No meio da confusão e do horror, há quem aproveite para roubar – escreve o DN.
E Jardim não quer que o Governo decrete calamidade para não afectar o turismo... Acrescenta-se depois, lá dentro, que o intuito do governo regional da Madeira, segundo palavras de Alberto João Jardim, é pôr tudo bonitinho... "a nova batalha a vencer, a nova grande batalha a vencer é pôr tudo bonitinho, pôr tudo no seu lugar, demore o tempo que demorar."
E para isso, Alberto João Jardim sabe que vai poder contar com o apoio incondicional da União Europeia... é essa a manchete do DN, aliás – União Europeia não põe limites na ajuda à Madeira.
No Público, foi-se ouvir alguns especialistas na matéria... e – citando Ricardo Ribeiro, o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil – conclui-se que o que aconteceu na Madeira é o exemplo do que o mau planeamento urbanístico pode causar... Citam-se as construções em leito de cheia, a impermeabilização dos solos e o encanamento mal direccionado dos cursos de água. Enfim, os suspeitos do costume. Fala-se agora em recuperar o Plano Oudinot, assim baptizado em honra ao brigadeiro Oudinot, engenheiro militar, que foi o autor do plano de construção de muralhas protectoras do Funchal, depois do temporal de 1803, que provocou centenas de mortos. 600 mortos, relembra o Correio da Manhã, que compara estas chuvadas na Madeira com o que aconteceu no continente em Novembro de 67. Aí e entre as 9 e as 10 da noite caíram 60 litros de chuva por metro quadrado, provocando centenas de mortos na Grande Lisboa... Agora, a precipitação ficou-se pelos 52 litros por metro quadrado..
O Jornal I não faz manchete com o caso, mas não deixa de o puxar para a primeira página, sendo que o desenvolvimento da notícia surge, não nas primeiras, nem nas centrais, mas algures a meio caminho...
Já os JN e DN não só fazem a capa com a notícia, como insistem em publicar na primeira página fotografias das operações de resgate, onde se vêm em destaque de primeiro plano as imagens de cadáveres, meio soterrados pelos escombros e pelo lixo... Vêem-se em ambas as fotografias de ambas as capas , as mãos das vítimas estendidas e aparecendo por sob os panos que lhes cobrem os corpos.
Agora a ironia disto tudo... A ironia disto tudo é que é justamente o JN, o mesmo JN que publica na primeira página a fotografia de um cadáver mal tapado por um trapo, estendido no meio do lixo e dos destroços... o mesmo JN que publica depois, lá dentro, uma outra foto, mais discreta esta... posso dizer que o que se vê são telhados.. ou antes, partes de um telhado, onde se ergue uma antena de televisão e onde se vê também uma criança, de chapéu de chuva aberto, e olhando não se sabe bem para onde, que a fotografia não mostra...Mas o irónico mesmo é a legenda e o título da foto. O título diz assim: "Curiosidade mórbida" e depois o texto segue assim... " a curiosidade mórbida campeia. Uma menina observa, sob a chuva miudinha que regressou, as operações de resgate de um cadáver soterrado nos escombros da própria casa, em valada de Cónegos.." Pois, realmente... que coisa tão pouco própria. Não podia esperar que saísse o JN? !...Assim via as fotografias na primeira página, sem apanhar chuva.
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