terça-feira, 20 de maio de 2008

“Os hamburgers fizeram a fama da McDonalds e os seus produtos têm o mesmo sabor em qualquer continente.” Começa bem, a notícia do 24 Horas!
Sabem todos ao mesmo, seja qual for a latitude e a qualidade e gosto das carnes autóctones de cada país, ou região. Prodigioso, no mínimo.
Mas menti-vos. Menti, porque o lead da notícia não é esse. Diz assim, a manchete: “Sai um McTuga.”
E porquê? Porque, diz o jornal, depois do sucesso, ou melhor, aproveitando o sucesso das sopas e o Euro 2008, a McDonalds decidiu criar uma série de novos produtos, exclusivamente a partir da gastronomia nacional.
Para começar fala-se em 3 sanduíches, preparadas exclusivamente com produtos tradicionais portugueses. Não se sabe ainda quais, que o segredo sempre foi a alma do negócio. Desde a especulação na bolsa até às sandes de torresmos, ao que parece.
O que se sabe é que as novidades devem sair para o mercado já a 2 de Junho e serão baptizadas com o nome genérico de “Portugal.” Fonte da empresa adiantou ao jornal, que foram feitos estudos de mercado, para saber qual a preferência dos consumidores. O jornal especula sobre se as sandes serão de choco frito, ou queijo e marmelada, ou de pataniscas de bacalhau… Seja como for, fica a expectativa… respeitando a lógica e a tradição da McDonalds, será que as pataniscas, o queijo com marmelada, os torresmos, as sandes de leitão da Bairrada vão saber mesmo ao que dizem, ou acabam todos a saber a carne de vaca texana?
E, por outro lado, se a iniciativa for mesmo às raízes da gastronomia portuguesa, será que Bruxelas, ou a lusa ASAE vão fechar os olhos à entremeada no pão, e à tripa enfarinhada?... Enfim, pode-se sempre alegar que a iniciativa é de uma empresa estrangeira e aí invocar a não ingerência, em assuntos externos ao País.

Depois, logo aqui ao lado, na página direita abre-se a fotografia. No meio de uma assistência variada e jovem, duas personagens se erguem empunhando o que poderia ser uma trompa alpina, ou um djiridu australiano… mas não. O que a fotografia ilustra são dois jovens fazendo que fumam dois gigantescos cigarros. Dois gigantescos cigarros de marijuana. E depois o título: “Porta quase aberta para a cannabis.”
E isto porque, explica-se em ante-título – “os especialistas portugueses admitem o uso da cannabis como medicamento.” Explica-se depois, que a investigação vem da Catalunha e há especialistas portugueses, que admitem ser uma solução a ter em conta. A do uso da cannabis como medicamento. A experiência espanhola deu resultados animadores no tratamento de doentes com esclerose múltipla e nos efeitos secundários da quimioterapia. Resultados também a nível analgésico. Em Portugal já se fez uma experiência idêntica, com um medicamento feito a partir da cannabis, para controlar a dor, mas consta que teve pouca saída. Foi por isso retirado de circulação, diz o jornal.
A Associação Nacional de Esclerose Múltipla diz que não está provado que a cannabis seja eficaz e relembra que a morfina é ainda o método mais eficiente para combater a dor e é mais barata, desde que não comprada no mercado negro. O que de tão óbvio escusava de ser referido. Aliás, ninguém espera que, se a hipótese da cannabis fosse avante, os médicos e os hospitais a fossem comprar ao Casal Ventoso!
Agora o que espanta e quase desilude é esta manchete.
Porque, no corpo da notícia e com sublinhado do próprio jornal, se cita João Goulão, o responsável pelo Instituto das Drogas, que diz que o que "só não quer é que, à boleia da abertura à utilização clínica, se abra passo ao consumo lúdico da droga.” Isto foi o que disse João Goulão. Os outros especialistas na matéria reconheceram que há potenciais benefícios no uso da planta com fins terapêuticos e admitem vir a usá-la como novo medicamento… Mas o jornal preferiu puxar para manchete essa frase demolidora: “Portas quase abertas para a cannabis”… o que seria uma boa entrada, se a fotografia não mostrasse os tais jovens a fumar um cigarro gigante de faz de conta que cannabis!
Porque não é para isso que as portas estão quase abertas. Não é essa a ideia. Não foi esse o susto maior revelado pelos médicos e especialistas entrevistados. Não é para isso que as portas estão quase abertas, quanto mais não seja porque, para isso, quando as portas se fecham, a rapaziada entra pela janela…
Enfim, não é essa a notícia.

É actual e vem no Diário de Notícias.
Vão faltar médicos em Portugal dentro de 4 anos. É um alerta, é um alarme?... É o mais certo, diz o jornal, que explica que Portugal não está a formar médicos suficientes para responder a todas as solicitações, tanto nos hospitais públicos, como nos privados. E tanto mais que, continua o DN, até 2009, o ano que vem, portanto, vão abrir portas mais umas 20, ou 25 unidades privadas de saúde. Isso vai realçar o problema.
Os dois sistemas estão cada vez mais em concorrência aberta no mercado da saúde…
O jornal publica o índice das vantagens e desvantagens de ambos… O público tem um corpo de médicos experiente em várias especialidades. Tem equipamento topo de gama, tem urgências adaptadas a todo o tipo de situação. Tem o serviço gratuito ou quase e tem uma cobertura alargada a todo o território. Ter, tem. O problema aqui não é esse. O problema aqui é que o próprio Sindicato Independente dos Médicos acha que a solução para o interior do País é abrir vagas e obrigar os médicos a cumprir serviços mínimos nessas unidades.
No particular é a rapidez a palavra de ordem. Rapidez na marcação de consultas, rapidez na marcação de cirurgias, instalações modernas atendimento personalizado – parece um SPA… E, se não há listas de espera, também não há resposta para algumas situações de urgência e – falando de urgências – esse é um serviço onde os privados têm menos treino e capacidade de resposta.
Portanto e voltando ao título… vão faltar médicos em Portugal daqui a 4 anos.
Pois a verdade é que já estão a faltar médicos em Portugal … no Interior pelo menos há quem diga que só à força é que eles lá vão… os médicos.
Depois, o facto de se anunciar a abertura de mais uma vintena de hospitais privados não vai realçar coisa nenhuma, como diz o jornal. Citemos: “até 2009, mais 20 a 25 unidades de saúde privadas vão abrir portas, realçando esta realidade …”A de Portugal estar em défice de novos médicos. É que, nesses novos hospitais privados, o défice muito dificilmente se irá sentir, quase de certeza…
Resumindo e concluindo. Não vão faltar médicos em Portugal dentro de 4 anos. Já faltam. Pelo menos onde são mais precisos. Nas terras onde há menos oferta, onde os privados não acham interessante investir, onde tudo fica mais longe de tudo…
Não faltam médicos em Portugal; estão é mal distribuídos… ia a dizer mal habituados… o que era obviamente um lapso, espero que perdoável, tendo em conta a invernia que vai lá fora…

E adiante.
No DN ainda, a páginas 17, surge Cavaco Silva a pedir aos portugueses que superem a descrença.
Foi ontem, entrevistado na Escola Superior de Comunicação de Benfica em Lisboa.
Cavaco disse que esta fase da economia pode criar um certo sentimento de descrença nos portugueses, mas que não nos podemos resignar, nem desistir…
Pois não e haja saúde!

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