E como é que alguém pode ter a coragem de querer acabar com as horas felizes de uma pessoa?!...
À primeira, parece coisa de uma crueldade extrema. Mas vamos à notícia. Diz o de Notícias, o Diário de Notícias, que a comissão de assuntos internos do parlamento britânico apelou ontem ao fim das chamadas, em inglês – Happy hours, o que, em português corrente, se traduz naquelas horitas em que os bares baixam o preço das bebidas alcoólicas. O efeito é o esperado. Bebe-se francamente mais, durante essas horas. O parlamento britânico acha mesmo que essa operação de marketing, aliada às promoções, que muitos supermercados fazem às bebidas alcoólicas, são as culpadas pelo consumo excessivo de álcool no país.
Em declarações à BBC, o presidente da comissão de assuntos internos disse que as Happy Hours tornam as pessoas infelizes.
E até aqui íamos indo. O consumo excessivo de álcool que é coisa que, como toda a gente sabe, pode bem configurar um problema de saúde pública, o que só por si, já seria preocupação suficiente… Fala-se depois em infelicidade. As happy hours tornam as pessoas infelizes. Uma conclusão paradoxal, mas perfeitamente admissível. Em verdade, por vezes, não há coisa mais triste que ver um bêbado feliz… mas adiante. E adiante, que ao que parece não é esse o mal maior, para esta comissão de assuntos internos. Voltemos às declarações do presidente da referida comissão: diz que a venda de álcool a preços reduzidos encoraja o consumo excessivo de álcool – até aqui já tínhamos chegado, mas continua… que esse facto obriga a polícia a mobilizar mais recursos para fazer face à violência. E se já repararam saltamos de súbito para um outro campo. O da violência, dos distúrbios na praça pública, ou nos bares e pubs ingleses, ou até mesmo, quem sabe, no lar doce lar, ou, como é público e notório, nalguns acontecimentos desportivos de grande afluência e popularidade… o futebol! Para que havemos de andar aqui, beating about the bush, como eles dizem!?...
Pois, é a violência e os meios que a polícia tem de mobilizar para a combater, o que está aqui em causa.
Não tanto a saúde pública. Não tanto o consumo excessivo de álcool ir queimando algumas células e outros recursos naturais da espécie humana, não tanto esse excesso revelar alguma insatisfação, algum mal-estar, ou desespero, ou falta de assunto em geral. Nada disso. O problema é que o consumo excessivo de álcool – pelo menos em Inglaterra – leva à violência, de tal forma que é preciso chamar a polícia. O problema, parece ser, afinal, que em Inglaterra, há gente, demasiada gente, que mal bebe um copo a mais, se revela uma autêntica besta.
E isso, de facto, é uma grande infelicidade.
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