quinta-feira, 16 de abril de 2009

públicos e notórios

“Momento da Verdade alvo de processo” é o que noticia o DN.

Ora, o “Momento da Verdade”, se bem sabem, ou ainda se lembram, era um concurso apresentado na SIC por Teresa Guilherme. Os concorrentes tinham de responder a uma série de perguntas de carácter pessoal e íntimo, para irem subindo numa escala de prémios, até chegar a um total, que não me lembro, mas devia ser tentador quanto bastasse.

Agora, a Entidade Reguladora da Comunicação Social instaurou um processo de contra ordenação à SIC por causa desse concurso.

A deliberação foi ontem divulgada e acusa o programa de ter violado, de forma flagrante, os limites à liberdade de programação e que a SIC desrespeitou de forma clara a obrigação a uma ética de antena. Segundo a lei, a estação pode ter de vir a pagar duas multas, que variam, conforme a falta, entre os 7500 e os 37500 euros, no primeiro caso, o da violação dos limites à liberdade de programação e de 20 mil a 150 mil euros por falta de ética em antena.

O programa acabou há 4 meses já, mas foi ainda durante o período de emissões, que a Entidade Reguladora iniciou as averiguações, Nessa altura foram recebidas algumas queixas e críticas que denunciavam a exploração da privacidade dos concorrentes, a troco de uma recompensa monetária. Segundo a Entidade Reguladora, esta decisão justifica-se com 3 enquadramentos legais distintos. A saber: protecção dos direitos dos concorrentes, protecção dos direitos dos familiares e ainda protecção de públicos mais sensíveis… ainda mais que o concurso era transmitido em horário nobre, como se costuma chamar-lhe. Diz ainda, que muitas das questões, das perguntas feitas aos concorrentes nessa via sacra para a pequena fortuna… que essas questões resultaram “numa intromissão na vida privada e íntima de terceiros, com flagrante instrumentalização da pessoa, para a qual a figura do consentimento não traz resposta satisfatória em todos os casos.”

E aqui chegados, faltaria só acrescentar que o modelo deste concurso é uma cópia de segunda ou terceira gerações, ou seja, foi copiado de um modelo norte americano, que por sua vez já tinha sido copiado de um formato colombiano, que foi exportado para uns 20 países. Isto é um facto e é também parte do argumento apresentado pela SIC para aplacar a indignação da Entidade Reguladora.

Ora… e diz a Entidade Reguladora, que não serve de desculpa, o facto dos concorrentes saberem ao que vão e consentirem nessa devassa da intimidade… diz a Entidade Reguladora que a SIC deve ser punida em nome dos públicos sensíveis… podia-se chamar-se-lhe assim, mas se falássemos apenas em nome do bom gosto e bom senso, também valia.

Diz ainda que é também em nome dos próprios concorrentes e familiares…

E aqui é que já não sei… é verdade que a vida está difícil e que o dinheiro não cai do céu, como na canção… mas também há muita gente, que não se humilha ao ponto de ir à televisão vender por pataca e meia a sua vida privada, pecadilhos e aberrações, inventadas ou não, que isto quanto mais aberrante mais espectacular e o público já aprendeu isso também… e onde quero chegar é aqui… esta Entidade Reguladora talvez não tenha poder para tanto, mas então quem terá? Quem há-de chamar à razão esses, que sem pudor nos entram pela casa adentro, funâmbulos, farroupilhas dum circo de aberrações… Quem nos defende do respeitável público?...

O Público!...

Pois diz o Público, em título, que há um estudo que garante que quanto maior o nível de educação, menor o de pobreza. E presume-se que não se fale aqui em pobreza de espírito ou de conhecimento em geral, mas dessa outra que tira o pão da boca, sem poesia.

Ora, o estudo de que se fala é o do departamento de estudos económicos do Banco de Portugal e baseia-se em números do INE. Diz que existem elevados retornos da educação no mercado de trabalho em Portugal…

E diz ainda, entre outras coisas, que a taxa de pobreza diminui consistentemente à medida que aumenta o número de anos de escolaridade completa e diz também que a pobreza afecta apenas 3% dos indivíduos com um curso superior.

Ora bem, neste contexto será que a educação tem mesmo esse efeito milagroso?!... E se colocássemos a questão de outra forma.

Por exemplo: a pobreza continua a impedir o acesso à educação... ou, que uma pessoa com formação académica tem outras capacidades, hipóteses e valias no mercado de trabalho… ou que, apesar de todas as dificuldades, há gente que se esforça e investe na sua própria formação académica superior, no caso, gente que representa 3% da população das Universidades portuguesas. Porque não dizer que, quanto maior for o nível de pobreza, menor o de educação e escolaridade, o que sendo óbvio e igualmente verdadeiro, soa, por estranho que pareça, muito mais real…

E o Público, ainda, dá hoje conta de outros números que podem, eles também, aferir um pouco da literacia nacional.

Consta que os jornais diários, nos últimos 3 meses, aumentaram as vendas. São números comparativos com os do ano anterior e trazem o certificado de uma reconhecida empresa de sondagens. O título do Público, a esta breve, é o seguinte: “Jornais diários reforçam audiências no primeiro trimestre.”

Abre depois o texto, começando por reiterar a afirmação: “Os jornais diários reforçaram as audiências nos primeiros 3 meses deste ano face a igual período do ano passado.” Ninguém duvida, que o tenham feito. Mas, e no caso concreto do Público, da citada audiência do jornal Público…onde e como é que os leitores o podem ouvir?!...

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