Já se viram expressões mais estranhas, em fotografias de gente em perfeito estado de lucidez e boa saúde. Basta que a máquina dispare no exacto momento, em que o fotografado está a piscar os olhos e que o apanhe então, de olhos semicerrados, para que o resultado seja o de uma pessoa ficar com ar esgazeado, ou mesmo de quem está à beira de uma apoplexia…. Não terá sido esse, o caso. Que o próprio já confessou, que estava sob o efeito de uns comprimidos, que davam sonolência e lentidão de reflexos e raciocínio. Tê-los-á empurrado – como se costuma dizer – aos tais comprimidos, com um copo de vinho, o que se revelou como uma mistura explosiva. E estamos a falar do episódio, que envolveu o ministro japonês das Finanças. A personagem em questão apresentou-se, como se lembram, com manifestas dificuldades de expressão, numa conferência de imprensa, sábado passado, depois de uma reunião com ministros das finanças e responsáveis bancários dos países do G7…Agora, passada a tempestade inicial, acaba de pedir a demissão do cargo. Pedido já aceite e até já há um substituto para o cargo, mas isso é outra história. Para o que nos trás aqui, contam, para já, as declarações do próprio ex-ministro… "Sinto-me terrivelmente mal por ter provocado tais embaraços ao público japonês e ao Parlamento" – fim de citação. O Diário de Notícias continua o texto relembrando e citemos, que esta parte é importante: “o ministro nipónico surgiu, então (então no sábado, claro!) com um aspecto que se assemelhava muito a alguém que estivesse sob o efeito do álcool. O rosto apresentava-se congestionado, o olhar um tanto ou quanto errático…” e por aí fora. Agora, fixemo-nos nesta passagem, em que o DN escreve que o ministro surgiu com um aspecto que se assemelhava muito a alguém que estivesse sob o efeito do álcool. Não diz que o ministro estava visível e inequivocamente embriagado. Diz que se assemelhava muito a quem estivesse sob o efeito do álcool. Ora, o ser e o parecer não serão, parece, sempre e forçosamente a mesma coisa, mas, uma vez mais, não é isso que nos trás aqui.
O que chama a atenção – e é por isso que foram inventados – é o título da notícia. A letra gorda, a que resume o essencial da importância. A frase forte, a ideia central, a informação depurada de todo o acessório. Pois, e o título da notícia, desta que acabámos de ouvir e que o DN hoje publica, é este: “Ministro japonês pede demissão por ter ido bêbado à reunião do G7”. Informação privilegiada, esta a que o DN teve acesso. O jornal diz, lá pelo meio do texto, que este ex-ministro era já conhecido por – citemos: “gostar do seu copo e ser um provocador nato…” Isso já seria conhecido, o que é novidade é que, apesar de todas as declarações oficiais e do próprio jornal reconhecer que a personagem tinha um aspecto que se assemelhava…ao que já vimos… apesar disso, o DN escrever, em letra gorda, que o ministro foi bêbado para a reunião do G7!
Não diz que parecia que estava com o seu copo, nem que estava azamboado, por ter misturado anti histamínicos, ou lá o que, foi com vinho. Diz que o ministro estava bêbado. É verdade que não diz que estava bêbado que nem um casco… diz só que estava bêbado. O ministro, claro.
E, estes aqui, “Estão prestes a entrar em campo”, anuncia o título do 24 Horas. Quem?... A selecção nacional de futebol?!... Não! Quem está prestes a entrar em campo é um novo canal de televisão. Vai chamar-se TVI 24 e, como o nome denuncia, está ligado à TVI. O 24 quer dizer que vai funcionar 24 sobre 24 horas, o que já não é novidade há algum tempo e que se vai dedicar à Informação. A estreia está marcada para o próximo dia 26. A expectativa é naturalmente muita. O director da estação, José Eduardo Moniz, deseja chegar rapidamente aos portugueses. Diz que é essa a meta do novo canal. Um propósito duplamente compreensível. Chegar ao público e de preferência de forma rápida e eficiente é o objectivo de qualquer um, que se lança no mercado; mais ainda, quando o território em que o negócio se move é o da comunicação. Aí, se não se chega rapidamente ao consumidor – neste caso – ao receptor da mensagem… cai-se naquela situação, a que alguns académicos chamam: falar sozinho. É portanto mais que legítima, a aspiração de José Eduardo Moniz, de chegar rapidamente aos portugueses e ao público em geral. Legítima também, de certa forma irreverente e corajosa, a intenção expressa do director de informação deste novo canal. João Maia Abreu – é ele o director de informação – diz que a TVI vai mexer na pacatez da concorrência. E ora aí está uma das coisas boas, ou se quisermos, um dos efeitos estimulantes da livre concorrência e do mercado aberto. Obriga as pessoas a mexerem-se e a não adormecer à sombra dos louros, ou de qualquer bananeira metafórica. Obriga-as a quebrar os marasmos, a ser criativas, dinâmicas, inovadoras… e é isso que, segundo o 24 Horas, Maia Abreu acredita que este novo canal pode vir a fazer. Quebrar o marasmo – “a pacatez da concorrência”. E diz mais… (deveria ter dito "mas", em vez de "e"…) Mas, diz mais, Maia Abreu. Diz que, o objectivo desta TVI24, é ultrapassar a SIC Notícias – ao que parece, a concorrência mais directa. É mesmo essa, aliás, a frase que o jornal escolhe para título, que diz assim: “Objectivo – ultrapassar a SIC Noticias.”
E aqui paramos um pouco.
Do outro lado da porta elas conversam. Conversa de circunstância, conversa de mães… os filhos, a escola…”Então o miguelinho já sabe escrever o nomezinho dele?” “ O miguelinho?.. É o melhor aluno da turma!...” “Pois sim, mas já sabe escrever o nome dele, ou não?”
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