quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Guerra de memoriais em jardins de Lisboa

Vem no DN: "Guerra de memoriais em jardins de Lisboa”.

O que se passa é que os vereadores do Movimento Cidadãos por Lisboa vão hoje pedir contas a António Costa, o presidente da Câmara, sobre a futura localização do monumento, o memorial às Vítimas da Estrada. A construção deste memorial às Vítimas da Estrada foi pedida já em Setembro do ano passado pelo então vereador Manuel João Ramos. A ideia inicial era colocá-lo no jardim do Arco do Cego; acontece que, entretanto, a Câmara terá explicado que no Arco do Cego não podia ser, mas que em alternativa cedia um lugarzinho na alameda central do parque Eduardo 7º.

Continua o DN explicando que, posteriormente, o movimento subscritor do memorial às Vítimas da Estrada ficou a saber que, se calhar, o parque Eduardo 7º também não vai poder ser, porque para aí está pensado colocar-se um outro memorial. No caso, a Aristides Sousa Mendes. O DN diz que, fontes do gabinete de Helena Roseta, querem ver a situação clarificada. Certamente que o leitor desta breve noticia do DN , também. Mas, se seguirmos para o parágrafo seguinte, depressa começamos a desistir dessa ideia. Quando não, deixem que vos leia: "Que há descoordenação na Câmara, há", disse ao DN, no domingo, António de Sousa Mendes, neto do cônsul de Portugal em Bordéus nos anos 40, comentando o facto de ter sido avisado em cima da hora, de que o memorial já não tinha lugar no jardim do Arco Cego – que vai receber um monumento ao escritor argentino Jorge Luís Borges – adiando a homenagem ao seu avô. Marcada para dia 10…” Alto aí! Então o memorial de Aristides Sousa Mendes não ia para o parque Eduardo 7º?! Não era isso que poderia destronar o outro, o das Vítimas da Estrada e mandá-lo não se sabe ainda para onde?..

Continua a noticia dizendo que Aristides Sousa Mendes vai então para o Parque Eduardo 7º. Diz a Câmara de Lisboa que lamenta a situação – eventualmente a que o neto do cônsul denunciou, de andar com o memorial em bolandas entre o Arco do Cego e o Parque Eduardo 7º… – mas que o diplomata será homenageado com dignidade.

Agora o Movimento Cidadãos por Lisboa reclama a prioridade, para a escolha do novo local, onde se há-de erguer o memorial às Vítimas da Estrada.

Como já reparam, e porque não era esse o foco da notícia, passamos galhardamente por cima da questão , que fica por isso em aberto: a do conceito de homenagem e que tipo de homenagem se pode fazer às vítimas da estrada… Homenagem pelo facto de terem morrido?! Por terem morrido em acidentes de viação?! Acidentes causados pelos próprios, ou por terceiros, o que para o caso pouco adianta?... Rende-se-lhes homenagem, com o mesmo espírito com que se rende homenagem, por exemplo, ao cônsul Sousa Mendes, que, esse sim, sabe toda a gente porque é que Portugal lhe deve respeito e homenagem?!...



Vem no JN, vem no Público, breve e discreta mas vem e diz assim: França propõe despenalização. Fica-se a saber, pelo ante-título, que é de homossexualidade que se fala. A França propõe então a despenalização mundial da homossexualidade. A proposta foi ontem apresentada e Paris espera vê-la aprovada em sede das Nações Unidas. O porta-voz do ministério francês dos negócios estrangeiros fez questão de lembrar que a homossexualidade é ainda condenada em 90 países, sendo que em dez deles, como o Afeganistão, Sudão, ou o Iémen, ela é castigada com a pena de morte. O pedido da França segue para a ONU em nome dos 27 países da União Europeia, cuja presidência pertence, como se sabe, actualmente à França. Acontece também que o Vaticano já se pronunciou.

Contra.

Adivinharam.

Agora os motivos apresentados pela Santa Sé… a ver. Diz o Vaticano que, despenalizar a homossexualidade, poderia levar à discriminação contra o casamento heterossexual e a um favorecimento dos casamentos homossexuais. Enfim, não parece que seja essa, concretamente essa a intenção do requerimento, nem que haja forçosamente uma relação causa – efeito tão evidente quanto isso, mas adiante.

No Público, os motivos da Santa Sé não vão tão longe no pormenor. Diz-se apenas que despenalizar a homossexualidade irá discriminar os que defendem que o casamento heterossexual é a origem da família. E aqui, como concordarão, é que caímos já no domínio da pura especulação filosófica. Ou, em linguagem mais comum: não tem nada a haver. A menos que os homossexuais caiam, a partir daí, nessa desastrada esparrela de entrar também eles em cruzadas fundamentalistas, a querer catequizar urbi et orbi e converter todo o mundo à homossexualidade. O que seria, para além de pouco original, de gosto muito duvidoso…

Porque, se falamos de discriminação e atentados contra valores supostamente sagrados, como a família e a pessoa humana, deixem que vos fale dos 24 corpos que deram à costa, nas praias do Iémen.

Emigrantes ilegais, terão sido lançados borda fora pelos traficantes, que os conduziam de barco desde a Somália. Segundo vários testemunhos seguiam a bordo 185 pessoas, numa embarcação que mal aguentava 50 passageiros. Os corpos, que deram mortos à costa, são de 24 desses emigrantes forçados pelos traficantes a abandonar a embarcação. Morreram afogados, os que não foram lançados à água, já feridos de morte a golpes de arma branca. É o que diz a notícia. 24 pessoas mortas de forma violenta quando tentavam alcançar a terra dos sonhos. A terra onde finalmente poderiam, quem sabe, constituir uma família e começar a acreditar em deus…

Sem comentários: