Mais do que notícia do mundo, quase se poderia dizer que é uma notícia do outro mundo…
Pois diz o Diário de Notícias, citando o estudo dos neurocientistas da Universidade dinamarquesa de Aarhus, que falar com Deus é, para o comum dos mortais, coisa quase tão banal como uma conversa de café, entre amigos.
A questão que se colocava era justamente essa: o que acontece no cérebro de um crente quando fala com Deus, ou quando reza…
E, segundo acaba de ser publicado na New Scientist, revista da especialidade e de onde o DN recupera a história, os investigadores terão pedido a 20 voluntários cristãos que recitassem uma oração e uma rima infantil e que lhe juntassem ainda uma prece de carácter pessoal, coisa inventada e ainda, por último, que fizessem um pedido ao Pai Natal. Durante esse processo foi-se monitorizando a actividade cerebral dos voluntários, para se concluir que… nas duas primeiras tarefas – a do padre nosso, que foi a oração escolhida e a da rima infantil… as zonas cerebrais activadas foram as que se relacionam com a repetição e aprendizagem; nos casos da oração pessoal, foi activada a zona responsável pela comunicação com outros, a zona do córtex pré-frontal; já o pedido ao Pai Natal mostrou, pelas reacções cerebrais que provocou, que os voluntários não o consideravam coisa real, ao contrário da ideia de Deus.
Em resumo fica então essa conclusão - a de que falar com Deus activa as mesmas zonas cerebrais que uma conversa normal…ou seja, os investigadores concluíram, que falar com Deus não activa nenhum mecanismo em especial, não arrasta o cérebro humano para nenhum patamar particularmente místico, ou esotérico… o que poderá significar uma de duas coisas, ou até ambas, quem sabe... Ou seja: Deus é, para os crentes, uma figura que lhes é tão próxima e íntima, que é nesse registo de intimidade e descontracção que toda a conversa e convivência acontecem… ou Deus foi apeado da sua majestade e mistério, para ser tratado tu cá tu lá, entre dois croquetes e o resumo da jornada, da Taça da Liga.
Ressalve-se uma evidência… para todos os voluntários desta prova uma coisa é certa: Deus existe, o Pai Natal é que não!
E agora e antes que me esqueça, deixem que vos dê conta desta pequena perplexidade. Começa sábado que vem, mais uma edição da lisboeta Festa do Peixe. Como o nome indica é o peixe o rei da festa, neste festival, onde será também eleito, à semelhança de anos anteriores, o melhor pregão da cidade. O acontecimento vai realizar-se no Pavilhão de Portugal, no parque das Nações e vai reunir peixeiras de vários mercados de Lisboa. Diz o jornal, que a vencedora do ano passado regressa este ano a concurso, com uma banca de peixe e marisco e até aqui tudo corre como previsto e previsível. Mas diz ainda a notícia, que o Festival do peixe deste ano vai eleger o melhor pastel de nata. É uma iniciativa inovadora no programa deste ano.
E para o ano? O caldo verde?!...
E aqui, quase tão famosa como o histórico pastel de nata é a presença de Portugal no Mundo. E haveria de ser notícia, se lá chegássemos, a esse sítio remoto e perdido no mapa, onde não se conseguisse encontrar, por mais que se procurasse, um único português, residente, nem sequer um português de 3ª, 4ª ou 5ª gerações…
Não é o caso. E esta irresistível tentação de descobrir portugueses pelo mundo ganha, às vezes, contornos curiosos e intrigantes. É capaz de ser verdade, que essa busca nos pode tornar todos mais unidos, mais próximos… Descobrir um português, nem que seja já um tetraneto de portugueses, em qualquer parte do mundo, torna-o, a esse compatriota remoto, quase da família. Queremos saber dele, como se nos pertencesse também. Saber se é feliz, se tem sucesso, essas coisas… Essa podia ser a versão simpática do fenómeno. Também se poderia a gente envergonhar um pouco, com uma certa publicidade que se levanta muitas vezes à volta desses mesmos portugueses, só porque tiveram sucesso lá fora, são gente importante lá fora, ou então, mesmo que não sejam, convivem, pelo menos, de perto com gente conhecida, famosa, ou de importância assinalável. Nesses casos, é frase feita dizer-se que a personagem em causa… “ainda é português!”, com ponto de exclamação e tudo.
Mas vamos à actualidade e o DN de hoje publica esta breve notícia de Armando Sequeira, açoriano, que durante 5 anos trabalhou nas cozinhas do palácio presidencial de Bagdad. Diz o jornal que chegou mesmo a cozinhar refeições para o ditador Saddam Hussein. Diz que foi difícil, porque a passagem pelo Iraque coincidiu com o rebentar da guerra Irão-Iraque, em 80, mas que acabou por se habituar e que terá conquistado mesmo os iraquianos pelo estômago. Quanto a Saddam Hussein, prefere não falar, mas reconhece que guarda uma fotografia, daquele a que chama “um homem do povo”.
Fossem outras as circunstâncias e esta página da vida de Armando Sequeira teria abordagem bem diferente.
E depois outro português ilustre. Enfim, pela leitura do título, é nesse erro que caímos. Diz o título, no DN ainda, que se chama BO e é português, o cão de água que já chegou e encantou a família Obama na Casa Branca. É escusado repetir a história e relembrar que havia uma canicultora algarvia, que se preparava para oferecer um cão de água, nascido e criado em Portugal, ao presidente norte-americano.
O que acabou por acontecer é que este canito, que agora faz as alegrias da família presidencial, veio do Texas. Foi oferecido por Ted Kennedy, o senador que, ao que consta, faz também criação de cães d’água.
Ora portanto, o cão, de português tem o sangue e a raça, mas pouco ou nada mais que isso. É tão texano como o John Wayne. Será eventualmente um cão imigrante, de 4ª ou 5ª geração, mas é provavelmente mais americano, este cão de água português, que muitos dos próprios funcionários da Casa Branca.
Já agora, consta que o encantador Bo se portou à altura. Evitou descuidos, diz o jornal, e não roeu a mobília.
E nisso é quase português! Que é sabido que os portugueses, longe de casa, sabem-se portar à altura.
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