sexta-feira, 17 de abril de 2009

como eu estava dizer... é das tais coisas!

Woody Allen exige 10 milhões de dólares, por alegado uso abusivo da sua – dele, claro está – imagem. Diz a noticia que o realizador processou uma empresa de vestuário por ter usado, numa campanha publicitária, imagens do “Annie Hall”, onde Woody Allen aparece de longas barbas e chapéu preto, como um devoto judeu.

Agora os argumentos dos advogados da empresa … Dizem que vão mesmo alegar estes motivos em tribunal… oiçamos: Depois dos vários escândalos sexuais, Woddy Allen já não tem reputação que possa ser arruinada. Diz o jornal, que esta acusação se refere ao casamento do realizador com a filha adoptiva. Percebe-se onde se quer chegar, mas, chamar a um casamento, escândalo sexual, parece uma leitura no mínimo interessante e curiosa.

Depois o argumento em si… será mesmo verdade que a defesa da tal empresa de vestuário se vai basear na alegada escandalosa vida privada e sexual de Woody Allen?!

É possível que sim, mas soa quase tão escandaloso quanto o argumento apresentado, ou mesmo a indemnização pedida pelo realizador…

Seja como for, o julgamento do caso está marcado para o próximo 18 de Maio em Nova Iorque.

É a crise que obriga a cultura a encontrar novos caminhos – avisa o Público hoje em manchete e com uma fotografia de capa que, pelo tamanho e espaço que ocupa, acaba por incluir o próprio logótipo do jornal. Menos dinheiro e uma nova relação com os públicos ditada pelas novas tecnologias… é isso que leva a cultura a ter de reinventar caminhos e soluções.

A matéria merece desenvolvimento no suplemento semanal do Público de hoje… Como a crise nos vai desafiar é aqui o título escolhido, porque lá dentro, é disso que se fala e dos cenários que nos esperam, dos cenários do que o jornal chama “uma Nova Era”!

Tempos difíceis, mas interessantes – ao que consta…

A nova era portanto, em suma.

É o que anuncia a capa… com fotografia de corpo inteiro, as duas, a primeira do jornal e a do suplemento, onde a matéria é desenvolvida, em ambas se publica a mesma fotografia. E a fotografia escolhida, para ilustrar a anunciada Nova Era, foi a de Elvis Presley, na versão pintada por cima de Andy Wahroll. Elvis Presley vestido à caubói e apontando uma 6 tiros, na direcção da objectiva. A face foi descolorada, empalidecida, os lábios avivados de um carmim que faz inveja ao vermelho desmaiado da camisa. As calças são de um roxo meio ferrugento… mas disso, não tem o Público a culpa, foi assim que Andy Wahroll o pintou e pintado está. Só que está assim vai para 50 anos, estou em crer e em contas por alto… Ora, anunciar uma Nova Era com figuras, por muito iconográficas que se mantenham, ou por muito revolucionárias e inovadoras que tenham sido há 50 anos atrás, é o que se costuma dizer… das tais coisas!

Chamar, para abrir novos caminhos, gente que está tranquilamente a descansar na galeria dos defuntos famosos, mesmo que venham maquilhados e tudo, de lábios pintados e pó de arroz na cara… é o que estava a dizer… é das tais coisas!

Mas adiante.

Como a crise nos vai desafiar dizia o título?...

Está na cara, de pistola em punho e vestida à caubói.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

públicos e notórios

“Momento da Verdade alvo de processo” é o que noticia o DN.

Ora, o “Momento da Verdade”, se bem sabem, ou ainda se lembram, era um concurso apresentado na SIC por Teresa Guilherme. Os concorrentes tinham de responder a uma série de perguntas de carácter pessoal e íntimo, para irem subindo numa escala de prémios, até chegar a um total, que não me lembro, mas devia ser tentador quanto bastasse.

Agora, a Entidade Reguladora da Comunicação Social instaurou um processo de contra ordenação à SIC por causa desse concurso.

