E vamos lá então a Luís de Matos.
A manchete diz que foi um número de magia muito caro. Os habitantes de Alcobaça e o presidente da Câmara também acharam.
Tudo aconteceu no domingo passado e o espectáculo propunha-se celebrar a consagração do mosteiro como uma das Maravilhas de Portugal. E diz também, que no programa se anunciava, que o ilusionista ia fazer desaparecer o Mosteiro de Alcobaça perante os olhos do povo. Era um número portentoso o que se anunciava. Daí que, apesar do número ser quase tão impressionante quanto o próprio mosteiro, ninguém terá reclamado por aí além. O contrato assinado com Luís de Matos era de 180 mil euros. Outro número impressionante, sem dúvida. 180 mil euros para fazer desaparecer o mosteiro de Alcobaça. Bem avisava o programa que iríamos assistir à “maior metamorfose de todos os tempos.”
À hora de todos os sortilégios, o povo ardia em impaciência. Aguardava o momento do prodígio. Por isso, assistiu com alguma ansiedade aos 17 longos minutos, em que Luís de Matos apresentou alguns vídeos antigos, de truques e passes mágicos ante-gravados. Depois, o grande momento!
E o grande momento durou 3 minutos e não chegou a beliscar, nem assim, a mais pequena pedra do velho mosteiro. Em vez disso, o que o povo viu, num lance rápido de 3 minutos, foi Luís de Matos – segundo conta o 24 Horas – libertar-se de um certo colete de forças. Et voilá! C’est tout. Bon soir et merci! Isto, em francês, só porque me apeteceu.
Na praça em frente ao mosteiro, o povo ficou sem saber o que pensar. Mas foi espanto de pouca dura. Hoje, é até o próprio presidente da Câmara, quem pede contas ao ilusionista. Diz que já entregou no gabinete jurídico da Câmara um pedido de averiguação, sobre se o contracto foi cumprido à letra. Diz também, que lhe soube a pouco e está solidário com a frustração das pessoas. Mesmo sem fazer desaparecer o mosteiro, diz o presidente, que de facto o espectáculo o deixou aquém das expectativas. Ou talvez elas – as expectativas – tenham sido colocadas altas demais… Também pode ter acontecido. É, aliás, essa a tese do próprio artista, Luís de Matos. Em carta dirigida à Câmara de Alcobaça, Luís de Matos terá escrito, que a culpa foi dos boatos, que se puseram a correr – presume-se que fale do boato de fazer desaparecer o mosteiro. Disse, que “o erro não está naquilo a que as pessoas assistiram, mas sim naquilo que lhes foi transmitido, que aconteceria e em que, ingenuamente, acreditaram”… Ora, essa é a pedra de toque da arte, que Luís de Matos cultiva e divulga! Fazer as pessoas acreditar, não naquilo que têm á frente dos olhos, mas naquilo que alguém os faz acreditar que têm à frente dos olhos... não é erro – é ilusionismo puro.
Quanto ao facto de se fazer pagar por 180 mil euros, de 20 minutos de espectáculo, em que passou vídeos, durante 17 desses minutos e gastou os 3 minutos restantes a libertar-se de um colete de forças… bom … isso são as leis do mercado. Luís de Matos diz que se faz cobrar segundo os valores do mercado publicitário. Acreditemos que sim; que, se se fizesse pagar pela tabela dos artistas de variedades, talvez tivesse saído mais em conta, aos cofres da Câmara de Alcobaça. Continua dizendo, o ilusionista, que há que ter em conta que não se trata aqui de promover iogurtes ou refrigerantes. Pois não. A notícia diz que, o que se queria promover, era o próprio mosteiro e a consagração do monumento como uma das Maravilhas de Portugal.
Agora… como é que aparece essa história de Luís de Matos ir fazer desaparecer o Mosteiro de Alcobaça?!
Talvez a resposta esteja no cartaz que anunciava a iniciativa… Na fotografia, vê-se, em fundo, o secular mosteiro e em primeiro plano o ilustre ilusionista, com aquele ar sério e enigmático que os ilusionistas costumam ter, quando estão a trabalhar… E na mão segura uma bola luminosa. Tem o tamanho de uma bola de voleibol de praia, mas deve ser a fingir bola de cristal.
Ali, onde está, e pela lei da perspectiva, o corpo do ilusionista tapa parcialmente a fachada do mosteiro. Ou seja, se Luís de Matos desse só mais um passo em frente, na nossa direcção, na direcção da objectiva do fotógrafo…, aí sim, teria mesmo feito desaparecer por completo o mosteiro de Alcobaça.
Ou se abrisse, em gesto exibicionista, a casaca negra, que o veste quase até aos pés… aí, nem precisava de sair de onde está!
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