quarta-feira, 12 de novembro de 2008

salvem o lince da malcata, porra!

Deixem então que vo-la apresente: A Toxina Botulínica tipo A, que é um complexo proteico purificado, de origem biológica, obtido a partir da bactéria Clostridium Botulinum. Que, por sua vez, é uma bactéria anaeróbia, que em condições apropriadas à sua reprodução, (10ºC, sem oxigénio e certo nível de acidez) cresce e produz sete sorotipos diferentes de toxina… Dentre eles, o sorotipo A é o reconhecido cientificamente como o mais potente e o que proporciona maior duração de efeito terapêutico.

Ora bem, apresentações feitas, falta dizer que em Israel lhe chamam Prosigne – marca comercial… na Suécia Dysport e nos Estados Unidos, BOTOX. E deste já toda a gente decerto ouviu falar.

Agora sim, vamos á actualidade. Vem do Brasil, Rio de Janeiro, e diz que está em marcha o programa de fornecer, de forma gratuita, esse tipo de tratamento, ou intervenção micro cirúrgica, se assim se pode dizer, aos mais pobres da cidade, ou do Estado, ou por aí… O tratamento com BOTOX é um bocadito caro e considerado mesmo um pequeno luxo. O Diário de Notícias, que publica a história, lembra mesmo que é um tratamento, uma prática, se quisermos, que nos remete imediatamente para o universo glamoroso das estrelas de Hollywood, que se recusam a envelhecer, pelo menos a olhos vistos. No Brasil, consta que o próprio presidente Lula da Silva é adepto do BOTOX, mas isso, para o caso, não conta nada. O que se conta é que, desde segunda feira passada e até diz 19, há umas 200 senhas disponíveis, na Sociedade Brasileira de Medicina Estética, para quem se queira submeter gratuitamente a essa intervenção. Para quem quiser arriscar, diz a notícia. E a palavra “arriscar”, aqui, deixa uma frestazinha, por onde já começa a entrar uma estranha corrente de ar. Mas, adiante. É que há, e primeiro que tudo, que certificar-se o real estado de pobreza do candidato. Estado de pobreza mesmo, já que o rendimento máximo permitido é de 500 reais por mês – o que em euros dá uns 180 euros por mês. Essa é condição sine qua non. O candidato tem de fazer prova inequívoca de pobreza. Do resto, para quem achar que o BOTOX não é coisa de que precise muito, pode escolher outro tipo de tratamento, ao mesmo custo zero. Por exemplo, tratamento com laser para a acne, depilação definitiva, ou peelings químicos, ou ainda tratamentos contra as varizes.

A notícia explica entretanto que, este programa, vai permitir aos estudantes de medicina praticarem e acumularem experiência, nos diversos actos clínicos, enquanto permite aos pobres receberem um tratamento de luxo, só acessível a gente de posses.

Para experiências, portanto. Para os jovens médicos fazerem experiências e ganharem prática. É o que está aqui escrito.

As intervenções, conclui o DN, serão supervisionadas por médicos professores responsáveis pelos alunos. Diz-se ainda que, desde 1988, umas 10 mil pessoas terão já sido objecto de intervenções semelhantes, eventualmente nesta circunstância de gratuitidade… aqui a notícia não é muito clara. Ora o que parece claro é que, para fazer de cobaia a médicos em estágio, uma pessoa com rendimentos um pouco superiores, ou mesmo até, um rendimento francamente folgado, servia perfeitamente.

Aliás, se de rugas de expressão se trata… (e, o rir, como se sabe, vai vincando com o tempo, as suas rugas de expressão…) é bem possível, que os mais afortunados sejam também e ao mesmo tempo os mais enrugados, já que têm mais razões para isso. Para rir. Corres-lhes bem a vida.

Quanto aos outros, a estes pobres que o Rio de Janeiro quer que continuem lindos… pois podem continuar sequinhos de corpo, talvez até, de vez em quando com um insolente ratinho a sambar-lhes pela barriga vazia, mas de cara!... Ah bom, de cara, há-de ser uma alegria! Há-de poder dizer-se que: olha, vêem-se-t’as costelas, mas… estás com boa cara, vês!?...

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