quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Pode ser. Mas não é certo.

Então vamos lá…

“Não queremos ser contra só por ser. Não temos condições para nos pronunciarmos sobre o assunto com conhecimento. Mas, vender-se um terreno por mil euros, parece-me muito estranho.”

E quem assim fala é uma dirigente ambientalista, em reacção à manchete do Diário de Notícias de hoje. E diz assim, a manchete: “TVI compra 50 hectares em Sintra por mil euros.” Explica-se que, o terreno em causa, se destina à instalação da futura e assim chamada Cidade do Cinema – uma espécie de Hollywood à portuguesa… Acontece entretanto, que o terreno em causa se inclui na Reserva Ecológica Nacional – zona protegida, portanto. Já há um protocolo de intenções, assinado entre a Câmara de Sintra e os proprietários do terreno. Um protocolo que prevê e pressupõe uma candidatura do projecto ao PIN – ou seja, ao estatuto de projecto de (e vêm as maiúsculas) Potencial Interesse Nacional. Esta figura jurídica tem sido usada já em situações semelhantes, quando se quer desafectar reservas ecológicas e agrícolas, para que lhes seja dado outro uso, alegadamente, ao que se viu, de Potencial Interesse Nacional.

Ora os ambientalistas, já vimos, preferem não falar antes de conhecerem os pormenores do negócio em causa. O presidente da Câmara de Sintra disse ao DN, que quer investimento na autarquia. Quer que, a terceira Cidade do Cinema do Mundo, se construa em Sintra. Quer, depois de esclarecido o tal estatuto PIN, negociar com os proprietários do terreno as contrapartidas, por venda tão extraordinária… se bem se lembram estamos a falar de um lote de 50 hectares, à venda por mil euros…

É relativamente fácil perceber-se a razão da pechincha… se o terreno é reserva natural não se pode construir prédios de habitação, nem de serviços, nem fabriquetas de raça nenhuma. A menos que se conclua o Potencial Interesse Nacional do que ali se vier a construir. E aí, desde que as provas sejam convincentes, tanto faz que se construa uma cidade do cinema como uma aldeia dos macacos. A verdade é essa e é esse o ponto da situação – todos à espera que a Media Capital, proprietária da TVI, consiga convencer o governo do potencial interesse nacional de construir uma Cidade do Cinema em Sintra, nuns terrenos que até estão bastante em conta, porque são Reserva Ecológica e não se pode construir nada, a menos que seja uma coisa potencialmente interessante para o país, como um enorme estaleiro para rodar telenovelas e filmes de aventuras.

E poderíamos ficar por aí. Por essas duas interrogações simples. Primeiro, até que ponto Portugal precisa mesmo de uma cidade do cinema…

Segundo, atente-se na sigla PIN… e o que diz?... Potencial Interesse Nacional! Potencial, ou seja, que pode ser que sim… Pode ser. Mas não é certo.



E aqui, a ideia começou por ser usar a geringonça só com menores de 25 anos. Agora, as autoridades britânicas estão a considerar a hipótese de alargar o raio de acção, a gente de todas as idades. Mas vamos aos factos.

Chama-se "Mosquito", o polémico emissor de ultra sons, criado para lutar contra a delinquência juvenil no Reino Unido. O sistema foi introduzido no país há já 3 anos e funciona assim: instalado nas imediações de supermercados, por exemplo, ou outros locais onde os jovens habitualmente se reúnem, o aparelho emite uma frequência de 17 kiloherz. Uma alta-frequência que, ao que parece, é apenas perceptível por jovens menores de 25 anos. E audível de forma tão desagradável e incómoda que os leva a desmobilizar e deslocarem-se para outro sítio. Diz-se que a ideia é afastar delinquentes, mas também já se viu, que afasta toda a gente… menos os surdos, eventualmente. Mas não é certo. Certo é que já muita gente – em particular organizações de defesa dos direitos humanos – se insurgiu contra este Mosquito. Os inventores do aparelho dizem que é um direito que todos os comerciantes têm, o de não querer ajuntamentos à porta. Ajuntamentos que incluam jovens delinquentes, para já. Porque, como vimos, agora a ideia é alargar o campo de acção deste Mosquito a todas as idades. Uma vez mais, são os construtores do aparelho quem avança com a explicação: Diz que “muitas pessoas sem residência fixa têm mais de 25 anos e reúnem-se nas passagens subterrâneas. As empresas de segurança querem apenas mandá-los embora.”

Claro que a ideia – esta que vou dizer a seguir – seria bem mais eficiente, se bem que menos lucrativa para os fabricantes do Mosquito. Era, em vez de ultra sons, o Mosquito largar uma valente descarga de altíssima voltagem, que reduzisse os importunos a cinzas. Nunca mais se voltavam a reunir à porta de nenhum supermercado, nem de coisíssima nenhuma, para onde não fossem convidados.

Curioso que, em Portugal também, em tempos houve uma campanha semelhante. Com menos recursos tecnológicos, claro, que os tempos eram outros e o país também. Na altura, a coisa era quase artesanal, mesmo. Bastava um polícia fardado, para desmobilizar concentrações de mais de dois indivíduos. Era, na altura, considerada coisa muito suspeita. Sinal inequívoco das mais terríveis conspirações e sinistras malfeitorias. Até se dizia, por graça, que naqueles tempos, em Portugal, mais de 3 pessoas à conversa na rua, já era considerado um ajuntamento. Um perigoso ajuntamento.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Guerra de memoriais em jardins de Lisboa

Vem no DN: "Guerra de memoriais em jardins de Lisboa”.

