sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008


Vem no “24Horas”. Discreta, mas vem. Que, na Alemanha, os médicos fazem mea culpa.
Diz que, numa acção sem precedentes, vários médicos e enfermeiros confessaram em público erros cometidos no exercício das respectivas profissões. Foi ontem e, segundo o jornal, pretende-se assim criar um clima de maior abertura no debate sobre erros clínicos.
Isto na Alemanha… conta o "24Horas".

Do “Público” resgato estoutra…
“Ordem reprova nefrologista que fez lipoaspiração fatal”. É o caso da morte de uma jovem de 24 anos, na sequência e consequência de uma lipoaspiração que correu mal.
A operação foi em Faro e feita por um médico nefrologista. Médico dos rins, portanto…
O presidente do Colégio da Especialidade da Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética da Ordem dos Médicos (é espantoso o vasto campo das especializações! Simplesmente fantástico, mas adiante…) pois o presidente do colégio da especialidade disse ao "Público”, que um nefrologista não está habilitado para fazer lipoaspirações, mas que, no entanto, no domínio das leis, essa é uma questão complicada, porque não está definido o que é o acto médico.
Diz mais… que o que está assente como norma é o que dita o código deontológico da classe: que diz, que o médico não deve exceder o limite das suas competências nas suas práticas. Nem um médico, nem nenhum profissional de nenhum ofício, esperemos, mas adiante, que há mais… Diz o presidente do colégio da especialidade que "a realidade dos factos é que o dinheiro, às vezes, fala mais alto"!
A família da vítima já apresentou queixa ao Ministério da Saúde, com cópia endereçada ao Ministério Público. Para o Ministério da Saúde, o processo estará concluído até final de Março, em todas as suas vertentes… A burocracia tem uma maneira curiosa de falar!...
O presidente da ARS do Algarve diz que “só soube do caso depois da queixa apresentada pelos familiares” da vítima e que remeteu o caso para as autoridades competentes, sendo que terá recebido do Ministério da Saúde, “uma resposta pronta para averiguar as circunstâncias da morte.”
A circunstância, ao que se sabe, foi que a jovem começou logo a queixar-se mal chegou a casa, onde foi encontrada morta no chão, a 15 de Janeiro passado. O relatório da autópsia fala de obstrução de uma artéria… O presidente do colégio da especialidade, voltemos a ele, diz que, neste tipo de intervenções, “o problema é quando as coisas correm mal e é preciso ter mão” .
O problema é quando as coisas correm mal e é preciso ter mão!
Porque haverá, certamente, outro tipo de problemas que surgem quando as coisas correm bem! Como haverá decerto também situações em que as coisas correm mal e, não chegando a ser problema, não é preciso ter mão! Ou ainda aqueloutras em que as coisas não correm nem bem nem mal e toda a gente pode meter os pés pelas mãos à vontade, que não há problema.

Mas, finalmente uma luz ao fundo do túnel!
Falo da guerra dos professores. O “Público” hoje abre o destaque à matéria em causa.
Já saíram à rua mais de 10 mil professores. Diz o título.
Será muito difícil travar este movimento, diz Manuela Teixeira, ex sindicalista.
O acesso à categoria de titular, avaliação e alterações à gestão escolar são alguns dos motivos na origem dos protestos desta semana, é o que dizem.
Ontem, o protesto foi em Aveiro, lembra a reportagem de Maria José Santana.
A plataforma sindical, que coordena o protesto, espera mais de 25 mil manifestantes em Lisboa.
Ao topo da página corre a legenda – “sindicatos e movimentos espontâneos pressionam Governo com acções diárias” por baixo, a fotografia ilumina o centro da página.
Ontem à noite em Aveiro. Os manifestantes seguram velas, como nas procissões, dando um ar solene e trágico ao desfile… E em primeiro plano, um dos manifestantes ergue este cartaz extraordinário e surpreendente! Coisa rudimentar: um cartão pregado em duas ripas de madeira, mas surpreendente no que grita e diz assim: “Maria de Lurdes dá-me a tua camisola!”
Faça-se luz, que ainda há esperança no meu país! O sentido de humor está vivo e manifesta-se.

