quarta-feira, 9 de julho de 2008

Vamos por partes. Já é de um gosto duvidoso… aliás, já é imagem propícia a situações caricatas, para não dizer mesmo, grotescas, às vezes. Falo dessas situações em que o notável, o ilustre convidado lança a primeira pedra, ou planta o pinheirinho simbólico, de uma qualquer cruzada de protecção ambiental.

Pois se , em vez de um notável, pusermos 8, ou 9 notáveis em linha, a fazer o mesmo gesto, o efeito pode tornar-se quase... ridículo.

E no Público de hoje, não só no Público, mas a do Público é maior, vê-se melhor… no Público de hoje, portanto, temos aí a fotografia destes 9 notáveis, irrepreensivelmente vestidos para a ocasião,dobrados pela cintura, pá na mão, a fazer que plantam uma árvore. E os nove notáveis são Berlusconi, Brown, Merckel, Bush, Fukuda, Sarkozi, Medvedev, Harper e Durão Barroso, fotografados em Toyako, no Japão, numa iniciativa paralela à cimeira do G8 e onde se pretende retratar, calcula-se, o empenhamento dos respectivos países e governos na luta pelo ambiente. O título da notícia diz que o G8 estabelece metas para reduzir emissões de carbono, mas quer mais petróleo. Ora isso, para o caso e de momento não interessa grande coisa. O que conta é esta fotografia.

Durão Barroso, mal se vê, encolhido lá ao fundo , por trás de Stephen Harper , do Canada. Em primeiro plano está Berlusconi, sorridente, cravando a pá na terra, onde se irá plantar a pequena árvore simbólica. Ao centro, em pé, George Bush. Segura a pá sem grande convicção e olha para o lado, para a chanceler alemã, que, curvada, se prepara para lançar mãos à obra. Bush, não. Olha para Merckel, enquanto segura nas mãos a pá de ferro, com o ar de quem não percebeu ainda muito bem qual é a ideia. Como se dissesse a Ângela Merckel : comece lá a senhora, para eu ver como é que se faz...

Depois, mais á frente e ainda no Público, aí está outra bela fotografia. As primeiras damas.

O chá está servido, mas só para senhoras, diz a legenda da fotografia. E as senhoras são então as primeiras damas dos 8 paíeses reunidos em cimeira.

Foi ante ontem, que as esposas, dos presidentes das repúblicas representadas no encontro, se encontraram. Para tomar chá. Diz que passaram uma tarde divertida na ilha de Hokaido, que foi onde a fotografia foi tirada. Divertiram-se a dobrar quimonos e a aprender tudo sobre a cerimónia do chá. A primeira dama japonesa, anfitriã, mostrou como se prepara o chá verde, com uma pequena cana de bambu e como deve ser depois servido. Na fotografia,as damas pousam no meio de uma plantação de chá, sorridentes, como quem está de férias.

Aí está outra bizarria do protocolo, esta de levar as primeiras damas de passeio, quando se vai em visita de trabalho ao estrangeiro.

Adiante que George Bush ainda não saiu de cena. Pousemos, por ele, a pá de plantar boas intenções e vamos ver o que se tem dito por aí do presidente norte americano. Robert Redford, actor, disse á Playboy mexicana que Bush é como Nero. Está á janela da Casa Branca a ver a América a arder. Lapidar.

Mário Soares, a propósito de Guantanamo, diz que a base americana é comparàvel a um campo de concentração e que a culpa é da administração de George Bush.

E em S. Francisco da Califórnia, pergunta-se ao povo, que estátua erguer a George Bush, quando ele sair da Casa Branca.

A questão vai a referendo. Há já 12 mil assinaturas, que pedem o refendo. Enfim, a questão nem é saber que memorial se há-de erguer ao presidente. Que isso já há uma ideia. E é essa ideia, que 12 mil californianos querem levar a referendo. E a ideia é … dar o nome de George Bush a uma ETAR. Nem mais! A uma estação de tratamento de águas residuais.

Enfim, para uma pessoa que, vimos na fotografia, está tão empenhada na luta pelo ambiente, ter o nome ligado a uma ETAR, até nem vem muito a despropósito.

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Frutas e legumes!

Deverão ser distribuídos de graça nas escolas da União Europeia.

O título ocupa toda a largura da página. Continua depois, que o novo programa, de adesão voluntária, é também um instrumento contra esta nova forma de injustiça social: há mais obesos entre os mais pobres.

O aparente paradoxo desfaz-se num instante – há mais obesos entre os mais pobres, porque os alimentos hipercalóricos são geralmente mais baratos – explica o jornal.

Pronto, desfaz-se o equívoco. O jornal não confundiu obesidade com sub alimentação, que também faz crescer a barriga, mas é outra coisa.

Ora o programa pode custar 90 milhões de euros à Comissão Europeia, que se dispõe a financiar o projecto em 50% do seu custo – ou até 75% , nos países mais pobres.

A situação é que há mais de 5 milhões de crianças obesas na União Europeia. Mais 22 milhões delas com excesso de peso e com tendência a engordar: O número. O número é que tem tendência a engordar. Um aumento estimado em 400 mil novos casos por ano. Fala-se já em epidemia.

