quarta-feira, 1 de março de 2006




De flanela quereria eu as pantufas
Que teus níveos pés aqueceriam, oh,
De flanela suave e quente, doce Etelvina,
Daquelas todas forradas de pelo, oh!
Para não te ver assim enregelada
A tiritar, batendo o dente, coitadinha,
Sujeita a ficares, quem sabe, constipada,
Ou até a apanhar uma gripe, oh alma minha!

Gentil te deporia as tais pantufas
Que teus pés aqueceriam a teus pés
E nesse gesto com ele o meu coração,
Dona do qual há muito tempo já tu és.
E nelas teus níveos cujos tão pequenos
Abrigarias do frio que gela, oh,
E eu me sentiria do mal o menos
O mais feliz dos mortais, o menos só.

Uma palavra tua, um gesto teu,
Um assomar que fosse a essa janela
E logo louco viria a correr eu
Trazer-te umas pantufas de flanela.
Mas não, cruel ingrata, oh, tirania,
Ateimas em negar-me essa ventura.
Queira Deus, apanhes uma pneumonia
Que te leve a arder em febre à sepultura!

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