Será?!...
E esta senhora de 70 anos que vai a tribunal no próximo 1º de Abril por, alegadamente, ter tentado roubar um creme para as mãos de 1 euro e 39, num LIDL de Paços de Ferreira?!...
A administração do supermercado alega que a senhora tentou roubar o creme.
A arguida garante que foi esquecimento. Nem reparou no creme, esquecido no fundo do saco, entre o pacote de sal grosso e o de massinha para a canja.
Consta que, abordada por um segurança, já à saída, a senhora ter-se-á disposto prontamente a reparar a falta, mas o caso seguiu mesmo para tribunal. Vai a julgamento no próximo 1º de Abril. Dia das mentiras, dia das partidas, dia da galhofa, enfim, dia da parvoíce.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O tema é actual.
Ocupa pelo menos as duas páginas da respectiva secção do Diário de Notícias de hoje.
"Anti depressivos têm pouco ou nenhum efeito"… grita o título da notícia, como se soubesse que o assunto é sério . Avisa-se logo à entrada, que os medicamentos devem ser usados, sobretudo nos casos mais graves.
O ante-título explica entretanto que estamos a falar de um estudo – melhor - a análise de 47 estudos – que levou a Universidade de Hull, em Inglaterra, a concluir que os anti depressivos não são eficazes nos casos mais ligeiros da doença, acabando por ter um efeito semelhante ao de um placebo.
Ora aqui teremos forçosamente de parar. O medicamento em si pode não ter grande efeito real, físico ou químico no doente, mas, o segredo do placebo é justamente, não agredindo fisicamente o paciente, levá-lo à cura, por sugestão, em casos em que a doença é toda ela fruto de ordens disparatadas que o cérebro dá ao resto do corpo… Um processo idêntico, se quisermos, ao de certas curas milagrosas… Se falamos de eficácia… penso que ficamos eficazmente conversados.
Mas continuemos.
Escreve o “DN” que os médicos portugueses consideram que é pouco frequente dar-se anti depressivos a doentes ligeiros e que as práticas médicas vão de encontro ao estudo…
Ora isto dos anti depressivos começou a ganhar grande popularidade nos anos 80, quando apareceram no mercado produtos menos tóxicos e com menos efeitos secundários desagradáveis. Só no ano passado, os portugueses terão gasto mais de 100 milhões de euros em anti depressivos. Actualmente não se sabe quantos portugueses andam a comprimidos, embora, diz o “DN”, sejam as situações menos graves, as predominantes. E então em que é que ficamos?! Se é raro medicar-se depressões ligeiras com pastilhas, como é que o mercado é dominado justamente por essas patologias?!...

No Público, o título diz que nem mesmo o popular Prozac escapa ao labéu: “Prozac não é eficaz na maioria dos doentes de depressão”, diz o estudo e titula o Público.
O trabalho analisou tanto os resultados dos ensaios clínicos publicados, como outros que as empresas farmacêuticas não divulgaram. As empresas já criticaram o estudo… Umas dizem que o estudo não deve ser usado para alarmar os doentes. A fabricante do Prozac, por exemplo, diz que os estudos e a experiência demonstraram já que o medicamento é eficaz e um dos mais estudados, desde que foi sintetizado no laboratório, em 72. O curioso, neste caso, é que o Prozac era, no início, um medicamento para curar a tuberculose. Falhou na tuberculose, mas triunfou na depressão. Os anos 80 acabaram mesmo por consagrà-lo como campeão dos anti depressivos da moda. Jonhy Dep, o actor, toma Prozac; Winona Ryder, a actriz toma Prozac; Anna Nicole Smith, modelo e artista, também ela, à sua maneira e da sua própria arte, tomava Prozac. Tomava, que já não toma. Morreu disso, diz-se.
E se o "DN" não os referia, já o Público tem os números.
Em Portugal, há mais de 2 milhões de deprimidos, nos vários graus de depressão. Os números não são definitivos, já que muita gente sofre em silêncio.Mas não enganam, os números… Muito ou pouco deprimidos, e segundo dados do Infarmed, e depois de uma ligeira recessão, que já passou… a verdade é que se estão a vender umas 20 milhões de embalagens, em média por ano… entre ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, barbitúricos e anti depressivos em geral.
Volto ao “DN”, onde Marques Teixeira, presidente do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, diz que, 8 em cada 10 casos são de depressão ligeira, casos portanto em que os anti depressivos seriam escusados, segundo o estudo de que falamos… O título garante que os médicos portugueses garantem também que é pouco frequente dar-se anti depressivos a doentes ligeiros…