A deliberação foi ontem divulgada e acusa o programa de ter violado, de forma flagrante, os limites à liberdade de programação e que a SIC desrespeitou de forma clara a obrigação a uma ética de antena. Segundo a lei, a estação pode ter de vir a pagar duas multas, que variam, conforme a falta, entre os 7500 e os 37500 euros, no primeiro caso, o da violação dos limites à liberdade de programação e de 20 mil a 150 mil euros por falta de ética em antena.

O programa acabou há 4 meses já, mas foi ainda durante o período de emissões, que a Entidade Reguladora iniciou as averiguações, Nessa altura foram recebidas algumas queixas e críticas que denunciavam a exploração da privacidade dos concorrentes, a troco de uma recompensa monetária. Segundo a Entidade Reguladora, esta decisão justifica-se com 3 enquadramentos legais distintos. A saber: protecção dos direitos dos concorrentes, protecção dos direitos dos familiares e ainda protecção de públicos mais sensíveis… ainda mais que o concurso era transmitido em horário nobre, como se costuma chamar-lhe. Diz ainda, que muitas das questões, das perguntas feitas aos concorrentes nessa via sacra para a pequena fortuna… que essas questões resultaram “numa intromissão na vida privada e íntima de terceiros, com flagrante instrumentalização da pessoa, para a qual a figura do consentimento não traz resposta satisfatória em todos os casos.”

E aqui chegados, faltaria só acrescentar que o modelo deste concurso é uma cópia de segunda ou terceira gerações, ou seja, foi copiado de um modelo norte americano, que por sua vez já tinha sido copiado de um formato colombiano, que foi exportado para uns 20 países. Isto é um facto e é também parte do argumento apresentado pela SIC para aplacar a indignação da Entidade Reguladora.

Ora… e diz a Entidade Reguladora, que não serve de desculpa, o facto dos concorrentes saberem ao que vão e consentirem nessa devassa da intimidade… diz a Entidade Reguladora que a SIC deve ser punida em nome dos públicos sensíveis… podia-se chamar-se-lhe assim, mas se falássemos apenas em nome do bom gosto e bom senso, também valia.

Diz ainda que é também em nome dos próprios concorrentes e familiares…

E aqui é que já não sei… é verdade que a vida está difícil e que o dinheiro não cai do céu, como na canção… mas também há muita gente, que não se humilha ao ponto de ir à televisão vender por pataca e meia a sua vida privada, pecadilhos e aberrações, inventadas ou não, que isto quanto mais aberrante mais espectacular e o público já aprendeu isso também… e onde quero chegar é aqui… esta Entidade Reguladora talvez não tenha poder para tanto, mas então quem terá? Quem há-de chamar à razão esses, que sem pudor nos entram pela casa adentro, funâmbulos, farroupilhas dum circo de aberrações… Quem nos defende do respeitável público?...

O Público!...

Pois diz o Público, em título, que há um estudo que garante que quanto maior o nível de educação, menor o de pobreza. E presume-se que não se fale aqui em pobreza de espírito ou de conhecimento em geral, mas dessa outra que tira o pão da boca, sem poesia.

Ora, o estudo de que se fala é o do departamento de estudos económicos do Banco de Portugal e baseia-se em números do INE. Diz que existem elevados retornos da educação no mercado de trabalho em Portugal…

E diz ainda, entre outras coisas, que a taxa de pobreza diminui consistentemente à medida que aumenta o número de anos de escolaridade completa e diz também que a pobreza afecta apenas 3% dos indivíduos com um curso superior.

Ora bem, neste contexto será que a educação tem mesmo esse efeito milagroso?!... E se colocássemos a questão de outra forma.

Por exemplo: a pobreza continua a impedir o acesso à educação... ou, que uma pessoa com formação académica tem outras capacidades, hipóteses e valias no mercado de trabalho… ou que, apesar de todas as dificuldades, há gente que se esforça e investe na sua própria formação académica superior, no caso, gente que representa 3% da população das Universidades portuguesas. Porque não dizer que, quanto maior for o nível de pobreza, menor o de educação e escolaridade, o que sendo óbvio e igualmente verdadeiro, soa, por estranho que pareça, muito mais real…

E o Público, ainda, dá hoje conta de outros números que podem, eles também, aferir um pouco da literacia nacional.

