quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O tema é actual.
Ocupa pelo menos as duas páginas da respectiva secção do Diário de Notícias de hoje.
"Anti depressivos têm pouco ou nenhum efeito"… grita o título da notícia, como se soubesse que o assunto é sério . Avisa-se logo à entrada, que os medicamentos devem ser usados, sobretudo nos casos mais graves.
O ante-título explica entretanto que estamos a falar de um estudo – melhor - a análise de 47 estudos – que levou a Universidade de Hull, em Inglaterra, a concluir que os anti depressivos não são eficazes nos casos mais ligeiros da doença, acabando por ter um efeito semelhante ao de um placebo.
Ora aqui teremos forçosamente de parar. O medicamento em si pode não ter grande efeito real, físico ou químico no doente, mas, o segredo do placebo é justamente, não agredindo fisicamente o paciente, levá-lo à cura, por sugestão, em casos em que a doença é toda ela fruto de ordens disparatadas que o cérebro dá ao resto do corpo… Um processo idêntico, se quisermos, ao de certas curas milagrosas… Se falamos de eficácia… penso que ficamos eficazmente conversados.
Mas continuemos.
Escreve o “DN” que os médicos portugueses consideram que é pouco frequente dar-se anti depressivos a doentes ligeiros e que as práticas médicas vão de encontro ao estudo…
Ora isto dos anti depressivos começou a ganhar grande popularidade nos anos 80, quando apareceram no mercado produtos menos tóxicos e com menos efeitos secundários desagradáveis. Só no ano passado, os portugueses terão gasto mais de 100 milhões de euros em anti depressivos. Actualmente não se sabe quantos portugueses andam a comprimidos, embora, diz o “DN”, sejam as situações menos graves, as predominantes. E então em que é que ficamos?! Se é raro medicar-se depressões ligeiras com pastilhas, como é que o mercado é dominado justamente por essas patologias?!...

No Público, o título diz que nem mesmo o popular Prozac escapa ao labéu: “Prozac não é eficaz na maioria dos doentes de depressão”, diz o estudo e titula o Público.
O trabalho analisou tanto os resultados dos ensaios clínicos publicados, como outros que as empresas farmacêuticas não divulgaram. As empresas já criticaram o estudo… Umas dizem que o estudo não deve ser usado para alarmar os doentes. A fabricante do Prozac, por exemplo, diz que os estudos e a experiência demonstraram já que o medicamento é eficaz e um dos mais estudados, desde que foi sintetizado no laboratório, em 72. O curioso, neste caso, é que o Prozac era, no início, um medicamento para curar a tuberculose. Falhou na tuberculose, mas triunfou na depressão. Os anos 80 acabaram mesmo por consagrà-lo como campeão dos anti depressivos da moda. Jonhy Dep, o actor, toma Prozac; Winona Ryder, a actriz toma Prozac; Anna Nicole Smith, modelo e artista, também ela, à sua maneira e da sua própria arte, tomava Prozac. Tomava, que já não toma. Morreu disso, diz-se.
E se o "DN" não os referia, já o Público tem os números.
Em Portugal, há mais de 2 milhões de deprimidos, nos vários graus de depressão. Os números não são definitivos, já que muita gente sofre em silêncio.Mas não enganam, os números… Muito ou pouco deprimidos, e segundo dados do Infarmed, e depois de uma ligeira recessão, que já passou… a verdade é que se estão a vender umas 20 milhões de embalagens, em média por ano… entre ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, barbitúricos e anti depressivos em geral.
Volto ao “DN”, onde Marques Teixeira, presidente do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, diz que, 8 em cada 10 casos são de depressão ligeira, casos portanto em que os anti depressivos seriam escusados, segundo o estudo de que falamos… O título garante que os médicos portugueses garantem também que é pouco frequente dar-se anti depressivos a doentes ligeiros…

E pode ser tudo verdade.
E pode ser mesmo tudo rigorosamente verdade.
E se repetirmos esta afirmação mais uma dezena e meia de vezes talvez acabemos por acreditar…
Acreditar que o Xanax é açúcar pilé, que o Lorenin é massapão, que o Lexotan é pastilha elástica para os nervos.

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