quarta-feira, 16 de abril de 2008


Ora temos então que para a Europa e quase de um dia para o outro é a China e já não tanto os Estados Unidos da América do Norte o inimigo público nº 1. Enfim, talvez a linguagem seja aqui um pouco forte. O que se passa é que para 35% dos europeus, a China passou a ser encarada como a maior ameaça mundial, da actualidade.
A questão tibetana e o comércio são as pontas de lança dessa ameaça. Isto segundo um inquérito publicado pelo Financial Times. A sondagem foi feita em 5 países europeus: Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Espanha. Até hoje eram os Estados Unidos quem ocupava este lugar de honra. Depois da sondagem, apenas os espanhóis se mostraram fiéis a essa suspeita – a de que são os Estados Unidos a nação mais perigosa, mais ameaçadora da paz e estabilidade no mundo.
Enquanto isso, nos Estados Unidos a reacção é obviamente diferente, se bem que venha dar ao mesmo, em termos práticos e finais. Ou seja, para Washington, o perigo eminente que a China representa vem substituir e amenizar o labéu que até hoje pendia sobre alguns históricos do eixo do mal – a saber: Irão e Coreia do Norte. Ou seja, ou os americanos sabem de algum plano chinês para derrubar o Empire State Building, ou então o receio é que Pequim lhes tome de assalto os McDonald.


E é justamente nos Estados Unidos da América do Norte que o Papa está em visita de Estado, por estes dias.
Ontem, voando a caminho de Nova Iorque Bento 16 disse que estava envergonhado e que os padres pedófilos não deveriam ser padres. Ou antes que os pedófilos não podem ser padres. Ficou prometida uma homilia para sábado que vem a propósito do assunto. Um assunto que já custou, à Igreja Católica, 2 mil milhões de dólares em indemnizações às vítimas.
O papa disse então que estava profundamente envergonhado. Dificilmente poderia ter dito outra coisa qualquer … a verdade é essa. Garantiu entretanto que crimes destes nunca mais hão-de acontecer no seio da Igreja a que preside. Disse também que não consegue compreender como é que houve padres que puderam trair assim as obrigações a que estão sujeitos. Disse ainda, o Papa, que a prevenção é a melhor forma de combater a pedofilia. E que essa prevenção deve começar nos seminários, com uma profunda preparação espiritual, humana e intelectual dos aspirantes ao sacerdócio. Deus o oiça, que apesar de tudo e mesmo sem as aberrações pedófilas de que se fala, a preparação espiritual, humana e intelectual é coisa que dá sempre jeito, seja a um padre, ou a qualquer pessoa com responsabilidades de contacto directo com o público. Com as pessoas. Com o resto do mundo. É o nosso sacerdócio. De nós todos.


E, de repente, li assim: alunos processados por computador. Mas era obviamente um erro de leitura. E isto, meus amigos, erros de leitura são uma coisa terrível e de resultados por vezes assombrosos e surpreendentes. Mas antes disso vamos a um exemplo prático. Por exemplo, eu ligava o computador e escrevia no meu blogue, ou num desses sites de conversação em linha, de opinião avulsa… escrevia, identificando-me como, por exemplo, bispo de Cracóvia, escrevia, por exemplo que o Papa era um ladrão de cavalos, ou que andava a roubar couves para fazer sopa. Pela mesma ordem de razões a que se prende a notícia, não era o tribunal dos homens o que me esperava, mas a excomunhão, o degredo, o fogo do Inferno, a condenação eterna!
Mas vamos à história. E a história passa-se em Sintra, mais concretamente na secundária da Portela de Sintra.
O conselho executivo da escola não gostou de ler os comentários que alguns alunos publicaram na Internet, num site muito popular de conversação e troca de opiniões e delírios poéticos e românticos.
Acontece que os comentários publicados se referiam a alguns professores da escola. Os alunos iam dizendo, uns para os outros e para quem aterrasse, por acidente que fosse, na página em causa, o que realmente pensavam dos professores que tinham, o que realmente lhe ia na alma.
Os comentários não são dos mais lisonjeiros, convenhamos – por exemplo chama-se labrega a uma professora, a outra, levanta-se a questão se ela – e passamos a citar – baterá bem. Em forma de desafio lança-se a questão: quem achar que a professora de Biologia não bate bem venha comentar aqui… e a questão põe-se porque alegadamente a referida professora tem o hábito de dançar enquanto dá a matéria. Noutro caso, a questão que se levanta é sobre uma outra professora, a de ginástica, que os alunos criticam e acusam de pouca compreensão com a pouca preparação física de alguns alunos. Chegando-se mesmo a acusá-la de discriminação em relação a um dos estudantes da escola.
Por estas e por outras é que o caso ameaça seguir para os tribunais. A presidente do conselho directivo terá já convocado uma reunião com os pais dos alunos para lhes dar conta do processo disciplinar em curso. Um processo a cada aluno. E mais ainda, a escola vai avançar com um processo cível por difamação dos professores em causa.
O jornal Correio da Manhã escreve que tentou saber, junto da escola, porquê uma reacção tão – violenta quase – esta do processo cível. A escola terá respondido que só tem obrigação de responder à Direcção Regional de Educação de Lisboa. E isto por mais que os pais se queixem ou questionem da pertinência da medida anunciada – a do processo cível.
Ora aí está o primeiro erro. Parece que gravito quanto baste. É que a escola tem sim senhor de prestar contas aos pais dos alunos. Para já e em primeiro lugar porque são quem lhes paga os ordenados e depois porque, mais que obedecer a ordens e hierarquias e burocracias e outras alegorias… a escola tem mesmo e em primeiro lugar que saber o que pensam e acham e querem os pais dos alunos. Mesmo que eles estejam completamente errados. Tem de ouvi-los e dialogar com eles e procurar com eles as soluções que são precisas para todas as situações que se passam portões adentro da escola.
Não se pode soltar aos 4 ventos o chavão da escola integrada, não se pode exigir e reclamar a presença dos pais e encarregados de educação para depois os deixar a falar sozinhos quando têm uma opinião que colide com a da escola. É que a verdade é que já vários pais dos alunos em causa se manifestaram achando a reacção um pouco excessiva, em relação aos factos.
Depois temos este pequeno pormenor – o de que tudo se passa no ciberespaço. Onde, como já se viu, qualquer um se pode fazer passar por qualquer um e dizer o que lhe passa pela cabeça. Isso é tecnicamente possível e só muito dificilmente desmascarável.
Mas tirando isso, a Internet tem essa outra característica que a torna única como meio de expressão e comunicação. É o sítio onde a liberdade é tanta que, se fossemos a levar a sério e à letra tudo o que lá vem escrito e publicado, já nos tínhamos todos refugiados numa gruta à espera do fim do mundo.
Por outro lado, sendo uma porta tão despudoradamente aberta ao mundo, a Internet é o sítio onde as maiores intimidades se revelam sem constrangimento. Com o mesmo à vontade com que se confiam a um diário os pensamentos mais secretos, os medos, as alegrias…
Mas voltemos ao assunto. A verdade é que esta secundária da Portela de Sintra perdeu uma oportunidade doirada de ficar a saber, sem grande esforço, o que os alunos realmente pensam dos professores que têm. Em vez disso resolveu processá-los. A partir de agora, os comentários talvez desapareçam da Internet, mas vão certamente crescer de tom e violência, pelos corredores, passos perdidos e recreio da escola. Vai uma aposta?...


Sem comentários: