paciência o total do roubo se fixou pelos 39 mil euros...
39 mil euros, em dinheiro, mas principalmente em valores... relógios de luxo e computadores...    coisas que haverá de vender-se a alguém que não faça muitas perguntas... alargando-se assim um pouco mais o círculo , para incluir os receptadores do material roubado, bem como os caçadores de pechinchas que dispensam recibos de compra, ou certificados de origem. Porque isto, meus amigos, já minha avó me dizia: tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

a curiosidade mórbida

No meio da confusão e do horror, há quem aproveite para roubar – escreve o DN.
E Jardim não quer que o Governo decrete calamidade para não afectar o turismo... Acrescenta-se depois, lá dentro, que o intuito do governo regional da Madeira, segundo palavras de Alberto João Jardim, é pôr tudo bonitinho... "a nova batalha a vencer, a nova grande batalha  a vencer é pôr tudo bonitinho, pôr tudo no seu lugar, demore o tempo que demorar."
E para isso, Alberto João Jardim sabe que vai poder contar com o apoio incondicional da União Europeia... é essa a manchete do DN, aliás – União Europeia não põe limites na ajuda à Madeira.
No Público, foi-se ouvir alguns especialistas na matéria... e – citando Ricardo Ribeiro, o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil – conclui-se que o que aconteceu na Madeira é o exemplo do que o mau planeamento urbanístico pode causar... Citam-se as construções em leito de cheia, a impermeabilização dos solos e o encanamento mal direccionado dos cursos de água.  Enfim, os suspeitos do costume. Fala-se agora em recuperar o Plano Oudinot, assim baptizado em honra ao brigadeiro Oudinot, engenheiro militar, que foi o autor do plano de construção de muralhas protectoras do Funchal, depois do temporal de 1803, que provocou centenas de mortos. 600 mortos, relembra o Correio da Manhã, que compara estas chuvadas na Madeira com o que aconteceu no continente em Novembro de 67. Aí e entre as 9 e as 10 da noite caíram 60 litros de chuva por metro quadrado, provocando centenas de mortos na Grande Lisboa... Agora, a precipitação ficou-se pelos 52 litros por metro quadrado..
O Jornal I não faz manchete com o caso, mas não deixa de o puxar para a primeira página, sendo que o desenvolvimento da notícia surge, não nas primeiras, nem nas centrais, mas algures a meio caminho...
Já os JN e DN não só fazem a capa com a notícia, como insistem em publicar na primeira página fotografias das operações de resgate, onde se vêm em destaque de primeiro plano as imagens de cadáveres, meio soterrados pelos escombros e pelo lixo... Vêem-se em ambas as fotografias de ambas as capas , as mãos das vítimas estendidas e aparecendo por sob os panos que lhes cobrem os corpos.
Agora a ironia disto tudo... A ironia disto tudo é que é justamente o JN, o mesmo JN que publica na primeira página a fotografia de um cadáver mal tapado por um trapo, estendido no meio do lixo e dos destroços... o mesmo JN que publica depois, lá dentro, uma outra foto, mais discreta esta... posso dizer que o que se vê são telhados.. ou antes, partes de um telhado, onde se ergue uma antena de televisão e onde se vê também uma criança, de chapéu de chuva aberto, e olhando não se sabe bem para onde, que a fotografia não mostra...Mas o irónico mesmo é a legenda e o título da foto. O título diz assim: "Curiosidade mórbida" e depois o texto segue assim... " a curiosidade mórbida campeia. Uma menina observa, sob a chuva miudinha que regressou, as operações de resgate de um cadáver soterrado nos escombros da própria casa, em valada de Cónegos.." Pois, realmente... que coisa tão pouco própria. Não podia esperar que saísse o JN? !...Assim via as fotografias na primeira página, sem apanhar chuva.