E pode ser tudo verdade.
E pode ser mesmo tudo rigorosamente verdade.
E se repetirmos esta afirmação mais uma dezena e meia de vezes talvez acabemos por acreditar…
Acreditar que o Xanax é açúcar pilé, que o Lorenin é massapão, que o Lexotan é pastilha elástica para os nervos.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O que é que Paulo Pitta e Cunha tem, que o normal cidadão contribuinte pagador de impostos não tem?... Tem direito a página inteira e chamada de capa, na edição de hoje do Público!
Pitta e Cunha é fiscalista e o pai do IRS e do IRC. É assim que o Público o identifica, na chamada de capa: "O pai do IRS e do IRC penhorado pelo fisco depois de pagar dívida".
A Direcção Geral de Impostos terá penhorado uma conta bancária de Pitta e Cunha, por alegada dívida de pouco mais de 340 euros.
O jornal continua, na mesma chamada de capa, que a penhora ilegal nunca foi devidamente comunicada ao contribuinte e que foi efectuada já depois da alegada dívida ter sido paga.
Continua – e ainda não saímos da capa – que a penhora foi entretanto anulada, depois do fiscalista ter escrito ao, na altura, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Amaral Tomaz, e ao novo responsável pela pasta, Carlos Lobo. As Finanças garantem que o levantamento da penhora não tem nada a ver com as cartas de reclamação escritas pelo fiscalista Pitta e Cunha…
E poderíamos ficar por aqui. Poderíamos até dizer: ainda bem que tudo se resolveu! E pronto. Ficaríamos sempre sem saber porque é que a notícia tem o destaque de capa, que o Público lhe dá… mas, ficaríamos esclarecidos para todos os efeitos práticos.
Acontece que a notícia traz desenvolvimento de página inteira, na secção de Economia. Em ante-título anuncia-se que a Fazenda foi obrigada a recuar… isso já sabíamos. Vinha na capa. Diz que o pai do IRS foi vítima de penhora após pagar dívida… também já nos tinham dito. Que o fisco mandou congelar a conta do fiscalista e que ele denunciou a situação e que entretanto a penhora foi anulada…. Idem aspas, também já sabíamos.
Entremos então no corpo da notícia, à procura de novidades, obviamente. Desenvolvimentos…Informação que não tenha cabido na chamada de capa e que justifique a página inteira… E o que se fica a saber?... Pouco mais do que, tudo teve a ver com alegados desencontros burocráticos. Cartas que chegaram fora de tempo, ou quando os destinatários estavam de férias e a casa sem ninguém para receber o correio. Ficamos a saber também que Pitta e Cunha pagou o que se lhe pediu e nem reclamou dos juros de mora, só para não atrasar mais o processo e encerrar o assunto de vez. Ficamos finalmente a saber que, só à terceira é que o fisco se convenceu que Pitta e Cunha tinha as contas em dia e lhe levantou a penhora.
Processo kafkiano, diz o fiscalista. Na carta que enviou ao fisco, Pitta e Cunha denuncia a arrogância da administração para com o contribuinte, o desprezo pelas regras mais elementares de informação e comunicação, a grosseira desproporção entre as acções determinadas e as situações e valores em causa, a atitude atrabiliária fiscal. Pitta e Cunha fala numa espécie de sanha da administração contra o contribuinte, considerado pelo sistema como um presumível criminoso.