E é por isso, que a Comissão Europeia está disposta a pagar 90 milhões de euros, por ano, para incentivar o consumo de fruta e legumes nas escolas. O programa entrará em vigor no próximo ano lectivo e é de adesão voluntária. A fruta e os legumes são já ementa obrigatória em muitas escolas; o que se pretende agora é que essa distribuição seja gratuita.

Mariaan Fisher Boel, o comissário europeu da agricultura, diz que basta passear pelas grandes avenidas europeias, para verificar a dimensão do problema. Se passearmos por alguns bairros dos subúrbios, então aí se calhar ainda se vê melhor...

O jornal sublinha entretanto que, com esta proposta, se matam dois coelhos de uma só cajadada. Combate-se a obesidade infantil e – no âmbito da reforma da organização do mercado da fruta e legumes, que está em queda – tenta-se também travar o declínio do consumo destes mesmos produtos. Ou seja, em linguagem popular: junta-se a fome com a vontade de comer.

Em Portugal, entretanto e apesar de tudo, é ainda onde as crianças consomem mais fruta e legumes, mas é também, ao mesmo tempo, onde há mais crianças obesas.

Mas, voltando à parábola dos coelhos e do cajado… 90 milhões de euros por ano para incentivar o consumo de fruta e legumes, cujo comércio está em queda e ao mesmo tempo para combater a obesidade infantil. Os dois coelhos que se pretende abater de um só golpe. E se lhe juntássemos as crianças cujo problema é o inverso. Ou seja, as que, cujo problema é não engordar. Por nada em especial, só porque não comem, ou não comem o suficiente, ou se quisermos – socorrendo-nos uma vez mais de uma linguagem popular e se calhar pouco própria para este fórum… crianças que tem fome. Mesmo as que não vão à escola?!... Já eram 3 coelhinhos de uma só pancada.

A proposta foi aprovada , mas ameaça reabrir uma velha ferida, no seio da Igreja de Inglaterra. Eu conto.

O Vaticano criticou ontem a adopção do princípio de ordenação de mulheres bispos , pela Igreja de Inglaterra. Considerou mesmo, que a medida constitui um novo obstáculo à reconciliação entre as igrejas católica e anglicana. É assim que começa a notícia , no Diário de Notícias de hoje.

A reunião do sínodo da Igreja de Inglaterra decorreu em York, no norte do país e decidiu, segunda à noite, já, que as mulheres , que já podiam ser ordenadas sacerdote, possam a partir de agora ser ordenadas bispo.

O Vaticano diz que esta decisão é uma afronta à tradição apostólica mantida por todas as igrejas… do primeiro milénio e um obstáculo à reconciliação entre católicos e protestantes.

Enfim , já estamos no 3º milénio, a verdade é essa, mas , isto, cada um , saberá das suas próprias tradições e o respeito que lhe merecem. Ou seja, cada um saberá, que tradições fazem sentido manter e respeitar, à luz dos novos tempos, à medida da nossa actualidade.

Em Portugal, por exemplo, apesar de todos os protestos, toleram-se os toiros de morte em Barrancos. Há quem diga que é uma crueldade, mas o respeito por uma tradição local serve para ir consentindo, mesmo não aprovando a prática. Mas isto, dos toiros de Barrancos, foi obviamente uma intrusão a despropósito.

Fixemo-nos no essencial da história. E para acabar de vez com todas as dúvidas, o Vaticano lembra que Jesus, o Cristo, apenas escolheu homens para apóstolos.

Mas a polémica está instalada mesmo dentro da própria igreja anglicana. O Bispo de Cantuária, líder religioso dos anglicanos, teme uma cisão dentro da Igreja que preside. No principio deste mês, mais de mil religiosos – homens, decerto- entre eles 11 bispos, ameaçaram abandonar a Igreja, se a ordenação das mulheres bispos fosse aprovada.

Do lado dos mais conservadores a denúncia é que se está a criar uma Igreja dentro da Igreja. 300 deles estiveram há pouco tempo em Jerusalém e acabaram por assinar uma declaração conjunta, onde se critica o declínio espiritual do Ocidente.

Em Portugal, e sobre este mesmo assunto, Maria Sande de Lemos, membro do movimento católico: "Nós somos Igreja", diz que não há nenhum impedimento teológico para, mesmo a Igreja católica, ordenar mulheres sacerdotes. Quanto a esta medida aprovada pelos anglicanos , diz que é uma atitude corajosa, que vem no seguimento do fim do celibato dos padres protestantes e que os católicos deveriam seguir esse exemplo. Mas isto, claro, é uma mulher a falar.

Seja como for e resumindo, ficamos a saber que, para o Vaticano, como Jesus só terá tido apóstolos homens, isso quer dizer que nenhuma mulher poderá ser porta voz, em que grau de sacerdócio for, da palavra de deus. Como se dissesse que do céu não podem cair pedras, porque não há pedras no céu. Ou como se esquecesse que foi Maria, mãe de Jesus, quem lhe terá ensinado as primeiras palavras. E muito provavelmente quem lhe terá escutado as últimas, também.

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