Consta que os jornais diários, nos últimos 3 meses, aumentaram as vendas. São números comparativos com os do ano anterior e trazem o certificado de uma reconhecida empresa de sondagens. O título do Público, a esta breve, é o seguinte: “Jornais diários reforçam audiências no primeiro trimestre.”

Abre depois o texto, começando por reiterar a afirmação: “Os jornais diários reforçaram as audiências nos primeiros 3 meses deste ano face a igual período do ano passado.” Ninguém duvida, que o tenham feito. Mas, e no caso concreto do Público, da citada audiência do jornal Público…onde e como é que os leitores o podem ouvir?!...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

e agora... flores!

Ainda na sequência do sismo em Itália, diz hoje o Público que o hospital de Aquila não tinha licença de habitação e que, por isso mesmo, será um dos primeiros alvos das investigações. Se bem se lembram, em Aquila, soube-se entretanto que uma boa parte das derrocadas se ficou a dever à má construção dos edifícios. Em Aquila, uma em cada duas casas ficou inabitável… Uma das preocupações neste momento é não deixar que a Camorra tome conta da reconstrução da cidade. Num artigo no República, Roberto Saviano, autor do livro Gomorra, que já foi até adaptado ao cinema… pois diz Roberto Saviano, aliás sublinha este facto curioso. Desde há anos que a máfia controla o sector do cimento na região e foi justamente a prisão de Aquila, onde estão detidos os chefes investidores do sector das cimenteiras, aquele que sofreu menores estragos, com o terramoto. Diz ainda que isso explica a forte presença da máfia na região, seja porque os chefes da Camorra empresarial estão quase todos detidos na prisão de Aquila, seja porque, e agora mais que nunca, a cidade precisa de obras de reconstrução.

E agora Queens. O bairro nova-iorquino de Queens. Deveria dizer a paróquia de Queens. Que foi justamente na igreja que tudo se passou. Diz o DN, que 7 lideres religiosos de uma igreja de Queens foram acusados de montar uma fraude, para extorquir dinheiro aos paroquianos mais idosos. Assim sendo e pelas contas entretanto apuradas, esses 7 padres terão conseguido juntar 12 milhões de dólares… O jornal não explica que género de fraude terá sido montada, mas se fala em burla, depreende-se que o dinheiro não tenha sido roubado de nenhuma caixa de esmolas, que aí, ninguém pode falar de burla, tanto como não espera decerto que o dinheiro vá mesmo para o santo patrono da caixa em questão.

Descendo no mapa, tropeçamos nesta polémica, que se agita já em cima da linha da fronteira com o México.

O caso tem a ver com uma campanha publicitária de uma conhecida marca de hambúrgueres… uma campanha que indignou as autoridades mexicanas e já fez mesmo o embaixador mexicano em Madrid pedir à empresa que cancele a campanha, por considerá-la injuriosa, para a imagem dos mexicanos no mundo.

Ora, a campanha anuncia um tipo de hambúrguer que, alegadamente, junta norte-americanos e mexicanos, como se estivessem unidos pelo destino, neste caso, unidos pelo destino, enquanto comedores de carne picada no pão. Calcula-se que, a sanduíche em questão, traga eventualmente umas malaguetas, ou qualquer outra especiaria, que remeta o consumidor para um qualquer universo, ou imaginário mexicano, seja lá isso o que for… Mas o que parece indignar as autoridades mexicanas nem será o slogan: “Unidos pelo Destino”, nem tão pouco a iguaria em si. O que deve estar a indignar o México é justamente a fotografia do anúncio…

