segunda-feira, 6 de outubro de 2008

uma evidência impossível de contornar

E isto da realidade é, como alguém já disse, “uma evidência impossível de contornar”.

Foi Cavaco Silva, ontem no discurso do 5 de Outubro. O presidente da República disse – e passo a citar a própria citação do Jornal de Notícias - “Quando a realidade se impõe como uma evidência não há forma de a contornar.”

Foi o que disse Cavaco, que entretanto confessou também – é aliás essa a própria manchete da notícia no JN- disse Cavaco e citemos: “Não escondo que vivemos tempos difíceis!”. A verdade é que, mesmo que o tentasse, é pouco provável que o conseguisse.

Mas fixemo-nos antes nessa outra afirmação. A de que, quando a realidade se impõe como uma evidência, não há forma de a contornar.

Haver há. Enfim, a verdade é que, se se quiser mesmo e muito, há sempre forma de contornar a realidade. Os subterfúgios são muitos e alguns sobejamente conhecidos. Alguns têm nomes pomposos – demagogia, sofisma, teimosia, alienação… ou então, se quisermos, pode dizer-se que é uma questão de fé. Coisa tão inabalável como sem explicação.

E foi também disso que se queixou ontem Bento 16. A falta de fé dos homens. Diz o Papa que a culpa é de uma certa cultura moderna. Diz Bento 16 que, quando o Homem se proclama proprietário absoluto de si mesmo e único mestre da criação, cresce a arbitrariedade do poder, os interesses egoístas, a injustiça e a exploração e a violência.

Isto foi ontem, quando o Papa abriu o sínodo, que vai debater, até dia 26, o papel da palavra de deus e da Bíblia.

Enfim, o alerta ficou dado e, sem irmos tão longe como a arbitrariedade do poder e os interesses egoístas, fiquemo-nos só por esse pequeno exemplo que ilustra precisamente a falta de fé, de que o Papa se queixa. Fiquemo-nos pelas declarações de Cavaco Silva. Diz o presidente que quando a realidade se impõe como uma evidência não há forma de a contornar… Ora bem!, haver, há. Haja Fé!


De inovação nos dá conta o DN de hoje.

De inovação e investigação e tudo isso a propósito do lançamento da primeira pedra do centro de investigação da Fundação Champalimaud. Um gesto simbólico sempre. O do lançamento da primeira pedra. Em verdade tão simbólico quanto patético, na maioria das vezes. Mas ninguém leva a mal, nem se atreve a escarnecer destas praxes e rituais. A primeira pedra, a primeira árvore…

O dignitário, que tarefas destas não são entregues a qualquer um… o dignitário empunha a pá e – com cuidado para não sujar o fato – lança a pá à terra para plantar a árvore, ou enche-a de massa de cimento para assentar a tal primeira pedra.

Pois o Diário de Notícias publica hoje a fotografia do lançamento da primeira pedra do centro de investigação da Fundação Champalimaud.

Na foto vê-se Sócrates – por inerência de funções – executando o tal gesto ritual. De pá de pedreiro na mão? Não tanto. Sócrates dobra-se para a frente e com todo o cuidado, de braço esticado poisa uma espécie de tijolo esbranquiçado sobre uma pequena prateleira verde, que se ergue na frente de um pequeno veículo de 4 rodas que lhe rasteja à frente. O engenho foi construído de propósito na e pela Universidade de Aveiro – é o que diz o jornal: que a Universidade de Aveiro construiu de propósito este robô para que ele – o robô – transportasse este pequeno tijolo esbranquiçado até ao local onde simbolicamente se vai assentar a primeira pedra do tal centro de investigação.

Sócrates estica-se, sorridente, depondo o tijolo na prateleira frontal do robô como quem dá um osso a um cão, ou como quem lhe dá a cheirar o pau, ou o pantufo, que vai ser lançado para longe, para o cão o ir buscar.

Leonor Beleza, presidente da Fundação, assiste sorridente em 2º plano.

O robô, esse não podia ter um ar mais feliz, pela distinção e honra que lhe foi concedida. A bem dizer, só lhe falta abanar a cauda.

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