O que se passa é que os vereadores do Movimento Cidadãos por Lisboa vão hoje pedir contas a António Costa, o presidente da Câmara, sobre a futura localização do monumento, o memorial às Vítimas da Estrada. A construção deste memorial às Vítimas da Estrada foi pedida já em Setembro do ano passado pelo então vereador Manuel João Ramos. A ideia inicial era colocá-lo no jardim do Arco do Cego; acontece que, entretanto, a Câmara terá explicado que no Arco do Cego não podia ser, mas que em alternativa cedia um lugarzinho na alameda central do parque Eduardo 7º.

Continua o DN explicando que, posteriormente, o movimento subscritor do memorial às Vítimas da Estrada ficou a saber que, se calhar, o parque Eduardo 7º também não vai poder ser, porque para aí está pensado colocar-se um outro memorial. No caso, a Aristides Sousa Mendes. O DN diz que, fontes do gabinete de Helena Roseta, querem ver a situação clarificada. Certamente que o leitor desta breve noticia do DN , também. Mas, se seguirmos para o parágrafo seguinte, depressa começamos a desistir dessa ideia. Quando não, deixem que vos leia: "Que há descoordenação na Câmara, há", disse ao DN, no domingo, António de Sousa Mendes, neto do cônsul de Portugal em Bordéus nos anos 40, comentando o facto de ter sido avisado em cima da hora, de que o memorial já não tinha lugar no jardim do Arco Cego – que vai receber um monumento ao escritor argentino Jorge Luís Borges – adiando a homenagem ao seu avô. Marcada para dia 10…” Alto aí! Então o memorial de Aristides Sousa Mendes não ia para o parque Eduardo 7º?! Não era isso que poderia destronar o outro, o das Vítimas da Estrada e mandá-lo não se sabe ainda para onde?..

Continua a noticia dizendo que Aristides Sousa Mendes vai então para o Parque Eduardo 7º. Diz a Câmara de Lisboa que lamenta a situação – eventualmente a que o neto do cônsul denunciou, de andar com o memorial em bolandas entre o Arco do Cego e o Parque Eduardo 7º… – mas que o diplomata será homenageado com dignidade.

Agora o Movimento Cidadãos por Lisboa reclama a prioridade, para a escolha do novo local, onde se há-de erguer o memorial às Vítimas da Estrada.

Como já reparam, e porque não era esse o foco da notícia, passamos galhardamente por cima da questão , que fica por isso em aberto: a do conceito de homenagem e que tipo de homenagem se pode fazer às vítimas da estrada… Homenagem pelo facto de terem morrido?! Por terem morrido em acidentes de viação?! Acidentes causados pelos próprios, ou por terceiros, o que para o caso pouco adianta?... Rende-se-lhes homenagem, com o mesmo espírito com que se rende homenagem, por exemplo, ao cônsul Sousa Mendes, que, esse sim, sabe toda a gente porque é que Portugal lhe deve respeito e homenagem?!...



Vem no JN, vem no Público, breve e discreta mas vem e diz assim: França propõe despenalização. Fica-se a saber, pelo ante-título, que é de homossexualidade que se fala. A França propõe então a despenalização mundial da homossexualidade. A proposta foi ontem apresentada e Paris espera vê-la aprovada em sede das Nações Unidas. O porta-voz do ministério francês dos negócios estrangeiros fez questão de lembrar que a homossexualidade é ainda condenada em 90 países, sendo que em dez deles, como o Afeganistão, Sudão, ou o Iémen, ela é castigada com a pena de morte. O pedido da França segue para a ONU em nome dos 27 países da União Europeia, cuja presidência pertence, como se sabe, actualmente à França. Acontece também que o Vaticano já se pronunciou.

Contra.

Adivinharam.

Agora os motivos apresentados pela Santa Sé… a ver. Diz o Vaticano que, despenalizar a homossexualidade, poderia levar à discriminação contra o casamento heterossexual e a um favorecimento dos casamentos homossexuais. Enfim, não parece que seja essa, concretamente essa a intenção do requerimento, nem que haja forçosamente uma relação causa – efeito tão evidente quanto isso, mas adiante.

No Público, os motivos da Santa Sé não vão tão longe no pormenor. Diz-se apenas que despenalizar a homossexualidade irá discriminar os que defendem que o casamento heterossexual é a origem da família. E aqui, como concordarão, é que caímos já no domínio da pura especulação filosófica. Ou, em linguagem mais comum: não tem nada a haver. A menos que os homossexuais caiam, a partir daí, nessa desastrada esparrela de entrar também eles em cruzadas fundamentalistas, a querer catequizar urbi et orbi e converter todo o mundo à homossexualidade. O que seria, para além de pouco original, de gosto muito duvidoso…

Porque, se falamos de discriminação e atentados contra valores supostamente sagrados, como a família e a pessoa humana, deixem que vos fale dos 24 corpos que deram à costa, nas praias do Iémen.

Emigrantes ilegais, terão sido lançados borda fora pelos traficantes, que os conduziam de barco desde a Somália. Segundo vários testemunhos seguiam a bordo 185 pessoas, numa embarcação que mal aguentava 50 passageiros. Os corpos, que deram mortos à costa, são de 24 desses emigrantes forçados pelos traficantes a abandonar a embarcação. Morreram afogados, os que não foram lançados à água, já feridos de morte a golpes de arma branca. É o que diz a notícia. 24 pessoas mortas de forma violenta quando tentavam alcançar a terra dos sonhos. A terra onde finalmente poderiam, quem sabe, constituir uma família e começar a acreditar em deus…

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

BÁSICAMENTE UMA BESTA