quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O medo. Diz-se que os cães conseguem cheirar o medo. Os cães e outros animais...Conseguem perceber se a pessoa, ou, de uma forma geral, o outro animal que têm ali á frente, está com medo. Diz-se... Também a excitação, a paixão erótica exalam odores próprios.

Ora, hoje o Público dá a notícia de que há um projecto em curso para detectar o medo.

Em Londres, na City University de Londres, em colaboração com o ministério inglês do Interior. É aí, que o projecto vai ser desenvolvido durante o próximo ano e meio. A primeira prova de fogo deste projecto poderá ser já nos próximos Jogos Olimpicos de 2012.

Mas vamos ao que importa.

A ideia – diz o Público – é acrescentar ao arsenal da luta anti terrorismo, aparelhos capazes de detectar o cheiro do medo, no suor humano. O medo de ser atacado por terroristas?.. não tanto. O medo de ser apanhado. Mais por aí, talvez...

Segundo a coordenadora do projecto, a cientista Tong Sun, o desafio vai ser identificar a “assinatura específica da hormona do medo humano quando associada à perpetração de crimes , nomeadamente terroristas…” e isto – acrescenta-se, para acabar de vez com todas as dúvidas – isto “apesar de todos os desodorizantes” e águas de colónia e perfumes do mundo.

Haverá decerto uma diferença, por ténue que seja, indelével também, entre o medo de ser atacado por um terrorista, o medo de ser apanhado e identificado como terrorista, o medo de ir morrer na sequência de um atentado terrorista – o tal, associado à perpetração iminente de crimes… nomeadamente terroristas -, o medo até de ser confundido com um terrorista, o que deve ter também seu odor próprio e assustado… isto para não falar do mais comezinho medo de andar de avião, com medo que caia …e ainda, não menos terrível, o medo do desconhecido, do que virá… o medo assim em abstracto. O medo em geral. Sem efeitos especiais nem face visível… Em estado puro. Só o medo. A essência, o perfume discreto do terrorismo em geral.



E esta outra não vem só no Público, mas o Público começa assim a prosa: “Exmº Sr., não autorizo aulas de educação sexual.”

Porque é disso que se trata. Fala-se num movimento de pais, auto-denominado “Plataforma de Resistência Nacional” que se opõe, justamente, às aulas de educação sexual obrigatórias, nas escolas do ensino básico e secundário. Este é o primeiro ano em que a matéria é incluída oficialmente na disciplina de Educação para a Saúde. Acontece que, esta Plataforma de Resistência está contra e redigiu um texto, a partir da carta original de protesto de uma mãe. Uma carta, que essa mãe enviou para a escola dos filhos, lavrando o protesto. Agora está disponível on line, para quem a quiser imprimir e mandar para as escolas dos respectivos filhos… Dizia a carta: “A educação sexual dos nossos filhos é da nossa competência e é algo que nós fazemos como pais desde o seu nascimento de um modo natural...” ( enfim, ressalve-se o entusiasmo, a paixão da causa, que leva talvez a este pequeno exagero…. O de começar a educação sexual de uma criança logo desde que nasce… duvido que um bebé de 3 meses perceba ou se interesse pela matéria… adiante ) voltemos à carta. “... algo que fazemos desde o nascimento da criança de um modo natural, integrado, progressivo, completo e respeitando as exigências das suas necessidades concretas, do seu crescimento e da sua dignidade pessoal” – pausa na citação. E que é por essa razão – continua-se – por essa razão que os pais subscritores do documento “não autorizam a participação dos filhos em qualquer aula, acção ou aconselhamento relativo a educação sexual, sem o acordo escrito, atempadamente solicitado pela escola.”

Neste particular, parece um pouco mais difícil conseguir-se um consenso… É que a educação sexual nas escolas é matéria decidida a um nível superior – digamos assim – não depende desta ou daquela escola… ou não parece muito natural que esta ou aquela escola possa, por sua livre iniciativa, apagar do currículo, esta ou aquela disciplina… No caso, a educação sexual… mas pela mesma ordem de razões podia ser a Matemática, ou a Língua Portuguesa, ou o Inglês, as Ciências da Natureza, a Geografia, o Desenho, os Trabalhos Manuais… os Lavores Femininos... Daí, ser quase irónico pedir-se, à escola, que seja ela a pedir aos pais, que peçam à escola, para dispensar este ou aquele aluno, desta ou daquela disciplina. Se são os pais que assim o desejam, faz sentido que sejam eles também a assumir essa vontade e a – citemos – “solicitar atempadamente” – mas eles, à escola e não o contrário – a dispensa da matéria.

De resto, uma coisa fica esclarecida, nesta notícia. Que não se deve confundir esta Plataforma de Resistência Nacional, com outros movimentos e vozes que se ergueram – quando a questão foi a referendo - contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez – vulgo, “lei do aborto”. Apesar de ser esse um dos receios desta Plataforma… a gravidez extemporânea e indesejada de jovens adolescentes… apesar disso, já se viu que há diferenças... se bem se lembram, a alternativa defendida na altura pelos que se opunham à “lei do aborto” era justamente o reforço da educação sexual nas escolas e um acompanhamento, em sede própria e por gente verdadeiramente informada, dos jovens adolescentes .

E fazê-lo, como diz a carta, “de um modo natural, integrado, progressivo, completo e respeitando as exigências das suas necessidades concretas.”