quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

pola lei e pola grei e viva o rei .

A Câmara Municipal de Lisboa vai criar uma comissão de "boas práticas", para prevenir a corrupção.
É assim que abre a notícia do “Público” desta manhã. Depois continua que, as relações dos técnicos municipais com gabinetes de projectos e promotores são uma situação preocupante.
A Câmara vai hoje discutir a criação da tal “Comissão de Boas Práticas”… A ideia partiu de António Costa, o presidente. A Comissão será composta por 3 personalidades designadas pela Assembleia Municipal e por uma maioria de 2 terços. O mandato há-de demarcar-se do mandato dos restantes órgãos autárquicos, de forma a garantir a isenção e independência. Tal como acontece com outras autoridades reguladoras…
Um mandato que há-de monitorizar as áreas mais expostas ao risco de corrupção, diz o “Público”, o jornal. E as áreas mais expostas são as do urbanismo e a da contratação pública. Casos recentes revelaram ligações pouco recomendáveis entre funcionários da Câmara de Lisboa e entidades e empresas promotoras de projectos sujeitos a aprovação camarária, ou a concurso público. Mais de 30 funcionários foram identificados como tendo, ou tendo tido já ligações profissionais com o sector imobiliário e da construção civil, o que os torna parte interessada. É então preocupante, diz a magistrada do Ministério Público, cuja sindicância aos Serviços de Urbanismo da Câmara de Lisboa, desencadeou o processo que levou à criação desta tal Comissão de Boas Práticas.
Podia ser uma boa notícia, se não fosse ela revelar uma coisa que é tudo menos uma boa notícia.
A saber… Que é preciso criar uma comissão especial e dar-lhe um nome , assim, gentil e cordato, das “boas práticas”, para que se faça o que deve ser feito. Naturalmente e sem alarido.
Diz a notícia, que a Comissão vai criar também – elaborar é o termo – códigos de conduta e códigos de boas práticas e acompanhar a sua aplicação… Códigos de conduta e boas práticas haveria de ser coisa para fazer parte da dieta de qualquer pessoa, juntamente com o leite materno, com o aprender a andar e a desenhar as primeiras letras. Haveria…
Lê-se também – e já o referimos – que há áreas mais expostas ao risco de corrupção. Ou como se dissesse, que há estradas perigosas e que o IP5 é um itinerário assassino, esquecendo que por lá passam centenas de automobilistas e nem todos se despistam, ou provocam acidentes…
Uma “Comissão de Boas Práticas” provoca assim uma alegria e uma surpresa, semelhantes à que nos invade quando entramos, por exemplo, num café, ou restaurante e os empregados são atenciosos, o serviço funciona, a comida recomenda-se e a conta vem sem enganos que prejudiquem o cliente.

Dizia ser João César Monteiro, que tinha desistido de viver numa sociedade sem classes e se ia conformando a viver numa sociedade sem classe! Enfim, é uma forma de ver a coisa.

Vamos ao “DN” – “Diário de Notícias”, mas antes vamos ao ponto prévio.
Ouvi dizer, não garanto, ouvi dizer, que, na publicidade… pelo menos na televisão, a publicidade a coisas que tenham a ver com saúde – desde pastas dos dentes a outras drogas avulsas – só mesmo profissionais do sector é que estão autorizados a dar a cara e a aparecer nos anúncios. Disseram-me que era em nome da fiabilidade da propaganda. Da seriedade da campanha, da dignidade da própria profissão… É por isso que, um médico que apareça na televisão a dar a cara por uma marca ou produto, tem mesmo de ser médico. Não pode ser um actor contratado para o efeito. Enfim, a verdade desta afirmação está para ser comprovada, mas, para o efeito, dispensemos essa confirmação…
Porque, aqui, do que se trata é da tropa. Melhor, das Forças Armadas… Em geral.
E diz o “Diário de Notícias” que a banda do Exército admite cancelar a participação nas cerimónias de homenagem a D. Carlos, a 1 de Fevereiro, quando passarem 100 anos sobre o dia do regicídio.
Parece que a cerimónia em questão é uma iniciativa particular. Não oficial, portanto. E esse é o motivo que levou, ontem, os deputados de todos os partidos, sem excepção, a manifestarem-se contra a presença da banda do Exército, nas tais celebrações.
O assunto foi mesmo falado na Comissão Parlamentar de Defesa, que terá mandatado o respectivo presidente para transmitir esta preocupação ao ministério da tutela. O da Defesa.
Em defesa, portanto, da transparência e do respeito pelas instituições e de todas as éticas, que possam ser invocadas num caso destes…

Saltemos então para a página 5 deste mesmo “Diário de Notícias”.
A meio da página, abre-se a caixinha do anúncio a um modelo de um automóvel que, pelo preço anunciado – diz a legenda – é difícil imaginar. Na fotografia, espreita a um canto a dianteira de um automóvel, que até pode ser o modelo em questão. No passeio, uma placa de estacionamento proibido, ao pé da qual, um polícia de trânsito faz que multa um carro que não está lá. Talvez seja esse o gancho do trocadilho. É difícil imaginar um polícia a multar um carro que não existe! É no mínimo idiota; mas isso ainda é o menos… os publicitários tratarem o público como idiota, já vai sendo costume. O problema é quando o público responde como tal, mas isso, são outras loas, que para o caso não interessam… Adiante. Pode ser que o polícia não o seja de facto. Contrariando a tese, não confirmada e de que vos falava ao principio…. só profissionais de saúde podem fazer anúncios a produtos ou marcas que tenham a ver com saúde… pode ser que o polícia não seja policia. Como também pode ser que o seja…
Em qualquer dos casos, é essa a leitura que se faz e se pretende: um policia, um agente de trânsito, fardado de colete reflector e chapéu de pala e botas de montar ( é verdade que não se vê nenhum distintivo que o identifique como policia a sério, mas, para o que conta e importa… é um policia que aparece num anúncio a um automóvel, na página 5 do “DN” e certamente noutros jornais também…)
Bom, mas se aqui, no caso do anúncio, se pode pôr a hipótese de não ser mesmo um polícia a sério… no caso recente, de uma certa parada espectacular que desceu a avenida da Liberdade, o caso é diferente.
A parada em causa juntou os artistas todos da estação – um canal privado de televisão, se ainda não tinha dito… Artistas de variedades, apresentadores variados, e convidados ilustres, desde tigres em jaulas a vistosas caravanas representando os patrocinadores habituais do tal canal.
E no meio do desfile, quem desce a avenida, garbosa e tonitruante?... A charanga da Guarda! A fanfarra da Guarda Nacional Republicana a cavalo! …

Ora bem, que terá esta televisão privada, que o rei D. Carlos não tem? Tirando os patrocínios…
Ou, pondo a questão de outra forma… Andamos, portanto, a brincar com a tropa!?...

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