Encostados a uma vara, onde se costumam estacionar os cavalos, dois homens encostam-se, em pose para a fotografia. Um deles é norte-americano. Mais não podia ser, vestido à cowboy, mão na cintura, segurando o cinto de balas, pose confiante. Ao lado, um sujeito para o gordito e baixinho chega pelo peito do cowboy. Veste uma espécie de poncho, ou baby-grow, ou por aí … com as cores da bandeira nacional do México. Aliás, a fatiota é a própria bandeira mexicana, enfiada pela cabeça… para que não restem dúvidas… de quem é quem… o alto e desempoeirado é o texano, o baixinho vestido á palhaço - que em verdade é com o que mais se parece no cartaz - é o mexicano.

Isto é a leitura que as autoridades mexicanas fizeram do cartaz e da campanha. Agora e se fosse ao contrário?... Porque não!? Quem garante, que o desempoeirado não é um mexicano vestido à cowboy e pequenitote um texano vestido à palhaço?!...

Palhaçada! Vamos por aí.

Temos então a Ordem dos Farmacêuticos contra a abertura de farmácias privadas, em hospitais públicos. A denúncia surgiu ontem, em forma de comunicado e reacção à abertura da farmácia do Hospital de Santa Maria. Uma farmácia que vai estar aberta ao público 24 horas por dia e que até, segundo consta, se propõe fazer descontos sazonais, em medicamentos e produtos cosméticos. O dono desta recém inaugurada farmácia espera atender 1500 pessoas por dia. O estabelecimento está situado junto às urgências do Santa Maria e é o maior espaço do género, até ao momento em Portugal. Pois a Ordem dos Farmacêuticos está frontalmente contra. Não só contra esta, mas contra todas as outras, que se inaugurem entretanto – e a ministra Ana Jorge, da Saúde, já prometeu que a próxima será no hospital de Faro, já no segundo trimestre deste ano…

Para a Ordem dos Farmacêuticos, farmácias deste tipo são desnecessárias em termos de benefício público – foi assim que falou a bastonária da Ordem Elisabete Faria – e também lesivas das farmácias de bairro, próximas do cliente e integradas na comunidade. Diz ainda a bastonária, que o processo de abertura sempre foi pouco claro e que o governo avançou com a medida contra a opinião da Ordem dos Farmacêuticos… por isso há uma queixa pendente na Comissão Europeia, subscrita pela Ordem.

Porque, como vimos, é pouco claro, por exemplo, que percentagem as farmácias vão pagar aos hospitais onde se instalarem… bom aqui e no caso, por exemplo de Faro, vai ser 26% da facturação… depois, o outro argumento, o de que as farmácias hospitalares abertas 24 horas por dia vão arruinar as farmácias de bairro… especialmente aquelas que estão abertas às 4 da manhã para atender o público sem taxa suplementar de serviço nocturno.

De resto, o receio é perfeitamente legítimo. Do mesmo se queixava o merceeiro do meu bairro, quando lhe abriram um supermercado, dois quarteirões abaixo da loja dele. Coitado do senhor Mário! Era o nome dele…

E agora flores! Girassóis.

Dizem os jornais que a Câmara de Lisboa se prepara para plantar girassóis, num terreno devoluto e cheio de lixo e ervas que há ali para os lados de Campolide. Será coisa provisória, segundo o vereador Sá Fernandes. A seu tempo, os girassóis serão arrancados, para dar lugar à plantação de trigo ou cevada. É o que está aqui escrito, no DN!

Diz o vereador, que a ideia é aproveitar o sítio e torná-lo aprazível para o passeio e o regalo da vista. A custo zero, defende o vereador. Enfim, a custo zero, zero, zero… mesmo, não será! As flores hão-de custar dinheiro, haverá que regá-las, ir limpando o sítio… despesas de manutenção… por aí.