Ora bom, vamos lá a ver se a gente se entende!

O que aconteceu a Pitta e Cunha, acontece diariamente a muito bom contribuinte deste país. Uns reclamam, outros pagam e calam.
Nenhum deles terá algum dia o destaque que Pitta e Cunha merece na edição de hoje do jornal Público.
Porquê? Talvez nunca o venhamos a saber. Como talvez nunca cheguemos a saber o que é que o Público viu de tão transcendente na história, que lhe merecesse o destaque de capa e a página inteira.
Pitta e Cunha nunca poderia ser excepção, quando se fala em sobressaltos fiscais da natureza deste de que se fala… Ainda se se provasse que o fiscalista estava realmente em falta… ainda poderia servir de proveito a alguém, o mau exemplo... Mas não; quem falhou foi a máquina fiscal, a burocracia das finanças…e isso…. Desde quando é notícia?

E assinala-se hoje o 2º aniversário da lei das armas.
Vem, por exemplo, no Diário de Notícias, que, 2 anos passados sobre a aprovação da lei, diminuiu a procura, o pedido de licenciamento de armas, em Portugal.
O jornal conferiu os dados com a PSP, que justifica estes dados com o rigor da lei, que exige, por exemplo, um curso de formação específica, aos candidatos à licença de uso e porte de arma.
Hoje, a Comissão Nacional Justiça e Paz reúne-se com o secretário de Estado da Administração Interna, em audição pública, para esclarecer melhor algumas pontas soltas… a saber: como é que os mecanismos de registo, formação e acompanhamento do comércio estão a ser aplicados pelas autoridades.
Em 2006, a polícia apreendeu 6500 armas de fogo não licenciadas. Duas mil eram ilegais. Deste total, dois terços – se não foram destruídas, ou incluídas no museu da PSP – estão a ser analisadas para serem ou não legalizadas e devolvidas aos donos.
Para a Comissão Justiça e Paz, mais ainda que saber quantas armas foram apreendidas, ou registadas, importa saber como é que a polícia controla e acompanha o comércio das armas e o uso que se lhes dá. Saber até que ponto a polícia controla o uso criminoso dessas armas e ainda – não menos importante – saber porque é que as pessoas as compram! Conhecer os factores de medo e insegurança, que levam as pessoas a comprar uma arma de fogo.

Outros relatórios, estudos, avaliações… Mais de mil portugueses inquiridos e o resultado diz que “os ciganos continuam malvistos, pelos que não se acham racistas”.
È assim que o DN abre a notícia.
Os portugueses terão interiorizado esse conceito de que ser racista é feio e não faz sentido. Uma coisa racional, inteligente, adquirida. Sabem que não é bom ser preconceituoso, mas… se lhe perguntarem, 61% acha que os ciganos são maliciosos… 70% acha-os preguiçosos… 67,5% que são mentirosos e, em 44% dos casos, o português não quer os filhos a brincar com os filhos dos ciganos, ou que se lhe cheguem perto sequer…
O estereótipo tem muita da culpa nestes casos… Manuel Carlos Silva, da Universidade do Minho, reconhece que são barreiras difíceis de vencer… um incidente isolado, diz o investigador,
“valida o estereótipo que 40 ou 50 casos contrários não conseguem reverter”.

Chama-se: Relações Interétnicas, o estudo. Foi elaborado há 2 anos e vai ser hoje debatido, num seminário sobre migrações e preconceito, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Quanto ao resultado … tem o valor de referência que tem e a mais não pode ser obrigado, já que – e voltamos ao princípio – muita gente terá viciado a resposta só para ficar bem vista… porque aceita, como consensual e politicamente correcto, afastar toda a sombra de pecado, quando se fala em racismo, discriminação, xenofobia, segregação…
Mesmo que na prática se tenha um comportamento bem diverso.
Ou se quisermos… o facto de não o reconhecer publicamente não quer dizer nada… é como ter em casa uma Kalachnicov por registar…