Acontece entretanto que, os moradores vizinhos desse terreno, estão divididos quanto à ideia. Uns louvam a iniciativa, que lhes vai alindar a vizinhança e resgatar o baldio da triste e suja sina a que parecia condenado. Qualquer solução seria melhor, que deixá-lo ao abandono, a encher-se de lixo e ervas ruins… Para outros, esta é uma péssima ideia. Porque vai-se gastar muita água na rega e porque os girassóis vão encher o ar de pólen, o que alegada e supostamente é mau.

Talvez haja uma insuspeita concentração de gente, com alergias e febre dos fenos, na freguesia de Campolide, que justifique o alarme e a denúncia… Pode ser.

E, já gora, lembram-se daquele Natal – era na altura Santana Lopes o presidente da Câmara - em que foram distribuídos, pela baixa de Lisboa, altifalantes tocando música de natal?... Passadas as festas, a música ainda ficou por mais algum tempo e não faltaram logo vozes indignadas, contra o incómodo, exigindo o rápido silêncio da musiqueta. Que fazia confusão, que era poluição sonora, que não fazia sentido, música nas ruas… Imaginem agora se, com a música, o autarca tivesse mandado espalhar vasos com girassóis, pela rua Augusta! Havia de ser bonito. Tínhamos um outro 25 de Abril, quase certo

terça-feira, 14 de abril de 2009


Segundo os especialistas, e já que alguém resolveu fazer canja com a galinha os ovos d'oiro, o melhor é prepararmo-nos para começar a comer caramelos, que os tempos que se aproximam são de uma recessão pior que o pós 25 de Abril. Há também quem defenda que é uma excelente oportunidade para investir e especular. O mercado não podia estar mais aberto. O perigo da deflação não está ainda posto de parte e teme-se o dia em que, nem por 5 euros, se encontre quem queira comprar o mosteiro dos Jerónimos! Tempos difíceis, estes. Muito modernos, mas difíceis.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

o pai natal não existe!

Mais do que notícia do mundo, quase se poderia dizer que é uma notícia do outro mundo…

Pois diz o Diário de Notícias, citando o estudo dos neurocientistas da Universidade dinamarquesa de Aarhus, que falar com Deus é, para o comum dos mortais, coisa quase tão banal como uma conversa de café, entre amigos.

A questão que se colocava era justamente essa: o que acontece no cérebro de um crente quando fala com Deus, ou quando reza…

E, segundo acaba de ser publicado na New Scientist, revista da especialidade e de onde o DN recupera a história, os investigadores terão pedido a 20 voluntários cristãos que recitassem uma oração e uma rima infantil e que lhe juntassem ainda uma prece de carácter pessoal, coisa inventada e ainda, por último, que fizessem um pedido ao Pai Natal. Durante esse processo foi-se monitorizando a actividade cerebral dos voluntários, para se concluir que… nas duas primeiras tarefas – a do padre nosso, que foi a oração escolhida e a da rima infantil… as zonas cerebrais activadas foram as que se relacionam com a repetição e aprendizagem; nos casos da oração pessoal, foi activada a zona responsável pela comunicação com outros, a zona do córtex pré-frontal; já o pedido ao Pai Natal mostrou, pelas reacções cerebrais que provocou, que os voluntários não o consideravam coisa real, ao contrário da ideia de Deus.

Em resumo fica então essa conclusão - a de que falar com Deus activa as mesmas zonas cerebrais que uma conversa normal…ou seja, os investigadores concluíram, que falar com Deus não activa nenhum mecanismo em especial, não arrasta o cérebro humano para nenhum patamar particularmente místico, ou esotérico… o que poderá significar uma de duas coisas, ou até ambas, quem sabe... Ou seja: Deus é, para os crentes, uma figura que lhes é tão próxima e íntima, que é nesse registo de intimidade e descontracção que toda a conversa e convivência acontecem… ou Deus foi apeado da sua majestade e mistério, para ser tratado tu cá tu lá, entre dois croquetes e o resumo da jornada, da Taça da Liga.

Ressalve-se uma evidência… para todos os voluntários desta prova uma coisa é certa: Deus existe, o Pai Natal é que não!

E agora e antes que me esqueça, deixem que vos dê conta desta pequena perplexidade. Começa sábado que vem, mais uma edição da lisboeta Festa do Peixe. Como o nome indica é o peixe o rei da festa, neste festival, onde será também eleito, à semelhança de anos anteriores, o melhor pregão da cidade. O acontecimento vai realizar-se no Pavilhão de Portugal, no parque das Nações e vai reunir peixeiras de vários mercados de Lisboa. Diz o jornal, que a vencedora do ano passado regressa este ano a concurso, com uma banca de peixe e marisco e até aqui tudo corre como previsto e previsível. Mas diz ainda a notícia, que o Festival do peixe deste ano vai eleger o melhor pastel de nata. É uma iniciativa inovadora no programa deste ano.

E para o ano? O caldo verde?!...

E aqui, quase tão famosa como o histórico pastel de nata é a presença de Portugal no Mundo. E haveria de ser notícia, se lá chegássemos, a esse sítio remoto e perdido no mapa, onde não se conseguisse encontrar, por mais que se procurasse, um único português, residente, nem sequer um português de 3ª, 4ª ou 5ª gerações…

Não é o caso. E esta irresistível tentação de descobrir portugueses pelo mundo ganha, às vezes, contornos curiosos e intrigantes. É capaz de ser verdade, que essa busca nos pode tornar todos mais unidos, mais próximos… Descobrir um português, nem que seja já um tetraneto de portugueses, em qualquer parte do mundo, torna-o, a esse compatriota remoto, quase da família. Queremos saber dele, como se nos pertencesse também. Saber se é feliz, se tem sucesso, essas coisas… Essa podia ser a versão simpática do fenómeno. Também se poderia a gente envergonhar um pouco, com uma certa publicidade que se levanta muitas vezes à volta desses mesmos portugueses, só porque tiveram sucesso lá fora, são gente importante lá fora, ou então, mesmo que não sejam, convivem, pelo menos, de perto com gente conhecida, famosa, ou de importância assinalável. Nesses casos, é frase feita dizer-se que a personagem em causa… “ainda é português!”, com ponto de exclamação e tudo.

Mas vamos à actualidade e o DN de hoje publica esta breve notícia de Armando Sequeira, açoriano, que durante 5 anos trabalhou nas cozinhas do palácio presidencial de Bagdad. Diz o jornal que chegou mesmo a cozinhar refeições para o ditador Saddam Hussein. Diz que foi difícil, porque a passagem pelo Iraque coincidiu com o rebentar da guerra Irão-Iraque, em 80, mas que acabou por se habituar e que terá conquistado mesmo os iraquianos pelo estômago. Quanto a Saddam Hussein, prefere não falar, mas reconhece que guarda uma fotografia, daquele a que chama “um homem do povo”.

Fossem outras as circunstâncias e esta página da vida de Armando Sequeira teria abordagem bem diferente.

E depois outro português ilustre. Enfim, pela leitura do título, é nesse erro que caímos. Diz o título, no DN ainda, que se chama BO e é português, o cão de água que já chegou e encantou a família Obama na Casa Branca. É escusado repetir a história e relembrar que havia uma canicultora algarvia, que se preparava para oferecer um cão de água, nascido e criado em Portugal, ao presidente norte-americano.

O que acabou por acontecer é que este canito, que agora faz as alegrias da família presidencial, veio do Texas. Foi oferecido por Ted Kennedy, o senador que, ao que consta, faz também criação de cães d’água.

Ora portanto, o cão, de português tem o sangue e a raça, mas pouco ou nada mais que isso. É tão texano como o John Wayne. Será eventualmente um cão imigrante, de 4ª ou 5ª geração, mas é provavelmente mais americano, este cão de água português, que muitos dos próprios funcionários da Casa Branca.

Já agora, consta que o encantador Bo se portou à altura. Evitou descuidos, diz o jornal, e não roeu a mobília.

E nisso é quase português! Que é sabido que os portugueses, longe de casa, sabem-se portar à altura.